Todo fã de Heavy Metal curte muito mais do que simplesmente música. Junto a ela o efeito visual é amado e festejado pelos headbangers ao redor do mundo. Seja o visual das bandas, incluindo aí as roupas, maquiagens e efeitos de palco, seja na arte que compõe os álbuns e fatalmente estamparão as camisetas que os fãs utilizarão com muito gosto no dia a dia. O CD tirou um pouco da mágica que as artes de capa proporcionavam na época do vinil, mas nem por isso as bandas deixaram de investir neste quesito. Nesta entrevista, conversamos com o carismático vocalista da banda Drowned, Fernando Lima, que é artista gráfico e web designer, já há algum tempo criando belas obras de arte para várias bandas de heavy metal.
Fernando,
primeiramente parabéns pelo seu trabalho à frente do Drowned e como designer e
artista gráfico. Fale-nos um pouco de como você começou a trabalhar na área de designer.
E aí Nilson, tudo certo? Obrigado
pelas palavras!... Bem, tudo começou quando eu vi na gondola de LPs do
Carrefour, em 86 ou 87, as capas do Killers e do Somewhere in Time do Iron
Maiden. Comprei o Killers e em casa escutando o som e admirando a capa fiquei
hipnotizado... Comecei a comprar álbuns de Metal e a redesenhar suas capas. Na
minha época de escola eu desenhava o Eddie do Iron e vendia para meus colegas
colarem no caderno, na porta do guarda roupas ou na parede. Quando tive que
decidir o que fazer depois da escola, entrei na faculdade de Design da UEMG.
Fui fazendo estágios e trabalhando na área, mas sempre buscando relacionar o
design com o Metal.
Qual foi
seu primeiro trabalho profissional (primeira arte gráfica ou capa de CD) e de onde
vêm suas influências e inspirações?
Meu primeiro trabalho com arte
para uma banda foi a capa da demo-tape do Drowned “Where Dark and Light
Divide...”. Foi totalmente feita a mão. Usei lápis aquarelado para criar e
depois eu recortei os quadrados e os desloquei para ficar mais caótico. Naquela
época não tínhamos os recursos de computação gráfica que temos hoje e tudo foi
feito no recorte e na colagem para conseguirmos os efeitos que queríamos. Nos
álbuns seguintes eu trabalhei somente com os layouts, pois o Quinho fazia as
capas. Eu participava das diagramações junto à Janaína que era a designer da
Cogumelo até meados de 2004. Quando o Drowned estava preparando para laçar o
álbum “By the Grace of Evil” em 2005, eu vi que tínhamos que inovar na arte,
fazer não só uma boa capa, mas também fotos trabalhadas em sintonia a ideia da
arte como um todo. Foi aí que eu me arrisquei em fazer uma arte no computador.
Fui trabalhando também as fotos e as letras para ficar tudo bem ligado, como se
o encarte contasse uma história. Na época esta arte fez muito sucesso, as
pessoas curtiram a ideia. Na
época eu estava muito influenciado pelo Dave McKean (capas do Kreator “Renewal”
– Testament “Low”, “Demonic” e “Gathering” – Paradise Lost “Shades of God”),
Travis Smith (capas do Nevermore “Dead Heart in a Dead World” e “Enemies of
Reality”) e Seth Siro Anton (Capas do Vader “Impressions in Blood” – Belphegor
“Pestapokalypse VI” – Heaven
Shaw Burn “Antigone”)… Até hoje estes artistas
me inspiram... Além destes citados, tenho como referencia o Edward Repka, o
Kelson Frost e o Derek Riggs.
Que tipos de programas você
utiliza para criar?
Algumas vezes eu começo
a criar no lápis e papel, rabisco as ideias e depois escaneio para tratar no
Photoshop. Outras vezes eu já começo direto no Photoshop. Também utilizo o
Flash para desenhar, porque acho uma ferramenta mais natural do que o
Illustrator. Uso também o InDesign para formatar e algumas vezes para
diagramar. Mas o Photoshop é o principal.
O que você acha mais difícil, uma
arte criada com o auxílio de programas de computador ou o desenho a mão livre?
No meu caso, acho o
desenho à mão livre muito mais difícil, pois não tenho o traço maligno
suficiente para criar uma capa de banda de Metal... hehehehe... Sempre que
começo o trabalho a mão livre, termino no computador. As duas maneiras de fazer
arte são válidas e cada artista trabalha como se sente mais confortável. Eu na
verdade utilizo o Photoshop como se fosse uma tela ou um papel, pois não uso
efeitos pré-definidos pelo programa ou plugins de simulação. Procuro trabalhar
tudo na munheca e fazer com que cada capa seja diferente, seja especial. Se
quero um efeito, faço como se fosse real, na hora da criação... como por
exemplo, luz e sombra ou um efeito de envelhecimento. Não uso computador de
forma mecânica. Meu trabalho não é tratamento de imagens ou correção de fotos
de modelos. Eu faço capas para bandas de Metal e Rock. Tenho que expressar um
sentimento...
Antigamente os artistas eram
considerados pessoas com dons voltados para a arte de desenhar ou pintar. Hoje
quem trabalha com arte gráfica, são pessoas com um dom ou o conhecimento das
ferramentas necessárias e a prática podem levar qualquer pessoa interessada em
criar bons trabalhos?
Eu acredito que
qualquer um pode aprender programas e fazer montagens com fotos no computador,
mas criar uma boa arte é outra história... Muito diferente!!! Hoje ainda é como
antigamente, algumas pessoas tem o olhar ou o “dom” de criar arte, porém, o
acesso à informação aumentou e pessoas que não são artistas aprenderam a usar o
pincel e o lápis que no caso, é o computador... Eu nunca fiz curso de programa
e isto nunca me fez falta. Eu me preocupo muito mais em adquirir cultura,
conhecer bandas e artistas para ter uma boa bagagem artística e inspiração do
que ficar correndo atrás de inovações tecnológicas e formas de facilitar o
trabalho. Arte ainda é arte e as pessoas precisam aprender a diferenciar as
coisas para não corromper ainda mais o mercado.
Qual foi a arte que mais lhe
deu trabalho e qual lhe deu maior satisfação?
É engraçado que
geralmente uma arte que dá muito trabalho fica boa no final... Lembro da arte
que fiz para uma banda que queria que eu fizesse um cara forjando uma guitarra,
como se fosse uma espada ou lança... Foi um longo trabalho até finalizar a arte
desta capa, mas o resultado final ficou incrível... Uma das melhores capas que
eu já criei!!! Fiquei realmente muito satisfeito. A arte do Drowned
“Belligerent parte 2” também ficou boa... Esta arte como um todo ficou bem
ligada neste álbum, é como se as ilustrações contassem uma história.
Por outro lado, tem
alguns trabalhos que a banda não sabe o que quer, ou idealiza algo na mente que
se torna impossível reproduzir e resultar em uma boa capa e isto provoca várias
idas e vindas da arte, e não me sinto a vontade para criar. O trabalho acaba se
perdendo e a arte não fica boa como deveria... São poucos casos como este, mas
acontecem.
Você considera que a arte à
mão está fadada ao fim, apesar de algumas bandas ainda viverem aquele movimento
retrô, principalmente o thrash old school?
Creio que não... Acho
que todo tipo de arte tem seu valor. Eu posso citar inúmeras capas feitas a mão
que são fantásticas como por exemplo a do novo álbum do Kreator, “Phantom
Antichrist”, A capa do Hyade “The Worst Yet to Come”, “Sworn to the Dark” do
Watain, que é um desenho mesmo e muitas outras. Mas também posso te falar
muitas capas feitas por computação que são incríveis como a do “Impressions in
Blood” do Vader, “Alpha Noir” do Moospell, “Dead Heart in a Dead World” do Nevermore
e por aí vai... Na verdade o que importa não é como é feito e sim se a capa
impressiona ou não, se é bonita ou interessante de se ver... Muitas vezes uma
simples foto bem tirada e sem efeitos se torna um boa capa...
Para uma banda como o
Drowned, que não precisa mais desembolsar muito para criar a arte de um CD ou
pagar horas em um estúdio para gravação, pois tem um estúdio próprio, isso
torna tudo mais fácil ou acaba sobrecarregando os músicos com outras funções?
No caso da arte, eu não
vejo uma sobrecarga porque eu me envolvo 100% no trabalho e como eu escrevo
letras é uma forma de expressar com imagem o que eu escrevo e canto. Para mim,
é um trabalho contínuo, complementar.
Quais as bandas nacionais e
de fora do Brasil você tem curtido ultimamente?
Ultimamente estou
escutando o Carcass “Surgical Steel”, curti muito este retorno deles. O mais
novo do Legion of the Damned também ficou muito bom. Tenho ouvido muito bandas
brasileiras como o “Hate Metal” do Scourge, Soul Stone “Metal Machine”, o álbum
mais recente dos camaradas do Zênite “Following the Funeral” ficou ótimo...
discão!!! E muitos outros...
Fale um pouco dos artistas a
seguir: Derek Riggs – Andreas Marschall – Gustavo Sazes – Kelson Frost – Ed
Repka.
O Marshall assim como o
Repka foi um dos caras que mais colocou capas em discos nos anos 80 e 90. De
Heavy Metal a Death Metal. Eu aprecio algumas capas que ele fez. Principalmente
para o Obituary, Sodom e Kreator.
Eu curto muitas das
capas que o Gustavo Sazes produziu. Foi uma das primeiras capas totalmente
digitais que eu tive contato. Uma de suas capas que curto muito a do Nightrage
“Wearing a Martyrs’s Crown”.
Eu colecionava capas do
Kelson Frost... Comprava os LPs, que em alguns casos eu nem curtia a banda ou o
estilo da banda, só para ter a capa do Kelson... O Kelson também influenciou
muito minha decisão em trabalhar com arte/design.
Obrigado pela entrevista. É um prazer tê-lo em
nossa página.
Eu é que agradeço a oportunidade de
divulgar meu trabalho e expor minhas ideias... Muito Obrigado! Se quiserem ver
algumas de minhas artes ou se precisar de arte para sua banda meus contatos
são: email – fernando.drowned@gmail.com
/ site – www.themostdestructiveart.com
/ Facebook - fernandodrowned