quinta-feira, 31 de dezembro de 2020

Dezembro Verde & Amarelo #31: Torture Squad - Hellbound


Após vencer um concurso nacional promovido pelo festival alemão Wacken Open Air em parceria com algumas empresas, o Torture Squad de São Paulo partiu para o festival com um contrato para lançamento de um play. O álbum com certeza estava na gaveta aguardando os acontecimentos e com a premiação foi lançado pela Wacken Records e gravado no Mr. Som, com produção da própria banda ao lado de Heros Trench e Marcelo Pompeu do Korzus. Se no Brasil haviam fãs sedentos há 5 anos para ouvir o sucessor do fabuloso Pandemonium, com certeza se esbaldaram na porrada chamada Hellbound. Com uma veia Thrash evidentemente mais forte, o álbum é uma obra de arte dentro da cena nacional. Fábio Laguna da banda Hangar tocou os teclados, quando necessário como a intro "MMXII" mais um suposto ano apocalíptico, uma introdução forte e caprichada com direito a sinos tocando. "Living For The Kill" tem aquele início clássico com riffs quebrados e uma bateria sempre magistral de Amílcar Cristófaro, que pra mim, está entre os melhores bateristas do Brasil. Os vocais de Vitinho estão poderosos como sempre, alternando guturais arrepiantes (de virar os olhos, hehe) a rasgados inteligíveis e rápidos. A música dá espaço para todos os instrumentos, ora com ênfase no baixo de Castor, ora nas guitarras de Rafael Lopes (atual Eternal Malediction), e há indícios de que as guitarras tenham sido gravadas pelo ex membro Maurício Nogueira. E os clássicos seguem com "The Beast Within" com algumas aceleradas ladeira abaixo e uma parte mais cadenciada na metade lembrando os tempos de The Unholy Spell, "The Fall of Man", "Chaos Corporation" e seu refrão arrebatador e riffs Thrash Metal, uma das melhores da carreira, "Man Behind The Mask" que é outra música extraordinária com muitas mudanças de andamento e sua crítica religiosa. Ainda temos "In The Cyberwar", "Twilight For All Mankind" com um arranjo de cordas magnífico na abertura e no decorrer da música, além de vocais bafejando em sua cara, a instrumental e melancólica "The Four Winds" e a faixa título "Hellbound" com Heros participando dos vocais e um inusitado som de cravo, aquele famoso instrumento do século XVIII que precedeu o piano. Outro álbum que não pode faltar na coleção de qualquer banger que se preze, lançado no Brasil originalmente pela Hellion e recentemente pela Shinigami. 

 

quarta-feira, 30 de dezembro de 2020

20 anos de Damned In Black do Immortal.


Quando um amigo que não é muito chegado em Black Metal me emprestou o Damned In Black do Immortal no ano 2000, dizendo para ouvir porque estava muito bom, eu pensei que tinha alguma coisa ali. E a verdade é que este se tornou um de meus álbuns favoritos do estilo. Que obra sensacional estes 3 demônios conseguiram forjar nas terras geladas de Blashyrkh, ou da Noruega, se preferir. Os riffs que Abbath tirou da guitarra são de uma criatividade absurda, pesados e distintos, fazendo com que cada música tenha sua cara própria mesmo que o álbum inteiro caminhe na mesma direção. Preste atenção nos riffs de "Wrath From Above", com aqueles vocais rasgados e roucos e carregados de maldade. As mudanças de andamento desta música deveriam ser explicadas em um quadro branco de uma sala de aula de Metal. Iscariah segura a onda no baixo sempre que as guitarras pedem licença para mandar um solo ou harmonia mais limpa, e a bateria de Horg nem precisa de comentários, sempre precisa, com algumas viradas cruas e rápidas quebrando sequências, não deixando o som cair na invariabilidade. A arte é simples, com tons de preto para evidenciar o título da obra, e um vermelho esfumaçado, e traz os músicos na capa, coisa que eu geralmente não gosto, mas como é uma banda Black com o visual carregado, não tem problema nenhum nos rapazes de corpse paint e pregos por toda parte e o logo imitando alto relevo ao fundo. Que fique registrado apenas o comentário sobre a "Wrath From Above", pois não é necessário citar as demais. São 7 hinos à beira da perfeição, cada um à sua maneira e nenhum fugindo do contexto. Uma pena a banda estar passando por questões burocráticas e legais, pois sempre foi um dos maiores nomes da cena metálica. 

 

Dezembro Verde & Amarelo #30: Nervochaos - The Art of Vengeance


O sexto álbum dos paulistas do Nervochaos data de 2014 e é, em minha opinião, o melhor trabalho da banda até nossos dias. Com uma arte de capa pós apocalíptica muito legal e retrô, criada por Marco Donida, guitarrista das bandas Enterro e Matanza, nem tudo aqui lembra o passado. A banda, conhecida por seu Death Metal bem feito, carrega neste álbum algumas influências Thrash que deixaram o som ainda mais atrativo e alternado entre suas canções. A maioria delas é bem acelerada como sempre, mas você também tem por exemplo em "From Below And Not Above" um som bem arrastado, com os vocais de Guiller (guitarra e vocal) soando mais cavernosos. Os backing do refrão de "The Harvest" são bem espontâneos, enquanto o cartão de visitas do baterista e líder Eduardo Lane é daqueles adornados em ouro, com uma senhora precisão agressiva de tirar o chapéu. "For Passion Not Fashion" tem riffs pesados e quebrados, excelentes para o headbanging. enquanto "The Devil's Work" exala enxofre em riffs mórbidos e tem um solo de guitarra que parece que veio direto das bandas nacionais dos anos 80. A pancadaria come solta com outros destaques como a pedrada "Shadows of Destruction" com riffs que lembram o metal escandinavo, "What Is Dead May Never Die" alternando velocidade e cadência e uma versão para "Lightless" do Head Hunter DC, que saiu no álbum ...in Unholy Mourning apenas 2 anos antes. Ficou muito foda mas eu teria escolhido uma "Hell is Here" ou "Suicide Soldier" do clássico Burn...Suffer...Die... de 1991. O álbum vem com o DVD bônus "Warriors On The Road" - part 2, que não é um item mal gravado para colecionadores nem um caça níqueis, mas ótimas filmagens de passagens da banda pela Europa. Além de Guiller e Edu Lane, tínhamos Felipe Freitas no baixo e Quinho na outra guitarra. Indispensável!

 

terça-feira, 29 de dezembro de 2020

20 anos de Delictum do Siebenbürgen


O Siebenbürgen surgiu na Suécia em 1994 e durante sua trajetória deixou 6 obras, sendo Delictum a terceira delas e a mais cultuada da banda. Praticando um Melodic Black Metal, a banda mandava um som rápido, porém nada à velocidade da luz, com belas melodias de guitarras e vocais rasgados que pouco mudavam, mas executavam bem o seu trabalho. A faixa "Mejesties Infernal" prova bem isso, uma música enérgica que fala de criaturas noturnas (opa) e tem um ritmo constante. "Storms" apresenta os vocais femininos logo no início, com Kicki Höijertz numa mistura mística angelical, em duetos com Marcus Ehlin além daquele ohohoh de conto de fadas (e bruxas). Na verdade ela acaba sendo o grande destaque do álbum, mesmo sem ter uma participação 100% efetiva, uma vez que o instrumental bem produzido não sai muito da linha e como dito os vocais urrados também seguem um mesmo padrão, sem uma interpretação teatral para as músicas, mas Kicki consegue ser a bela num estilo que não seja A Bela e a Fera. O som do Siebenbüergen não irá trazer sentimentos de ódio ou profunda tristeza, mas passará em sua frente como um bom filme de terror, recheado de vampiros e criaturas góticas, do qual você provavelmente não desgrudará os olhos nem se levantará para ir ao banheiro. E sabe o que é o melhor neste filme? É que ele tem cenas extras pós créditos, ou seja, uma faixa escondida após Oculus Malus. É só aguardar um pouco para se deliciar com a envolvente "Animal (Fuck Like A Beast)", uma versão atrevida e malvada para a música do W.A.S,P. Um final perfeito!

 

Dezembro Verde & Amarelo #29: Malefactor - Anvil Of Crom


Tive o prazer de pegar este álbum em 2013 diretamente com a banda em uma bela apresentação no Stonehenge, uma verdadeira obra prima de nosso metal contemporâneo, o belíssimo Anvil Of Crom. Com um esmero de cair o queixo na parte gráfica, lançado em Digipack em 3 painéis pela Eternal Hatred, e um encarte de 16 páginas, restava saber se o conteúdo musical estava à altura da embalagem. E estava além. Após a intro "Into The Black Order" temos uma das melhores músicas da carreira dos baianos, a épica "Elizabathory", falando da famosa condessa, e com um refrão memorável. Um ponto generoso a favor do Malefactor é o crescimento de seu vocalista Vlad, que além dos tradicionais rasgados, tem cada vez mais cantado melhor com as vozes limpas, o que faz do refrão de "Elizabathory" tão especial. Na sequência outra música com nota 10 nos quesitos qualidade e criatividade, a maléfica "666 Steps To Golgotha" com participação especial dos vocais de Eregion do Unearthly. A faixa título começa de forma acústica e depois alterna passagens extremas onde a bateria se destaca, com outras mais cadenciadas, e os backing vocals dando aquele charme extra nos refrãos, além de um solo de guitarra muito bonito. "Black Road Of Burning Souls" tem um início bem tradicional, com um som de órgão diferenciado e mais vocais limpos, que logo alternam para um Black/Death de linhas retas com teclados aqui e ali muito bem encaixados. Se a memória não falha a faixa "Blood of Sekhmet" foi apresentada em vídeo clipe um tempo antes do lançamento do álbum, e dava uma prévia do opus clássico que estava por vir, com riffs que remetem ao álbum Centurian. O álbum segue com "Trevas" e belas interpretações vocálicas, "A Guerra Virá", até aqui a única música cantada em português pelo Malefactor, e até por isso e pela letra, foi mais que natural a participação de Hécate do Miasthenia nos vocais, que ficou arrasadora com aquela batida  de tambores que anunciam a guerra, "The Mirror" que é a faixa com menos pompa do álbum e a épica e longa "Into The Catacombs (Goat Of Mendes)". Ainda não me decidi qual álbum do Malefactor gosto mais, mas Anvil Of Crom é um sério candidato. 

 

segunda-feira, 28 de dezembro de 2020

20 anos de Perpetual Desolation do The Sins of Thy Beloved


Eis mais uma banda de Gothic Doom da Noruega, para vocês que acham que lá só nasceram vikings e o Black Metal. Uma pena que o The Sins of Thy Beloved tenha lançado apenas 2 álbuns em sua carreira de curtos 12 anos, pois são obras cult aclamadas nas camadas mais obscuras do meio metálico. Este "Perpetual Desolation" que completa 20 anos foi seu derradeiro trabalho e nos brinda com canções até certo ponto bastante introspectivas, vide a abertura com "The Flame Wrath". Tem de tudo nesta música, desde risadas ensandecidas da vocalista Anita Auglend que, para quem não sabe, posou para a capa deste álbum, violinos de Pete Johansen que são um destaque no som, e os vocais rasgados/guturais que ficam a cargo do guitarrista Glenn Morten. A banda tinha 8 músicos, sendo Arild Christensen o outro guitarrista e também responsável pelos backing vocals, Ola Aarrested no baixo, Anders Thue nos teclados, Stig Johansen na bateria e a bela Ingfrid Stensland também nos teclados. Talvez o fato de ter 2 tecladistas tenha colaborado para a banda apresentar algumas partes bem eletrônicas, como em "Forever", mas "Pandemonium" por exemplo traz novamente aquele gothic raiz Beauty & the Beast, com sua melancolia característica. "Partial Insanity" é outra com os violinos em destaque, e a bela voz de Anita preenchendo a maioria dos espaços, mas quando os vocais masculinos demoram a entrar a música tende a se tornar cansativa. Podemos ouvir belas melodias na faixa título e em "Nebula Queen" e a bela e pesada "The Mournfoul Euphony", uma das melhores, senão a melhor do álbum, alternando passagens extremas a harmonias singelas, e "A Tormented Soul", que a princípio dá a entender ser a menos progressiva do play, mas é apenas enganação. O álbum fecha com uma versão inusitada para "The Thing That Should Not Be" do Metallica. Quem tem esta cópia na coleção geralmente não se desfaz.


 

 

Dezembro Verde & Amarelo #28: Miasthenia - Legados do Inframundo


Chegamos ao 28º dia deste Dezembro Verde & Amarelo e é claro que não deixaríamos de comentar um álbum desta banda maravilhosa de Brasília, Miasthenia com seu Pagan Black Metal. Lançado em 2014, Legados do Inframundo é mais uma obra essencial da carreira destes músicos, como sempre cantado em português pela grande Suzane Hécate. "Deuses Fúnebres" é uma intro nos teclados e vozes e como diz o encarte do álbum, as letras são inspiradas na cosmologia mítica dos Mayas, sobre a morte e o inframundo. "Saga ao Xibalbá" vem acelerada, com as guitarras de Thormianak (que desta feita gravou o baixo também) cortando baixo e em determinado momento, quase no fim, lembrando as bandas dos anos 90 do metal nacional. "Entronizados na Morte" é um dos momentos mais extremos deste trabalho, alternando partes aceleradas a outras mais cadenciadas com o teclado de Hécate ao fundo e um grande trabalho de bateria de V. Digger. "Sacerdote-Jaguar" tem um início bem trabalhado, com batidas de guerra, e muito peso. "Tok'Yah" também é bem agressiva, e ganha uma força extra com o coro de backing vocals no refrão, enquanto "13 Ahau Katún" tem Digger socando numa velocidade a la D.D. Crazy e os sons de sinos deram um charme a mais na música, além de sermos agraciados com um pouquinho das vozes limpas de Hécate, e um belo solo de guitarra, algo pouco comum no som da banda. "Senhores do Mitnal" é outra com bastante peso no início que depois descamba pra pancadaria. A faixa título terminaria o álbum, seus riffs com influências de Power Metal, passagens mais melódicas, onde finalmente conseguimos distinguir nitidamente o som do baixo e vocais limpos (e cantados, não narrados) , mas para nossa sorte, ainda temos uma releitura para "Onde Sangram Pagãs Memórias" como bônus, presente no debut XVI. A arte da capa é bem bonita, pena que na versão em CD esteja muito escura, escondendo vários detalhes. Um belíssimo trabalho de nossa terra natal.
 

domingo, 27 de dezembro de 2020

20 anos de Bloodletting do Over Kill.


Eis mais uma porrada dos americanos do Over Kill, seu 12º álbum de estúdio. A banda que sempre seguiu firme em sua proposta de fazer Thrash Metal vivia uma fase de incertezas, com muitos falsos profetas dizendo que o rock estava morrendo. Concordo que na virada do milênio o Thrash Metal não estava tão em alta, e as bandas clássicas se mostravam cansadas e precisando de alguém que puxasse a carroça de um renascimento eficiente. Pantera, Sepultura e Machine Head seguraram a onda nos anos 90, mas a proposta era um Thrash com mais groove, nada a ver com o Old School praticado por Blitz, Verni e companhia. E é exatamente uma banda sem muita inspiração que ouvimos em Bloodletting. Em "Thunderhead" temos uma base ok, sem muito peso mas o refrão é sofrível. "Bleed Me" tenta reverter a primeira má impressão, e tem uma passagem de guitarra na metade da música onde Blitz começa a cantar de forma mais contida, que ficou muito interessante, uma boa música. "What I'm Missin'" começa com riffs acelerados, mas a produção não deixa as coisas muito claras, e a banda aposta em uma parte com mais groove em sua metade que ficou legal. "Death Comes Out To Play" começa de um jeito que eu não gosto, quando os vocais entram juntos com todos os instrumentos como se você começasse a ouvir a música pela metade, mas tirando isso segue alternando boas mudanças de ritmo. Já "Let It Burn" tem um riff inicial com um efeito horrível, essas necessidades que algumas bandas têm de apresentar algo novo deveriam ser revistas. O bom é que a música continua sem os efeitos e tem um 'quê' de algo um pouco mais comercial, que logo torna-se uma ideia passageira, porque tem muito peso para alguma FM suportar. "I, Hurricane" tem um início cadenciado, com breakdowns e seria um clássico se a produção do álbum tivesse deixado as coisas mais claras e pesadas. "Left Hand Man" tem um início acústico e volta ao Thrash porrada, com destaque às fortes batidas de Tim Mallare. Dave Linsk é o guitarrista da vez, e ele até tentou fazer tudo que era feito com 2 guitarras, mas é claro para quem ouve que falta algo. O álbum segue com "Blown Away" com o baixo estalando, com incursões ao mundo das baladas que voltam à tona para puxar oxigênio, e vem a ser um dos melhores momentos do álbum, "My Name Is Pain" bem acelerada, e fecha com "Can't Kill A Dead Man". Bloodletting foi um momento de incertezas prejudicado pela má produção.

 

Dezembro Verde & Amarelo #27: Unearthly - Flagellum Dei


Flagellum Dei foi o salto mais alto dos cariocas do Unearthly, totalmente gravado na Polônia pelo baixista Mictian, o batera Rafael Lobato, Vinnie Tyr na guitarra e Eregion nos vocais e guitarra. O início de "7.62" dá a entender que teremos uma intro com belos dedilhados, mas logo a pancadaria come solta numa explosão de riffs rápidos e uma metranca destruidora com vocais urrados. "Baptized In Blood" começa tão rápida quanto a anterior terminou mas logo cai numa levada mais arrastada enquanto os pedais duplos não descansam, e termina num belo dedilhado, o oposto da primeira faixa. A música Flagellvm tem um início a la Dimmu Borgir, com efeitos nos vocais e tem a característica lírica de frases quase iguais que se repetem gravando automaticamente em sua memória. "Black Sun (part I) segue com muito extremismo, onde a bateria dita o ritmo com muita velocidade, mesmo que as guitarras têm seu próprio tempo e trazem uma melodia no final que não sei porque cargas d'água me lembram Sepultura no Chaos A.D. "Osmotic Haeresis ( Black Sun part II)" tem a ilustre participação especial de Steve Tucker do Morbid Angel nos vocais. Este álbum saiu em 2011 e tem a melhor arte de capa da banda, em tons cinzas e brancos. "My Fault" é um dos melhores momentos do álbum, com ritmo cavalgado e um trabalho de guitarras com uma harmonia bem interessante, além de um refrão bem forte. O álbum segue com as pancadas "Eye For An Eye" com uma massa sonora intransponível, "Lord of all Battles", a instrumental e tribal "Limbus" com a bateria em destaque, "Insurgency" e um grande solo de guitarra, e fecha com "Exterminata" onde os arranjos de 7.62 retornam e são incorporados a novas melodias. Um excelente ábum de Black/Death Metal.
 

sábado, 26 de dezembro de 2020

Dezembro Verde & Amarelo #26: Chakal - Destroy! Destroy! Destroy!

 


Em 2013 o Chakal de Hellzonte pegou todo mundo de surpresa lançando de forma independente um de seus melhores álbuns, o destruidor (que coisa) Destroy! Destroy! Destroy! Com uma arte de capa animal trazendo um chacal hediondo que nos lembra um lobisomem, a banda abre com a poderosa "Exorcise Me" precedida do som de moscas, companheiras de uma possessão em qualquer livro que se preze. O que temos aqui e no álbum como um todo são excelentes riffs de guitarra, solos muito criativos e bem encaixados, e vocais urrados com muita raiva. "Killing Van Helsing" não poderia ter um título mais legal para uma banda como o Chakal, e a música começa avassaladora para cair numa parte com peso estrondoso, daqueles que arrancam sorrisos no rosto. Depois dos 4 minutos ainda entra uma parte mais melódica que faz desta uma das melhores músicas da história do Chakal. "Headshooting For Dummies" segue uma linha mais cadenciada como na clássica "Demon King" e a faixa título com aquele áudio animal no início é uma pedrada na cara, se você não se desviar é caixão na certa. O álbum segue com a mesma pegada em faixas como "Nyctophilia", "God Of Gore" com mais peso e paradinhas fantásticas em seu final, "Anubis, The Lord Of Necropolis", "Equinox" com destaque no baixo foda de Cássio Corsino. "Disturbia" tem algumas quebradas de ritmo bem interessantes e o petardo fecha com "Possessed Landscape (The Island Of The Dead)", uma faixa poderosa que saiu em video clipe um tempo antes do lançamento do álbum e dava uma prévia da excelência deste trabalho, que rivaliza com seu antecessor Demon King. Qual dos dois você prefere? Além de Corsino no baixo a banda era Korg urrando muito bem como sempre, o eterno Wiz detonando na bateria, Mark e todo seu peso numa das guitarras, um cara que dá um gosto especial em ver em cima do palco porque sabe tirar um som potente da guitarra, e André Cabelo na outra guitarra, que agora também assumiu os vocais da banda, e pelo pouco que ouvimos recentemente será um substituto à altura de Korg. Aguardamos ansiosos pelo próximo trabalho do Chakal.


20 anos de Microscopic View of a Telescopic Realm do Tourniquet

 


O Tourniquet dos Estados Unidos sempre foi uma banda meio incompreendida, seja no meio cristão, onde suas letras se encaixam, seja no meio metálico, onde seu som sem se prender a rótulos assusta até hoje aqueles que não se acostumaram ainda com a diversidade musical dentro do estilo. Microscopic View Of A Telescopic Realm é o sexto álbum dos caras e a prova de que não há regras neste som, mesmo que a base por onde caminham seja o Thrash Metal. A música "Besprinkled In Scarlet Horror" de cara já mostra que se você não aceita mudanças bruscas e instrumentos como a flauta naquela parte final da música onde parece que o Metal tenha fugido do contexto, melhor colocar outro CD para ouvir. Mas "Drinking From The Poisoned Well" finca mais os pés no Thrash e mesmo com várias mudanças de andamento e vocalizações, onde os mais graves acompanhem as partes mais cadenciadas e os mais abertos ficam nas partes mais aceleradas e lembrem mais trabalhos como Vanishing Lessons. Na faixa título temos partes mais hardcore, como na primeira faixa, e bons riffs, e uma bela e triste melodia lá pelos 4 minutos numa parte em que Steve Rowe do Mortification empresta sua voz. Em "The Tomb Of Gilgamesh" temos um belo cartão de visitas para quem deseja conhecer melhor a banda, um andamento bem legal, com riffs bem feitos e até uma passagem inusitada de violoncelo. Fica a curiosidade para saber como condensariam toda complexidade em uma faixa mais curta, já que as 4 primeiras giram em torno dos 7 minutos, daí "Servant Of The Bones" começa dando a entender que será uma semi balada, mas logo os gritos dizem o contrário e ela basicamente vai e volta nestas viradas, onde podemos destacar o trabalho técnico do baterista Ted Kirkpatrick, que ajudou a gravar o baixo junto com o guitarrista Aaron Guerra. Nos vocais Luke Easter que volta a cantar como em seu primeiro álbum com a banda na faixa "Erratic Palpitations Of The Human Spirit", antes de descambar pro hardcore novamente, mas em seus últimos momentos temos talvez as melhores harmonias de guitarras do álbum. "Martyr' s Pose" começa acústica, traz algo parecido com um berimbau, e é a faixa que mais sai do contexto neste play. A instrumental "Immunity Vector" serve para apresentar os músicos em seus instrumentos, com passagens evidenciando o baixo, a guitarra e um solo de bateria, além de novamente apresentar um som de flauta bem legal. O início de "Indulgence By Proxy" flerta com o New Metal, mais uma das loucuras destes caras, e para nossa sorte e salvação do álbum, isso ficou apenas nesta música. "Caixa de Raiva" também apresenta bons riffs e de português tem apenas o título. O álbum fecha com a bela e longa "The Skeezix Dilemma Part II (The Improbable Testimony Of The Pipsisewah)" (ufa), com direito a mais violoncelos, inserção de música clássica e muito peso. Se você gosta de um som audacioso tocado por músicos experientes e nunca deu chance ao Tourniquet somente por se tratar de uma banda com ideologia religiosa, está na hora de rever seus conceitos.

sexta-feira, 25 de dezembro de 2020

Dezembro Verde & Amarelo #25: Woslom - Evolustruction


Para uma banda que gravou uma demo tocando versões do Metallica, fazer este som mais na linha do Megadeth é uma heresia. Brincadeiras à parte, estamos falando de uma banda que cresce cada dia mais em sua proposta de Thrash construído nos alicerces da Bay Area, com muita competência. O som é muito bem gravado, poderia até ser um pouco mais sujo, ok, isso é questão de gosto e aprecio tanto os sons mais sujos quanto as gravações mais polidas, então segue o barco. A arte da capa já entrega o estilo da banda e o nome bem sacado do álbum mistura evolução com destruição de um forma bem original. A faixa título tem algumas características megadethianas, principalmente nos vocais de Silvano Aguilera, naquele tom meio anasalado. Os riffs são excelentes, com viradas de bateria bem encaixadas. Na sequência "Hauted By The Past" tem um riff parecido com uma música infame de St Anger, mas bem gravado ao contrário do original, e que fica só nisso para nosso alívio, pois o decorrer da música apresenta riffs cavalgados e rápidos, além de solos sensacionais, convidando para o bate cabeça inevitável. Aguilera também toca guitarra ao lado de Rafa Iak. Na bateria arrebentando tudo Fernando Oster, que desde ano passado também integra o Deathgeist. O dono do baixo na época ainda era Francisco Stanich. "Pray To Kill" é uma porrada atordoante enquanto "River Of Souls" traz em alguns trechos vocalizações um pouco diferentes do habitual, e uma estrutura poderosa, com break downs sensacionais, coros no refrão e novamente solos ferrenhos. O álbum segue com as ótimas "No Last Chance", "New Faith", a fortíssima "Breathless (Justice' s Fall) e uma das mais marcantes do álbum devido às melodias, "Purgatory".  O álbum fecha com uma versão para "Breakdown" do grande Mad Dragzter que, com o perdão dos também paulistas, ficou melhor que a original.

 

Dezembro Verde & Amarelo #24: Silent Cry - Dance Of Shadows


Há algumas mudanças substanciais em Dance Of Shadows, o terceiro full dos mineiros do Silent Cry, em relação aos dois primeiros e cultuados trabalhos. A primeira delas é a gravadora, Avernus Records, criada pelo vocalista e guitarrista Dilpho Castro em 2002 , mesmo ano deste trabalho, para lançar os álbuns da banda e outros na mesma linha, após um primeiro contrato com a Demise Records. A segunda é a troca da vocalista Suely Ribeiro por Ana Márcia, o que consequentemente ocasionou a terceira mudança, pois o som deixou de ser um Gothic/Doom onde a melancolia reinava e passou à tênue linha que une o estilo ao Symphonic Metal, porque as vocalizações passaram a ganhar aquele tom teatral ao invés de um quarto escuro, e algumas passagens ficaram mais rápidas. Claro que ainda temos algumas músicas na linha mais tradicional da banda, como a linda "Silent Scream", onde todas as vozes (femininas, masculinas limpas e guturais) estão mais contidas, e a letra, mesmo sendo abstrata, dá a entender que é a narração de um feto cuja vida é rompida durante um aborto. O início de "My Evil" é bem agressivo, algo que poderia ter sido melhor desenvolvido, numa faixa maior que seus curtos 2 minutos e meio, o contrário da também violenta "Victory's Time" que inicia com um arranjo espetacular de guitarras, os vocais rosnados de Dilpho num grande momento até a queda de ritmo para um belo trabalho de Ana. Falar em belo trabalho, mesmo que a nova vocalista não estivesse no mesmo patamar de sua predecessora, na música "Only To Love You" ela dá um show, num dos melhores momentos do álbum. Ponto para a percepção de Dilpho ao deixar que a loira tivesse este momento solo. Sintetizando, mesmo que o som do Silent Cry tenha perdido um pouco da melancolia de outrora, estamos falando de um grande álbum, onde os vocais guturais voltaram a ganhar mais destaque, a produção é muito boa e uma maior variedade de melodias como na excelente "Devoured By Words" manteve a banda no topo deste estilo no Brasil.

 

quarta-feira, 23 de dezembro de 2020

20 anos de Believe do Crematory


O Crematory da Alemanha teve um início avassalador, praticando um Gothic/Death Metal de respeito, arrebatando fãs ao redor do mundo. Mas com o passar dos anos incorporou elementos eletrônicos e se distanciou do Metal mais extremo, o que, evidentemente, fez a banda perder popularidade no meio metal. Chegaram a lançar um álbum (não me lembro qual foi, pode ter sido até o Believe) informando que seria o último caso não obtivesse sucesso com ele. Não sei se a jogada de marketing funcionou ou se a banda entendeu que os tempos mudaram e é preciso muito mais que um bom álbum para a sobrevivência de uma banda, mas o fato é que eles estão na ativa já quase completando 30 anos e com 15 álbuns de estúdio. Se você gosta daquela fase Host do Paradise Lost com certeza também curte Believe, o sétimo álbum do Crematory. O som está longe de ser acessível, principalmente nos vocais de Felix que continuam bem guturais, contrastando com as vozes limpas de Matthias. Os teclados de Katrin sempre foram uma parte muito importante no som da banda e neste álbum estão mais uma vez comandando boa parte da melodia, com passagens astrais com um toque de melancolia. "Unspoken" e " Act Seven" são dois grandes destaques do álbum, com uma aura enigmática e soturna, onde os guturais não ficam fora de padrão sobre um instrumental bem gótico. Em "Caroline" os vocais limpos são uma atração à parte e a bateria dá uma acelerada, mas os teclados estão sempre à frente dos riffs que pouco aparecem. O álbum é bom em sua maioria, mesmo que os teclados sejam a bola da vez, não dá pra dizer que se trata de um trabalho eletrônico, temos alguns bons riffs e os vocais limpos e guturais são muito bons. O play fecha com uma linda música chamada "Perils Of The Wind", com teclados e vocais limpos numa melodia fascinante. Recomendo ao menos uma audição caso você não conheça, dificilmente vai ficar pulando faixas.  

 

Dezembro Verde & Amarelo #23: Chaoslace: Inhumane Terror Cult


Adjetivos como rolo-compressor, trator, máquina de destruição...podem escolher à vontade, qualquer um deles se ajustará perfeitamente ao primeiro e até então único álbum do Chaoslace, banda de Brutal Death Metal de São Bernardo do Campo em SP. A Intro já entrega que a coisa será em tons negros de brutalidade, pois nada de melodias bonitas ou teclados para adoçar. O negócio é aquele. Toma um tapa na cara pra aguentar o que está por vir. E o pau quebra com a faixa título despejando riffs abafados sobre uma metranca de respeito e o baixo dando aquele toque grave e maldito. Em "Blasphemy" podemos destacar o ótimo solo enquanto "Elimination" temos uma urgência nos vocais guturais que parece que está anunciando o fim do mundo. Não há muito o que descrever no decorrer do álbum, pois a qualidade é retilínea, as letras são anticristãs, o pau quebra a todo instante e não há espaço para meias palavras ou técnica apurada e malabarismos musicais. É o tipo de álbum que você vai procurar na coleção quando estiver muito puto da vida e quiser exorcisar seus demônios. Lançado pela Obskure Chaos e formada por Leandro Nunes (vocal e guitarra), Giovani Fregnani (baixo) que deixou a banda e hoje em seu lugar está Rafael Montana e Diogro Rodrigues (bateria). Play bem gravado e produzido, arte da capa maneira e som de primeira linha quando o assunto é quebrar tudo.

 

terça-feira, 22 de dezembro de 2020

Dezembro Verde & Amarelo #22: Krisiun - The Great Execution


The Great Execution não é apenas uma grande obra do Krisiun. Ela simplesmente é a maior. O ponto central onde os irmãos de Ijuí conseguiram balancear o extremismo de forma que ele carregue melodias sem deixar de ser uma metralhadora, (aquela parte que entra o primeiro solo em "The Will To Potency" resume isso). A capa criada pelo japonês Toshihiro Egawa, que criou sua arte para inúmeras bandas de Death Metal, dentre elas Criptosy e Mortician, traz um campo de batalha em tons vermelhos que te deixa bons momentos descobrindo cada detalhe. "Blood Of Lions" tem alguns momentos mais cadenciados e um solo propenso a estar numa obra Thrash Metal, enquanto a faixa título apresenta riffs violentos e uma massa sonora impiedosa, algo que você não vai querer tocar durante aquele almoço em família de domingo. O Brutal Death Metal continua dispensando boas intenções através de "Descending Abomination" e "The Extremist" com um arranjo foda de guitarra durante o refrão. "The Sword Of Orion" tem um apelo épico, com uma introdução de arena e riffs cavalgados produzindo boas doses de peso absurdo coroado com um final surpreendente. "Violentia Gladiatore" nos brinda com um raro momento em que o solo viaja com apenas o baixo na base enquanto "Rise And Confront" tem um início com destaque na bateria e um ritmo mais contido. "Extinção em Massa" tem a solene participação de João Gordo do Ratos de Porão e é uma porrada Death/Punk num dos melhores momentos do álbum. O final é com a grandiosa "Shadows Of Betrayal" em quase 9 minutos de caos e destruição sonora tocada com muita técnica, garra e criatividade. Algumas versões posteriores saíram com uma regravação da clássica "Black Force Domain". Indispensável em coleções de respeito.




 

segunda-feira, 21 de dezembro de 2020

Dezembro Verde & Amarelo #21: Mork - Awake


O Mork de Brasília, DF, assim como outros grandes projetos de nosso metal, já encerrou atividades, deixando dois registros em sua trajetória de 9 anos. Awake é o último full e data de 2014, quando a banda se resumia a 2 músicos, os primos Samhem (guitarra e vocal) e Foizer (guitarra). Digger, ex Miasthenia, foi o responsável pelas baquetas. O que ouvimos em Awake é um Black orgânico com pitadas de Death Metal, algo como o grande Unearthly andou fazendo nos últimos álbuns. O trabalho dos guitarristas é muito bem feito, seja nos riffs sujos, seja nas melodias ou solos como temos no final de "Untamed". Em "Sacrifice" os riffs lembram uma marcha de guerra e a bateria um rolo compressor. Em "Infirmita Carnis" os teclados fazem um coro bem sucinto que deu uma aura épica à música. Os vocais não são aqueles típicos rasgados do Black Metal, mesmo que caminhem para lá, lembram mais aquelas bandas escandinavas de Viking Black Metal, e são um dos destaques do álbum. Mas os teclados se sobressaem mesmo é em "Three Transformations", mais uma faixa sensacional do álbum. O play foi lançado numa parceria da Sulphur Records com a Eternal Hatred, em versão Digipack e encarte caprichado, e é um daqueles achados que você costuma encontrar entre os demais mortais sem se dar muita conta do tesouro valioso que se descobre após apertar o play. As harmonias e solos de guitarras são o maior destaque do disco, faz você viajar legal, e às vezes trazem algo de Desaster da Alemanha (saca Preached By Death). O opus fecha com a épica e sinistra faixa título com mais de 8 minutos de beleza mórbida e cruel. Este é um daqueles projetos que nos deixaria muito felizes se voltassem das profundezas.

 

domingo, 20 de dezembro de 2020

20 anos de Necrodaemon Terrorsathan do Belphegor


A capa singela e a introdução entregam que estamos diante de uma obra extrema. O Death/Black dos austríacos do Belphegor é ignorante na brutalidade, apesar dos músicos dominarem perfeitamente seus instrumentos. Este é seu terceiro trabalho, o segundo pela Last Episode e também a conter mulheres nuas e caveiras de bodes na capa que, pra variar, é em preto e branco. A faixa título abre o petardo com uma martelada na bateria que não dá descanso, riffs gelados, vocais guturais raivosos, como um cachorro louco, de Helmut, que fora dos palcos é um cara bem sociável, daqueles que desce do palco, tira fotos e sorri com a galera. "Vomit Upon The Cross" tem uma vinheta de canto gregoriano e novamente o pau quebra sem parar, mesmo que alguns teclados apareçam aqui e ali, mas nada com o propósito de deixar a música mais acessível. Falar de cada faixa de Necrodaemon Terrorsathan é dispensável, visto que estamos diante de um álbum sem muitas firulas e cujas canções seguem praticamente a mesma fórmula de mutilação cerebral constante. Então, se a sua praia é agressividade sem limites, nenhuma melodia bonita e uma pancadaria super bem executada, então, este álbum é um prato cheio. Além de Helmut nos vocais e guitarras, tivemos Sigurd na outra guitarra e Marius no baixo. A bateria foi gravada por Man Gandler e os teclados por . Se você mora no Brasil, aproveite que a Shinigami acabou de relançar este artefato destruidor remasterizado e pegue uma cópia.

 

Dezembro Verde & Amarelo #20: Mythological Cold Towers - Monvmenta Antiqva


O mais recente trabalho da banda de Osasco data de 2015 e, se observarmos o período entre seus lançamentos, está na hora de um novo álbum. Mas enquanto não vem, apreciemos degustando uma taça de vinho este belo Monvmenta Antiqva, uma obra soberba do nosso Death Doom nacional, Lançado pela Nuktemeron Productions, especializada em trabalhos nesta linha. A banda novamente forjou um opus digno de reconhecimento assim como os demais de sua carreira. O que temos aqui são músicas arrastadas com pesadíssimas distorções de guitarras e vocais urrados, e algumas vezes limpos como um mantra gregoriano, se é que isso existe, mas que ficou muito interessante, ouça a faixa "Of Ruins And Tragedies" e ateste por si próprio. "Beyond The Frontispiece" traz uma camada contínua de teclados, e segue uma linha que a deixa com um ar de introdução, porque mesmo que aqui e ali algumas melodias são incorporadas, tudo é calcado em um mesmo arranjo de guitarras que pouco muda. Já "Vetustus" tem mais variações, dentro de seus 7 minutos, com uma melodia bela, mórbida e épica. "Votive Stele" dá um pequeno upgrade na velocidade, o bastante para deixar a aura mais agressiva, enquanto "Sand Relics" apresenta guitarras mais abertas, diversificando o peso constante presente no álbum. "Baalbeck" também ameniza o peso intercalando passagens ultra distorcidas com outras acústicas, com muito bom gosto, provando que são músicos com um senso rítmico muito rico. O play ainda tem a arrastada "Strange Artifacts" e fecha com "Vestiges", com vocais narrados e teclados soturnos. Os músicos são os fundadores Samej nos vocais, Nechron na guitarra, backing vocals e teclados, Hamon na bateria, além de Shammash na outra guitarra (na banda desde 1998) e o convidado para o baixo Yaotzin. Para apreciar no escuro!

 

sábado, 19 de dezembro de 2020

20 anos de Resurrection do Venom


Eis o álbum mais pesado do Venom. O que conseguiram com as distorções nas guitarras deste álbum está além da imaginação. Me lembro apenas do Ceremony Of Opposites do Samael, dentre as bandas de metal extremo a conseguir ir além. A faixa título tem um riff fortíssimo e faz você bater cabeça mesmo que metal não seja sua praia. Muitos fãs vivem do passado, aquele em que a banda apareceu como a mais capetídica do metal em clássicos como "Black Metal", "Welcome to Hell" e "At War With Satan" mas não conhecem o que veio de bom (e às vezes até melhor) depois. Cronos está berrando letras malditas como nunca, naquela arte de não se repetir, colocando uma alma negra diferente em cada música, além de mandar um baixo sempre muito pesado que segura a onda totalmente sem a necessidade de uma segunda guitarra. Antton em sua primeira passagem pela banda demonstrava uma precisão absurda e uma pegada demolidora, enquanto Mantas continuava mandando super bem na rifferama destruidora. Tirando o conceito lírico e passagens de teclado, pouco se ouve do convencional Black Metal, aquele que se notabilizou pelos lados da Noruega e em bandas como Rotting Christ e Bathory, mas sim um Death Metal incorpado, bem próximo daquele estilo sueco praticado antes da incorporação do "melodic" famigerado, amado e odiado por muitos. Destaques para esta obra maléfica, a abertura com "Resurrection" que tem uma parte cadenciada que os instrumentos se embolam e quase estragam a música, mas vale muito pelos riffs e peso, "Vengeance" com toda a raiva emanada da voz de Cronos, "All There Is Fear" com um ritmo muito legal, e um refrão melhor ainda, a pancadaria agressiva de "Pain", os riffs hipnóticos de "Pandemonium", outro grande destaque do álbum, "Loaded" e seus backing vocals agressivos, "Firelight" outra com riffs surpreendentes e uma caída com mais melodia, bem próxima de um Power Metal, com exceção dos vocais e a enérgica "Disbeliever" e um som de platéia que mais parece som de torcida (hehe). Ótimo play do Venom completando 20 anos.

 

Dezembro Verde & Amarelo #19: The Mist - Phantasmagoria

 


Eis um registro de uma época de ouro. Phantasmagoria é o primeiro álbum do The Mist, que saiu em 1989, e balançou a cena extrema nacional. A banda chegava a um som que nem a gravadora conseguia rotular. A base de tudo é o Thrash Metal, mas as influências do Heavy Metal oitentista são latentes no som dos mineiros. O capricho com que tudo foi feito nesta obra é algo de assustar, tratando-se de uma banda do Underground nacional. Da belíssima e enigmática arte da capa, ao conceito lírico, tudo é perfeito no debut. Com o saudoso Reinaldo Bedran e Beto Lima nas guitarras, criando riffs magníficos e tão bem executados que o prazer na audição é indescritível. Os solos são de uma beleza extraordinária, ouça o que fazem em "A Step Into The Dark", que coisa sensacional. Na bateria tínhamos Christiano Salles transmitindo muita segurança, com batidas precisas e viradas certeiras, utilizando bem os bumbos com muita técnica. Os vocais são da lenda Vladimir Korg, em um de seus melhores trabalhos. Aquela rispidez que ele tinha outrora no Chakal foi lapidada e a capacidade de interpretação multiplicou-se, acompanhada de um amadurecimento nas letras fora de série. E por último tínhamos no baixo um cara que fez toda a diferença, Marcelo Diaz. O cara que aparecia para o metal como um baixista monstro, e que anos depois fez história ao lado de Max no Soufly. Tudo bem que depois ele encontrou seu estilo próprio, mas em Phantasmagoria não tem como ouvir e não lembrar do gênio Steve Harris do Iron Maiden. As passagens de baixo neste álbum são fenomenais, e a banda e a produção sabiam disso ao deixar o som tão destacado (uma lição ao Metallica que lançara And Justice For All no ano anterior). O álbum foi gravado no J.G. Studio de Belo Horizonte, assim como as maiores obras daquela época, com o mestre Gauguim. Ficar citando destaques nas músicas é uma besteira. Você tem que ouvir todas do início ao fim. Das mais agressivas "Hate", "The Enemy" e "Faces Of Glass" às mais progressivas "Flying Saucers In The Sky", "Phantasmagoria" e "Smiles, Tears And Chaos", tudo deve ser muito bem absorvido muitas e muitas vezes. Em 2017 a Cogumelo em parceria com a americana GreyHaze conseguiram recuperar as fitas originais para um relançamento em Digipack lindo, que ainda pode ser encontrado. Mas meu amigo, se você curte Heavy Metal e ainda não tem esta obra, não perca tempo. Não vai durar pra sempre. 

sexta-feira, 18 de dezembro de 2020

Dezembro Verde & Amarelo #18: Amen Corner - Jachol Ve Tehilá

 


O Segundo full lenght dos paranaenses do Amen Corner é o típico álbum pra se colocar num  pedestal, na parede ou no lugar de maior destaque em sua coleção. Se você é um banger fã de Black Metal e de Doom Metal, nem precisa escolher 2 álbuns para ouvir na sequência, basta ouvir Jachol Ve Tehilá, pois os dois estilos citados estão intrínsecos à sonoridade do opus. "The Seventh Seven Guardians" tem uma introdução nos teclados de mais de dois minutos que poderia ser uma intro à parte, e quando guitarra, baixo e bateria entram, você fica hipnotizado com um som arrastado, carregado de uma melancolia maléfica, evidenciada nos característicos vocais rasgados de Sucoth Benoth, a alma por trás do Amen Corner. A música cresce em andamentos e de repente se torna um Black Metal com ótimas melodias. E esta é a tônica deste trabalho espetacular. Você se emociona com as harmonias de guitarra de "Lamentation And Praise", que trazem surpreendentemente vocais limpos e narrados em seu final. "Black Thorn" é uma das melhores músicas que a banda já compôs, num ritmo menos cadenciado, com riffs fortes e uma interpretação magnífica nos vocais. O som do baixo de Cléio está bem destacado e a bateria de Paulo Costa muito dinâmica, nunca soando cansativa nem preenchendo espaços, pelo contrário, a cada mudança de andamento a batida se faz autoritária. Flach e Murmúrio se inspiraram para criar seus riffs naquelas bandas da Europa que cresciam muito seja no Dark, no Death/Doom ou no Black Metal, e isso elevou o som da banda a um nível sensacional. Para você sentir como fluia a criatividade dos caras, ouça a espetacular "The Cult Of The Pagan Gods", e suas variações de harmonias intercaladas a sons da natureza e dedilhados sorumbáticos que antecedem à maleficência quase próxima de uma mistura entre o DSBM e o Funeral Doom. Ouça mil vezes e em nenhum momento Jachol Ve Tehilá se tornará enfadonho. Um dos 10 melhores álbuns já lançados no Brasil.

quinta-feira, 17 de dezembro de 2020

Dezembro Verde & Amarelo: #17 Genocídio - Posthumous

 


Lembro exatamente quando fui à Cogumelo da Rio de Janeiro e pedi para ouvir o álbum Posthumous do Genocídio que tinha sido lançado naquele ano de 1996. Quando começou a tocar a música "Pilgrim" e o vendedor, que infelizmente esqueci o nome, começou a bater cabeça e pular pela loja, eu sabia que não precisaria de mais nada para eu comprar aquele álbum. Porque o início é pura energia, mesmo que o Death Metal ceda espaço a um som mais arrastado no decorrer da música. "Condemnation" vem na sequência e mostra que este álbum seria um híbrido entre o metal da morte e a música gótica, e se tornou o maior clássico dos paulistas até hoje. Em "Lilit And Nahemah" temos os vocais graves falados contrastando com os urros guturais de Murilo Leite. A timbragem da guitarras não está na cara, pelo contrário, está um ou dois tons abaixo, para que os demais instrumentos se notabilizem, com o baixo de Daniel aparecendo de forma clara a concisa, os dedilhados sejam evidenciados, como o início perfeito de "The Sphere Of Lilit", uma das melhores do álbum, a bateria de Juma fazendo um trabalho bem encaixado e na maioria das vezes bem cadenciado. Os solos de guitarra de Murilo e Wanderley Perna também ficaram mais evidentes sobre esta afinação de guitarra. "The Sphere Of Nahemah" lembra algo de Paradise Lost, mas é tão sucinto que você nem consegue associar a qual fase do PL. "Black Depth", que começa com batidas de bateria é uma das mais pesadas do álbum, enquanto "Luciferic Man" é a mais agressiva, ao lado da faixa escondida "Agressor" e da porrada "Illusions". Vale ressaltar também a faixa "Goodbye Kisses", cantada por Irene Sailte e com violinos de Flavio Geraldini e da versão para Black Planet do Sisters Of Mercy. Um álbum atemporal.

Dezembro Verde & Amarelo #16: Litosth - Crossed Parallels Of Self Refraction

 


Incrível como a qualidade do metal nacional vem aumentando, com bandas preocupadas em lançar materiais físicos com padrão de primeiro mundo, e sons criativos e bem produzidos. O Litosth de Caxias do Sul (RS) é uma dupla formada em 2016 que lançou um single no mesmo ano e teve seu debut sob a tutela dos selos Sulphur Records e Cold Art Industry em 2019. O som destas criaturas é um Dark Metal muito bem feito numa pegada de Rotting Christ fase A Dead Poem com Swallow The Sun. O resultado são músicas melódicas com vocais cavernosos, e passagens com harmonias acústicas de muito bom gosto. O uso de vocais limpos em alguns momentos deu um brilho fortíssimo ao som, pois estes vocais soam melancólicos, porém não são chorados e sim naquela vibe mais progressiva, vide a sensacional "Kharmic Meditations", talvez a mais inspiradora do petardo. "Inanis Carnis" alterna sons mais introspectivos a outros mais agressivos, numa naturalidade que vem de quem tem a manha naquilo que faz. Os responsáveis por esta obra são Maicon Ristow que toca também no I Gather Your Grief e no baixo Wendel Siota que também toca no IGYG. Para a bateria o convidado foi Leonardo Pagani do Misteriis. A arte da capa é linda, criada pelo próprio Ristow e ficou perfeita num material fosco, edição Digipack em 3 painéis e layout pelo renomado Marcelo Vasco. "400-790 Terahertz Landscapes" é outro grande destaque do trabalho, com melodias de guitarras muito interessantes, ao passo que "Vivid Flatliners" ganhou um lyric vídeo com imagens góticas de muito bom gosto, com direito a velas e florestas. Este é aquele tipo de lançamento que volta a nos fazer pensar que quando é que o público nacional voltará os olhos para a música criada em sua terra, que não deve um centavo às bandas de fora. Curtiu a resenha? Compre o álbum. Sem arrependimentos.

quarta-feira, 16 de dezembro de 2020

Dezembro Verde & Amarelo #15: Pantáculo Místico - Hermético.


Pra você que acha que Fortaleza no Ceará, é o lugar das belas praias, saiba que também é o lugar do Metal Negro. Pelo menos se falamos do Pantáculo Místico, que pratica um Doom Metal carregado de ocultismo, e com uma qualidade ímpar. O álbum Hermético, primeiro da banda, foi lançado em 2016 via Nuktemeron Productions, muito caprichado por sinal. A abertura mórbida se chama "Onde os Extremos se Tocam", com vozes e teclados, serve de aperitivo para a longa "Viagem Astral", com belos violinos logo de cara. O instrumental é arrastado, com guitarras trabalhadas e tudo muito bem produzido, onde os vocais guturais urrados em português por Lídio Barros conduzem a desgraceira permeada pela beleza fúnebre dos teclados de Tork Highill, que também criou a arte da capa cheia de simbolismos pagãos. O baixo está a cabo de Cícero Rui que também faz os vocais de apoio, nas guitarras estão Edson Monteiro e Leandro Rodrigues e na bateria Moisés Souza. "Vagando Por Caminhos Desconhecidos" apresenta teclados hipnóticos, e alguns vocais mais rasgados, além do uso constante dos pedais duplos, enquanto "666+777 - A União do Treze" é calcada em um ritmo mais acelerado (sem susto, nada próximo de um Krisiun) e um soberbo trabalho de guitarras. "Luz do Profundo Abismo" também inicia na mesma pegada mas depois o andamento fica mais arrastado. A banda aproveitou a oportunidade da gravação do debut para novas roupagens a várias músicas da época das demos e "Velado Por Entidades" é uma delas, que leva o título da demo de 2014, e é uma canção com muita energia em que as guitarras se aproximam em alguns momentos do ótimo Amen Corner. O álbum fecha com "Magnitude Oculta", com batidas lembrando rufos de tambores de guerra, outra faixa com mais de 10 minutos carregada com uma aura sofrida e de uma beleza imortal. Primoroso!

 

Dezembro Verde & Amarelo #14: Distraught - Unnatural Display Of Art

 


O Distraught do Rio Grande do Sul é um monstro do Thrash Metal pouco falado no cenário nacional. Quando os caras sobem no palco não há quem fique fora do mosh ou não saia com um sorriso no rosto. Musicalmente falando, este álbum pode ser considerado algo como o instrumental do finado Dew Scented com os vocais de Tom Angelripper do Sodom, duas bandas da Alemanha. O Thrash dos gaúchos é pesado pacas, muito bem tocado, com uma energia nuclear. Você tem aquelas paradinhas (breakdowns) que todo thrasher ama em "The End Of Times", uma melodia linda dedilhada em certa parte da ultra poderosa "Reflection Of Clarity", um refrão simples e grudento em "Hellucinations" que é uma das melhores do álbum e um som de baixo técnico e antipático em "Cradle Violence". Os músicos que gravaram este álbum em 2009 foram Ricardo Silveira e Marcos Machado nos solos e riffs esporrentos, Nelson Casagrande no baixo, Éverson Krentz na bateria e o gigante André Meyer nos vocais, um cara que tem uma presença de palco de um viking. A bela arte da capa foi criada por Marcelo Vasco que dispensa apresentações. Outros destaques do trabalho são a muito bem construída "Killing In Silence", a quebradeira de "Burial Of Bones" e a rifferama caótica de "Alchemy". Já passou da hora de você correr atrás deste álbum.

terça-feira, 15 de dezembro de 2020

Dezembro Verde & Amarelo #13: Overdose - Circus Of Death

 


Existem mudanças que afastam os fãs, porque eles não entendem que na vida tudo é mutável, e a arte sai de dentro de alguém que muda com o passar dos anos. Mas esta mesma mudança pode, algumas vezes, atrair muito mais apreciadores do que afastar. O Pantera por exemplo tem uma legião de fãs que sequer considera que seus álbuns da fase glam façam parte do seu repertório. Não tão radical assim, o Overdose teve sua fase mais Heavy como no Conscience, mas a partir de Circus Of Death passou a fazer um Thrash Metal de primeira qualidade. Este álbum ou várias de suas músicas já apareceram em vários posts do Metal & Loucuras, e não escondemos que ele esteja entre os álbuns preferidos do Metal mundial, então falemos novamente desta obra prima essencial. Na primeira versão, ele começa com um duo irretocável. "Violence" que começa naquele dedilhado clássico e é um furacão Thrash matador, com os vocais de Bozó assustadoramente agressivos. A outra é a fenomenal "The Zombie Factory", com uma interpretação sensacional, viradas de bateria intrincadas, e muito peso. "Dead Clows" tem aquela musiquinha de circo no início e é uma faixa que começa mais cadenciada e vai ganhando velocidade, até chegar num refrão lindo. "A Good Day To Die" é daquelas porradas com riffs fortíssimos, e um convite ao bate-cabeça. Outra de minhas preferidas vem na sequência, cheia de paradinhas Thrash e riffs perfeitos, com vocais raivosos a sensacional "Profit". "Powerwish" segue com a mesma qualidade, mesmo que ela não seja tão lembrada como as demais, mas preste atenção nos riffs e no desempenho de Bozó, acompanhado dos backing vocals e no refrão com uma urgência poucas vezes ouvida no Thrash. "The Healer" é quase uma balada pesada, tem harmonias de guitarra mais melódicas, bem cadenciada, a mais diferente do álbum, e quando ouvi o Circus Of Death inteiro pela primeira vez em 1994, me apaixonei por esta música instantaneamente. A porradaça "Beyond My Bed Dreams" fecha o petardo com muita raiva, técnica e garra. Estava forjado um clássico atemporal. Na versão em CD havia a faixa bônus "Children Of War", muito bem vinda, e no relançamento recente da Cogumelo, a sequência das músicas mudou completamente, mas a que mais amamos é esta do vinilzão. Vida longa ao Overdose. 
   

segunda-feira, 14 de dezembro de 2020

Dezembro Verde & Amarelo #12: Ratos de Porão: Anarkophobia


Anarkophobia: O álbum Punk mais Metal da história. Em 1991 após ter surpreendido com a qualidade e influências Thrash em Brasil, a banda liderada por João Gordo polemizava ainda mais com este registro histórico e maravilhoso. As bases de guitarras se encostaram de vez no Thash Metal, e a bateria entrava no ritmo de um trem desgovernado. O baixo fez a lição de casa direitinho e os vocais urrados estavam medonhamente reconhecíveis. A duração das músicas seguiram o esquema e o resto é história. "Contando Os Mortos" exemplifica tudo isso e "Morte Ao Rei" alterna momentos rápidos com ultra rápidos, além de trazer um solo de guitarra no melhor estilo Sepultura. O primeiro hit (tá de brincadeira né) do álbum é a fodida "Sofrer", num ritmo mais mid tempo, uma letra sensacional e cantada claramente pelo Gordo. Quem não canta essa porra junto não viveu os melhores anos do metal. "Ascenção e Queda" é outra porrada com uma letra que é um exemplo pra muitas bandas por aí, enquanto "Mad Society" é cantada em inglês e combinou demais com o estilo, uma de minhas preferidas no álbum, além de ter aquele som de baixo na cara sensacional. Ódio3 começa com um dedilhado fora de série e riffs bem fodas aparecem em seguida, e uma letra que você não vai deixar seus filhos cantarem antes de irem pra escola. A faixa título mantém o estilo num ritmo bem interessante, sem acelerar demais, enquanto o segundo hit (hahaha tá ferrando mesmo) chega com "Igreja Universal", uma crítica aos seguidores de Edir Macedo e um dos melhores momentos do álbum, que também foi um dos pontos altos no destruidor "Vivo". "Commando" é cover para o clássico do Ramones e, diga-se, ficou bem melhor que o original. O álbum fecha com a gritaria apoteótica de "Escravo da TV", para você que fica horas como um imbecil na frente da telinha moldando seu caráter e elevando seus conhecimentos indispensáveis.

Dezembro Verde & Amarelo #11: Ancesttral - Web Of Lies


O embrião do Ancesttral foi uma banda cover do Metallica chamada Damage Inc. A partir daí os americanos se tornaram a maior influência da banda paulista e seu debut, "The Famous Unknow" tem muitas similaridades à trupe de Helfield, principalmente na fase Black. Nove anos após o debut o Ancesttral retorna com o álbum "Web Of Lies", mais uma vez com o mascote Arlequim na capa, mas desta feita com pouquíssimas similaridades ao Metallica. Ponto positivo para quem procura originalidade. O álbum inicia e termina com a mesma música, a poderosa "What Will You Do?", cujas versões se diferenciam no solo, e de cara sentimos que o peso é um dos atrativos aqui, mesmo que toda melodia peculiar ao Thash Bay Area esteja lá. Com uma produção fenomenal, (os músicos gravaram em casa e o play foi mixado por Paulo Anhaia), um som de bateria forte, baixo pulsando como um coração, riffs bem construídos e excelentes solos, temos vocais que nos momentos mais melódicos se aproximam de John Bush do Armored Saint. "Massacre" peca um pouco pelas vocalizações de noticiário informando sobre o massacre do Carandiru, (eu quase sempre pago um pau para esses sons em cima da música), mas os vocais mais roucos são um ganho, além de um solo de guitarra bem legal. O refrão de "Threat To Society" irá te perseguir pelo resto da estrada, aqueles backing vocals repetindo "Bring Us Their Heads" são uma das melhores coisas neste álbum. "You Should Be Dead" tem um trabalho de bateria que chama muito a atenção, além de riffs pesados excelentes. O início de "Fight" te engana puxando para o lado de uma balada mas, felizmente, o peso come solto logo em seguida, mesmo que o refrão seja bem melódico. "Nice Day To Die" é uma porrada com influências de Nuclear Assault enquanto "Pathetic Little Liars" deve ser a música mais pesada da banda. O play ainda traz as ótimas "Subhuman", os pratos de bateria voando em "Web Of Lies" e seu refrão gritado, além de outra porrada chamada "Fire". Tá na hora de mais um álbum!!

 


domingo, 13 de dezembro de 2020

Dezembro Verde & Amarelo #10: Unholy March - EvilWar

 


O EvilWar foi formado por ex músicos do famigerado Murder Rape de Curitiba, sendo o vocalista Sabatan (Jacques), o guitarrista Azarack e o baterista Ichthys Niger (Edilton) e agregaram Haborym (Vicente Palazzo) na bateria e Typhon Seth (Fernando Frogel) no baixo. O primeiro trabalho do EvilWar, Unholy March, chegou arrebentando as portas do inferno, despejando soldados negros sobre vilas inteiras sem piedade. Após a intro "Black Metal Warriors", que deixa clara a sonoridade de um exército do mal marchando sobre terras escuras, temos "Revelations From The Old Age", onde ouvimos um trabalho de guitarras excepcional, o grande diferencial deste álbum. Os riffs se afastam daquele, por muitas vezes chato som de abelhinha, são pesados e bem próximos do Death Metal, assim como os vocais de Sabatan, que não são sempre rasgados como tradicionalmente, e sim mais próximos do que ele fez no fenomenal "Celebration Of Supreme Evil" do Murder Rape. "Born By The Rape Of One Beast" mostra a força dos pedais duplos, enquanto temos em "From The Darkness Comes The Queen" uma parte chupada do Murder Rape, culminando naquela risada sarcástica de Sabatan. Os riffs mudam constantemente dando uma dinâmica terrivelmente áspera à música. A faixa título traz os sons da guerra, onde espadas e escudos acompanham os gritos daqueles que morrem em batalha, enquanto uma passagem de teclado fúnebre (de Nahtaivel do Eternal Sorrow) faz fundo para o caos. Lá pelos 5 minutos e meio da música temos um fraseado de guitarra sensacional que muda o ritmo da música e peca por não ter continuado na mesma pegada até o final. "Memories From The Last One" retorna com agressividade alternando vocais rasgados e guturais. O álbum foi lançado pela Somber Music, que caprichava demais em seus registros, talvez uma das primeiras no Brasil a publicar encartes com páginas envernizadas, um deleite para os colecionadores. Para finalizar temos a pesada "Battle Of The Honour" e em ritmo de marcha a poderosa "Conqueror's Saga". Este é, para mim, um dos melhores álbuns do Black Metal nacional. 

20 anos de The Wine Of The Night do Pettalom

 


O Pettalom, de Tatuí, interior de São Paulo, foi mais uma aposta da Demise Records na época de ascensão do Gothic Metal no Brasil, e lançou em 2000 este "The Wine Of The Night" que se tornou um álbum cult no cenário nacional. Sem se prender a uma fórmula que ditasse as regras de sua música, a banda conseguiu gravar um álbum único que assustou os puristas na época. A intro "Beyond The Castle's Door" entrega a roupagem gótica, aliada ao nome do álbum e a arte da capa, mas já em "Ashes Garden" as mudanças repentinas de andamento mostram que a banda tinha ideias saindo pelos poros, com riffs de guitarra Heavy Metal dando lugar a teclados em várias camadas e carregando as harmonias, enquanto a soprano Kátia Santana mostra uma voz forte e bela, e Marcos Riva não berra nem canta, mas acompanha naquele estilo Tilo Wolff do Lacrimosa. O início de "Berenice" é de arrepiar, Kátia entoa de forma mórbida e poderosa, enquanto os teclados do convidado Celso Veagnoli dão uma cor escarlate à faixa. As vozes de Riva aqui estão muito mais narradas, e lembra muito o grande Goat Of Mendes da Alemanha, banda de Folk/Black sensacional. Em "Irate Lizard" talvez tenhamos o melhor momento do álbum, um dueto perfeito sobre melodias melancólicas, solos de guitarras muito bem executados e uma letra cheia de simbologias que não sei se tiraram de alguma cultura oriental, mas que tem tudo pra ser. Os guitarristas da banda eram Alan Augustinis e Fernando Almeida, com Erick André no baixo e André Campos na bateria. Os músicos criaram atmosferas tão peculiares neste álbum, principalmente nas vozes, que você pode ficar anos sem ouvir o álbum e mesmo assim quando o ouve com atenção as melodias voltam à sua mente como se o tivesse ouvido na semana passada. Isso fica claro em músicas como "Feelings Buried Alive" ou até em frases soltas como em "Dungeon". Aliás, em Feelings... temos uma parte em português no final que parece que Rivas incorporou Fernando Ribeiro do Moonspell. Em "Celibate" temos todas as características de uma faixa épica, longa, variada e com belas melodias, letra sugestiva sobre o celibato e belos arranjos de guitarra. Para fechar o trabalho a grandiosa "Sons Of The Light", mais uma em que os vocalistas dão um show à parte, além dos instrumentais continuarem soberbos. Acredito que se The Wine Of The Night fosse lançado nos dias atuais, seria muito melhor recebido e figuraria entre os primeiros de muitas listas do metal nacional.

sábado, 12 de dezembro de 2020

20 anos de Goddess Of Tears do Silent Cry

 


Depois de um início beirando a perfeição e a eterna tristeza, os mineiros do Silent Cry voltavam em 2000 com um álbum com menos Death e mais Doom, extremamente soturno e com harmonias e melodias que realmente arrancam lágrimas nos olhos. "Desire Of Dreams", a faixa de abertura, mostra uma beleza cativante, ao passo que a melancolia nos joga numa escuridão sem fim, onde encontramos no final os vocais agressivos de Dilpho decretando nossa perdição no mundo dos sonhos. "Last Visions" mostra que Dilpho e Cássio Brandi estavam entrosados nas guitarras choradas, que são a força desta música. Suely Ribeiro continua dando um show com sua doce voz, se soltando mais que no debut, mas com um sentimento sempre carregado de profunda tristeza. "Tears Of Serenity" é uma regravação da demo homônima de 1997, com um lindo solo de guitarra, a mesma letra mas quase o dobro de duração, e em seguida vem "Eclipse", um dueto vocálico bem suave que dá lugar aos extremos com muita naturalidade, além de harmonias belíssimas nos teclados do inesquecível Bruno Selmer, que tinha um talento sensacional e certamente é um nome que faz muita falta à música metálica brasileira. "Crying Violins" é outra regravação da mesma demo, quase uma instrumental, com longos momentos de guitarras choradas, e onde podemos apreciar melhor o trabalho de baixo de Roberto Freitas e a bateria de Ricardo Meireles, instrumentos que soam corretos durante todo o álbum mesmo que não se sobressaiam aos demais. "Illusions Of Perfection" tem um início digno do Symphonic Metal, e por isso mesmo Suely solta um pouco mais a voz com Dilpho mais uma vez disparando vozes cavernosas e os teclados comandando boa parte do instrumental, e é um dos grandes momentos do álbum. O play segue com "The End Of Innocence", e outra bela interpretação nos vocais para fechar com "Good-Bye In The Silence", que inicia numa melodia maravilhosa de teclado com a doce voz de Suely causando arrepios, dentro de uma estrutura quase inteiramente acústica, de extremo bom gosto. Com uma arte de capa linda, criada por Catherine McIntyre, com um anjo de mármore em estilo romano e suaves tons azuis, a mais bela capa dos álbuns do Silent Cry, a discografia da banda ficava marcada com mais uma obra de arte.

quinta-feira, 10 de dezembro de 2020

Dezembro Verde & Amarelo #9: Sepultura - Schizophrenia


Quem viveu a segunda metade dos anos 80 e a primeira metade dos anos 90 sabe como os metalheads brasileiros tinham orgulho desta entidade chamada Sepultura. A cada trabalho lançado uma legião de malucos passava horas falando sobre suas músicas favoritas, o visual dos caras e suas conquistas no exterior. E após um início ultra extremo calcado no Death Metal, a banda se estabelecia como um dos maiores nomes do Thrash Metal com o fodido Schizophrenia de 1987. Após uma intro tirada do clássico filme Psicose de Hitchcock, com Max berrando o nome do petardo, porém com o audio de trás para frente, temos seguramente uma das melhores músicas dos mineiros, a destruidora "From The Past Come(s) The Storms", uma música agressiva, com a bateria de Igor Cavalera quebrando tudo e os vocais de Max ainda agressivos, porém agora bem mais inteligíveis. As guitarras deram um salto de técnica, com riffs poderosos e ótimos solos. Detalhe, Jairo Guedz compôs boa parte do álbum antes de decidir sair para se dedicar melhor à família, então pára com falatória comparando sua técnica à de Andreas Kisser que gravou o álbum, pois ambos são excelentes guitarristas e se você insistir é melhor engolir umas 5 cópias de "The Hangman Tree" pra ficar esperto. "To The Wall" é outra faixa matadora pra bater cabeça, com um ritmo mais cadenciado e um final estupendo. O segundo maior destaque do play tem a alcunha de "Escape To The Void", perturbadoramente bem executada, com aquela pegada a la Kreator, com mudanças de andamento e vocalizações cavernosas. "Inquisition Symphony" é a mais longa faixa e é instrumental, e não me assustaria se dissessem que a banda se inspirou nas instrumentais carregadas de criatividade do Metallica. Porque música sem vozes e sem criatividade é um saco! O início de "Screams Behind The Shadows" é épico, mesmo que curto e tem a cara do próximo trabalho, o fodástico "Beneath The Remains". A porrada e o bom gosto perduram por faixas como "Septic Schizo", com seu refrão inconfundível e a ótima "Rest In Pain" escolhida a dedo para fechar o álbum e fazer você sentir ímpetos de ouví-lo novamente. A arte criada por Ibsen é bem simples, mas seus tons de azul se tornaram tão clássicos que ainda assim é uma arte que dá gosto de apreciar. 

 

terça-feira, 8 de dezembro de 2020

Dezembro Verde & Amarelo #8: Jackdevil - Evil Strikes Again


E continuamos percorrendo o Brasil com sua cena maravilhosa de Heavy Metal, aterrizando agora em São Luis do Maranhão, de onde o Jackdevil lançou seu segundo álbum em 2015, o destruidor "Evil Strikes Again", carregado de Speed/Thrash para a alegria dos bangers batedores de cabeça. Após a instrumental "Abbadon" nos teclados temos a pancadaria da faixa título com riffs velozes e cortantes, baixo acompanhando com precisão, vocais fortes e as baquetas comandando o banguear geral. "Devil Awaits" é ainda melhor, com os backing vocals dando uma força legal no refrão. As guitarras fazem um trabalho muito bom e aquela parte cavalgada nos segundos finais ficaram lindas!!!! "Satan's Rite" segue descendo a lenha, sem tempo pra respirar, e você percebe pelos títulos das músicas que a época de escola dominical dos caras já ficou pra trás faz tempo, se é que existiram. "Nightcrawler" vem numa pegada mais Rock 'n Roll, e dá pra você tomar aquela gelada tranquilamente enquanto balança suas madeixas em frente ao palco. "Bestial Warlust" tem um prelúdio que reforça a importância do baixo de Renato Speedwolf, que está matador, e os vocais raivosos de André Nadler estão perfeitos. André também toca guitarra, ao lado de Ric Mukura, e há de se dizer que os solos estão muito bem encaixados, além da timbragem casar perfeitamente com todo o instrumental. Temos um lance acústico meio tribal no final desta música que ficou bem interessante. "Beelzebub" vem numa pegada speed meio punk e notamos influências de Iron Maiden da fase Paul Di'Anno, e não é a toa que encontramos a expressão "New Wave Of Brazilian Heavy Metal" na arte do CD. Arte esta que ficou bem legal, a cargo de Ronilson Freire, com ênfase no azul e amarelo. "The Reaper" tem umas viradas loucas de bateria, a cargo de Felipe Stress e "Death By Red Lights" tem uma rifferama pesada que dá gosto de ouvir. "Black Witch" tem um ritmo sensacional com direito a algumas paradinhas, e uma passagem com harmonias de teclado (tocado por Speedwolf) precedendo um belo solo de guitarra e é um dos melhores momentos de "Evil Strikes Again". E pra fechar temos "Cangaço", aquela faixa que você vai seco achando que tem uma letra foda em português, mas quebra a cara. Quem sabe na próxima, criaturas! Álbum imperdível. 
 


segunda-feira, 7 de dezembro de 2020

Dezembro Verde & Amarelo #7: Dorsal Atlântica - Dividir & Conquistar

 


A Dorsal Atlântica foi uma das primeiras bandas de metal extremo do país e "Dividir & Conquistar", seu segundo álbum, lançado em 1988, apresentava um grande salto em qualidade e técnica em relação ao clássico debut. As letras, como sempre críticas, estão bem mais inteligíveis na voz gutural e gritada de Carlos Lopes, o baixo de seu irmão Cláudio Lopes é um tapa na cara com luva de pedreiro, a bateria de Toninho Hardcore não dá trégua, ao passo que a guitarra de Carlos (o Vândalo) despeja riffs sensacionais. "Tortura" é um furacão, que passa levantando poeira em seus 2 minutos de pancadaria. "Vitória" tem riffs ultra rápidos e solos bem elaborados, mesmo que estejam um pouco mais altos que o necessário e os vocais fortes. Uma das melhores músicas compostas pela banda é "Violência é Real", com várias mudanças de andamento, intercalando partes rápidas e outras cadenciadas, com uma letra interessante sobre esperança e que 9 em cada 10 headbangers no Brasil sabem cantar, um hino do metal nacional. E com uma letra que continua atualíssima, "Metal Desunido" discorre sobre os hoje chamados "fiscais do metal", aqueles que criam regras do que você pode ou não ouvir, ser ou não ser, dentro de um estilo que nasceu pregando a liberdade. Culpam a internet por isso, mas você tinha intenet em 1988? É mais fácil encontrar um bode expiatório que aceitar algo inerente ao ser humano. "Lucrécia Bórgia" traz até uma passagem de teclado bem legal, criada pelo Celso Suckow, que tocava no Metalmorphose na época do Ultimatum, split que as 2 bandas dividiram. O álbum ainda tem "Morador das Ruas", "Velhice" e "Preso ao Passado", grande músicas, com vocalizações que, mesmo que sigam uma linha constante no álbum, buscam se diversificar com criatividade. "Dividir & Conquistar" é um trabalho de Thrash Metal, mas tudo nele nos dá uma ideia de vanguarda, o que digamos, sempre foi um prato cheio para os fiscais.