Se “Are You Dead Yet?” é o álbum mais ousado do Children of Bodom? Até aquele ponto da carreira, eu diria que sim, sem pestanejar. Convenhamos: a banda começou a soar repetitiva depois dos três primeiros discos — e isso parece ter ficado bem claro até para eles mesmos. Por mais que tenham alcançado sucesso com aquela fórmula, chega um momento em que não existem mais degraus se você insiste em repetir eternamente o mesmo modus operandi.
Por outro lado, eles também não queriam deixar de soar como Children of Bodom. O meio-termo encontrado foi reduzir a melodia, engrossar o peso e endurecer a identidade sonora. Essa transição já tinha sido muito bem articulada em “Hate Crew Deathroll” (2003), e em “Are You Dead Yet?” ela veio temperada com uma pitada extra de elementos industriais. Nada que transforme o álbum em industrial metal, longe disso — mas a junção do death melódico característico com nuances de metal americano (e o resultado colou direitinho nos EUA), somada aos teclados de Janne Warman sendo empurrados para segundo plano e perdendo aquele brilho neoclássico, mudou totalmente a equação. Ao retirar boa parte da melodia que definia o COB, eles sabiam exatamente o que estavam fazendo — e acertaram para alguns, mas empurraram outros fãs direto do penhasco.
E o fato é: “Are You Dead Yet?” é sim um álbum bom de se ouvir, desde que você não fique pensando demais no passado glorioso da banda… e principalmente se considerar o que estava por vir. O baixo de Henkka Blacksmith, geralmente tímido, aqui ganha mais presença, especialmente em “Next in Line”, onde Alexi Laiho usa um timbre vocal que praticamente desaparece no restante do álbum.
Os três petardos de abertura garantem adrenalina pura — mesmo que você sinta falta dos teclados clássicos e dos duelos épicos entre Janne e Alexi — e se tornaram presenças quase obrigatórias nos setlists. “Living Dead Beat”, “If You Want Peace…Prepare for War” e a faixa-título poderiam muito bem ter servido de molde para o álbum inteiro.
Logo depois vem a tradicional “balada pesada” (que heresia) da vez: “Punch Me I Bleed”. Todo álbum da banda tem a sua, mas aqui ela vem com menos brilho — apesar de eu até gostar dela.
A capa, sempre com o mascote assassino do lago Bodom, talvez seja a pior da carreira. Parece uma TV preto-e-branco prestes a pedir aposentadoria, com o assassino olhando para você de cima, como se você já tivesse levado o primeiro golpe. E ainda tivesse merecido.
Com pouco mais de 37 minutos, “Are You Dead Yet?” passa rápido pelo CD-player, o que evita que a mudança de rumo soe cansativa. Eles sabiam que não tinham tantos “clássicos instantâneos” em mãos e usaram a experiência para serem curtos e grossos.
Há 20 anos, o álbum deu uma desanimada nos fãs aqui no Brasil, que ainda queriam o velho COB. Mas hoje, com tudo o que aconteceu — e especialmente após a morte precoce de Laiho — o disco ganhou inevitavelmente um ar mais saudoso. É um registro de transição, de ousadia e, principalmente, de uma banda que nunca teve medo de cutucar sua própria zona de conforto.

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