Se Catch 22 foi uma tentativa meio torta de mudança de rumo, e The Arrival representou um passo mais seguro nessa transição, o 10º álbum de estúdio dos suecos do Hypocrisy, Virus, surge como a pedra fundamental dessa nova fase: a metamorfose definitiva de um death metal cru para um melodic death metal de ponta. Da arte da capa — criada pelo talentoso Anthony Clarkson (Legion of the Damned, Blind Guardian, entre outros) — até as letras que abandonam o velho imaginário alienígena, Peter Tägtgren e sua trupe acertam em cheio. Virus não é apenas um bom disco: é, para muitos, o grande momento da carreira da banda.
Uma das qualidades mais marcantes do álbum, e um diferencial que pesa muito num estilo extremo como este, é a capacidade de fazer cada música soar única, sem que o conjunto perca coerência. Isso, minhas criaturas noturnas, é uma façanha rara. Em Virus, convivem harmonia e brutalidade, melancolia e fúria — um equilíbrio que poucas bandas conseguem alcançar sem diluir identidade.
A entrada do guitarrista Andreas Holma deu profundidade às composições, ampliando o alcance melódico e rítmico do disco. Não que o mérito seja apenas dele, mas seus 25% de crédito estão muito bem colocados. Outro reforço crucial foi o baterista Horg (Immortal), cuja técnica precisa e pegada esmagadora elevam o material a outro patamar. O baixista Mikael Hedlund, membro veterano, também entrega uma performance sólida e participa da composição de algumas faixas. Já Peter Tägtgren, além de guitarras e dos vocais rasgados e guturais que conhecemos, surpreende com passagens em voz limpa — especialmente na derradeira e belíssima “Living to Die”.
“War-Path” abre o trabalho com violência e atmosfera quase black sinfônica, graças ao ataque implacável dos pedais duplos e aos vocais mais profundos. Em “Scrutinized”, a presença especial de Gary Holt (Exodus, Slayer) adiciona um solo thrash matador, costurado por mudanças de andamento impecáveis. “Fearless” mergulha no death melódico que Catch 22 gostaria de ter alcançado, com teclados sustentando boa parte da ambiência enquanto as guitarras duelam entre peso e melodia.
“Craving for Another Killing” figura entre as mais brutais, com Horg destravando a metralhadora rítmica. Já “Let the Knife Do the Talking” desacelera sem perder originalidade. “A Thousand Lies” traz um lado mais melancólico, com dedilhados e um riff que flerta com a aura sombria da abertura.
E então chega o meu momento preferido: “Incised Before I’ve Ceased”. Um colosso que brilha pelo riff cavalgado, pelas variações vocais de Peter, o solo insano e as intervenções de teclado trabalhadas em fragmentos — uma música que resume o espírito do álbum. “Blooddrenched” disputa o título de faixa mais brutal, investindo pesado no death metal tradicional, enquanto “Compulsive Psychosis” brinca com variações de bateria thrash, refrão gritado e um certo espírito caótico-divertido… embora a diversão verdadeira recaia sobre nós, ouvintes, que podemos mergulhar em uma obra tão rica e envolvente.

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