domingo, 30 de novembro de 2025

20 anos de Are You Dead Yet? do Children of Bodom!!!


Se “Are You Dead Yet?” é o álbum mais ousado do Children of Bodom? Até aquele ponto da carreira, eu diria que sim, sem pestanejar. Convenhamos: a banda começou a soar repetitiva depois dos três primeiros discos — e isso parece ter ficado bem claro até para eles mesmos. Por mais que tenham alcançado sucesso com aquela fórmula, chega um momento em que não existem mais degraus se você insiste em repetir eternamente o mesmo modus operandi.

Por outro lado, eles também não queriam deixar de soar como Children of Bodom. O meio-termo encontrado foi reduzir a melodia, engrossar o peso e endurecer a identidade sonora. Essa transição já tinha sido muito bem articulada em “Hate Crew Deathroll” (2003), e em “Are You Dead Yet?” ela veio temperada com uma pitada extra de elementos industriais. Nada que transforme o álbum em industrial metal, longe disso — mas a junção do death melódico característico com nuances de metal americano (e o resultado colou direitinho nos EUA), somada aos teclados de Janne Warman sendo empurrados para segundo plano e perdendo aquele brilho neoclássico, mudou totalmente a equação. Ao retirar boa parte da melodia que definia o COB, eles sabiam exatamente o que estavam fazendo — e acertaram para alguns, mas empurraram outros fãs direto do penhasco.

E o fato é: “Are You Dead Yet?” é sim um álbum bom de se ouvir, desde que você não fique pensando demais no passado glorioso da banda… e principalmente se considerar o que estava por vir. O baixo de Henkka Blacksmith, geralmente tímido, aqui ganha mais presença, especialmente em “Next in Line”, onde Alexi Laiho usa um timbre vocal que praticamente desaparece no restante do álbum.

Os três petardos de abertura garantem adrenalina pura — mesmo que você sinta falta dos teclados clássicos e dos duelos épicos entre Janne e Alexi — e se tornaram presenças quase obrigatórias nos setlists. “Living Dead Beat”, “If You Want Peace…Prepare for War” e a faixa-título poderiam muito bem ter servido de molde para o álbum inteiro.

Logo depois vem a tradicional “balada pesada” (que heresia) da vez: “Punch Me I Bleed”. Todo álbum da banda tem a sua, mas aqui ela vem com menos brilho — apesar de eu até gostar dela.

A capa, sempre com o mascote assassino do lago Bodom, talvez seja a pior da carreira. Parece uma TV preto-e-branco prestes a pedir aposentadoria, com o assassino olhando para você de cima, como se você já tivesse levado o primeiro golpe. E ainda tivesse merecido.

Com pouco mais de 37 minutos, “Are You Dead Yet?” passa rápido pelo CD-player, o que evita que a mudança de rumo soe cansativa. Eles sabiam que não tinham tantos “clássicos instantâneos” em mãos e usaram a experiência para serem curtos e grossos.

Há 20 anos, o álbum deu uma desanimada nos fãs aqui no Brasil, que ainda queriam o velho COB. Mas hoje, com tudo o que aconteceu — e especialmente após a morte precoce de Laiho — o disco ganhou inevitavelmente um ar mais saudoso. É um registro de transição, de ousadia e, principalmente, de uma banda que nunca teve medo de cutucar sua própria zona de conforto.


 

20 anos de Vírus do Hypocrisy!!!

Se Catch 22 foi uma tentativa meio torta de mudança de rumo, e The Arrival representou um passo mais seguro nessa transição, o 10º álbum de estúdio dos suecos do Hypocrisy, Virus, surge como a pedra fundamental dessa nova fase: a metamorfose definitiva de um death metal cru para um melodic death metal de ponta. Da arte da capa — criada pelo talentoso Anthony Clarkson (Legion of the Damned, Blind Guardian, entre outros) — até as letras que abandonam o velho imaginário alienígena, Peter Tägtgren e sua trupe acertam em cheio. Virus não é apenas um bom disco: é, para muitos, o grande momento da carreira da banda.

Uma das qualidades mais marcantes do álbum, e um diferencial que pesa muito num estilo extremo como este, é a capacidade de fazer cada música soar única, sem que o conjunto perca coerência. Isso, minhas criaturas noturnas, é uma façanha rara. Em Virus, convivem harmonia e brutalidade, melancolia e fúria — um equilíbrio que poucas bandas conseguem alcançar sem diluir identidade.

A entrada do guitarrista Andreas Holma deu profundidade às composições, ampliando o alcance melódico e rítmico do disco. Não que o mérito seja apenas dele, mas seus 25% de crédito estão muito bem colocados. Outro reforço crucial foi o baterista Horg (Immortal), cuja técnica precisa e pegada esmagadora elevam o material a outro patamar. O baixista Mikael Hedlund, membro veterano, também entrega uma performance sólida e participa da composição de algumas faixas. Já Peter Tägtgren, além de guitarras e dos vocais rasgados e guturais que conhecemos, surpreende com passagens em voz limpa — especialmente na derradeira e belíssima “Living to Die”.

“War-Path” abre o trabalho com violência e atmosfera quase black sinfônica, graças ao ataque implacável dos pedais duplos e aos vocais mais profundos. Em “Scrutinized”, a presença especial de Gary Holt (Exodus, Slayer) adiciona um solo thrash matador, costurado por mudanças de andamento impecáveis. “Fearless” mergulha no death melódico que Catch 22 gostaria de ter alcançado, com teclados sustentando boa parte da ambiência enquanto as guitarras duelam entre peso e melodia.

“Craving for Another Killing” figura entre as mais brutais, com Horg destravando a metralhadora rítmica. Já “Let the Knife Do the Talking” desacelera sem perder originalidade. “A Thousand Lies” traz um lado mais melancólico, com dedilhados e um riff que flerta com a aura sombria da abertura.

E então chega o meu momento preferido: “Incised Before I’ve Ceased”. Um colosso que brilha pelo riff cavalgado, pelas variações vocais de Peter, o solo insano e as intervenções de teclado trabalhadas em fragmentos — uma música que resume o espírito do álbum. “Blooddrenched” disputa o título de faixa mais brutal, investindo pesado no death metal tradicional, enquanto “Compulsive Psychosis” brinca com variações de bateria thrash, refrão gritado e um certo espírito caótico-divertido… embora a diversão verdadeira recaia sobre nós, ouvintes, que podemos mergulhar em uma obra tão rica e envolvente.


 

sábado, 22 de novembro de 2025

20 anos de Remagine do After Forever!!!


Geralmente os músicos brasileiros insistem em estampar seus próprios rostos nas capas dos álbuns — e, no caso de After Forever, isso foi um grande erro. Nada me irrita mais do que comprar um disco sem uma boa arte na capa. Foto da banda? Imprescindível, mas deixe isso para o encarte ou para a contracapa. Na capa, queremos impacto, conceito, algo que nos puxe para dentro do universo do álbum. Em Remagine, quarto full dos holandeses, nem mesmo a beleza da Floor Jansen ganhou realce; colocaram ela (e a banda toda) ali com um visual meio futurista, meio rock star japonesa… e ficou tudo no meio do caminho.

Mas vamos ao que interessa: a música.
Aqui estamos falando de uma banda muito competente e de uma vocalista absurda, que conquistou o mundo inteiro e elevou o After Forever de um grupo de symphonic metal a quase um heavy metal completo. Isso, porque Floor sabe transitar entre os dois estilos com naturalidade. Ela abre o álbum com a direta “Come”, que chega logo após a intro “Enter”, e depois entrega aquela atmosfera mais clássica em “Boundaries Are Open”, onde simplesmente nos ganha — interpretação impecável.

E tem mais: os corais de “Living Shields” puxam diretamente para o passado glorioso de Prison of Desire, e ainda trazem a participação quase extinta de Sander Gommans. O gutural dele é muito bem-vindo e, mesmo eu sendo fã da Floor, admito que a ausência de uma voz masculina foi um dos motivos para o After Forever não ter permanecido no meu gosto pessoal pelos últimos 25 anos (ow!).

O trabalho do novo tecladista, Joost van den Broek, também merece destaque. Ele cria camadas sutis que enriquecem o instrumental e, em vários momentos, surge com uma dose orquestral que dá imponência ao som. “Attendance” segue uma veia mais moderna, mais sombria, enquanto “Free of Doubt” volta a exaltar o lirismo da Floor. Lá pela metade, as guitarras de Sander e Bas Maas ganham um peso com groove muito bem encaixado — e os teclados dão outro show.

Outro ponto alto é “No Control”, onde além do gutural de Sander, Bas Maas aparece com seus vocais limpos, criando um contraste bem interessante, apesar do riff bobo.

No fim das contas, Remagine é mais um ótimo trabalho do After Forever — e olha só, já completando 20 anos.


 

20 anos de Во славу великим! (Vo slavu velikim!) do Arkona!!!


O Arkona, que começou como um projeto solo da vocalista e multi-instrumentista Masha Scream, lançou dois álbuns em 2004 antes de finalmente se consolidar como banda em 2005. Foi então que Masha recrutou os músicos que dariam corpo definitivo à sua visão: Sergey Lazar (guitarra e vocais), Ruslan Kniaz (baixo) e Vlad Artist (bateria). Com essa formação, nasceu Vo Slavu Velikim!, um trabalho que se aproximou ainda mais da proposta inicial de um grupo com alma folk, já que os primeiros discos inclinavam-se mais ao metal direto.

A produção é claramente superior, e a participação do renomado multi-instrumentista de música tradicional russa Vladimir Cherepovsky elevou o álbum a um patamar inesperado — tanto que acabou conquistando o certificado de disco de ouro na Rússia, algo impensável para um grupo do gênero.

A variação musical deste álbum impressiona. A paleta sonora é amplificada pela presença de inúmeros instrumentos típicos: harpas, violinos, gaitas de foles, ocarinas, entre outros. A agressividade atribuída ao black metal aparece basicamente nos vocais ásperos, pois os riffs apontam muito mais para um death melódico do que para o black propriamente dito. Mas o grande trunfo aqui são as vocalizações.

Doçura feminina, rugidos demoníacos, coros solenes que beiram o litúrgico — tudo se encaixa de forma natural e envolvente, criando uma atmosfera tão densa que o idioma russo deixa de ser barreira e passa a ser parte do próprio enfeitiçamento.

É quase obrigatório ouvir o álbum de ponta a ponta, mas se quiser apenas um aperitivo que acenda a faísca da curiosidade, experimente “Vedy proshlogo”. É o tipo de música capaz de despertar um brilho inesperado nos olhos, especialmente de quem acha que o folk/pagan metal não tem nada a oferecer além de “música temática”.

O Arkona pode ser considerado relativamente novo dentro da cena, mas em poucos anos já havia sido descoberto e abraçado por fãs do mundo todo. E muito desse reconhecimento se deve exatamente a este terceiro trabalho — um marco na construção da identidade sonora e espiritual da banda.  


 

20 anos de Stratovarius do Stratovarius!!!


Teriam os dias de glória do Stratovarius chegado ao fim? Em 2005, a banda finlandesa lançava seu 12º álbum de estúdio enquanto enfrentava um período turbulento — especialmente pelos problemas de saúde mental de Timo Tolkki, que acabaram interferindo em diversos aspectos da música. Mas vamos nos ater ao álbum em si, que veio na esteira de uma dupla de trabalhos mais progressivos e emocionalmente introspectivos.

Com uma arte simples e um disco autointitulado — ou sem um título específico, como costumamos dizer — o primeiro impacto já passa a sensação de uma banda operando abaixo do esperado. E a abertura com “Maniac Dance” confirma a impressão. A faixa flerta com um hard rock artificial, lembrando o Helloween em seus dias menos inspirados, e ainda vem acompanhada de uma produção fraca se comparada à de Elements. Nem a voz de Kotipelto consegue evitar um generoso torcer de nariz — e isso vindo de alguém que esperava muito mais de uma banda desse porte, ainda que a música não seja exatamente horrível.

“Fight” não melhora em nada esse começo trôpego, então a salvação momentânea surge apenas em “Just Carry On”, quando o cenário finalmente dá uma guinada. A faixa tem mais energia, está longe do speed metal clássico da banda, mas traz uma pulsação própria — ainda que meio rígida — na qual os vocais de Kotipelto começam a resplandecer.

Em “Back to Madness” (e o título dispensa explicações), temos praticamente um documento emocional de Tolkki, uma confissão sonora de tudo que ele vinha enfrentando. A música é carregada de melancolia e tensão, e ouvir isso sabendo do contexto torna tudo ainda mais angustiante. Os dedilhados, as vozes distorcidas e as narrações adicionam uma aura épica à faixa, fazendo dela um dos raros momentos realmente marcantes do álbum.

Ao menos há uma balada para nos lembrar do que o Stratovarius tem de melhor: a voz de Kotipelto. Em “The Land of Ice and Snow”, ele chega bem próximo de seus grandes momentos em uma canção com toques quase folk, curta — pouco mais de três minutos — mas que desperta até a vontade de ouvir algo do Blind Guardian para completar o clima.

Já os teclados de Jens Johansson, tradicionalmente um dos pilares da banda, aqui soam mecânicos, pouco inspirados e nada harmônicos, contribuindo para que o disco permaneça consistentemente abaixo da média.

Não dá para dizer que o Stratovarius lançou seu “St. Anger” em 2005 — porque isso seria crueldade desnecessária, e este álbum não chega a ser um desastre. Mas também é verdade que ele não vai deixar saudades. Um trabalho perdido entre crises pessoais e criativas, que marca mais um período difícil do que um capítulo digno da grandeza que o Stratovarius costumava entregar.


 

20 anos de Darker Designs & Images do Siebenbürgen!!!


Os suecos do Siebenbürgen chegaram ao seu quinto trabalho em 2005, Darker Designs & Images, novamente lançado pela Napalm Records. Este álbum marcaria o encerramento da primeira fase da banda, já que no ano seguinte eles entrariam em hiato. Cada vez mais distante do black metal inicial — mas ainda mantendo a aspereza dos vocais rasgados e guturais — o grupo se aproximava de vez do gothic, moldando aquilo que nos acostumamos a chamar de dark metal. Nada mais natural para uma banda cujo nome significa, em alemão, Transilvânia, a terra do Conde Sangrento.

Para este trabalho, ocorreram duas mudanças importantes na formação. A primeira foi a entrada do baixista Niklas Sandin, que mais tarde assumiria definitivamente as quatro cordas do gigante Katatonia, onde permanece até hoje — uma bela carreira de quinze anos. A segunda, e bem mais sensível, foi a saída da icônica vocalista Kicki Höijertz, adorada pela base de fãs, substituída por Erika Roos. Embora a mudança tenha causado certa resistência entre os fãs mais radicais, suas vozes possuem timbres tão semelhantes que muitos sequer notaram a troca à primeira audição.

A arte da capa, em tons de azul, abandona as vampiras sanguinárias do passado e apresenta novamente a figura de um anjo. A ilustração, obra do pouco conhecido Stephan Stölting, é belíssima e casa com o clima melancólico e atmosférico do álbum.

Musicalmente, o Siebenbürgen revisita lampejos de fúria em “Of Blood and Magic”, uma faixa mais veloz que remete aos momentos agressivos da fase anterior. Porém, o disco como um todo é dominado por composições mid-tempo, densas e sombrias. Logo na abertura, “Rebellion” traz Marcus Ehlin cantando de forma mais gutural do que o habitual, como se anunciasse uma mudança de rumo — que, no entanto, não se concretiza. A partir de “As Legion Rise”, ele retorna aos rosnados característicos.

A presença feminina, elemento essencial da essência da banda, ressurge em “A Crimson Coronation”, aproximando o som do gothic e reforçando a identidade melódica que sempre funcionou tão bem. O mesmo acontece em “Remnants of Ruin”, que se destaca justamente por esse diálogo entre vozes — um dos maiores acertos do Siebenbürgen desde seus primeiros trabalhos.

O Siebenbürgen pertence àquele seleto grupo de bandas extremamente interessantes que nunca chegaram a explodir como mereciam, mas que cultivam um nicho fiel de fãs que apreciam essa agressividade romantizada, cheia de atmosfera e tragédia.

E, claro: não deixe de ouvir “Harvest for the Devil”. De preferência acompanhado de um bom vinho — porque certas trevas pedem um brinde. 🍷🦇


 

sábado, 1 de novembro de 2025

20 anos de Garbage Daze Re-Regurgitated do Exhumed!!!


Álbuns de covers costumam ser um terreno perigoso — e, sejamos sinceros, muitas vezes não passam de caça-níqueis. Já repeti isso mais de uma vez por aqui. Pode ser que a banda esteja há muito tempo sem lançar material inédito e queira apenas manter o nome em evidência; pode ser uma forma de homenagear suas influências ou ainda um exercício de estilo, tentando traduzir para seu próprio contexto aquilo que outros já fizeram de maneira completamente diferente. O fato é que esses discos existem — e, assim como os “ao vivo”, cabe ao fã decidir se vale ou não ga$tar com esse tipo de material, ainda mais hoje, quando a música está ao alcance de um clique.

No caso do Exhumed, norte-americano até o último fio de cabelo ensanguentado, o lançamento de Garbage Daze Re-Regurgitated em 2005 se enquadra nesse cenário — mas, merecendo ou não, merece figurar por aqui para celebrar seus 20 anos de existência.

Há aqui algumas escolhas realmente interessantes. A versão de “The Power Remains”, da banda inglesa Amebix, é uma delas — originalmente lançada em uma rara coletânea homônima de 1993, ganha aqui uma roupagem digna da sujeira que o Exhumed domina. Outro destaque é “Uniformed”, da também inglesa Unseen Terror, retirada do único full-length da banda, Human Error (1987). O resultado é brutal, fiel e totalmente a cara do Exhumed.

“No Quarter”, do Led Zeppelin, entrega logo de início que estamos fora do habitat natural da banda. Com guitarras quase psicodélicas e um baixo trovejante que parece ecoar eternamente no limbo, essa faixa surge como uma grata e curiosa surpresa na coletânea. No mesmo espírito de reinvenção está “Trapped Under Ice”, clássico meio cult do Metallica em Ride the Lightning (1984). Aqui, a faixa chega a se tornar irreconhecível em alguns trechos, mas o Exhumed consegue imprimir seu selo goregrind sem piedade.

Aliás, o próprio título do álbum — Garbage Daze Re-Regurgitated — é uma homenagem (ou uma paródia de mau gosto, dependendo do ponto de vista) ao EP Garage Days Re-Revisited, também de covers, lançado pelo Metallica em 1987.

Um dos melhores momentos fica por conta de “Pay to Die”, do Master, banda de Paul Speckmann. Um verdadeiro hino da podridão, praticamente impossível de ser estragado — e, felizmente, o Exhumed faz jus à sua essência.

Para quem prefere o grupo em uma pegada mais arrastada, vale conferir “The Ghoul”, do Pentagram, faixa do primeiro e auto-intitulado álbum da lendária banda de doom americana. É o tipo de escolha que, em tese, seria “mijar fora do pinico” — mas, curiosamente, o resultado acerta em cheio, com um solo de guitarra impecável coroando a homenagem.

Outro destaque fica com “In Fear We Kill”, do Epidemic norte-americano (há vários homônimos pelo mundo, inclusive três no Brasil). Os vocais de Matt Harvey brilham aqui, alternando entre rasgados e guturais com naturalidade impressionante. O mesmo vale para “Twisted Face”, do Sadus, que ainda traz de brinde um solo curto, mas perfeito.

No fim das contas, Garbage Daze Re-Regurgitated é um prato cheio para os fãs do Exhumed e, por extensão, para todos que apreciam o lado mais sujo, nojento e divertido do gore/grind. Não é um álbum essencial — mas é o tipo de banquete repulsivo que, uma vez servido, o fã do gênero não consegue recusar.


 

20 anos de Ghosts of Loss do Swallow The Sun!!!


Após presentear a cena com o debut The Morning Never Came — uma verdadeira obra-prima do death doom — os finlandeses do Swallow the Sun retornaram em 2005 com seu segundo trabalho, Ghosts of Loss. Desta vez, a banda reduziu um pouco o peso em relação ao álbum anterior, introduzindo mais melodia, mas ainda soando como o monstro raivoso que nasceu para ser — sem, contudo, se tornar ainda o grupo melódico que viria anos depois.

A abertura com “The Giant”, uma faixa de quase 12 minutos, já deixava claro que o Swallow the Sun não buscava nada de comercial. A proposta era atacar com unhas e dentes, entregando uma fúria genuína e envolvente. Os vocais de Mikko Kotamäki variam com maestria entre tons limpos, guturais profundos e rasgados surpreendentes, revelando uma versatilidade que se tornaria marca registrada da banda.

As guitarras de Juha Raivio e Markus Jämsen transitam entre o death metal técnico e o gótico, alternando riffs pesados com melodias arrastadas e dedilhados melancólicos. A música “Descending Winter” ilustra bem esse amálgama, evidenciando a principal diferença entre o debut e este segundo disco: uma diminuição da raiva onipresente e um aumento da aflição e do desespero, enquanto a letra anuncia a chegada de um inverno gélido e mortal.

“Psychopath’s Lair” é um dos momentos mais impactantes do álbum, evocando as bases secas e densas da escola My Dying Bride, com pequenos breakdowns que impulsionam nossas cabeças no movimento instintivo de todo headbanger. Essa faixa se aproxima bastante do primeiro álbum, com uma crueza e rispidez que remetem às origens da banda.

Depois dessas duas músicas mais diretas e menos arrastadas, o álbum mergulha em composições de tom mais melódico, com riffs longos e atmosferas quase beirando o funeral doom. O melhor exemplo é a bela “Forgive Her…”, uma canção que certamente agradará aos ouvidos mais exigentes.

“Fragile” começa com vocais limpos e belíssimos, mas, ao longo da execução, surgem riffs dissonantes que a fazem destoar do restante do trabalho — um contraste proposital que mostra o lado mais inquieto da banda. Já “Ghost of Laura Palmer”, arrastada e dominada pelos guturais, pode muito bem ter inspirado a capa sombria criada por Tuomo Lehtonen. O título, aliás, remete à icônica série Twin Peaks e à clássica pergunta: “Quem matou Laura Palmer?”

O álbum encerra-se com “Gloom, Beauty and Despair” — título que sintetiza perfeitamente a essência do Swallow the Sun — e “The Ship”, concluindo uma jornada densa e melancólica.

Com Ghosts of Loss, o Swallow the Sun consolidava-se definitivamente como um nome poderoso na cena mais sombria e moribunda do metal extremo.


 

20 anos de Transgression do Fear Factory!!!


O sétimo álbum de estúdio da banda americana Fear Factory começa com a faixa “540.000º Fahrenheit”, um título curioso que faz referência à temperatura no centro de uma explosão termonuclear — algo em torno de 300.000º C. A metáfora não poderia ser mais apropriada, já que acompanhar a formação do Fear Factory ao longo dos anos é, por si só, uma experiência explosiva. Para muitos fãs, a formação de Demanufacture continua sendo a definitiva.

Ainda assim, a banda havia se saído muito bem no ano anterior com Archetype, lançado sem o fundador Dino Cazares. Já em Transgression, o resultado não é tão sólido. Não que o álbum seja um fracasso — longe disso —, mas a aura agressiva característica do Fear Factory aparece apenas em alguns momentos, como se a banda estivesse à base de Rivotril.

A faixa de abertura já dá sinais disso: embora apresente uma base interessante, o excesso de vocais limpos faz o álbum perder parte de sua força. A sequência com a faixa-título, porém, funciona como um antídoto — é o Fear Factory retomando o vigor, com Burton C. Bell entregando aquilo que amamos: violência sonora e intensidade.

Bell, aliás, continua demonstrando sua habilidade em equilibrar agressividade e melodia, mas aqui o vocal limpo acaba predominando demais para uma banda de industrial thrash metal.

A trinca seguinte — “Spinal Compression”, “Contagion” e “Empty Vision” — mantém o álbum em um nível interessante. “Empty Vision”, em especial, traz uma veia melancólica bastante marcante na interpretação de Bell.

Entretanto, as quatro faixas seguintes soam como puro preenchimento. Ou talvez como uma tentativa de explorar influências mais progressivas. Difícil saber a intenção da banda — se buscar novos caminhos ou simplesmente se distanciar do rótulo “industrial”. O problema é que o resultado lembra aquele “feijão sem tempero”. Sempre foi comum o Fear Factory inserir uma faixa mais experimental em seus discos, mas quatro de uma vez? E sim, o cover do U2, “I Will Follow”, entra nessa conta.

Se o grupo tivesse mantido apenas “Echo of My Scream” como a balada emocional do álbum, e deixado de lado “Supernova”, “New Promise” e o próprio cover do U2, o disco soaria mais coeso. Ainda bem que o álbum se redime no final com “Millennium” (cover do Killing Joke) e a pesada e matadora “Moment of Impact”, que fecham Transgression com o peso e a fúria que esperamos do Fear Factory.

No balanço geral, Transgression tem mais acertos do que falhas e mantém a banda entre os grandes nomes do metal moderno — mesmo sem a mesma intensidade guitarrística de seus melhores momentos.


 

sábado, 25 de outubro de 2025

20 anos de Angel Whore do Desaster!!!


Hoje o Desaster da Alemanha é um grupo conhecido no cenário do metal extremo mundial, e isso talvez se deva ao fato de que, em 2005, eles lançaram seu 5º trabalho, pela gravadora Metal Blade, abrindo novos caminhos para a banda, que já mostrara muita qualidade em seus lançamentos anteriores, angariando vários adeptos no underground. Com uma arte de capa simples, de Chris Moyen, que já fez inúmeras artes, incluindo Incantation e Vital Remains, mas na sua maioria em singles e EPs, talvez a capa de Angel Whore seja sua arte mais conhecida. Após a intro "The Arrival" a aniquilação sonora se dá com "The Blessed Pestilence", talvez uma unanimidade quando falamos deste artefato. Ela já começa com um riff gelado e uma bateria puxando um headbanging. A forma descompromissada com que Sataniac berra a letra conclamando os horrores da peste negra medieval, nos dá uma ideia de uma banda crua e desgracenta, mas os riffs de guitarra somados a uma passagem em que o baixo aparece de forma clara, mostram que não é uma horda de submundo berrando maldições de forma pueril, mas um nome que chegou para ficar. O riff da faixa título é bem thrash, evocando primórdios de bandas como seus conterrâneos do Kreator, com um vocal mais gutural e uma interpretação incomum, mostrando que o vocalista não se acomodaria berrando sempre da mesma forma obscena. Ótima música! "Conqueror's Supremacy" é outra faixa excelente, já num esquema mais épico, com andamento mais mediano e vocalizações diferenciadas contendo até narrativa. Tem até música pra quem curte death metal, com "Nihilistic Overture" o Desaster aposta em bases old school, com peso e velocidade mediana, enquanto Sataniac manda guturais cavernosos. "Angel Whore" é um álbum essencialmente extremo, onde fãs de thrash, death e black irão se deleitar com uma banda que encontrava seu caminho de glória (ou danação) há 20 anos.

 

sábado, 18 de outubro de 2025

20 anos de The Inventor of Evil do Destruction!!!


O Destruction é, indiscutivelmente, uma das maiores forças do thrash metal mundial. Desde o início dos anos 80 até os dias atuais sempre foi assunto no mundo do metal, por seus lançamentos e principalmente por apresentações carregadas de energia, com seu líder Schmier (baixo e vocal) sendo uma das figuras mais carismáticas e metaleiras (se me permite o termo) da cena. "Inventor of Evil" é o seu 9º trabalho de estúdio, lançado em 2005 pela AFM Records. Após 2 álbuns icônicos, o sensacional "The Antichrist" e o plástico, mas ainda bom "Metal Discharge", "Inventor of Evil" finalmente trouxe de volta à sua capa o mascote Mad Butcher, com todo sangue e carniceria que lhe é peculiar. Produzido por Marc Reign e a banda e mixado por Peter Tägtgren, a sonoridade ficou melhor que o trabalho anterior, apesar de que o som meio digital que a banda empregou em seus álbuns daquele período e tentou fugir disso nos últimos anos, sempre me deixou um pouco chateado. Seria muito bom ouvir um álbum do Destruction com uma gravação analógica como nos anos 80. Enfim, o trabalho tenta se diversificar um pouco, mas acaba permanecendo um som típico dos caras. O início de "The Calm Before The Storm" e sua estrutura mais clássica é um diferencial bem planejado e ficou legal. Já a participação de 1 milhão de outros artistas na música "The Alliance of Hellhoundz" soou forçada e meio bagunçada. Talvez Tobias Sammet, que também é alemão, pudesse dar uma forcinha a Schmier sobre como colocar vários vocalistas em um projeto de forma organizada, hehe. Mas nesta faixa temos a participação ilustre de grandes nomes como o finado Paul Di'Anno, Biff Byford do Saxon, a rainha Doro Pesch, Shagrath do Dimmu Borgir (aehhh), Björn Strid do Soilwork, Messiah Marcolin do Candlemass, Mark Osegueda do Death Angel e Peavy do Rage. Uma de minhas músicas preferidas do álbum é "The Defiance Will Remain", com uma pegada elétrica e riffs rápidos. Outra bem legal é "Under Surveillance" com uma base mais quebrada bem thash e refrão forte. Mike Sifringer conservava seu pulso forte para palhetar as 6 cordas e Marc Reign em seu segundo álbum de estúdio mostrando que não era só no metal extremo que ele se destacava. 

 

20 anos de Chimaira do Chimaira!!!


A banda Chimaira, de Cleveland nos Estados Unidos, é comumente associada ao NWOAHM, uma versão americana dos anos 2000 em contrapartida à New Wave da Inglaterra dos anos 80. Com um álbum autointitulado em 2005, seu terceiro trabalho, o sexteto (?) abdicou de alguns elementos mais eletrônicos de seus 2 primeiros álbuns para ostentar uma vertente mais tradicional, apesar de ainda continuar soando como uma banda de groove/metalcore. Mas os fãs de Thrash Metal se surpreenderam com vários riffs extremamente encaixados na proposta post thrash, principalmente nos elementos encontrados em alguns capítulos de Machine Head e Lamb of God. Acostumado a trabalhos mais groove da banda, ao ouvir esta pancada, fiquei muito entusiasmado, pois até o momento este álbum é o mais próximo daquilo que eu realmente aprecio quando o assunto é agressividade e peso no groove. O groove por si só é um bolo que você aprecia no momento, mas ele te deixa empanzinado e pode causar vômitos. Já o groove com thrash é aquele bolo que você come e repete 2 pedaços antes de libertar um sonoro arroto de satisfação. As 2 músicas de abertura, "Nothing Remains" e "Save Ourselves" definem bem a magnitude deste trabalho. Mesmo que a estrutura destas músicas caminhem pelo metal mais gordo, volta e meia entra um riff old school (pero no mucho) para te fazer levantar da cadeira e olhar o que realmente está acontecendo. Os vocais de Mark Hunter também ajudam a curtir este som, na linha de Randy Blythe, porém caminhando na direção de Burton C. Bell, ex Fear Factory. As músicas são longas, passando em sua maioria de 5 minutos e as letras às vezes me parecem bem individuais, contando algumas situações de vida e família do vocalista, como em "Left for Dead". A arte da capa, criada por Garret Zunt, que também fez a anterior (branca e vermelha), agora se concentrou no preto e branco, e para ficar melhor eu colocaria o logo da banda maior e sobre as figuras. O baterista recrutado para este petardo foi Kevin Talley, que na época socava os kits da banda de death metal Dying Fetus, portanto, acostumado a groove e desgraceiras. Completam o time os guitarristas Rob Arnold e Matt DeVries, o baixista Jim LaMarca e o tecladista Chris Spicuzza. Outro grande momento no play fica com solos de guitarra. Ouça "Everything You Love" e comente sobre o solo.
 

domingo, 12 de outubro de 2025

20 anos de Doomsday Machine do Arch Enemy!!!


Se fizer um top 10 da discografia do Arch Enemy, "Doomsday Machine", sexto opus da banda sueca, ficará em terceiro. Isso é bem positivo em se tratando de gosto, mas se eu também disser que nenhum outro trabalho posterior superou este álbum, estamos quase alegando que "Doomsday" seja a última grande obra do Arch Enemy. Há um pouco de verdade nisso, mas é também real que houveram sim belos trabalhos desde então, mas nenhum me fisgou com a mesma intensidade que estes trabalhos da época em que Angela Gossow esteve à frente do microfone. Pode ser apenas gosto pessoal, mas...
Com uma intro carregada de melodia e um estrondoso gancho de guitarra, "Enter the Machine" chega causando ótima impressão. "Taking Back My Soul" cumpre bem seu papel de música inicial e pós intro, com as características esperadas de uma banda de melodic death no mainstream. Vocais rasgados, peso, melodia e uma trilha fácil de lembrar. "Nemesis" é a música de trabalho e merece tal posto, a melhor do álbum, mesmo que com o passar dos anos ela soe comercial, se é que podemos chamar death metal de comercial. Gosto muito de "My Apocalipse", são bases pouco convencionais, onde Michael Amott toca como nos tempos de Carcass, levando uma base sem muita lógica nem melodia bonitinha, apenas metal incomodando, e bem feito. Bom citar "I Am Legend/Out For Blood", uma faixa diferenciada, com Daniel Erlandsson soltando a mão (e os pés) na bateria, além de melodias de guitarras criativas e enriquecedoras, além de seu riff principal bem direto. A penúltima música do álbum, "Machtkampf" é bem enérgica, beirando o thrash, e o começo da bateria lembra demais aquele início de "Territory" do Sepultura. Já a derradeira "Slaves of Yesterday" é bem trabalhada, tem um riff bem pesado e palhetadas abafadas, mas as melodias inseridas são bem interessantes, e o solo de guitarra também é uma viagem. Bela faixa para te pedir um novo play de todo o petardo. "Doomsday Machine" não se perde repetindo os trabalhos anteriores, ele segue o mesmo molde de "Anthems of Rebellion", mas não tem o mesmo brilho. Ele também não soa repetitivo, cada faixa tem mais ou menos criatividade que as outras, mas as suas particularidades não deixam o som enfadonho. Certamente foi um álbum pensado para grandes arenas.

 

20 anos de Harzadous Mutation do Municipal Waste!!!


Agora sim a banda americana Municipal Waste teve seu merecido suporte para um crescimento na cena de thrash - crossover. Seu segundo play, "Hazardous Mutation", de 2005, foi lançado pela grande Earache. Com uma arte de capa bem bacana, a cargo de Ed Repka, aquele caminhão carregado de gente legal numa metrópole apocalíptica, e cores vivas como o artista gosta, o play ganhou mais minutagem, dos 17 do debut, pularam para pouco mais de 26 minutos de metal agressivo e rápido. Se você ama crossover, hardcore e thrash em sua veia mais speed, "Hazardous Mutation" é um banquete. E músicas como "Blood Drive" ainda tem tempo para riffs menos acelerados e solo de guitarra e tudo, mesmo com pouco mais de 1 minuto de duração. Com uma nova cozinha (Dave White na bateria e Land Phil no baixo) a banda se manteve com Tony Foresta nos vocais e Ryan Waste na guitarra. Impossível não lembrar de bandas de hardcore de Nova York ao ouvir uma música como "Guilty of Being Tight" e aquela energia que vem das ruas e guetos repletos de gangues barras pesadas. Curto uma pancadaria desenfreada, mas é tão legal quando acrescentam uma melodia diferente como em "Nailed Casket". São as músicas mais lembradas durante as próximas audições. E a punk "Black Ice" com seus 23 segundos serve para você apresentar a banda a seu amigo desavisado. Ele vai amar ou odiar o Municipal para sempre e é sempre bom separar o joio do trigo. O fato de se repetir na maioria das músicas (estou falando de fórmula e não do mesmo som) pode cansar um pouco quem não conhece, mas é bom que saibam, além da duração do CD ajudar neste quesito. A música "The Thrashing of Christ" tem aquele riff cavalgado, com uma pitada de groove, e ficou muito legal. Indicamos essa pancada para quem quiser se divertir sem constrangimentos.

 

sábado, 11 de outubro de 2025

20 anos de Frozen in Time do Obituary!!!


Obituary, minha banda favorita de death metal, estava a 8 anos sem lançar um álbum. Após especulações do término da banda após "World Demise" de 1994 eles retornaram 3 anos depois com "Back From the Dead" e mesmo sem mais rumores 8 anos foi um tempo difícil de esperar sem especular mais uma pausa. Só que a espera acabou dia 18 de julho de 2005 com "Frozen in Time". O cenário da capa traz o esqueleto de aparentemente um dragão, em um local deserto e aterrador, como já havíamos visto nas capas de "The End Complete" e da coletânea "Anthology", mais uma arte fenomenal do mago dos desenhos do metal da morte, power metal e outros, Andreas Marschall. Lançado pela Roadrunner, e com apenas 34 minutos de duração, um tempo muito curto para a era de CDs, o trabalho não trouxe muitas novidades musicais. É o velho Bitu com seu slow death cativante e regido com maestria por um dos melhores vocais de death metal do planeta. A pancadaria começa com uma instrumental icônica, apesar do nome esquisito, "Redneck Stomp" é de encher os olhos com aquele peso descomunal e muito groove remetendo aos tempos de "Cause of Death" e "The End Complete". Mesmo sendo longa (3:30) vale a pena pra começar o caos. Tudo bem que as demais faixas não carregam nenhuma necessidade especial em ser diferente, a banda já usou isso nos 2 álbuns anteriores. São riffs até bem parecidos entre si, e algumas faixas têm apenas um riff em seu ouvido do início ao fim, mas carácolas, é Obituary em sua essência, não tem que ter nenhuma fórmula mágica de divindade celestial, basta provocar um movimento retilíneo uniforme de cabeças para frente e para trás. "On the Floor" parece tirada dos anos 90, alternando partes lentas e aceleradas. Allen West e Trevor Peres continuam esmagando tudo com suas 6 cordas. "Insane" foi o primeiro vídeo clipe que vi deste play, então foi o cartão postal do álbum e cumpriu seu papel, mesmo sendo bem retona, dando uma floreada no pós solo. A velocidade de "Lockjaw" é bem interessante, se você se cansar rápido do som arrastado. Não chega perto de ser um álbum icônico do Obituary, mas caminha no solo arrastado com segurança e não deixa o deserto para respirar outros ares insalubres.

 

sábado, 27 de setembro de 2025

20 anos de Supreme Black Victory do Perpetual Dusk!!!


A horda Perpetual Dusk teve uma vida curta. Oriunda de Belo Horizonte, Minas Gerais, a banda durou apenas 7 anos, de 2000 a 2007, e parece que ficou satisfeita em realizar o sonho de lançar um álbum completo, finalizando atividades pouco depois. O trabalho em questão é este "Supreme Black Victory", de 2005, lançado pela Cogumelo Records. A linha de black sinfônico não era uma tendência muito comum nas terras de Sarcófago e Sepultura, muito menos no catálogo da Cogumelo, mas o Perpetual conseguiu romper uma barreira, e com muita personalidade, diga-se de passagem. Com uma arte de capa cheia de detalhes, desenhada por Carina Alok, guitarrista do Agaurez e tatuadora, e produzido por Marcos Amorim, guitarrista do Drowned, o álbum tem seus instrumentos muito distintos numa produção cristalina. Os teclados de Renata Brandi são um grande destaque. Eles permeiam todas as músicas em camadas envolventes e de belas passagens. A bateria de Victor Bergamaschi tem quase sempre batidas rápidas, mas também acompanha os momentos mais melódicos e sinistros. As guitarras de Rafael Tamietti e Christian Leonhardt ficam sempre em segundo plano. Elas não possuem aquele peso característico da música sobre o palco, mas ficam entre riffs e aquele som de abelhinha (não gosto da expressão mas não há outro bom sinônimo disponível). Alguns solos são bem inspirados, como em "Unhallowed on My Lips", música que também apresenta vocais limpos, não muito constantes no petardo. O vocalista e também baixista é Arthur Bergamaschi, que tem os vocais rasgados. O baixo pode ser ouvido em passagens mais atmosféricas, como em "Promised Key to the Unholy Gates of Evil", música conhecida da demo de 2003 e uma das melhores do álbum. Uma pena o Perpetual Dusk ter se dissolvido tão cedo, seria interessante ouvir a progressão sonora deste artefato. Fãs do submundo metálico, o álbum ainda pode ser encontrado para aquisição e vale à pena. 

 

sábado, 30 de agosto de 2025

20 anos de In Memory of the Old Spirits do Helllight!!!


Formado na capital paulista em 1996, o Helllight surgiu de forma arrastada nos porões do underground. Após lançar a demo "Fear No Evil" em 1998, viveu um hiato até que conseguiu gravar seu primeiro opus, este "In Memory of the Old Spirits" em 2005, de forma independente, e 9 anos após sua formação. Parece que os selos não estavam prontos para o funeral doom nacional, mas o Helllight estava. O trabalho tem quase 80 minutos condensados em 8 músicas de puro sofrimento. Gravado por Rafael Sade nos teclados, Luis Comitre no baixo, Robson Silva na bateria e Fábio de Paula, vocal e guitarra e único remanescente de outrora, apenas uma canção da demo foi aproveitada, a faixa "Alone". Com os teclados um pouco exagerados, preenchendo muitos espaços em que as guitarras deveriam se sobressair, um detalhe que seria melhor pensado em lançamentos futuros. Mesmo assim, algumas passagens acústicas são extremamente bonitas, como na segunda metade de "Fear No Evil", música que leva o nome da demo de estreia, quando o peso se dissipa e entra uma melodia de teclado acompanhada por um solo sensacional de guitarra até os segundos finais da faixa. Outra característica latente no som do Helllight são os vocais limpos. Neste debut, eles disputam meio a meio em quantidade com os vocais guturais, apresentando uma atmosfera degradante e humanamente sentimental. Uma de minhas faixas favoritas é "The Lord of Shadows". Com mais de 12 minutos ela não soa cansativa, e alterna melodias sufocantes e tristes e uma dosagem perfeita do instrumental, onde você ouve o baixo em meio às guitarras e teclados de forma natural. Outra faixa que chama muita atenção é "Winter's Theatre", com uma melodia de guitarra que poderia estar em um álbum recente do Iron Maiden, mostrando o quanto progressivo o Helllight poderia soar. E o mais legal de tudo isso? Presenciar a imersão de mais um representante do underground nacional e acreditar que nosso metal não tem barreiras, quando falamos de seus subgêneros. "In Memory of the Old Spirits" na realidade trouxe novos espíritos para nosso dia a dia metálico.
 

domingo, 24 de agosto de 2025

20 anos de A Volúpia Infernal do Luxúria de Lillith!!!


Luxúria de Lillith, projeto solo do multi-instrumentista Alysson Drakkar criado em 1998 na cidade de Goiânia em Goiás, nasceu com o intuito de proliferar um black metal sinfônico com temas de ocultismo e vampirismo. Após várias demos, singles, coletânea e até álbum ao vivo, em 2005 o Luxúria gravaria seu primeiro full álbum, sob a alcunha de "A Volúpia Infernal". O trabalho foi idealizado pelo pequeno selo Zenor Recordz com uma arte diferente desta mais conhecida que postamos e que foi desenhada para o relançamento do trabalho através de vários selos em conjunto anos depois. Por se tratar do primeiro rebento de uma horda "one man band" de black metal do underground brasileiro, e com uma arte batida (nudez feminina e bodes), o trabalho tinha tudo para passar despercebido nas prateleiras de sebos como um daqueles trabalhos feitos com suor, mas sem nenhum capricho, e que uma a cada 100 criaturas noturnas da escuridão possam ter ouvido falar, correto? Sim, mas não passou e muito menos foi feito nas cochas. "A Volúpia Infernal" é uma obra que desafia qualquer fã de black metal, seja melódico ou não, a virar as costas para sua orquestração sangrenta carregada de ódio. A qualidade está muito acima do que se espera de um lançamento assim, com todos os instrumentos audíveis. Os teclados são essenciais, mas não escondem ótimos riffs de guitarras. A estrutura das músicas em alguns momentos remetem ao Cradle of Filth, mas aqui temos menos mudanças de andamentos e menos variações nos vocais, o rasgado quase sempre prevalece. Mas vocais femininos aparecem vez ou outra, dando aquele clima de sedução que as letras pedem, citando orgias e tentações. Drakkar gravou todos os instrumentos, além das vozes masculinas, e se mostrou um músico do underground de raro talento e competência, conseguindo materializar música extrema sem se perder ou nos entediar. Para quem curte as letras, o trabalho do Luxúria de Lillith é todo cantado em português, valorizando ainda mais o rico underground nacional. Destaco a música "Da Morte Para Todo Fim", com um refrão perfeito, em que Drakkar rosna em conjunto com a vocalista convidada Sônia Freitas de forma sublime. Se você é fã de Miasthenia (DF), "Volúpia Infernal" vai satisfazer todos os seus desejos proibidos.

 

sábado, 16 de agosto de 2025

20 anos de Darklife do Silent Cry!!!


O quarto full da banda mineira Silent Cry, sediada em Governador Valadares, chamado Darklife, saiu pela Hellion Records em 2005. A banda, conhecida no cenário nacional por seu gothic doom metal numa carreira de trabalhos memoráveis, desde o precioso debut "Remembrance", nos presenteando com obras (ou lamentos, como costuma dizer o líder, vocalista e guitarrista Dilpho Castro) de bom gosto inexorável, apresentava em seu novo trabalho sua terceira voz feminina, a cantora Sandra Félix. Ficando pouco tempo na banda, Sandra participaria no ano seguinte do também maravilhoso álbum da banda baiana Malefactor, o Centvrian e depois não tivemos mais notícias de sua voz em algum outro trabalho de metal nacional. Uma pena, pois sua voz foi fundamental para consolidar "Darklife" como mais um trabalho importante na carreira do Silent Cry. Este é talvez o álbum mais pesado da banda, com riffs pesadíssimos, como podemos ouvir na faixa "My Tears Are Still Falling". Os vocais guturais de Dilpho contribuem para esta projeção agressiva, enquanto os riffs pesados de início dão lugar a outros muito bem encaixados, mostrando que mesmo uma banda doom pode proporcionar momentos de headbanging. Os teclados como sempre exercem papel importante no som do Silent, introduzindo melodias tristes. "The Wine's Dance" é uma música que mostra a qualidade dos mineiros, assemelhando-se a trabalhos de bandas reconhecidas internacionalmente, uma canção que em momento algum chega a ser pop, mas que tem uma aura mainstream, seja pela qualidade de seus teclados, as guitarras góticas e os vocais masculinos que aparecem de forma limpa também, elevando a canção ao status quo da banda em 2005. Alguns solos de guitarra, algo nem tão inerente ao gênero, aparecem de forma natural e enriquecem faixas como a abertura com "Sufocated in Dakness", uma faixa curta que serviu para mostrar a nova vocalista e a nova fase da banda. "Sweet Serenades", a música mais longa e mais introspectiva do álbum, não deixa que você se esqueça das raizes doom entremeadas ao gótico, e nesta toada, creio que temos a melhor interpretação de Sandra no álbum. A capa mais uma vez mostra a figura feminina e do anjo, apresentando um nu artístico de forma alguma constrangedora ou apelativa, em tons escuros, mais uma vez captando a aura gótica das canções. Além de Sandra e Dilpho, o álbum a banda ainda tinha o guitarrista Albenez Carvalho, Roberto Freitas no baixo, Ricardo Meireles na bateria e Phillipe Dutra no teclado. Ouça uma das faixas mais belas da história da banda, "Last Goodbye" e apaixone-se instantaneamente por "Darklife".

 

20 anos de Touched By the Crimson King do Demons And Wizards!!!


Demorou 6 anos para que os líderes de Blind Guardian e Iced Earth pudessem novamente colocar em prática seu projeto Demons & Wizards. Ele veio em 2005 sob a alcunha de "Touched By The Crimson King".  Musicalmente o segundo ato não difere muito do primeiro. Este projeto não é apenas a junção dos líderes das 2 bandas citadas, ele é a condensação sonora das 2 bandas. Os riffs parecem sobras das produções de Jon Schaffer. E nem sempre as sobras podem ser consideradas ruins, mas não cabiam no trabalho principal naquele momento, ou até uma ou outra melodia pode não ter sido bem aproveitada pelo vocalista do Iced naquele período. Já a voz de Hansi Kürsch está perfeita. Pode até ser que ele não tenha a mesma potência de outrora, mas seu timbre inconfundível eleva as músicas a um patamar magistral. O início do trabalho é melhor que o final. A abertura com "Crimson King" é para te captar rapidamente, por meio dos riffs cavalgados e um ritmo que começa acelerado e tem uma descaída com bastante peso, até lá pelos 3 minutos entrar um dedilhado e a melodia vocálica para mostrar que Hansi é realmente um bardo de terras distantes. Já "Beneath The Waves" na sequência não é tão bombástica, lembrando até algumas coisas que Schaffer faria futuramente quando Stu já estava comandando as vozes de sua banda principal. Enquanto isso "Terror Train" ataca com seu power thrash épico e pode ser considerada uma das melhores faixas do petardo. Para fechar a boa quadra de abertura temos uma semi balada sensacional chamada "Seize the Day" que prova mais uma vez a importância do vocalista alemão para o Heavy Metal. Aliás é importante salientar que existem algumas baladas pesadas no trabalho, o que não deixa o álbum enjoativo, a exemplo da excelente "Love's Tragedy Asunder". Um ponto importantíssimo que deixei para o final são as letras de "Touched by the Crimson King". Um prato cheio para amantes da leitura, a obra é baseada na literatura de Stephen King, a saga "A Torre Negra", minha história favorita do escritor que tem 8 volumes e que li 2 vezes e pretendo ler novamente. Nem todas as músicas remetem claramente à história de King, mas várias delas sim, além da capa, que tentou unir a banda, com um feiticeiro e um demônio na capa, diante da rosa, que é a obsessão do pistoleiro Roland de Gilead. Procure no You Tube o lyric video para a ótima faixa "The Gunslinger" com várias ilustrações inerentes à obra e divirta-se. O álbum fecha com um cover para "Immigrant Song" do Led Zeppelin que ficou bem legal na voz de Hansi.

 

sábado, 2 de agosto de 2025

20 anos de Issue VI do Dew Scented!!!


Como o próprio título do álbum entrega, "Issue VI" é a sexta obra dos alemães do Dew Scented, lançado em 2005 e completando 20 anos em junho passado. A arte da capa é bem legal, com todos aqueles braços pendurados e sangrando. Com um novo baixista na formação, Alexander Pahl, função acumulada pelo guitarrista Hendrik Bache em "Impact", além dos dois ainda temos o demônio Leif Jensen nos vocais e o igualmente monstro nas baquetas Uwe Werning. O som continua infernal, Thrash e Death metal mesclados como serpentes. Um rolo compressor de riffs cortantes e palhetadas  abafadas, com solos de guitarra muito bem construídos, uma bateria avassaladora e um vocalista urrando como um bezerro enlouquecido. Novamente sob a tutela de Andy Classen, não temos muitas mudanças no som do Dew Scented, mas uma ouvida criteriosa mostra certa evolução. O trator continua passando sobre escombros e pessoas, mas agora ele troca de marcha e não desce a ladeira de forma descontrolada. Não que você vá vê-los tocando uma balada e falando de amor, mas apenas tomando impulso para uma nova acelerada e mais um tufo de fumaça negra saindo pelo carburador. Os blast-beats se fazem presentes com intensidade, se você ouvir apenas a bateria de "Conceptual End", certamente vai confundir o som com uma banda de genuíno death metal. O final é avassalador com "Evil Dead" com 1 minuto de agressividade. É um cover mas, não, não é o que você está pensando, é berrada em castelhano e pertence a alguém chamado Zeke, que não sei quem é, mas por pouco é o nome do meu cachorro. Se você gosta de um som pesado, com muita fúria, sem muitas invencionices, sem muitas mudanças, mas arrasador e bem feito, ouça Issue VI.

 

20 anos de ReliXIV do Over Kill!!!


O álbum RELIXIV (reli 14) na verdade é o 13º da carreira dos americanos do Overkill, assim como "Killbox 13" é o 12º full. Acredito que este incidente se deva à banda considerar o EP "Fuck You!!!" de 1987 na contagem geral, e tudo bem, seguimos fazendo contas e apreciando o som desta banda que não se cansa de soltar trabalhos soberbos para nossa apreciação. Mesmo já conhecendo outras obras da banda, como o indispensável "Taking Over" e "Feel the Fire", "ReliXIV" foi o primeiro trabalho do Over Kill que adquiri para minha coleção e, portanto, não poderia deixar de sentir um carinho especial por ele. Lançado em 2005 pelo selo "Spitfire Records" o álbum tem mais groove que a maioria dos lançamentos da banda. Aqui, definitivamente, não temos aquele Speed Metal de início de campeonato, quando todos estão com fôlego para 90 minutos e mais prorrogação, se necessário. Mas a empolgação certamente ainda permeava os músicos, com D.D. Verni e Bobby Blitz à frente, e nas guitarras Dave Linsk em seu terceiro álbum com a banda e Derek Tailer em seu segundo álbum, além de Tim Mallare que encerraria sua participação na bateria do Over Kill justamente neste álbum, após entrar em 1992 e vários trabalhos gravados. Credito a esta dupla de guitarristas a responsabilidade de recolocar o Over kill entre as maiores bandas de Thrash novamente, pois desde "Killbox 13" eles lançaram petardos incríveis um após outro. A abertura do álbum com "Within Your Eyes" foi certeira. Mesmo sendo uma música longa, passando de 6 minutos, seus riffs iniciais arrastados, entremeados ao baixo sempre muito audível de Verni, serviram como uma espécie de marcha para uma música empolgante, ótima para um headbanging. "Love" pode ter aquela passagem esquisita em que Bobby canta sobre uma guitarra quase de Rage Agaisnt The Machine, mas tirando isso ela ainda se torna uma boa música, com o vocalista arriscando agudos e até um gutural. Lá pelos 3 minutos entra um riff que torna a música ainda melhor daí em diante. "Loaded Rack" é a terceira faixa e que fique bem claro. Ela não tem nada que chame atenção, nenhum defeito ou ousadia, ela até passa despercebida entre os nomes de faixas do álbum, mas é a típica faixa comum e metal que toda banda deveria gravar. Ela é simples e perfeita, e você só vai perceber isso se a ouvir com muita atenção dentro do contexto do álbum. Ao contrário dela, a faixa que me vem de imediato à mente quando penso neste álbum é "Bats in the Belfry". Ela tem um lance de guitarra que lembra alguma coisa do debut do Machine Head. É uma faixa diferente, com um refrão forte e um solo de guitarra que combinou demais com as bases. "A Pound of Flesh" é acelerada e forma qualquer mosh que se preze, ótima para aumentar o volume do seu system. "Keeper" fica marcada pela parede sonora reforçada pelos backing vocals do refrão, além de um belo trabalho de bateria, enquanto "Wheelz" já mete um solo curto de cara, com Blitz e as guitarras te obrigando a bater cabeça instintivamente. "The Mark" tem uma primeira parte sem tempero, mas seu final cheio de groove acaba compensando ou salvando a faixa de ser um fracasso. "Play the Ace" é a faixa doom de ReliXIV", queira você goste ou não, mas nem chega perto de incorporar um Black Sabbath como na "Crystal Clear" do trabalho anterior, sendo esta bem mais simples. O trabalho fecha com a diferentona punk country "Old School" cujo nome não faz jus ao que normalmente esperaríamos, mas é um momento divertido, com participação de Eddie Trunk, apresentador do "That Metal Show" nos vocais. A capa, mesmo sem o verde característico, traz a caveira morcego em tons marrons e dourados. Não vá na onda do "torça o nariz como os outros". A balança pesa muito mais para o lado bom do que o lado questionável deste álbum.

 

20 anos de The Vanished Pantheon do Mythological Cold Towers!!!


Conheci a banda Mythological Cold Towers na coletânea "The Winds of a New Millenium" de 1995, da extinta Demise Records, e sempre achei a música apresentada pela banda de Osasco, "Golden Bells of Eternal Frost", um dos destaques da coletânea. Os anos se passaram e a banda se consolidou como uma das mais poderosas do estilo death doom metal brasileiro, chegando a seu 3º petardo em 2005, o excelente "The Vanished Pantheon"! Gravado pelo vocalista Samej, os guitarristas Shammash e Nechron, Hamon na bateria, Lord Morpheus no baixo e Flagellum nos teclados, o trabalho foi lançado pelo selo Somber Music, com livreto de 16 páginas e imagens ancestrais, e no capricho. São apenas 5 músicas, mas que ultrapassam 48 minutos de puro Doom extremo, com vocais guturais na maioria das vezes, e narrado em alguns momentos. Vozes em coro ainda aparecem como surpresa no som, como em "Ancestral Solar Emblem", e termina em "fading out", dando a impressão de fim, mas apenas um efeito para enfatizar um momento importante da canção. As letras do M.C.T., assim como o próprio nome da banda indica, navegam por mitologias, crenças e povos ancestrais, civilizações extintas, deuses, monólitos, totens e profecias milenares. Os teclados têm um papel fundamental no som deste álbum, pois trazem um complemento às guitarras, tornando o som épico, transportando o ouvinte às enormes construções antepassadas e perdidas no tempo. Mesmo estando no mesmo patamar de bandas de death doom, o M.C.T, tem características épicas e extremas, e seu som é claramente peculiar, saindo do lugar comum do doom, principalmente pelas vocalizações diferenciadas, narradas ou brutais. Ouvir "The Vanished Pantheon" traz sentimentos distintos, de prazer, fúria e perturbação, e mostram um grupo acima da média, e um orgulho para os amantes do som arrastado. São 20 anos deste trabalho, mas pelo capricho e competência com que foi elaborado, poderia ser um lançamento recente. 

 

sábado, 26 de julho de 2025

20 anos de Mezmerize do System of a Down!!!


Eu ouvia falar no System of a Down no início dos anos 2000 mas sempre corri de sua música, já que a banda era (ou ainda é) classificada como Nu Metal. Mas em 2005 no horário de intervalo no trabalho a TV estava ligada em algum canal e passava o vídeo de "BYOB". Se você já foi um peixe em outra vida, e teve o desprazer de ser pescado por um anzol, vai entender o que senti naquele momento. Uma banda que eu julgava pelo estilo em que era enquadrada e que me fisgou de imediato com uma música que achei fantástica, misturando 3 estilos de vozes diferentes, mudanças bruscas de andamento, energia e nada daquela coisa dançante e bagunçada com afinação de guitarras quase nos dedos do pé a que eu associava o Nu Metal (e ainda associo). Meu grande amigo Lenilson, que alguns meses depois foi morar no Japão, viu minha empolgação com aquilo e me ofereceu o álbum Mezmerize para ouvir. Caramba, me surpreendi com as músicas destes caras, uma maluquice que em palavras seria pouco provável de dar certo, mas que musicalmente preenchem um álbum sensacional. Aquele som havaiano de "Radio/Vídeo" com certeza é algo que eu não procuraria para ouvir caso lesse em uma resenha, mas faz dela uma das faixas mais legais do álbum. Algumas coisas mais estranhas como "This Cocaine Makes Me Feel Like I'm On This Song" que tem o título maior que a duração da faixa, ainda assim é muito legal. A estrutura das músicas deste álbum é brilhante, a criatividade da trupe estava em um nível muito acima de mentes normais, e com a sorte de ter um vocalista como Serj Tankian com todos os coelhos alucinados que tirou da cartola neste play, começo a acreditar que o S.O.A.D. tenha sido abduzido em algum momento da carreira e voltado à Terra com ideias não convencionais para a música, em especial ao metal e toda a sua mania de não olhar pros lados (não me excluo), e pronto para criar uma música totalmente insana, que eu proibiria veementemente de ser executada em casas de recuperação para pessoas com problemas psicológicos. Mesmerize é pesado, ousado, melódico, criativo, agressivo e mesmo que estas qualidades possam ser encontradas em muitos outros álbuns por aí (mas quase sempre não no mesmo álbum), ele ainda tem a qualidade de desmistificar um estilo e mudar o conceito (ou preconceito) de quem possa ver a banda sem brilho nos olhos. Destaque ainda para as ótimas "Cigaro", "Revenga", "Old School Hollywood"e a balada "Lost In Hollywood".

 

20 anos de Catch Thirtythree do Meshuggah!!!


Nos anos 90, época de MTV e VHS, coisas que os mais novos nem saberão o que significa, gravei um clipe do Meshuggah no Fúria, e por muitos anos este ficou lá entre incontáveis horas de vídeos, até que tive que me desfazer de todo este material antigo, muita coisa mofada ou sem nenhum aparelho para assistir e, numa era de Youtube, sem muito sentido. Não vou me lembrar qual era a música, mas talvez algo do álbum "Destroy, Erase, Improve", mais pelo ano de seu lançamento que por qualquer outra coisa. Já aquele vídeo onde a própria banda com uma câmera na cabeça filmava os caras tocando em um cômodo ou algo assim, não me trouxe nenhuma vontade ou necessidade de procurar outro material da banda. Portanto, após 30 anos, cá estou novamente ouvindo algo desta banda sueca, seu quinto trabalho, "Catch Thirtythree", que está fazendo aniversário de 20 anos. A arte da capa é legal, com as serpentes sobre o fundo escuro, combinou bastante com o logotipo da banda. Quando comecei a ouvir o álbum, aberto com "Autonomy Lost", nem percebi quando passou por "Imprint of the Un-Saved", nem mesmo "Disenchantment", e quem perceberia, caso não estivesse vendo o tempo de músicas e as faixas sendo trocadas num aparelho, o que não era meu caso? Se fosse uma única música de seus 5 minutos, seria um som até legal, meio monótono porque sem muita variação, mas a falta de variação nunca foi um problema pra mim se a invariável fosse boa, o que digamos, não é bem o caso aqui. Mas quando começa "The Paradoxical Spiral" e a variação existe, porém é mínima, tudo começa a ficar entediante de verdade. Porque este é na verdade um álbum de 47 minutos de uma música só, fatiada em vários pedaços, como nas casas com muitos filhos de antigamente, em que a mãe cortava em partes iguais uma bisnaga de pão francês para 10 filhos, mas ninguém queria as pontas. A impressão que fica, ouvindo "Catch Thirtythree" é que estamos comendo as pontas sempre, com quase zero miolo, apenas casca sem resquícios de manteiga. Mastigamos, mastigamos e não ficamos satisfeitos. O que se pode tirar de bom é a produção, o timbre da guitarra, o baixo bem apresentado, um bom baterista e um ótimo vocalista, mas um som enfadonho que, se ouvido ao volante, abra bem a janela para te manter acordado. Porque acordar em outra dimensão com esta música na cabeça seria um pé no saco. 

 

domingo, 13 de julho de 2025

20 anos de Strength Power Will Passion do Holy Moses!!!


O Holy Moses da Alemanha acabou. Lançou seu último trabalho em 2023 e também fez sua última apresentação, após 13 "full albuns" de estúdio. Mas sempre será lembrada como aquela que apresentou uma das vocalistas mais brutais da história do metal, precursora dentro do Thrash Metal, a bela (e fera) Sabina Classen. Depois de 2 demos ela entrou na banda para o terceiro registro de demonstração, intitulado "Satan's Angel" de 1982 e a história de sucesso começou em 1986 com o primeiro full "Queen of Sian". "Strength Power Will Passion" chegou em 2005, o 9º trabalho, e neste momento outra banda já despontava com uma vocalista feminina como referência, os suecos do Arch Enemy de Angela Gossow, que tiveram tanta visibilidade que ajudaram bandas como o Holy Moses a alcançar um maior público, mesmo que tenha chegado primeiro. Coisas da arte e do mundo. Portanto acredito que o sucesso deste trabalho muito se deva àquilo que Gossow trouxe, mesmo que seja realmente um ótimo trabalho. Para ser ainda mais incisivo no onda, colocaram o rosto da vocalista na capa, à frente de um pentagrama e com uma cruz invertida na testa. Os alemães realmente queriam chamar atenção e aproveitar o bom momento. O guitarrista Andy Classen, marido da vocalista, havia se despedido da banda com o ótimo "Disorder of the Order" de 2002 e em seu lugar entrou Michael Hankel, que trouxe ótimas ideias para a banda. O som não é apenas thrash, agora temos muito de melodic death em sua veia mais extrema, uma cara nova para a banda que tirou um pouco da fúria e atitude de outrora, mas que em nada minimizou o som do Holy Moses. Se você pegar as 2 faixas que abrem o petardo, "Angel Cry" e "End of Time", vai perceber que o som está mais próximo do mainstream como nunca. E músicas como "Examination" até te trazem nostalgia do Death na era Symbolic. Há também aquele coro básico e masculino, como no refrão de "I Will" que não deixa o som decolar muito às alturas, lembrando que pertencem ao underground com aquela pegada hard core. Mesmo que eles não consigam manter o mesmo pique por todos os mais de 40 minutos do trabalho, ele ainda soa bastante homogêneo e em nenhum momento te obriga a mudar de faixa. Vale muito a pena botar essa bolacha pra girar.