Parece que estão tocando harpas no inferno. Esta foi a frase que me veio à mente quando ouvi "Antithesis of Light", o terceiro trabalho full dos americanos do Evoken, lançado em 2005 pela Avantgarde Music. As melodias de baixo e guitarra quando são apresentadas em contraste ao restante ou simplesmente destacadas sozinhas, algo utilizado em todo o álbum, passam esta sensação de harpas mortuárias tocadas no funeral de alguma criatura soterrada nas profundezas, ou até mesmo de alguma alma conduzida ao purgatório para refletir sobre sua vã existência. O Evoken consegue soar como uma banda de death doom que ultrapassa os limites da existência em direção ao funeral doom, pois mesmo que esteja claramente musicando neste terreno, carrega influências de seus predecessores dos anos 90, aqueles que transformaram tristeza, solidão, sofrimento e angústia em música. Como alguém dificilmente consiga a fórmula para transformar um álbum de funeral doom em um conjunto de canções totalmente distintas umas das outras, não podemos classificar a similaridade entre elas como ponto negativo para esta antítese da luz, portanto é fácil dizer que o terceiro full deles beira a perfeição dentro do estilo. Músicas longas, todas entre 10 e 13 minutos, arrastadas com raros momentos mais rápidos, como naquela evolução de "In Solitary Ruin" em que blast beats são adicionados, algo já realizado no álbum anterior e executado em perfeição extrema no álbum "Serenades" do Anathema, guitarras a cargo de Paradiso e Nick Orlando ultra pesadas e distorcidas que nunca se tornam emboladas ou inaudíveis, trazendo inclusive alguns solos sinistros em alguns momentos, teclados, a cargo do novo membro Denny Hahn que remetem a montanhas distantes numa paisagem escurecida e assombrada, além de uma bateria extremamente bem tocada por Vince Verkay, fazendo seu melhor trabalho até aqui no Evoken, com timbres claros e altos, soando como pedras rolando em catacumbas nos momentos mais reverberantes. Os vocais de Paradiso são extremamente guturais e abertos, bem diferente daqueles vocalistas que parecem prender um pregador de roupas no nariz na hora da gravação. Tirando a baixa diversificação que já comentei, poderiam ter lançado um álbum com uma intro e uma faixa de 71 minutos subdividida em etapas que o efeito seria o mesmo. Mas soa melhor da forma que foi lançado. Ouça!