Luxúria de Lillith, projeto solo do multi-instrumentista Alysson Drakkar criado em 1998 na cidade de Goiânia em Goiás, nasceu com o intuito de proliferar um black metal sinfônico com temas de ocultismo e vampirismo. Após várias demos, singles, coletânea e até álbum ao vivo, em 2005 o Luxúria gravaria seu primeiro full álbum, sob a alcunha de "A Volúpia Infernal". O trabalho foi idealizado pelo pequeno selo Zenor Recordz com uma arte diferente desta mais conhecida que postamos e que foi desenhada para o relançamento do trabalho através de vários selos em conjunto anos depois. Por se tratar do primeiro rebento de uma horda "one man band" de black metal do underground brasileiro, e com uma arte batida (nudez feminina e bodes), o trabalho tinha tudo para passar despercebido nas prateleiras de sebos como um daqueles trabalhos feitos com suor, mas sem nenhum capricho, e que uma a cada 100 criaturas noturnas da escuridão possam ter ouvido falar, correto? Sim, mas não passou e muito menos foi feito nas cochas. "A Volúpia Infernal" é uma obra que desafia qualquer fã de black metal, seja melódico ou não, a virar as costas para sua orquestração sangrenta carregada de ódio. A qualidade está muito acima do que se espera de um lançamento assim, com todos os instrumentos audíveis. Os teclados são essenciais, mas não escondem ótimos riffs de guitarras. A estrutura das músicas em alguns momentos remetem ao Cradle of Filth, mas aqui temos menos mudanças de andamentos e menos variações nos vocais, o rasgado quase sempre prevalece. Mas vocais femininos aparecem vez ou outra, dando aquele clima de sedução que as letras pedem, citando orgias e tentações. Drakkar gravou todos os instrumentos, além das vozes masculinas, e se mostrou um músico do underground de raro talento e competência, conseguindo materializar música extrema sem se perder ou nos entediar. Para quem curte as letras, o trabalho do Luxúria de Lillith é todo cantado em português, valorizando ainda mais o rico underground nacional. Destaco a música "Da Morte Para Todo Fim", com um refrão perfeito, em que Drakkar rosna em conjunto com a vocalista convidada Sônia Freitas de forma sublime. Se você é fã de Miasthenia (DF), "Volúpia Infernal" vai satisfazer todos os seus desejos proibidos.
domingo, 24 de agosto de 2025
sábado, 16 de agosto de 2025
20 anos de Darklife do Silent Cry!!!
O quarto full da banda mineira Silent Cry, sediada em Governador Valadares, chamado Darklife, saiu pela Hellion Records em 2005. A banda, conhecida no cenário nacional por seu gothic doom metal numa carreira de trabalhos memoráveis, desde o precioso debut "Remembrance", nos presenteando com obras (ou lamentos, como costuma dizer o líder, vocalista e guitarrista Dilpho Castro) de bom gosto inexorável, apresentava em seu novo trabalho sua terceira voz feminina, a cantora Sandra Félix. Ficando pouco tempo na banda, Sandra participaria no ano seguinte do também maravilhoso álbum da banda baiana Malefactor, o Centvrian e depois não tivemos mais notícias de sua voz em algum outro trabalho de metal nacional. Uma pena, pois sua voz foi fundamental para consolidar "Darklife" como mais um trabalho importante na carreira do Silent Cry. Este é talvez o álbum mais pesado da banda, com riffs pesadíssimos, como podemos ouvir na faixa "My Tears Are Still Falling". Os vocais guturais de Dilpho contribuem para esta projeção agressiva, enquanto os riffs pesados de início dão lugar a outros muito bem encaixados, mostrando que mesmo uma banda doom pode proporcionar momentos de headbanging. Os teclados como sempre exercem papel importante no som do Silent, introduzindo melodias tristes. "The Wine's Dance" é uma música que mostra a qualidade dos mineiros, assemelhando-se a trabalhos de bandas reconhecidas internacionalmente, uma canção que em momento algum chega a ser pop, mas que tem uma aura mainstream, seja pela qualidade de seus teclados, as guitarras góticas e os vocais masculinos que aparecem de forma limpa também, elevando a canção ao status quo da banda em 2005. Alguns solos de guitarra, algo nem tão inerente ao gênero, aparecem de forma natural e enriquecem faixas como a abertura com "Sufocated in Dakness", uma faixa curta que serviu para mostrar a nova vocalista e a nova fase da banda. "Sweet Serenades", a música mais longa e mais introspectiva do álbum, não deixa que você se esqueça das raizes doom entremeadas ao gótico, e nesta toada, creio que temos a melhor interpretação de Sandra no álbum. A capa mais uma vez mostra a figura feminina e do anjo, apresentando um nu artístico de forma alguma constrangedora ou apelativa, em tons escuros, mais uma vez captando a aura gótica das canções. Além de Sandra e Dilpho, o álbum a banda ainda tinha o guitarrista Albenez Carvalho, Roberto Freitas no baixo, Ricardo Meireles na bateria e Phillipe Dutra no teclado. Ouça uma das faixas mais belas da história da banda, "Last Goodbye" e apaixone-se instantaneamente por "Darklife".
20 anos de Touched By the Crimson King do Demons And Wizards!!!
Demorou 6 anos para que os líderes de Blind Guardian e Iced Earth pudessem novamente colocar em prática seu projeto Demons & Wizards. Ele veio em 2005 sob a alcunha de "Touched By The Crimson King". Musicalmente o segundo ato não difere muito do primeiro. Este projeto não é apenas a junção dos líderes das 2 bandas citadas, ele é a condensação sonora das 2 bandas. Os riffs parecem sobras das produções de Jon Schaffer. E nem sempre as sobras podem ser consideradas ruins, mas não cabiam no trabalho principal naquele momento, ou até uma ou outra melodia pode não ter sido bem aproveitada pelo vocalista do Iced naquele período. Já a voz de Hansi Kürsch está perfeita. Pode até ser que ele não tenha a mesma potência de outrora, mas seu timbre inconfundível eleva as músicas a um patamar magistral. O início do trabalho é melhor que o final. A abertura com "Crimson King" é para te captar rapidamente, por meio dos riffs cavalgados e um ritmo que começa acelerado e tem uma descaída com bastante peso, até lá pelos 3 minutos entrar um dedilhado e a melodia vocálica para mostrar que Hansi é realmente um bardo de terras distantes. Já "Beneath The Waves" na sequência não é tão bombástica, lembrando até algumas coisas que Schaffer faria futuramente quando Stu já estava comandando as vozes de sua banda principal. Enquanto isso "Terror Train" ataca com seu power thrash épico e pode ser considerada uma das melhores faixas do petardo. Para fechar a boa quadra de abertura temos uma semi balada sensacional chamada "Seize the Day" que prova mais uma vez a importância do vocalista alemão para o Heavy Metal. Aliás é importante salientar que existem algumas baladas pesadas no trabalho, o que não deixa o álbum enjoativo, a exemplo da excelente "Love's Tragedy Asunder". Um ponto importantíssimo que deixei para o final são as letras de "Touched by the Crimson King". Um prato cheio para amantes da leitura, a obra é baseada na literatura de Stephen King, a saga "A Torre Negra", minha história favorita do escritor que tem 8 volumes e que li 2 vezes e pretendo ler novamente. Nem todas as músicas remetem claramente à história de King, mas várias delas sim, além da capa, que tentou unir a banda, com um feiticeiro e um demônio na capa, diante da rosa, que é a obsessão do pistoleiro Roland de Gilead. Procure no You Tube o lyric video para a ótima faixa "The Gunslinger" com várias ilustrações inerentes à obra e divirta-se. O álbum fecha com um cover para "Immigrant Song" do Led Zeppelin que ficou bem legal na voz de Hansi.
sábado, 2 de agosto de 2025
20 anos de Issue VI do Dew Scented!!!
Como o próprio título do álbum entrega, "Issue VI" é a sexta obra dos alemães do Dew Scented, lançado em 2005 e completando 20 anos em junho passado. A arte da capa é bem legal, com todos aqueles braços pendurados e sangrando. Com um novo baixista na formação, Alexander Pahl, função acumulada pelo guitarrista Hendrik Bache em "Impact", além dos dois ainda temos o demônio Leif Jensen nos vocais e o igualmente monstro nas baquetas Uwe Werning. O som continua infernal, Thrash e Death metal mesclados como serpentes. Um rolo compressor de riffs cortantes e palhetadas abafadas, com solos de guitarra muito bem construídos, uma bateria avassaladora e um vocalista urrando como um bezerro enlouquecido. Novamente sob a tutela de Andy Classen, não temos muitas mudanças no som do Dew Scented, mas uma ouvida criteriosa mostra certa evolução. O trator continua passando sobre escombros e pessoas, mas agora ele troca de marcha e não desce a ladeira de forma descontrolada. Não que você vá vê-los tocando uma balada e falando de amor, mas apenas tomando impulso para uma nova acelerada e mais um tufo de fumaça negra saindo pelo carburador. Os blast-beats se fazem presentes com intensidade, se você ouvir apenas a bateria de "Conceptual End", certamente vai confundir o som com uma banda de genuíno death metal. O final é avassalador com "Evil Dead" com 1 minuto de agressividade. É um cover mas, não, não é o que você está pensando, é berrada em castelhano e pertence a alguém chamado Zeke, que não sei quem é, mas por pouco é o nome do meu cachorro. Se você gosta de um som pesado, com muita fúria, sem muitas invencionices, sem muitas mudanças, mas arrasador e bem feito, ouça Issue VI.
20 anos de ReliXIV do Over Kill!!!
O álbum RELIXIV (reli 14) na verdade é o 13º da carreira dos americanos do Overkill, assim como "Killbox 13" é o 12º full. Acredito que este incidente se deva à banda considerar o EP "Fuck You!!!" de 1987 na contagem geral, e tudo bem, seguimos fazendo contas e apreciando o som desta banda que não se cansa de soltar trabalhos soberbos para nossa apreciação. Mesmo já conhecendo outras obras da banda, como o indispensável "Taking Over" e "Feel the Fire", "ReliXIV" foi o primeiro trabalho do Over Kill que adquiri para minha coleção e, portanto, não poderia deixar de sentir um carinho especial por ele. Lançado em 2005 pelo selo "Spitfire Records" o álbum tem mais groove que a maioria dos lançamentos da banda. Aqui, definitivamente, não temos aquele Speed Metal de início de campeonato, quando todos estão com fôlego para 90 minutos e mais prorrogação, se necessário. Mas a empolgação certamente ainda permeava os músicos, com D.D. Verni e Bobby Blitz à frente, e nas guitarras Dave Linsk em seu terceiro álbum com a banda e Derek Tailer em seu segundo álbum, além de Tim Mallare que encerraria sua participação na bateria do Over Kill justamente neste álbum, após entrar em 1992 e vários trabalhos gravados. Credito a esta dupla de guitarristas a responsabilidade de recolocar o Over kill entre as maiores bandas de Thrash novamente, pois desde "Killbox 13" eles lançaram petardos incríveis um após outro. A abertura do álbum com "Within Your Eyes" foi certeira. Mesmo sendo uma música longa, passando de 6 minutos, seus riffs iniciais arrastados, entremeados ao baixo sempre muito audível de Verni, serviram como uma espécie de marcha para uma música empolgante, ótima para um headbanging. "Love" pode ter aquela passagem esquisita em que Bobby canta sobre uma guitarra quase de Rage Agaisnt The Machine, mas tirando isso ela ainda se torna uma boa música, com o vocalista arriscando agudos e até um gutural. Lá pelos 3 minutos entra um riff que torna a música ainda melhor daí em diante. "Loaded Rack" é a terceira faixa e que fique bem claro. Ela não tem nada que chame atenção, nenhum defeito ou ousadia, ela até passa despercebida entre os nomes de faixas do álbum, mas é a típica faixa comum e metal que toda banda deveria gravar. Ela é simples e perfeita, e você só vai perceber isso se a ouvir com muita atenção dentro do contexto do álbum. Ao contrário dela, a faixa que me vem de imediato à mente quando penso neste álbum é "Bats in the Belfry". Ela tem um lance de guitarra que lembra alguma coisa do debut do Machine Head. É uma faixa diferente, com um refrão forte e um solo de guitarra que combinou demais com as bases. "A Pound of Flesh" é acelerada e forma qualquer mosh que se preze, ótima para aumentar o volume do seu system. "Keeper" fica marcada pela parede sonora reforçada pelos backing vocals do refrão, além de um belo trabalho de bateria, enquanto "Wheelz" já mete um solo curto de cara, com Blitz e as guitarras te obrigando a bater cabeça instintivamente. "The Mark" tem uma primeira parte sem tempero, mas seu final cheio de groove acaba compensando ou salvando a faixa de ser um fracasso. "Play the Ace" é a faixa doom de ReliXIV", queira você goste ou não, mas nem chega perto de incorporar um Black Sabbath como na "Crystal Clear" do trabalho anterior, sendo esta bem mais simples. O trabalho fecha com a diferentona punk country "Old School" cujo nome não faz jus ao que normalmente esperaríamos, mas é um momento divertido, com participação de Eddie Trunk, apresentador do "That Metal Show" nos vocais. A capa, mesmo sem o verde característico, traz a caveira morcego em tons marrons e dourados. Não vá na onda do "torça o nariz como os outros". A balança pesa muito mais para o lado bom do que o lado questionável deste álbum.
20 anos de The Vanished Pantheon do Mythological Cold Towers!!!
Conheci a banda Mythological Cold Towers na coletânea "The Winds of a New Millenium" de 1995, da extinta Demise Records, e sempre achei a música apresentada pela banda de Osasco, "Golden Bells of Eternal Frost", um dos destaques da coletânea. Os anos se passaram e a banda se consolidou como uma das mais poderosas do estilo death doom metal brasileiro, chegando a seu 3º petardo em 2005, o excelente "The Vanished Pantheon"! Gravado pelo vocalista Samej, os guitarristas Shammash e Nechron, Hamon na bateria, Lord Morpheus no baixo e Flagellum nos teclados, o trabalho foi lançado pelo selo Somber Music, com livreto de 16 páginas e imagens ancestrais, e no capricho. São apenas 5 músicas, mas que ultrapassam 48 minutos de puro Doom extremo, com vocais guturais na maioria das vezes, e narrado em alguns momentos. Vozes em coro ainda aparecem como surpresa no som, como em "Ancestral Solar Emblem", e termina em "fading out", dando a impressão de fim, mas apenas um efeito para enfatizar um momento importante da canção. As letras do M.C.T., assim como o próprio nome da banda indica, navegam por mitologias, crenças e povos ancestrais, civilizações extintas, deuses, monólitos, totens e profecias milenares. Os teclados têm um papel fundamental no som deste álbum, pois trazem um complemento às guitarras, tornando o som épico, transportando o ouvinte às enormes construções antepassadas e perdidas no tempo. Mesmo estando no mesmo patamar de bandas de death doom, o M.C.T, tem características épicas e extremas, e seu som é claramente peculiar, saindo do lugar comum do doom, principalmente pelas vocalizações diferenciadas, narradas ou brutais. Ouvir "The Vanished Pantheon" traz sentimentos distintos, de prazer, fúria e perturbação, e mostram um grupo acima da média, e um orgulho para os amantes do som arrastado. São 20 anos deste trabalho, mas pelo capricho e competência com que foi elaborado, poderia ser um lançamento recente.
sábado, 26 de julho de 2025
20 anos de Mezmerize do System of a Down!!!
Eu ouvia falar no System of a Down no início dos anos 2000 mas sempre corri de sua música, já que a banda era (ou ainda é) classificada como Nu Metal. Mas em 2005 no horário de intervalo no trabalho a TV estava ligada em algum canal e passava o vídeo de "BYOB". Se você já foi um peixe em outra vida, e teve o desprazer de ser pescado por um anzol, vai entender o que senti naquele momento. Uma banda que eu julgava pelo estilo em que era enquadrada e que me fisgou de imediato com uma música que achei fantástica, misturando 3 estilos de vozes diferentes, mudanças bruscas de andamento, energia e nada daquela coisa dançante e bagunçada com afinação de guitarras quase nos dedos do pé a que eu associava o Nu Metal (e ainda associo). Meu grande amigo Lenilson, que alguns meses depois foi morar no Japão, viu minha empolgação com aquilo e me ofereceu o álbum Mezmerize para ouvir. Caramba, me surpreendi com as músicas destes caras, uma maluquice que em palavras seria pouco provável de dar certo, mas que musicalmente preenchem um álbum sensacional. Aquele som havaiano de "Radio/Vídeo" com certeza é algo que eu não procuraria para ouvir caso lesse em uma resenha, mas faz dela uma das faixas mais legais do álbum. Algumas coisas mais estranhas como "This Cocaine Makes Me Feel Like I'm On This Song" que tem o título maior que a duração da faixa, ainda assim é muito legal. A estrutura das músicas deste álbum é brilhante, a criatividade da trupe estava em um nível muito acima de mentes normais, e com a sorte de ter um vocalista como Serj Tankian com todos os coelhos alucinados que tirou da cartola neste play, começo a acreditar que o S.O.A.D. tenha sido abduzido em algum momento da carreira e voltado à Terra com ideias não convencionais para a música, em especial ao metal e toda a sua mania de não olhar pros lados (não me excluo), e pronto para criar uma música totalmente insana, que eu proibiria veementemente de ser executada em casas de recuperação para pessoas com problemas psicológicos. Mesmerize é pesado, ousado, melódico, criativo, agressivo e mesmo que estas qualidades possam ser encontradas em muitos outros álbuns por aí (mas quase sempre não no mesmo álbum), ele ainda tem a qualidade de desmistificar um estilo e mudar o conceito (ou preconceito) de quem possa ver a banda sem brilho nos olhos. Destaque ainda para as ótimas "Cigaro", "Revenga", "Old School Hollywood"e a balada "Lost In Hollywood".
20 anos de Catch Thirtythree do Meshuggah!!!
Nos anos 90, época de MTV e VHS, coisas que os mais novos nem saberão o que significa, gravei um clipe do Meshuggah no Fúria, e por muitos anos este ficou lá entre incontáveis horas de vídeos, até que tive que me desfazer de todo este material antigo, muita coisa mofada ou sem nenhum aparelho para assistir e, numa era de Youtube, sem muito sentido. Não vou me lembrar qual era a música, mas talvez algo do álbum "Destroy, Erase, Improve", mais pelo ano de seu lançamento que por qualquer outra coisa. Já aquele vídeo onde a própria banda com uma câmera na cabeça filmava os caras tocando em um cômodo ou algo assim, não me trouxe nenhuma vontade ou necessidade de procurar outro material da banda. Portanto, após 30 anos, cá estou novamente ouvindo algo desta banda sueca, seu quinto trabalho, "Catch Thirtythree", que está fazendo aniversário de 20 anos. A arte da capa é legal, com as serpentes sobre o fundo escuro, combinou bastante com o logotipo da banda. Quando comecei a ouvir o álbum, aberto com "Autonomy Lost", nem percebi quando passou por "Imprint of the Un-Saved", nem mesmo "Disenchantment", e quem perceberia, caso não estivesse vendo o tempo de músicas e as faixas sendo trocadas num aparelho, o que não era meu caso? Se fosse uma única música de seus 5 minutos, seria um som até legal, meio monótono porque sem muita variação, mas a falta de variação nunca foi um problema pra mim se a invariável fosse boa, o que digamos, não é bem o caso aqui. Mas quando começa "The Paradoxical Spiral" e a variação existe, porém é mínima, tudo começa a ficar entediante de verdade. Porque este é na verdade um álbum de 47 minutos de uma música só, fatiada em vários pedaços, como nas casas com muitos filhos de antigamente, em que a mãe cortava em partes iguais uma bisnaga de pão francês para 10 filhos, mas ninguém queria as pontas. A impressão que fica, ouvindo "Catch Thirtythree" é que estamos comendo as pontas sempre, com quase zero miolo, apenas casca sem resquícios de manteiga. Mastigamos, mastigamos e não ficamos satisfeitos. O que se pode tirar de bom é a produção, o timbre da guitarra, o baixo bem apresentado, um bom baterista e um ótimo vocalista, mas um som enfadonho que, se ouvido ao volante, abra bem a janela para te manter acordado. Porque acordar em outra dimensão com esta música na cabeça seria um pé no saco.
terça-feira, 22 de julho de 2025
domingo, 13 de julho de 2025
20 anos de Strength Power Will Passion do Holy Moses!!!
O Holy Moses da Alemanha acabou. Lançou seu último trabalho em 2023 e também fez sua última apresentação, após 13 "full albuns" de estúdio. Mas sempre será lembrada como aquela que apresentou uma das vocalistas mais brutais da história do metal, precursora dentro do Thrash Metal, a bela (e fera) Sabina Classen. Depois de 2 demos ela entrou na banda para o terceiro registro de demonstração, intitulado "Satan's Angel" de 1982 e a história de sucesso começou em 1986 com o primeiro full "Queen of Sian". "Strength Power Will Passion" chegou em 2005, o 9º trabalho, e neste momento outra banda já despontava com uma vocalista feminina como referência, os suecos do Arch Enemy de Angela Gossow, que tiveram tanta visibilidade que ajudaram bandas como o Holy Moses a alcançar um maior público, mesmo que tenha chegado primeiro. Coisas da arte e do mundo. Portanto acredito que o sucesso deste trabalho muito se deva àquilo que Gossow trouxe, mesmo que seja realmente um ótimo trabalho. Para ser ainda mais incisivo no onda, colocaram o rosto da vocalista na capa, à frente de um pentagrama e com uma cruz invertida na testa. Os alemães realmente queriam chamar atenção e aproveitar o bom momento. O guitarrista Andy Classen, marido da vocalista, havia se despedido da banda com o ótimo "Disorder of the Order" de 2002 e em seu lugar entrou Michael Hankel, que trouxe ótimas ideias para a banda. O som não é apenas thrash, agora temos muito de melodic death em sua veia mais extrema, uma cara nova para a banda que tirou um pouco da fúria e atitude de outrora, mas que em nada minimizou o som do Holy Moses. Se você pegar as 2 faixas que abrem o petardo, "Angel Cry" e "End of Time", vai perceber que o som está mais próximo do mainstream como nunca. E músicas como "Examination" até te trazem nostalgia do Death na era Symbolic. Há também aquele coro básico e masculino, como no refrão de "I Will" que não deixa o som decolar muito às alturas, lembrando que pertencem ao underground com aquela pegada hard core. Mesmo que eles não consigam manter o mesmo pique por todos os mais de 40 minutos do trabalho, ele ainda soa bastante homogêneo e em nenhum momento te obriga a mudar de faixa. Vale muito a pena botar essa bolacha pra girar.
20 anos de Candlemass do Candlemass!!!
Com tantas trocas de formação ao longo da história e vários vocalistas, ainda fica a sensação de que o icônico Messiah Marcolin seja a figura mais emblemática da clássica banda sueca Candlemass. E aqui, no oitavo álbum autointitulado está sua voz marcante novamente. Talvez até a banda sinta um pouco esta sensação, ou sentia 20 anos atrás, já que um álbum com o nome da banda muitas vezes significa reafirmação do tipo: somos a essência do Candlemass e este nome basta, apesar de que em algumas vezes é apenas falta de criatividade mesmo, o que, ouvindo o álbum, passa bem longe disso. Porque "Candlemass", com sua capa branca não se resume a um bom vocalista, mas a um conjunto de pequenos hinos fantásticos de Doom Metal Épico. Ok, não temos a mesma aura de "Nightfall" ou "Epicus Doomicus Metallicus", mas a banda do baixista e fundador Leif Edling construiu músicas pesadas e consistentes, onde as guitarras de Lars Johansson e Mappe Björkman, que ente idas e vindas vieram para este play e não saíram mais, exercem um papel fundamental calcado em riffs muito bons. Todas as faixas são contempladas com bons riffs, alguns melhores que outros, mas até a instrumental "The Man Who Fell From the Sky" não deixa a desejar. "Born in a Tank" talvez seja a que deixe menos lembranças após ouvir o petardo, mas ainda assim pode ser considerada a que tem um dos melhores solos de guitarra, e aqueles riffs cavalgados que alguns odeiam e outros amam (incluindo eu). Já minha favorita é a faixa de abertura, "Black Dwarf". Sei que ela não representa muito a banda, pois é mais acelerada e Marcolin imprime um tom mais grave, mas seus riffs me cativaram de primeira e ainda permanecem depois de tantos anos. Já os mais tradicionalistas podem preferir "Spellbreaker" ou "The Day And The Night", as faixas que encerram o álbum, em especial esta última, que tem aquela pegada mais tradicional, com alguns dedilhados e um riff estourando os P.A.s que ficaram maravilhosos, além daquela interpretação vocal que faz a alegria das criaturas noturnas. Este trabalho marcou o fim da era Messiah Marcolin no Candlemass em álbuns de estúdio, e trouxe de volta a banda para os holofotes, mostrando que o doom, mesmo sendo um dos estilos mais pisoteados do metal, sempre se reergue poderoso, enfrentando tudo e mostrando que velocidade só é imprescindível nas auto-cars. Clássico!
domingo, 6 de julho de 2025
20 anos de Antithesis of Light do Evoken!!!
Parece que estão tocando harpas no inferno. Esta foi a frase que me veio à mente quando ouvi "Antithesis of Light", o terceiro trabalho full dos americanos do Evoken, lançado em 2005 pela Avantgarde Music. As melodias de baixo e guitarra quando são apresentadas em contraste ao restante ou simplesmente destacadas sozinhas, algo utilizado em todo o álbum, passam esta sensação de harpas mortuárias tocadas no funeral de alguma criatura soterrada nas profundezas, ou até mesmo de alguma alma conduzida ao purgatório para refletir sobre sua vã existência. O Evoken consegue soar como uma banda de death doom que ultrapassa os limites da existência em direção ao funeral doom, pois mesmo que esteja claramente musicando neste terreno, carrega influências de seus predecessores dos anos 90, aqueles que transformaram tristeza, solidão, sofrimento e angústia em música. Como alguém dificilmente consiga a fórmula para transformar um álbum de funeral doom em um conjunto de canções totalmente distintas umas das outras, não podemos classificar a similaridade entre elas como ponto negativo para esta antítese da luz, portanto é fácil dizer que o terceiro full deles beira a perfeição dentro do estilo. Músicas longas, todas entre 10 e 13 minutos, arrastadas com raros momentos mais rápidos, como naquela evolução de "In Solitary Ruin" em que blast beats são adicionados, algo já realizado no álbum anterior e executado em perfeição extrema no álbum "Serenades" do Anathema, guitarras a cargo de Paradiso e Nick Orlando ultra pesadas e distorcidas que nunca se tornam emboladas ou inaudíveis, trazendo inclusive alguns solos sinistros em alguns momentos, teclados, a cargo do novo membro Denny Hahn que remetem a montanhas distantes numa paisagem escurecida e assombrada, além de uma bateria extremamente bem tocada por Vince Verkay, fazendo seu melhor trabalho até aqui no Evoken, com timbres claros e altos, soando como pedras rolando em catacumbas nos momentos mais reverberantes. Os vocais de Paradiso são extremamente guturais e abertos, bem diferente daqueles vocalistas que parecem prender um pregador de roupas no nariz na hora da gravação. Tirando a baixa diversificação que já comentei, poderiam ter lançado um álbum com uma intro e uma faixa de 71 minutos subdividida em etapas que o efeito seria o mesmo. Mas soa melhor da forma que foi lançado. Ouça!
segunda-feira, 30 de junho de 2025
20 anos de A Book of Shadows do Goat of Mendes!!!
"A Book of Shadows" é o 4º full length da banda alemã Goat of Mendes. Apesar de gostar mais dos 2 primeiros álbuns, mais calcados no black metal, não posso esconder que gosto muito desta banda, que ocupa as fileiras de baixo no escalão do underground mundial, não sendo muito conhecida pela maioria. Lançado pelo micro selo "Mendes" da própria banda, este registro é ainda mais relegado ao gueto que na época em que a banda pertencia ao selo "Perverted Taste" (Carpathian Forest, Taake e outros), mas tenho uma cópia em MP3 desde 19elávaikafunga, que passei para o CDR também. O som é muito responsável, a banda sempre seguiu um caminho de trabalho e confiança em sua música. A produção pode não ser das melhores, caso contrário é certo que a banda teria um público ainda maior. Em minha opinião um dos grandes trunfos do Goat of Mendes é o trio de vocalistas, que estavam lá desde o início da banda, Maia, Surtur e Marco (também guitarra e baixo). As vozes, sejam narradas, cantadas ou gritadas, são praticamente as mesmas que ouvimos desde "Hymn To One Ablaze" (1996) e isso é a identificação imediata da banda. Principalmente porque não são vozes típicas de um estilo, daquelas que 1 milhão de bandas possui, você saca que são eles sem precisar que te mostrem a capa do play. Este álbum supera o anterior "Thricefold" (2002), onde a banda fincou de vez os pés no Pagan Metal, porque aqui temos um maior equilíbrio com o black metal de outrora. O primeiro grande destaque fica para a faixa título, uma das mais curtas do álbum, com 4 minutos e quarenta, com todos os elementos condensados de forma que você pode ser apresentado aos alemães com esta canção. Os riffs de Marco e Larz são um detalhe crucial, podem não ter a técnica de mestres mas fazem toda diferença no som. Outro detalhe nascido do álbum anterior que perdura aqui é o uso do violino. Ouça a faixa "Guardian Spirit" e se surpreenda com um som que poderia estar em qualquer álbum do "My Dying Bride", triste e profundo, ao passo que a banda diminui o ritmo para fazer um efeito doom nos momentos que o violino entra. O som é quase sempre rápido, mas nada exagerado e outra faixa épica de extremo bom gosto é "Staff and Chalice, Sword and Stone", cheia de reviravoltas e uma de minhas preferidas. A arte da capa imitando a capa de um livro não é das melhores, se fosse preta ao invés de marrom seria mais impactante, mas este é apenas um detalhe para um álbum de metal extremo bem interessante, que tanto fãs de Cruachan quanto de Opera IX deveriam ouvir. Sério, sem invencionices risíveis e de extremo bom gosto.
domingo, 15 de junho de 2025
20 anos de The Archaic Abattoir do Aborted!!!
A banda belga Aborted lançava em 2005 seu quarto registro, intitulado "The Archaic Abattoir". Quero começar pela arte da capa. Lançado no Brasil pela Malignant Art sob licença da Listenable Records, a cópia que tenho em mãos vem envolta em um belo slipcase, com uma arte totalmente diferente da capa original, algo muito enriquecedor que venho falando constantemente. Selos, lancem splicases com uma arte diferente da capa do encarte, isso é fantástico para os colecionadores. Neste caso, temos um "doutor" mascarado com uma serra elétrica pronto pra dividir um corpo, enquanto o slipcase mostra o lado externo da construção onde se dá a cena. Tudo naquela aura de jogos modernos de terror, mas mesmo assim casando perfeitamente com o som brutal do Aborted. A pancadaria come solta no petardo e se você não prestar atenção vai terminar os 36 minutos do álbum achando tudo a mesma coisa so início ao fim. Ok, os caras não criaram alguns hits em meio a preenchimentos, isso é coisa de banda de hard rock, mas podemos perceber particularidades que definem cada música como única, mesmo que todos toquem o mais brutal que sabem. "Hecatomb" por exemplo tem uns breakdowns que os fazem se aproximar do deathcore, além de um riff no final muito thrash metal, enquanto a excelente "Gestated Rabidity" tem alternâncias expetaculares e um solo de guitarra que se não tem nenhum super poder, consegue carimbar a faixa com uma melodia que diz: "I don't give a fuck" pra qualquer um. "The Gangrenous Epitaph" tem um peso avassalador, com andamentos um pouco mais contidos, como um cruzamento de Gorefest com Carcass. Os vocais de Sven duelam entre o ultra gutural, que eu acho mais legal, e o gritado, que acaba dando uma pegada metal core ao som em alguns momentos. Outra faixa matadora é "Threading on Vermillion Deception", com sua letra em torno da necrofilia, mas um instrumental tão coeso e doentio quanto sua letra. Enfim, não ouça "The Archaic Abattoir" fazendo aquela faxina na casa. Pare e preste atenção nos riffs, nos vocais, na bateria destruidora. Certamente encontrará um álbum poderoso, uma ameaça aos ouvidos sensíveis.
segunda-feira, 2 de junho de 2025
20 anos de Command To Charge do Suidakra!!!
Eu, particularmente, sempre achei "Command to Charge" o trabalho mais diferente da banda alemã Suidakra. Com um início bem calcado no black/folk, a banda liderada por Arkadius gravou no final de 2004 e lançou em 2005 seu sétimo trabalho, com a pegada mais melodic death possível. Nem os solos de guitarra mais folk conseguem deturpar a sensação de um som calcado em Gotemburgo, e a música "Second Skin" é um exemplo perfeito desta afirmação, tanto em seu título, que remete verdadeiramente a uma segunda pele apresentada pela banda, como o som diferente de outrora, como em suas bases death, seu belíssimo solo tipicamente celta e os vocais limpos que bandas como In Flames e Soilwork tanto imprimiram em seu som naquele período. Temos instrumentais mais folk para quebrar o clima, momentos deliciosos, que se não forem sublimes, conservam a etiqueta original da banda, como "A Runic Rhyme" e "Haughs of Cromdale". A capa do play, criada por Kai Swillus, me incomoda bastante, apesar dos tons azuis que tanto gosto, mas achei a caveira muito digital, e me faz lembrar bandas de metalcore, arte bem aquém da que ele criou para "A Light in the Dark" do Metal Church. "Gathered in Fear" já é um belíssimo tema folk, cantada com a voz limpa do guitarrista Matthias Kupka sobre cordas acústicas, dando aquele toque existencial de floresta que toda banda deste segmento adora presentear seus fãs. "Dead Man' s Reel" é uma música que lembra música tradicional escocesa e é um dos momentos que faz você se esquecer do death melódico por 4 minutos, o que é bem legal. Tenho que admitir que taxar "Command to Charge" como um álbum de melodeath é algo puro e crucialmente um sentimento de recordação, nascido em meu âmago há 20 anos quando comprei este álbum pensando nas maravilhas de "Lays From Afar" e mais precisamente no inquestionável "Emprise To Avalon", mas quando o laser destrincha as ranhuras do CD, este sentimento fica relegado a segundo plano, uma vez que o sétimo filho do Suidakra joga tanto no ataque quanto na defesa, e hoje, proporciona momentos muito mais eficazes que na época de seu lançamento. Essa dualidade pode ser identificada na faixa que deveria fechar o trabalho, não fosse uma hidden track, a "The End Beyond Me", que esconde um final que apresenta após alguns segundos a vocalista Tina Stabel em "Moonlight Shadow", bem interessante e encantador, e dali em diante ela faria várias participações nos álbuns da banda. É necessário dar uma chance a este play, caso não o tenha ouvido nestes últimos anos.
domingo, 25 de maio de 2025
20 anos de The Code Is Red... Long Live The Code do Napalm Death!!!
"The Code Is Red... Long Live The Code" é o segundo lançamento do Napalm Death pela gravadora Century Media, e o primeiro de inéditas já que o debut foi um álbum de covers. O que temos aqui sem dúvida é um play do Napalm, com todas as características que você, criatura noturna, conhece. Bateria incansável e em alguns momentos (Sold Short) com levadas que remetem a estilos totalmente diferentes do death/grind e nem por isso soando como um bêbado numa reunião de AA. Temos algumas participações especiais ajudando Barney Greenway com seus gritos insanos. Estamos falando de Jeff Walker do Carcass na faixa "Pledge Yourself to You", que estava longe da cena a aproximados 8 anos, mas achei que seu vocal rasgado foi um pouco suplantado por Greenway em volume. Jamey Jasta do Hatebreed está presente em duas faixas, "Instruments of Persuasion" e na citada "Sold Short" e a presença mais significativa em termos de casamento bem sucedido, Jello Biafra do "Dead Kennedys" e outros, na ótima faixa "The Great and the Good", minha preferida no petardo. O momento estranho ficou com "Morale", uma faixa progressiva e pouco agressiva que, estranhamente ganhou um vídeo para divulgação do álbum, além da porrada de abertura "Silence Is Deafening". Todos os músicos desempenham um papel crucial na configuração do som, seja Mitch Harris nos riffs sujos, porém bem produzidos, ora mijando fora do pinico grind e nos presenteando com aquela sonoridade death inglesa de anos 90, mas quase todo o tempo carregando no grind clássico, Shane Embury com as 4 cordas estourando e enchendo o ambiente de peso e distorção, ou Danny Herrera empregando muita velocidade em todas as faixas. Tenho certeza que há 20 anos muitos fãs julgaram "The Code Is Red..." apenas mais um álbum do Napalm e hoje o tenham como um clássico.
quarta-feira, 21 de maio de 2025
Entrevista com Gabriel Andrade (OSFIDECRUZCREDO)!!!
Metal e Loucuras – Gabriel, um prazer tê-lo em nossa página Metal e Loucuras. Se
apresente para nossos seguidores.
Meu
nome é Gabriel, como você me disse, sou comediante stand up e faço
vídeos de humor pra internet. Foi um jeito fácil que achei de
largar a engenharia.
M&L – A primeira coisa que chamou nossa atenção em seus vídeos, foi
a temática de metal extremo. A vida de cara do metal extremo numa
cidade do interior de Minas. Você é realmente um fã de metal?
Sim.
Desde criança. Meu pai ouvia algumas bandas de metal mas ele era
mais do rock nacional e progressivo. Acabei depois eu mesmo
descobrindo esse universo por conta própria.
M&L – Desde quando e quais bandas você mais curte?
Desde
que nasci. Não me lembro quando comecei. Eu curto todo o universo do
metal. Desde Black Sabbath até Rotting Christ. Sepultura, Velho,
Sarcófago, Venom, Death, Mayhem. Se tem guitarra, eu tô ouvindo.
M&L – Você tem postado a criação de uma banda, com o hilário nome
“Os Fi De Cruz Credo”. É só mais uma brincadeira, ou vocês
estão levando isso a sério? Você toca algum instrumento?
Começou
como uma piada mas depois a gente começou a fazer acontecer de
verdade. Eu toco guitarra e meu irmão, Vinícius, toca bateria. O
cabeludo que aparece nos vídeos como o personagem “primo”. A
banda somos nós
dois.
M&L - Qual será o estilo de metal?
Black Metal Mineiro!
M&L - Pelos títulos, será cantado em português, como serão as letras?
As letras serão sobre coisas cotidianas de Minas Gerais. Sempre em tom de comédia, porém levando a parte melódica mais a sério para de fato parecer uma banda. Porém sem esquecer que sou humorista, portanto segue sendo uma sátira.
M&L - Você mesmo está fazendo os vocais?
Sim.
Eu mesmo irei cantar. (Eu espero).
M&L - Vc citou um CD em breve num
vídeo, será físico ou apenas
streaming? Vocês mesmos vão lançar?
A
gente mesmo vai lançar e em streaming. A princípio nada físico
pelo custo que isso acaba gerando.
M&L -Existe uma preocupação em ser
comparados ao pessoal do Massacration?
Seria
uma grande honra ser comparado a qualquer coisa criada no Hermes &
Renato. Se eu sou humorista hoje, grande parte é por causa deles. Eu
costumo dizer que é como xingarem o Greta Van Fleet por parecer Led
Zeppelin. Meu amigo, se eu tenho uma banda e me dizem que tá
parecido com uma das maiores da história, pra mim é elogio.
M&L - Sendo o estilo o metal extremo, você tem a preocupação da galera mais radical não entender que se trata de diversão e começar a jogar pedras?
Eu
não dou a mínima pra isso, honestamente. Eu olho pra quem tá
gostando. O que me preocupa são as pessoas que estão rindo. Quem tá
odiando nunca me afetou na internet. Muito pelo contrário. Acho até
engraçado uns "marmanjo véio" se doendo porque acha que o
que ele gosta é sagrado. Me divirto demais com haters. E eles ajudam
no engajamento, então só tenho gratidão por eles. (risos)
M&L – E como realmente é a vida de um headbanger numa cidade do
interior, ou até mesmo da zona rural?
É
bem diferente da capital. A gente cresce ouvindo esse som e depois
acaba conhecendo meia dúzia de malucos que também gostam. Mas não
tem show pra ir, nem bar de rock. É só a gente com a gente mesmo.
Bebendo vinho barato na frente dos Correios e sendo amigo de todo
mundo. Punks, metaleiros e idosas. Todos juntos.
M&L – Muitos personagens aparecem nos seus vídeos, a maioria
apresentada como sua família. Eles realmente são seus parentes?
Todo
mundo que apareceu nos vídeos até hoje é da minha família.
Namorada, primos, irmãos, avó e até minha priminha
M&L – Qual tipo de vídeo tem maior interação dos seguidores?
Os
vídeos que a gente consegue juntar a vida na roça com as coisas da
banda. Esses são os que vão melhor.
M&L – O que você faz da vida, além daquilo que os seguidores seguem
nas redes sociais?
Faço
show de stand up há 7 anos e vivo disso.
M&L – Existe uma programação de lançamento de conteúdo ou você tem
aquela luz e do nada surge uma nova ideia e põe em prática?
Vem
do nada, gravamos sem roteiro e vou criando na hora. Edito no celular
mesmo e posto. Sem muita alteração ou cortes.
M&L – Conta pra gente, a herança da sua avó, aquele acervo
cinematográfico, foi real?
100%
real. Depois que ela faleceu fomos vasculhar as coisas dela e
encontramos dezenas de segredos. Dentre eles, os filmes.
M&L – Os títulos das músicas dos Fi Di Cruz Credo fazem sentido pra
todos os seguidores, ou só nós mineiros conseguimos entender
perfeitamente?
Todo
mundo entende, mas só o mineiro sente na alma. É a mais pura
verdade do nosso cotidiano. As pessoas acham que a gente exagera. Mas
Minas Gerais é um país.
M&L – Deixa um recado pros seguidores do Metal e Loucuras, que não
vivem apenas de metal, mas que ainda não conhecem mas podem conhecer
as loucuras do seu perfil.
Endereço do Instagram:
https://www.instagram.com/gabrielandrademg?igsh=aXl1N2VlaXIxdWdv
quinta-feira, 1 de maio de 2025
20 anos de Descent into Chaos do Nightrage!!!
O Nightrage reformou a cozinha para o segundo álbum, recrutando o baixista Henric Calrsson e o baterista Fotis Benardo. Novamente trabalhando no cast da Century Media com Fredrik Nordström agora como engenheiro de som e teclados, passando a bola da produção para Patrik Sten, o que não comprometeu em nada à qualidade em relação ao debut de 2003. "Descent into Chaos" é mais agressivo, deve-se dizer, e o novo batera trouxe uma velocidade maior, para acompanhar os riffs de Marios Iliopoulos e Gus G. Ao contrário de outras bandas de death melódico como Soilwork, o Nightrage quase não emprega nenhuma veia progressiva em seu som, o que podemos ouvir com brevidade em músicas como "Frozen", mas as faixas são mais retas e curtas, uma pequena referência ao metalcore americano. Algo que me agrada no primeiro álbum são os vocais limpos que ficaram a cargo do convidado Tom Englund do Evergrey, contrastando com os ótimos rugidos roucos de Tomas Lindberg, e confesso que quando soube que Mikael Stanne faria as vozes limpas neste play, fiquei ainda mais empolgado, pois quando ele cantou assim no Projector do Dark Tranquillity ele fez um trabalho soberbo, o melhor de sua carreira. Mas como convidado por aqui ele canta apenas na faixa "Frozen" com uma voz bem longe das lamúrias melancólicas que esperava, mas fazendo algo quase eletrônico. Decepção neste quesito é o que posso dizer. Algumas músicas como "Silent Solitude" lembram bem o debut, com uma veia mais melódica, mas no geral este álbum é um retrocesso e esperava mais dele. Porque nem sempre quando uma banda reduz as melodias e aumenta o tom agressivo não quer dizer que ela soe melhor. Gus é declaradamente um cara de boas melodias e elas não foram muito bem introduzidas por aqui. Faixas menos aceleradas como "Release" são mais agradáveis de se ouvir, mesmo que no geral a banda parece que não se empenhou em criar nada contundente e que fosse ser referência ao longo dos anos posteriores. Parece até que eles gravaram a fraca música instrumental "Solus" como desculpa para a veia mais metalcore, o que não reduziu em nada seu deslize. Pode ser que no mercado americano "Descent into Chaos" tenha se saído melhor por isso, mas como não sou americano, não vou passar pano.
quinta-feira, 24 de abril de 2025
20 anos de Ashes do Tristania!!!
Me apaixonei pelo Tristania nos primeiros segundos de "Widow' s Weeds" e esta paixão duplicou com a chegada de "Beyond The Veil". Porém no terceiro álbum, "World of Glass", quando lançado, acabei por relegar a banda a patamares inferiores em minhas prateleiras de gosto musical, por todas as questões que já abordei aqui na página, quando o álbum completou 20 anos em 2021. O álbum anterior conserva ainda uma filosofia musical ou gene artístico de seu fundador Morten Veland, mas o 4º álbum da banda, "Ashes", lançado em 2005 pela Steamhammer (uma clara referência de perda de popularidade após trabalhar com a Napalm Records ou o motivo para isso?) viu a luz do dia, apesar de sua alma cinza, num formato bem diferente do anterior. "Ashes" tem uma essência totalmente gótica. Tem a melancolia Doom, mas com efeitos mais soturnos e menos tristes. Os vocais masculinos não são mais guturais, eles se revezem entre o rasgado de Kjetil Ingebrethsen e os limpos de Osten Bergoy, ótimos por sinal, mas os rasgados não têm nenhuma qualidade que me faça mostrar os dentes durante a audição. No quesito voz, a sensação continua sendo a belíssima Vibeke Stene, que reduziu consideravelmente o canto lírico e agora nos presenteia com vozes angelicais em perfeita harmonia com o som mais acústico proposto pela banda em "Ashes". As 3 primeiras faixas são exemplos fiéis daquilo que o Tristania praticou neste álbum. A abertura com "Libre" mostra que as camadas excessivas de outrora não existem mais, e a banda aposta mais na simplicidade e introspecção, mas os vocais rasgados soam forçados e desnecessários nesta faixa. Em seguida temos "Equilibrium" e é quando percebemos quão soberba é Vibeke com sua voz importantíssima para a banda. E logo depois temos o maior destaque do álbum, a raivosa "The Wretched", com todos os músicos se sobressaindo e um riff gelado e mal de Anders Hoyvik tomando os espaços. O baixo de Rune Osterhus está presente em todo o trabalho, mas ganha destaque especial em "Circus", numa passagem pesada e cheia de charme. As letras de "Ashes" são um prato de sangue e flores à parte. São o tipo de letras que dá gosto de se ouvir e compreender elevando a experiência da audição do álbum, transmitindo uma profundidade mórbida, transformando músicas como "Shadowman" em pura, bela e sensível arte gótica. O Tristania mudou, perdeu identidade, perdeu público, mas se reinventou, e encontrou na simplicidade uma fórmula quase perfeita para se transformar, sem perder totalmente os vínculos, se distanciando sem se distanciar do espírito que deu início a esta jornada desolada e perene!
20 anos de Heretic Signs do ByWar!!!
Três anos após o debut "Invincible War" os paulistas do ByWar retornavam com "Heretic Songs", um trabalho melhor produzido e mantendo a mesma essência, lançado agora pelo selo Kill Again, com uma arte em tons azuis mas nem tão legal quanto a anterior. O petardo abre com a intro "Into The Curse" que serve de entrada para a cassetada "Heretic Signs". A rifferama continua preponderante, mas a produção deixou o som mais claro, com a bateria talvez uns decibéis acima do necessário, mas nada que comprometa. Um ponto importante foi a banda manter a mesma formação do debut, com a galera adquirindo mais experiência e consequentemente agregando mais ao thrash old school na veia alemã da banda. Enrico Ozio era o cara das baquetas, que vez ou outra introduzia alguns blast beats no som, trazendo um diferencial para o som praticado e tocando rápido para a alegria do mosh geral. O baixo de Hélio Patrizzi está bem presente, ponto para a produção que não escondeu este instrumento tão importante para o estilo. Dá pra sentir a pulsação em momentos mais slow (e raros) como naquele trecho lá pelos 3 minutos de "Frozen Deadly War" que é uma música bem legal. As guitarras de Vitor Regep e Adriano Perfetto evocam o que de mais tradicional o thrash europeu poderia prover. Riffs envolventes e frenéticos com alguma melodia mais evidente como na introdução do solo de "The Last Life" ou no início de "Subconscious Death". Um ponto a se registrar são os vocais de Perfetto. Alinhados com perfeição ao instrumental praticado, impossível não mencionar a similaridade à voz de Schmier do Destruction. Aquele rasgado raivoso e anasalado, cativante e muito funcional. É necessário ouvir o álbum na íntegra, mas momentos importantes como os já citados, além de "Inquisition" com aquela passagem mais cavalgada e a super thrasher "At Trance with Metal" também devem ser mencionados. A banda havia anunciado um retorno durante a pandemia, mas pouco se ouviu falar no ByWar depois disso. Seria bom um retorno real à ativa. "Thrash Till Death", criaturas!!!
quarta-feira, 9 de abril de 2025
20 anos de The Origins of the Paganblood do Soulgrind!!!
O Soulgrind da Finlândia jamais ultrapassou as fronteiras do underground, assim como muitas bandas ao redor do mundo, mas eles nunca desistiram. Desde 1992 na ativa e com 9 full álbuns na bagagem, a banda liderada pelo guitarrista Lord Heikkinen chegava a seu sétimo trabalho em 2005, com o título de "The Origins of the Paganblood". Agradando pessoas que gostam de metal extremo, do black ao folk metal, eles não mudaram as regras do jogo. Podemos encontrar até alguns riffs thrash por aqui, como na faixa "When Those Nights Have Circled Over". Os vocais de Azhemin são rasgados e raivosos, enquanto temos a voz de Whisper, desde 1997 na banda, e responsável por uma evolução significativa no som conturbado que era feito antes, quando era uma "one man band". Ela consegue cantar de forma natural, nada lírico como podem imaginar, e divide muito as vozes com Azhemin. Vez ou outra temos uma voz mais grave e falada, que acredito ser do baterista Agathon Frosteus, também creditado como vocalista, falecido em 2022 aos 53 anos com um tumor cerebral e quem gravou a bateria no ótimo Christcrusher do Thy Serpent em 1998. O legal de ouvir o Soulgrind é que eles tentam diversificar seu som sem seguir a mesma fórmula para todas as músicas. Um exemplo é a música "Autumn", que privilegia a voz de Whisper e parece algo mais acústico, mas de repente entra um riff legal com vocais rasgados."Flesh Marionette" é outra que apresenta um som mais orquestrado nos teclados e uma estrutura de vocais para incentivar o público a bradar junto. Você pode achar que o Soulgrind seja uma banda medíocre dentre tantas bandas por metro quadrado na Finlândia, mas ouvindo seus álbuns, e neste caso esse que completa 20 anos, o que podemos dizer é que a banda realmente não faz nada de novo, mas ela leva a sério aquilo que cria, é um sonho e xodó de seu guitarrista e fundador, adotada pela vocalista Whisper, e o Soulgrind continua existindo pela determinação dos dois, praticando um som que não é unanimidade em nenhum lugar, que é o pagan black metal, mas cultuado e sustentado pelas poucas trupes que os cultuam.
20 anos de The Middle of Nowhere do Circle II Circle!!!
Depois de deixar o Savatage, montar o Circle II Circle e gravar seu primeiro álbum, "Watching In Silence" em 2003, Zak Stevens viu toda a banda se desmantelar para juntarem-se ao novo projeto de Jon Oliva, o "Jon Oliva's Pain". Partindo para uma segunda empreitada, Zak convocou os guitarristas Evan Christopher e Andrew Lee, o baixista e vocal de apoio Michael Stewart e o baterista Tom Drennan, todos meio desconhecidos no mercado musical. Lançaram o EP "All That Remains" e logo em seguida o álbum completo "The Middle of Nowhere", pela AFM Records, em 2005. A introdução de "In This Life" remete a alguma coisa já utilizada e passa a sensação de continuação, mas no momento não consigo lembrar o quê. Obviamente, e creio que por causa da voz de Zak, o Circle II Circle continua lembrando o Savatage, mas neste segundo trabalho eles até tentaram se distanciar um pouco deste fantasma. Não vejo motivo, uma vez que a banda já havia se desfeito após o último ato Poets And Madman de 2001, e todos nós precisávamos de uma continuação de seu legado. "In This Way" começa como uma balada e você fica se perguntando se colocariam uma música assim para abrir o trabalho, mas lá pelos 2 minutos entram as guitarras pesadas, suportadas pela cozinha. O ritmo não dura muito assim, ela logo fica mais atenuada, porém com o mesmo peso e logo entra um longo e belo solo de guitarra, para compensar a falta de solos no primeiro trabalho. "All That Remains", a faixa de destaque do EP vem com mais peso e energia, riffs empolgantes e um vocal forte e consistente, uma música que pela construção, pode agradar a fãs de Nevermore. E por falar em energia, "Open Season" é ainda mais animada e direta e um exemplo do esforço da banda de se afastar do som do Savatage. Temos muitos solos de guitarras nessa faixa também. "Holding On" deve agradar mais a galera da banda de Oliva, com uma veia mais épica e progressiva. Mais à frente temos uma das músicas mais legais deste álbum, "Psycho Motor", onde Zak solta a voz e temos um riff simples mas bem tradicional, além de um refrão em coro que difere do contexto da canção, e que casou bem. Outro grande destaque é a faixa título, na mesma pegada de uma "Chance", com aquela sobreposição de vozes que somente o Savatage sempre soube fazer com maestria. "Lost" é uma balada, essa sim, e fecha o trabalho com violão e teclado, de forma melancólica (no sentido bom) mostrando que Zak Stevens é uma das maiores vozes no metal. Não é superior ao debut, mas é bem legal.
segunda-feira, 7 de abril de 2025
20 anos de Paradise Lost do Paradise Lost!!!
Quando fiz as últimas resenhas do Paradise Lost, citei que a banda estava voltando à boa música quando lançou "Symbol of Life". Não que isso torne aquele álbum uma peça de Doom Metal, mas trouxe de volta guitarras e algo que andava faltando à banda: criatividade. Pois bem, em 2005 eles lançaram este álbum que traz o nome da banda, talvez numa tentativa definitiva de gritar que eles estavam de volta. Na realidade este é um álbum mais pesado e mais metal que o anterior, mas acredito que a criatividade não esteja à mesma altura. Se por um lado temos mais peso e guitarras ditando as regras, e os vocais de Nick Holmes soando como deveriam, (ao menos naquele momento, pois eles iriam melhorar muito depois), por outro as músicas não variam muito, ao menos dentro delas mesmas, e sabemos que a banda poderia fazer melhor que isso. A veia gótica é grossa e cheia de sangue, nada dos velhos tempos de death incrustado no som. Você pode até dançar em músicas como "Forever After" se esta for sua praia, mas existe uma tendência melancólica em todo o álbum que não vai deixar você dançar para expulsar seus demônios, mas ao contrário poderá alimentá-los e exortá-los. Mas os caras mostram que sabem transformar algumas coisas que poderiam soar terríveis em algo genuíno, como na faixa "Sun Fading", que se não fosse a mão pesada de Makintosh e a magia que Nick consegue trazer para as melodias que saem de sua garganta, essa música soaria como aquela banda famosa da Suécia que teve seus dias melhores até o segundo álbum em 1996, aquele com o cadáver do pássaro na capa roxa. Falar em capa, a do P.L. traz a figura feminina com as costas cheias de espinhos e usando a máscara que os médicos usavam para evitar o miasma da peste negra. O efeito do reflexo deixou a coisa interessante. Também usamos esta máscara para evitar o miasma da fase eletrônica da banda. Enfim, ouvir o álbum autointitulado do Paradise Lost é como montar uma vitamina com ingredientes de "Symbol of Life" e "Icon" em doses menores. Irá satisfazer sua vontade de ouvir algo pesado destes caras novamente, mas vai ficar uma vaga sensação de que eles estavam apenas no caminho certo para um real retorno ao que a maioria almejava, para o bem do Doom Metal mundial. A maior prova é a derradeira faixa, "Over the Madness", essa sim com um riff pesadíssimo que chamará sua atenção instantaneamente.
20 anos de Ascendancy do Trivium!!!
O Trivium em 2005 ainda buscava sua identidade, coisa que após muitos anos acredito que eles tenham deixado de procurar, uma vez que a banda sempre foi mutante e nunca se prendeu a um estilo definido. Mas após o fraco "Ember To Inferno" de 2003, vieram com "Ascendancy" e uma prova de melhoria, mesmo que nada a ponto de soar um clássico. Longe disso, como no debut, muita coisa poderia ser limada desse álbum para que ele ainda pudesse ser tachado de bom. A veia metalcore é o que mais incomoda, principalmente quando Matt Heafy cisma de cantar limpo. Na resenha do álbum anterior eu disse que ele melhoraria nos trabalhos posteriores, mas naquele momento acho que estava sob efeito de algum destilado, pois hoje não vejo muita melhoria. Talvez uns 10%. Os riffs continuam bons, Corey Beaulieu e Heafy despejam muitos deles com uma pegada bem thrash metal, mas as caídas melódicas para entrada dos vocais limpos continuam sendo um problema. É aquele veículo que voa quando acelerado mas de repente passa sujeira nos bicos de injeção e ele perde potência na hora. Em vários momentos você se lembra de outras coisas muito boas já registradas, como o início instrumental de "A Gunshot To The Head of Trepidation" que remete ao black metal dos noruegueses do Old Man's Child e depois do solo de guitarra, ao Iron Maiden e suas guitarras gêmeas e por fim aquela batida de bateria a cargo de Travis Smith e do baixo de Paolo Gregoletto que copiou descaradamente a batida de Ride The Lightning do Metallica, "Drowned And Torn Asunder" com alguma coisa de Machine Head e claro, os vocais gritados que poderiam ter saído do Dew Scented. Sim, com tantas referências podemos dizer que o som deste play é quase uma colcha de retalhos para simpatizantes de Avenged Sevenfold. Quando eles tentam sair do lugar comum, como em "Dying In Your Arms", uma música bem mais clean, eles até se saem bem, talvez porque não temos os vocais gritados para comparar com os demais. O Play fecha com "Declaration" com seus 7 minutos e a presunção de ser o ponto alto do trabalho. Mas eu ainda fico com "Gunshot..." e todas as suas semelhanças a bandas melhores.
20 anos de (N) Utopia do Graveworm!!!
O Graveworm da Itália chegava a seu 5º lançamento em 2005, intitulado (N) Utopia e mais uma vez no cast da Nuclear Blast. Com uma bela arte de capa, em tons azuis e uma estátua de anjo em meio a um cemitério debaixo d'água e algumas embarcações quase no horizonte, a arte passa uma sensação de paz melancólica. Mas o que ouvimos quando "I, The Machine" abre o trabalho, é uma banda raivosa, com uma bateria acelerada e pedais duplos, riffs pesados com teclados fazendo uma camada cheia de energia e vocais guturais e rasgados duelando entre si. Com uma abertura como essa, temos o jogo quase certamente ganho, e se você não conhece o Graveworm ainda e ouvir essa música, vai arriscar um chute em Agathodaimon com a participação de algum vocalista convidado fazendo os guturais, pois os rasgados você seria capaz de apostar sua casa que são do Akaias. Não que o vocalista Stefano Fiori tenha mudado muito sua forma de cantar com o passar dos anos, mas o casamento com o instrumental mais refinado do Graveworm neste álbum trouxe uma vida nova para eles. Ok que "Engraved In Black" já tenha apresentado esta veia mais sofisticada, mas ele soa um pouco mais enraizado no som black que os italianos faziam no início de carreira. Já (N) Utopia mergulhou de vez no gótico, porém blackned death gothic, por assim dizer e para ficar melhor esclarecido. A segunda faixa é, sem dúvida, uma das coisas mais lindas que a banda já compôs, a música que leva o nome do álbum vem num rítmo bem mais arrastado que a anterior, mas tem uma aura clássica atemporal, com o vocal gutural predominante e um som de guitarra perfeito, pesado e brutal. "Hateful Design" já traz um riff que poderia facilmente estar num álbum de death metal de uma banda como o Kataklysm. Os teclados de Sabine Mair também fazem um papel aterrador nesta música e o melhor é que você percebe que a música funcionaria sem eles, mas eles foram a cartada da vitória num jogo de poker entre bandidos armados e perigosos. "Never Enough" traz um pouco de vocais eletrônicos no início, mas nada suficiente para te assustar, afinal já devia ter percebido que não estamos falando de uma banda purista, mas com pé no chão. O petardo segue inteligentemente alternando entre faixas arrastadas como "Timeless" ou a energética "Outside Down". Em minha versão, temos um cover pra lá de surpreendente para "Losing My Religion" de 1991 da banda de rock americana R.E.M. que o Graveworm conseguiu transportar para seu estilo com muita competência, sem estragar a original. Indico (N) Utopia para quem não teve oportunidade de conhecê-lo nos últimos 20 anos, de olhos fechados.