O quarto full da banda mineira Silent Cry, sediada em Governador Valadares, chamado Darklife, saiu pela Hellion Records em 2005. A banda, conhecida no cenário nacional por seu gothic doom metal numa carreira de trabalhos memoráveis, desde o precioso debut "Remembrance", nos presenteando com obras (ou lamentos, como costuma dizer o líder, vocalista e guitarrista Dilpho Castro) de bom gosto inexorável, apresentava em seu novo trabalho sua terceira voz feminina, a cantora Sandra Félix. Ficando pouco tempo na banda, Sandra participaria no ano seguinte do também maravilhoso álbum da banda baiana Malefactor, o Centvrian e depois não tivemos mais notícias de sua voz em algum outro trabalho de metal nacional. Uma pena, pois sua voz foi fundamental para consolidar "Darklife" como mais um trabalho importante na carreira do Silent Cry. Este é talvez o álbum mais pesado da banda, com riffs pesadíssimos, como podemos ouvir na faixa "My Tears Are Still Falling". Os vocais guturais de Dilpho contribuem para esta projeção agressiva, enquanto os riffs pesados de início dão lugar a outros muito bem encaixados, mostrando que mesmo uma banda doom pode proporcionar momentos de headbanging. Os teclados como sempre exercem papel importante no som do Silent, introduzindo melodias tristes. "The Wine's Dance" é uma música que mostra a qualidade dos mineiros, assemelhando-se a trabalhos de bandas reconhecidas internacionalmente, uma canção que em momento algum chega a ser pop, mas que tem uma aura mainstream, seja pela qualidade de seus teclados, as guitarras góticas e os vocais masculinos que aparecem de forma limpa também, elevando a canção ao status quo da banda em 2005. Alguns solos de guitarra, algo nem tão inerente ao gênero, aparecem de forma natural e enriquecem faixas como a abertura com "Sufocated in Dakness", uma faixa curta que serviu para mostrar a nova vocalista e a nova fase da banda. "Sweet Serenades", a música mais longa e mais introspectiva do álbum, não deixa que você se esqueça das raizes doom entremeadas ao gótico, e nesta toada, creio que temos a melhor interpretação de Sandra no álbum. A capa mais uma vez mostra a figura feminina e do anjo, apresentando um nu artístico de forma alguma constrangedora ou apelativa, em tons escuros, mais uma vez captando a aura gótica das canções. Além de Sandra e Dilpho, o álbum a banda ainda tinha o guitarrista Albenez Carvalho, Roberto Freitas no baixo, Ricardo Meireles na bateria e Phillipe Dutra no teclado. Ouça uma das faixas mais belas da história da banda, "Last Goodbye" e apaixone-se instantaneamente por "Darklife".
sábado, 16 de agosto de 2025
20 anos de Touched By the Crimson King do Demons And Wizards!!!
Demorou 6 anos para que os líderes de Blind Guardian e Iced Earth pudessem novamente colocar em prática seu projeto Demons & Wizards. Ele veio em 2005 sob a alcunha de "Touched By The Crimson King". Musicalmente o segundo ato não difere muito do primeiro. Este projeto não é apenas a junção dos líderes das 2 bandas citadas, ele é a condensação sonora das 2 bandas. Os riffs parecem sobras das produções de Jon Schaffer. E nem sempre as sobras podem ser consideradas ruins, mas não cabiam no trabalho principal naquele momento, ou até uma ou outra melodia pode não ter sido bem aproveitada pelo vocalista do Iced naquele período. Já a voz de Hansi Kürsch está perfeita. Pode até ser que ele não tenha a mesma potência de outrora, mas seu timbre inconfundível eleva as músicas a um patamar magistral. O início do trabalho é melhor que o final. A abertura com "Crimson King" é para te captar rapidamente, por meio dos riffs cavalgados e um ritmo que começa acelerado e tem uma descaída com bastante peso, até lá pelos 3 minutos entrar um dedilhado e a melodia vocálica para mostrar que Hansi é realmente um bardo de terras distantes. Já "Beneath The Waves" na sequência não é tão bombástica, lembrando até algumas coisas que Schaffer faria futuramente quando Stu já estava comandando as vozes de sua banda principal. Enquanto isso "Terror Train" ataca com seu power thrash épico e pode ser considerada uma das melhores faixas do petardo. Para fechar a boa quadra de abertura temos uma semi balada sensacional chamada "Seize the Day" que prova mais uma vez a importância do vocalista alemão para o Heavy Metal. Aliás é importante salientar que existem algumas baladas pesadas no trabalho, o que não deixa o álbum enjoativo, a exemplo da excelente "Love's Tragedy Asunder". Um ponto importantíssimo que deixei para o final são as letras de "Touched by the Crimson King". Um prato cheio para amantes da leitura, a obra é baseada na literatura de Stephen King, a saga "A Torre Negra", minha história favorita do escritor que tem 8 volumes e que li 2 vezes e pretendo ler novamente. Nem todas as músicas remetem claramente à história de King, mas várias delas sim, além da capa, que tentou unir a banda, com um feiticeiro e um demônio na capa, diante da rosa, que é a obsessão do pistoleiro Roland de Gilead. Procure no You Tube o lyric video para a ótima faixa "The Gunslinger" com várias ilustrações inerentes à obra e divirta-se. O álbum fecha com um cover para "Immigrant Song" do Led Zeppelin que ficou bem legal na voz de Hansi.
sábado, 2 de agosto de 2025
20 anos de Issue VI do Dew Scented!!!
Como o próprio título do álbum entrega, "Issue VI" é a sexta obra dos alemães do Dew Scented, lançado em 2005 e completando 20 anos em junho passado. A arte da capa é bem legal, com todos aqueles braços pendurados e sangrando. Com um novo baixista na formação, Alexander Pahl, função acumulada pelo guitarrista Hendrik Bache em "Impact", além dos dois ainda temos o demônio Leif Jensen nos vocais e o igualmente monstro nas baquetas Uwe Werning. O som continua infernal, Thrash e Death metal mesclados como serpentes. Um rolo compressor de riffs cortantes e palhetadas abafadas, com solos de guitarra muito bem construídos, uma bateria avassaladora e um vocalista urrando como um bezerro enlouquecido. Novamente sob a tutela de Andy Classen, não temos muitas mudanças no som do Dew Scented, mas uma ouvida criteriosa mostra certa evolução. O trator continua passando sobre escombros e pessoas, mas agora ele troca de marcha e não desce a ladeira de forma descontrolada. Não que você vá vê-los tocando uma balada e falando de amor, mas apenas tomando impulso para uma nova acelerada e mais um tufo de fumaça negra saindo pelo carburador. Os blast-beats se fazem presentes com intensidade, se você ouvir apenas a bateria de "Conceptual End", certamente vai confundir o som com uma banda de genuíno death metal. O final é avassalador com "Evil Dead" com 1 minuto de agressividade. É um cover mas, não, não é o que você está pensando, é berrada em castelhano e pertence a alguém chamado Zeke, que não sei quem é, mas por pouco é o nome do meu cachorro. Se você gosta de um som pesado, com muita fúria, sem muitas invencionices, sem muitas mudanças, mas arrasador e bem feito, ouça Issue VI.
20 anos de ReliXIV do Over Kill!!!
O álbum RELIXIV (reli 14) na verdade é o 13º da carreira dos americanos do Overkill, assim como "Killbox 13" é o 12º full. Acredito que este incidente se deva à banda considerar o EP "Fuck You!!!" de 1987 na contagem geral, e tudo bem, seguimos fazendo contas e apreciando o som desta banda que não se cansa de soltar trabalhos soberbos para nossa apreciação. Mesmo já conhecendo outras obras da banda, como o indispensável "Taking Over" e "Feel the Fire", "ReliXIV" foi o primeiro trabalho do Over Kill que adquiri para minha coleção e, portanto, não poderia deixar de sentir um carinho especial por ele. Lançado em 2005 pelo selo "Spitfire Records" o álbum tem mais groove que a maioria dos lançamentos da banda. Aqui, definitivamente, não temos aquele Speed Metal de início de campeonato, quando todos estão com fôlego para 90 minutos e mais prorrogação, se necessário. Mas a empolgação certamente ainda permeava os músicos, com D.D. Verni e Bobby Blitz à frente, e nas guitarras Dave Linsk em seu terceiro álbum com a banda e Derek Tailer em seu segundo álbum, além de Tim Mallare que encerraria sua participação na bateria do Over Kill justamente neste álbum, após entrar em 1992 e vários trabalhos gravados. Credito a esta dupla de guitarristas a responsabilidade de recolocar o Over kill entre as maiores bandas de Thrash novamente, pois desde "Killbox 13" eles lançaram petardos incríveis um após outro. A abertura do álbum com "Within Your Eyes" foi certeira. Mesmo sendo uma música longa, passando de 6 minutos, seus riffs iniciais arrastados, entremeados ao baixo sempre muito audível de Verni, serviram como uma espécie de marcha para uma música empolgante, ótima para um headbanging. "Love" pode ter aquela passagem esquisita em que Bobby canta sobre uma guitarra quase de Rage Agaisnt The Machine, mas tirando isso ela ainda se torna uma boa música, com o vocalista arriscando agudos e até um gutural. Lá pelos 3 minutos entra um riff que torna a música ainda melhor daí em diante. "Loaded Rack" é a terceira faixa e que fique bem claro. Ela não tem nada que chame atenção, nenhum defeito ou ousadia, ela até passa despercebida entre os nomes de faixas do álbum, mas é a típica faixa comum e metal que toda banda deveria gravar. Ela é simples e perfeita, e você só vai perceber isso se a ouvir com muita atenção dentro do contexto do álbum. Ao contrário dela, a faixa que me vem de imediato à mente quando penso neste álbum é "Bats in the Belfry". Ela tem um lance de guitarra que lembra alguma coisa do debut do Machine Head. É uma faixa diferente, com um refrão forte e um solo de guitarra que combinou demais com as bases. "A Pound of Flesh" é acelerada e forma qualquer mosh que se preze, ótima para aumentar o volume do seu system. "Keeper" fica marcada pela parede sonora reforçada pelos backing vocals do refrão, além de um belo trabalho de bateria, enquanto "Wheelz" já mete um solo curto de cara, com Blitz e as guitarras te obrigando a bater cabeça instintivamente. "The Mark" tem uma primeira parte sem tempero, mas seu final cheio de groove acaba compensando ou salvando a faixa de ser um fracasso. "Play the Ace" é a faixa doom de ReliXIV", queira você goste ou não, mas nem chega perto de incorporar um Black Sabbath como na "Crystal Clear" do trabalho anterior, sendo esta bem mais simples. O trabalho fecha com a diferentona punk country "Old School" cujo nome não faz jus ao que normalmente esperaríamos, mas é um momento divertido, com participação de Eddie Trunk, apresentador do "That Metal Show" nos vocais. A capa, mesmo sem o verde característico, traz a caveira morcego em tons marrons e dourados. Não vá na onda do "torça o nariz como os outros". A balança pesa muito mais para o lado bom do que o lado questionável deste álbum.
20 anos de The Vanished Pantheon do Mythological Cold Towers!!!
Conheci a banda Mythological Cold Towers na coletânea "The Winds of a New Millenium" de 1995, da extinta Demise Records, e sempre achei a música apresentada pela banda de Osasco, "Golden Bells of Eternal Frost", um dos destaques da coletânea. Os anos se passaram e a banda se consolidou como uma das mais poderosas do estilo death doom metal brasileiro, chegando a seu 3º petardo em 2005, o excelente "The Vanished Pantheon"! Gravado pelo vocalista Samej, os guitarristas Shammash e Nechron, Hamon na bateria, Lord Morpheus no baixo e Flagellum nos teclados, o trabalho foi lançado pelo selo Somber Music, com livreto de 16 páginas e imagens ancestrais, e no capricho. São apenas 5 músicas, mas que ultrapassam 48 minutos de puro Doom extremo, com vocais guturais na maioria das vezes, e narrado em alguns momentos. Vozes em coro ainda aparecem como surpresa no som, como em "Ancestral Solar Emblem", e termina em "fading out", dando a impressão de fim, mas apenas um efeito para enfatizar um momento importante da canção. As letras do M.C.T., assim como o próprio nome da banda indica, navegam por mitologias, crenças e povos ancestrais, civilizações extintas, deuses, monólitos, totens e profecias milenares. Os teclados têm um papel fundamental no som deste álbum, pois trazem um complemento às guitarras, tornando o som épico, transportando o ouvinte às enormes construções antepassadas e perdidas no tempo. Mesmo estando no mesmo patamar de bandas de death doom, o M.C.T, tem características épicas e extremas, e seu som é claramente peculiar, saindo do lugar comum do doom, principalmente pelas vocalizações diferenciadas, narradas ou brutais. Ouvir "The Vanished Pantheon" traz sentimentos distintos, de prazer, fúria e perturbação, e mostram um grupo acima da média, e um orgulho para os amantes do som arrastado. São 20 anos deste trabalho, mas pelo capricho e competência com que foi elaborado, poderia ser um lançamento recente.
sábado, 26 de julho de 2025
20 anos de Mezmerize do System of a Down!!!
Eu ouvia falar no System of a Down no início dos anos 2000 mas sempre corri de sua música, já que a banda era (ou ainda é) classificada como Nu Metal. Mas em 2005 no horário de intervalo no trabalho a TV estava ligada em algum canal e passava o vídeo de "BYOB". Se você já foi um peixe em outra vida, e teve o desprazer de ser pescado por um anzol, vai entender o que senti naquele momento. Uma banda que eu julgava pelo estilo em que era enquadrada e que me fisgou de imediato com uma música que achei fantástica, misturando 3 estilos de vozes diferentes, mudanças bruscas de andamento, energia e nada daquela coisa dançante e bagunçada com afinação de guitarras quase nos dedos do pé a que eu associava o Nu Metal (e ainda associo). Meu grande amigo Lenilson, que alguns meses depois foi morar no Japão, viu minha empolgação com aquilo e me ofereceu o álbum Mezmerize para ouvir. Caramba, me surpreendi com as músicas destes caras, uma maluquice que em palavras seria pouco provável de dar certo, mas que musicalmente preenchem um álbum sensacional. Aquele som havaiano de "Radio/Vídeo" com certeza é algo que eu não procuraria para ouvir caso lesse em uma resenha, mas faz dela uma das faixas mais legais do álbum. Algumas coisas mais estranhas como "This Cocaine Makes Me Feel Like I'm On This Song" que tem o título maior que a duração da faixa, ainda assim é muito legal. A estrutura das músicas deste álbum é brilhante, a criatividade da trupe estava em um nível muito acima de mentes normais, e com a sorte de ter um vocalista como Serj Tankian com todos os coelhos alucinados que tirou da cartola neste play, começo a acreditar que o S.O.A.D. tenha sido abduzido em algum momento da carreira e voltado à Terra com ideias não convencionais para a música, em especial ao metal e toda a sua mania de não olhar pros lados (não me excluo), e pronto para criar uma música totalmente insana, que eu proibiria veementemente de ser executada em casas de recuperação para pessoas com problemas psicológicos. Mesmerize é pesado, ousado, melódico, criativo, agressivo e mesmo que estas qualidades possam ser encontradas em muitos outros álbuns por aí (mas quase sempre não no mesmo álbum), ele ainda tem a qualidade de desmistificar um estilo e mudar o conceito (ou preconceito) de quem possa ver a banda sem brilho nos olhos. Destaque ainda para as ótimas "Cigaro", "Revenga", "Old School Hollywood"e a balada "Lost In Hollywood".
20 anos de Catch Thirtythree do Meshuggah!!!
Nos anos 90, época de MTV e VHS, coisas que os mais novos nem saberão o que significa, gravei um clipe do Meshuggah no Fúria, e por muitos anos este ficou lá entre incontáveis horas de vídeos, até que tive que me desfazer de todo este material antigo, muita coisa mofada ou sem nenhum aparelho para assistir e, numa era de Youtube, sem muito sentido. Não vou me lembrar qual era a música, mas talvez algo do álbum "Destroy, Erase, Improve", mais pelo ano de seu lançamento que por qualquer outra coisa. Já aquele vídeo onde a própria banda com uma câmera na cabeça filmava os caras tocando em um cômodo ou algo assim, não me trouxe nenhuma vontade ou necessidade de procurar outro material da banda. Portanto, após 30 anos, cá estou novamente ouvindo algo desta banda sueca, seu quinto trabalho, "Catch Thirtythree", que está fazendo aniversário de 20 anos. A arte da capa é legal, com as serpentes sobre o fundo escuro, combinou bastante com o logotipo da banda. Quando comecei a ouvir o álbum, aberto com "Autonomy Lost", nem percebi quando passou por "Imprint of the Un-Saved", nem mesmo "Disenchantment", e quem perceberia, caso não estivesse vendo o tempo de músicas e as faixas sendo trocadas num aparelho, o que não era meu caso? Se fosse uma única música de seus 5 minutos, seria um som até legal, meio monótono porque sem muita variação, mas a falta de variação nunca foi um problema pra mim se a invariável fosse boa, o que digamos, não é bem o caso aqui. Mas quando começa "The Paradoxical Spiral" e a variação existe, porém é mínima, tudo começa a ficar entediante de verdade. Porque este é na verdade um álbum de 47 minutos de uma música só, fatiada em vários pedaços, como nas casas com muitos filhos de antigamente, em que a mãe cortava em partes iguais uma bisnaga de pão francês para 10 filhos, mas ninguém queria as pontas. A impressão que fica, ouvindo "Catch Thirtythree" é que estamos comendo as pontas sempre, com quase zero miolo, apenas casca sem resquícios de manteiga. Mastigamos, mastigamos e não ficamos satisfeitos. O que se pode tirar de bom é a produção, o timbre da guitarra, o baixo bem apresentado, um bom baterista e um ótimo vocalista, mas um som enfadonho que, se ouvido ao volante, abra bem a janela para te manter acordado. Porque acordar em outra dimensão com esta música na cabeça seria um pé no saco.
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