terça-feira, 26 de dezembro de 2023

20 anos de Through the Ashes of Empires do Machine Head!!!

 


O filho pródigo à casa retorna. O Machine Head saiu pra conhecer prostitutas, e gastar sua fortuna com os prazeres do mundo, foi jogado em um chiqueiro pela maioria de seus antigos fãs, comeu a lavagem dos porcos, mas não teve vergonha de voltar para a casa de seu pai, o groove-thrash, de onde não deveria ter saído, mas que às vezes é uma aventura interessante para conhecermos o outro lado do mundo. E "Through the Ashes of Empires", de 2003, mostrou ao mundo que os americanos liderados por Robb Flynn fizeram a coisa certa, e receberam de volta uma das bandas que mantiveram o metal em alta em meados dos anos 90, somente alguns degraus abaixo de Sepultura e Pantera. Está claro para mim que este álbum não é a obra definitiva desta nova fase, mas ele certamente trouxe de volta os elementos que adoramos ouvir no som destes caras. Agressividade e raiva, riffs intrincados, bateria esmagando crânios, e vocais cuspindo fogo. Uma música para bater cabeça, se esbaldar no mosh, e não para pular como se tivéssemos molas nos pés. "Imperium" mostra isso logo na abertura, e em alguns momentos o som fica tão perturbador, que mostra que os caras nem estavam pensando direito na hora de mostrar que estavam sendo eles mesmos, e entraram de cabeça na pancadaria. "Bite the Bullet" tem um título até suspeito, e o primeiro vocal de Flynn até que engana, mas a rifferama pesada afasta qualquer medo de recaída, e só confirma a capacidade que estes músicos têm de mesclar o groove e a violência com passagens mais clean. Uma música curta, mas que te faz uma vontade de socar quem está por perto! E o início de "Left Unfinished" que parece um Motörhead do inferno e faz passar batido aquela parte melódica e chata do refrão. O álbum é honesto até o fim, digamos que "Imperium" não possa ser sobrepujada, ela é a melhor faixa deste trabalho, mas já li algumas obscenidades dizendo que é a única boa música. Comentário ridículo de quem mal ouviu o restante do álbum. Pegue apenas "In the Presence of My Enemies" para se certificar do que estou falando. Este álbum, que completa 20 anos, é um recomeço digno, para uma banda que viria a crescer consideravelmente em sua sequência.

20 anos de Forged in the Blackest of Metals do Prophetic Age!!!

 


Vamos começar pelos detalhes oculares deste álbum. O logo da banda é perfeito, macabro como pede o estilo e totalmente legível, mais uma bela obra de Christophe Szpajdel. A arte da capa, de autoria de Yuri d' Ávila em tons de azul é linda, um capricho para quem não consome apenas música, mas também sua embalagem. E o título do álbum, "Forjado no mais Negro dos Metais", não poderia ser mais condizente e legal para uma obra de black metal sinfônico. Por estes detalhes já percebemos o esforço da banda em mostrar qualidade, além de preencher sua própria satisfação em lançar algo com muito com gosto. Mas será que o som desta turma de Mauá acompanhava todo o charme do material? É colocar o CD pra rolar e se esbaldar em uma música extrema, carregada de melodias sensacionais, e de uma qualidade fora de série. Este, que é o segundo álbum do Prophetic Age, é um dos trabalhos de mais respeito da cena metálica nacional deste milênio. A bela intro "In Sangues Veristas" já abre as portas para a sensacional "Through Stormy Skies We Hide Our Hordes", quando percebemos nos riffs de guitarras uma aura Rotting Christ, rodeada por elementos sinfônicos de muita qualidade. Os teclados acompanham com muita eficiência a pegada extrema, com uma bateria fortíssima, e vocais rasgados e muito raivosos. Temos momentos de guitarras intrincados como na "The Symphony Leads the Fallen" e uma passagem bem Dimmu Borgir no início de "The Blood Feeds My Army", mesmo que a banda deposite sua inspiração no metal mineiro dos anos 80, além de Dissection, Emperor e Rotting Christ. Alguns vocais graves são introduzidos de forma eficaz, sem medo de cair no ridículo como já ouvimos em outras obras, mostrando que o Prophetic forjou seu som com os pés no chão, sabendo o que estava fazendo. Gravado na época por Rheiss na guitarra, Gregor no baixo, Sferatu nos vocais, Mortum nos teclados e Samash na bateria, a banda infelizmente entrou num hiato um tempo após este lançamento, mas voltou à ativa durante a pandemia, e tem gravado material novo. Uma pena eles não terem dado continuidade naquela época, pois seriam hoje uma das maiores do país. Nada que um pouco de trabalho duro não possa reconquistar. Ouça esta obra, caso ainda não conheça. Não damos notas em nossos 'reviews', mas este merecia um 10. Completando 20 anos e ainda atualíssimo. 

20 anos de The Antidote do Moonspell!!!


Seria "The Antidote" o álbum que todos os antigos fãs dos portugueses do Moonspell aguardavam? Após uma bela tentativa com "Darkness And Hope" dois anos antes, esta obra de 2003 que completa 20 anos, em minha opinião, não chega a ser o álbum de retorno às raizes, mas certamente é uma evolução neste sentido e em relação ao seu antecessor. Se não é uma obra prima irrepreensível, pode ser considerado um belo e relaxante momento soturno. Da simplicidade da arte da capa, mesmo que com a escolha certa de cores, à turbulência de ter acabado de demitir seu baixista, digamos que a banda tenha se saído bem para os amantes de "Irreligious", seu segundo álbum. O início com "In And Above Men" apresenta um peso extra com vocais urrados que já mostra o quanto a banda parecia estar mergulhando novamente na escuridão. Não temos nada de velocidade que os traga novamente àquele gothic black de Wolfheart, mas uma atmosfera totalmente dark e bem trabalhada, em que o som não se mostra chato, mas com a legitimidade dos lobos e o bom gosto do vinho amargo. Na sequência temos uma bateria tribal e bem viagem, na quase atmosférica "From Lowering Skies", que antecede a melhor faixa do opus, "Everything Invaded". A disparidade vocálica que Fernando Ribeiro nos oferece entre rosnados e vocais tristes, além de um instrumental soberbo, coroado com um solo de guitarra empolgante, faz desta música um momento ímpar. Os teclados apresentados neste álbum são como a cortina ao fundo palco, que não está à frente de nada, mas que todos percebem que está lá fazendo muito bem feito o seu papel. Em "The Southern Deathstyle" a banda nos brinda com uma das passagens mais death metal, aliada a um acompanhamento de teclados, baixo e a bateria de Miguel Gaspar tão hipnótica, e é mais um dos destaques. A primeira parte da obra termina com "Antidote", a faixa que quase dá nome ao álbum, e destila um capricho da banda e amor ao som que faz, com uma qualidade de gravação sensacional. Tudo é tão limpo e regular! As outras faixas são a introspectiva "Capricorn at Her Feet", "Lunar Still", "A Walk on the Darkside" (que som de guitarra no início!), Crystal Gazing" e "As We Eternally Sleep On It".  Era o Moonspell caminhando no lado escuro novamente, para nosso deleite.

 

domingo, 17 de dezembro de 2023

20 anos de Elements pt. 2, do Stratovarius!!!


A segunda parte de "Elements", lançada no mesmo ano da primeira, não chega a ser tão brilhante, mesmo que não se distancie quase nada de sua antecessora e irmã. Liricamente os elementos naturais continuam sendo a premissa, e a arte da capa traduz isso de forma clara, e muito bonita, também. Até me parece que a segunda parte é um pouco mais pesada que a anterior, talvez resultado da produção, mas não saberia dizer se é apenas um sentimento. O álbum começa diferente do normal, jogando de cara uma música lenta e introspectiva chamada "Alpha & Omega", remetendo a uma passagem bíblica sobre o início e o fim de todas as coisas. É claro que nestes momentos a voz de Kotipelto se destaca, quando temos menos informações instrumentais trovejando em nossa mente, e mais uma vez eu digo, este é um dos maiores vocais melódicos que já cantou sobre a Terra. Para deleite dos fãs de metal melódico temos 2 músicas na sequência com aquela velocidade que a galera gosta, sendo "I Walk To My Own Song" um momento ímpar com qualidade excelente, enquanto "I'm Still Alive" soa como um despertar para a natureza e as novas descobertas de algo que sempre esteve ao seu redor mas nunca foi percebido, agora sendo o foco principal de um momento pessoalmente mais evoluído. "Season of Faith's Perfection" tem um peso de guitarra descomunal, enquanto "Awaken the Giant" pode ser considerado o melhor refrão do álbum, algo que ficará reverberando em seus miolos um bom tempo. "Know the Difference" retorna com aquele power metal que fez dos finlandeses conhecidos mundialmente, com um solo de teclado sensacional. Para finalizar temos a ótima "Luminous", uma power balada progressiva, e "Dreamweaver" e "Liberty", na mesma qualidade apresentada na faixa de abertura. Seria Elements pt. 2 o último grande trabalho do Stratovarius?

 

20 anos de Ember To Inferno do Trivium!!!


O Trivium surgiu nos Estados Unidos em 1999, e após uma demo oficial em 2003, lançou seu álbum de estreia no mesmo ano, o inconstante "Ember to Inferno", que completa 20 anos. A meu ver a banda nunca se preocupou em seguir um padrão, mesmo que a base de seu som sempre tenha sido o thrash metal. Este álbum sofre um carma de ser classificado por muitos como metalcore, e pode até ser que em alguns momentos eles flertaram com este estilo, mas a verdade é que tem muito mais de melodic death neste trabalho. A música "Requiem" é um exemplo claro disso, parece que você está ouvindo In Flames da fase "Clayman". Mas vamos voltar lá no início do álbum, que após uma intro apresenta a faixa "Pillars of Serpents". Esta faixa é a que mais representa aquilo que o Trivium apresentou em seus dois álbuns posteriores e é de longe a melhor do álbum. Rápida e agressiva, ela certamente agrada fãs de um metal raivoso como o Dew Scented, por exemplo. Se você é daqueles que compram um álbum após ouvir a primeira música, certamente tem "Ember to Inferno" na coleção. Mas a próxima faixa, "If I Could Collapse the Masses" certamente vai te fazer arrepender, haha. Tudo bem que os riffs continuam legais, não temos muito peso e nenhum groove nas guitarras, é um som seco, mas é legal e os vocais enérgicos de Matt Heafy são bem legais, mas quando o cara cisma de cantar limpo... as músicas se tornam uma choradeira infernal e tornam sua audição uma canseira sem limites. Mas vamos dar um desconto porque o cara tinha apenas 17 anos, e ele corrigiu isso nos próximos lançamentos, o que não muda em nada o sentimento em relação ao debut da banda. A arte da capa também não ajuda muito, pois não trás nada de especial. Acredito que se a banda regravasse este debut, mudando totalmente as linhas vocais limpas, ou até mesmo limando as do play, ele ficaria bem legal de se ouvir. 

 

sábado, 16 de dezembro de 2023

20 anos de Lucifer Incestus do Belphegor!!!

 


Se você quiser 36 minutos de intensidade, bestialidade, agressividade e sem nenhum descanso, coloque o quarto álbum dos austríacos do Belphegor no play, singelamente intitulado de "Lucifer Incestus", cuja capa trás beldades chifrudas e freiras nuas ao redor do cidadão chefe dos porões do paraíso. Uma arte muito bem produzida, por sinal. O som da banda, que cada vez mais se notabilizava no cenário mundial como uma nova força do metal extremo, navega pelo black/death com eficiência e muita violência, e dando um passo à frente de seu antecessor, Necrodaemon Terrorsathan, pois conseguiu acrescentar um pouco de melodia, fazendo com que o som ficasse mais interessante, como podemos ouvir na faixa "Fukk the Blood of Christ", uma música de andamentos mais lentos para os padrões Belphegor, e mesmo assim com muita fúria. O trio, Helmuth (guitarra e vocais), Sigurd (guitarra) e Barth (baixo), contou com o baterista do Mor Dagor, Florian Klein, hoje no Bethlehem, e que ainda gravaria outras pancadarias futuramente com o Belphegor, e Mathias Röderer do Atrocity nos teclados ocasionais, que vez ou outra fazem fundo na obra Lucifer Incestus. Minha música preferida neste petardo é "The Sin - Hellfucked", que tem um início avassalador, com guitarras poderosas e riffs intrincados e pesados comandando a destruição, e após se transformar naquele bate estaca incansável, temos vocais rasgados e guturais se revezando com ferocidade, enquanto a guitarra estilo Morbid Angel retorna vez ou outra para destacar a música de invocação. Mas quem sentiu falta de um pouco de melodia, ouça o Gran Finale com  Fleischrequiem 69, com sua letra em latim e uma guitarra limpa em alguns momentos e um coro bestial. Apenas para ouvidos acostumados com o caos.

20 anos de Casus Luciferi do Watain!!!

 


O salto em qualidade que o Watain da Suécia deu de seu debut (Rabid Death's Curse) para o segundo álbum, Casus Luciferi, foi tremendo. Talvez isso se deva ao tempo de 3 anos entre estes lançamentos, mas o caso é que aqui temos músicas bem mais coesas, mesmo que extremas, porém com a sensação de que a banda encontrou seu som. Nada de reinvenção de roda, mesmo porque com algumas peculiaridades, temos uma banda seguindo os padrões de seus conterrâneos do Marduk e Dissection, porém o Watain chegou para somar como uma nova força do black metal. O que ouvimos neste trabalho são muitas mudanças de andamento, porém nada que pareça um trem mudando de direção numa nova trilha, mas reduzindo a velocidade e novamente acelerando e deixando seus passageiros tontos com tantos movimentos frenéticos. O Watain sabe fazer isso muito bem em todas as faixas e se quiser apenas um exemplo, ouça "Puzzles of Flesh", que parece um labirinto percorrido por um dragão faminto. Engana-se quem acha que uma banda como o Watain não tem melodia em seu som, mas à sua forma, temos guitarras recheadas de melodia negra, como na bela (?) "I Am the Earth", com riffs tétricos em alguns momentos e uma selvageria repentina onde o baterista Hakan Jonsson mostra que destrói seu kit com requintes de crueldade. O dono dos riffs é Pelle Forsberg, e ele neste álbum pode ser considerado peça chave para o resultado. O vocalista e baixista Erik Danielsson faz aquela linha de vocais parecida com o Mortuus do Marduk, o que não poderia dar errado, pois demonstra uma força maligna e destrutiva, vociferando com maestria toda podridão lírica da banda. O álbum todo foi feito para ouvir do início ao fim, ele é muito mais um complexo por inteiro do que uma junção de várias ideias, porém não é aquele trabalho que vai te fazer sorrir na primeira audição, ao menos foi assim comigo, levou um tempo para que este opus descesse por minha garganta sem queimar como whisky barato, mas hoje sua aquisição vale muito a pena. Não deixe de ouvir principalmente a faixa de abertura, a primorosa "Devil's Blood". Nem parece que já tem 20 anos, este Casus Luciferi. 

sexta-feira, 15 de dezembro de 2023

20 anos de The Morning Never Came do Swallow The Sun!!!


Simplesmente perfeito. Aliás, nem podemos falar de simplicidade em referência ao rico e mórbido death doom do Swallow the Sun em seu primeiro álbum. A banda finlandesa que mais cresceu nos últimos anos fez por merecer e logo na estreia gravou um petardo sensacional, o pesadíssimo "The Morning Never Came". A música de abertura é maravilhosa, "Through Her Silvery Body", com uma melodia lúgubre de arrepiar. Os vocais guturais de Mikko Kotamäki são de encher os olhos, têm uma força e precisão avassaladoras, transmitindo ódio em meio ao caos entristecedor que o instrumental nos proporciona, e também arrisca os primeiros vocais limpos que ficariam mais recorrentes nos próximos trabalhos, na profunda "Silence On the Womb". A arte da capa casa tão perfeitamente ao título do álbum, e ao mesmo tempo obriga pensamentos, insinuações e suposições fatalmente sinistras transitarem em nossa mente, ao imaginar o que aconteceu naquela casa, e que deixou de trazer um novo amanhecer para alguém. Eu escreveria um livro ouvindo este álbum. Os teclados nunca se sobressaem, mas exercem um papel estritamente importante na aura de energia singular que o opus nos passa, além de termos aqui guitarras irreparáveis, a cargo de Jämsen e Raivio. Quando conheci o Swallow The Sun, através do álbum "When A Shadow Is Forced Into the Light", curti o som, que naquele álbum tem bem mais melodia que outrora, mas não imaginava como a banda abusara do peso em seu início, e nem percebi com aquele álbum, o quanto eu ficaria fã desta banda como sou hoje. E muito disso graças a este debut. Não perca a chance de ter este tesouro em sua coleção, enquanto pode.

 

20 anos de All That You Fear do Impaled Nazarene!!!

 


Tudo bem que os vermes que rastejam sobre o pentagrama nuclear mais parecem salsichas assando numa churrasqueira do capiroto, fazendo com que a capa do oitavo petardo dos finlandeses do Impaled Nazarene ficasse até certo ponto caricata. Em relação ao som destes caras, que sempre foi taxado como black metal, e sim, eles cabem perfeitamente neste nicho, mas o que temos de influência de thrash visceral em "All That You Fear" não está escrito. O trampo geralmente é bem agressivo e bem rápido, mas é em passagens menos aceleradas que a coisa fica bem interessante, como naquele interlúdio de "Curse of the Dead Medusa", que automaticamente te empurra para o mosh e o headbanging. Os vocais de Mika Luttinen não variam, é aquele gritado rasgado carregado de ódio o tempo todo, mas ficamos naquele campo em que "antes fazendo a mesma coisa bem feita o tempo todo do que alternando entre diamantes e merdas".  O trampo muda em uma ou outra faixa como na cadenciada "Suffer in Silence", e fica impossível não lembrar da banda de Tom Angelripper. Por estas e outras não dá pra dizer que o Impaled é exclusivamente black metal, apesar de acreditar que sua base de fãs está entre os adoradores do lado negro da força. A gravação deste play é profissional, tendo a produção ficado a cardo de Anssi Kippo (Children of Bodom, Kalmah e outros). Duas faixas que gostei muito neste álbum foram "Even More Pain" e "Recreate Thru Hate",  principalmente pelo trabalho de guitarras. Vale a pena conferir este opus se você gosta de metal extremo sem muitas variações, e que acaba de completar 20 aninhos.

sexta-feira, 1 de dezembro de 2023

20 anos de A Natural Disaster do Anathema!!!

 


A arte da capa criada por Travis Smith é desoladoramente maravilhosa. Mais que isso, além da beleza, ela é carregada de tristeza e ainda nos provoca uma viagem de pensamentos, sejam eles sobre a natureza, sejam eles sobre nossos sentimentos de solidão interior. Mas a máxima de não julgar um livro pela capa se faz valer aqui, de alguma forma. Mesmo que algumas canções de "A Natural Disaster" se alojem em nossa alma fria, a beleza que estes músicos já conseguiram musicar em álbuns anteriores, acaba sendo deturpada por ideias pouca concretas, ou muitas vezes parecendo flashes de criatividade na mente de algum louco. Ok, em "A Fine Day To Exit", o último trabalho que eu admiro na discografia desta banda, que sempre foi minha preferida em se tratando de tristeza e melancolia, já havia indícios de que a banda se distanciava da miséria que conhecíamos e voava cada vez mais perto da psicodelia. Uma faixa como "Harmonium" nunca deveria ter sido escrita pelo Anathema, muito menos ser colocada como faixa de abertura, merecendo ser no máximo um bônus de relançamento. Nem os vocais de Vincent conseguem salvar esta música. Ok, relaxe, pois na sequência temos "Balance", talvez a melhor música do trabalho, trazendo um pouco de tristeza às bordas do copo. "Closer" tinha tudo para ser uma das mais belas músicas da banda, com um instrumental perfeito para o fim dos dias, mas aquele efeito espacial nos vocais... "Are You There?" é uma das músicas cantadas por Daniel, que praticamente escreveu o álbum sozinho, e mesmo que seja uma faixa mais tranquila, consegue se destacar exatamente por não ter muita experimentação. "Pulled Under at 2000 Metres a Second" é dona de um nome peculiar e também mostra uma face agressiva pouco usual da banda neste período, mas acho que ficou meio parecido com uma experiência inacabada. A faixa título tem a vocalista Lee, irmã do baterista John Douglas, com sua voz emocionalmente forte dando um upgrade no som e serve como uma pré para sua efetivação como vocalista em trabalhos posteriores. Minha música preferida talvez seja "Flying", que deixa a voz fantástica de V. Cavanagh em evidência, mostrando o dom de atingir almas que esse cara tem. "Eletricity", outra música cantada por Daniel, também não tem o mesmo up, inclusive na letra, e acredito que seria diferente se cantada por Vincent. Outras faixas do álbum são as instrumentais "Childhood Dream" e "Violence". Posso ter sido um pouco cruel com "A Natural Disaster", mas a música que mexe com sentimento nem sempre provoca o sentimento que pretende.

20 anos de Prey do Tiamat!!!


O início do oitavo álbum dos suecos do Tiamat me faz lembrar do jargão de um comediante brasileiro chamado Sergio Malandro, onde ele dizia "pegadinha do malandro" quando tentava enganar alguém. E olha que em determinados momentos até conseguiram pois já li e ouvi algumas coisas sobre "Prey" que realmente me deixou pensativo. Estou falando dos sons de pássaros que nos remete imediatamente ao clássico quarto petardo da banda, o fantástico "Wildhoney", levando a crer que a banda comandada por Johan Edlund voltaria ao passado com seu doom melancólico e pesado. Mas o que ouvimos em "Prey" ainda é uma banda gótica que talvez, e graças aos deuses do metal, deixava um pouco de lado aquela influência de rock pastelão que andou gravando. Mas dizer que este álbum tem algo de "Wildhoney" além dos pássaros e tic tac de relógios é algo de alguém que certamente nem ouviu este trabalho. Para início de conversa, os vocais de Edlund só ficam um pouco mais raivosos na oitava faixa, "Light in Extension", e nas outras soa como um Peter Steele sem ser tão grave, mas bem mais que no álbum anterior, "Judas Christ" (2002). Não é ruim, mas não é o que queríamos ouvir. Talvez por isso o trabalho comece a ficar legal em faixas com vocais femininos, com Sonja Brandt cantando nas faixas "Divided" e "Carry Your Cross and I"ll Carry Mine", músicas que não fogem em nada da proposta da banda naquela época, muito menos pelos vocais femininos. "Clovenhoof" é minha preferida, ela tem até um certo peso (pena) com um solo legal de guitarra e um ritmo bom de se ouvir. A melancolia de "Wings of Heaven" também chama atenção, e o trabalho tem alguns interlúdios instrumentais interessantes, todos com pouco mais de 1 minuto, que se melhor explorados poderiam enriquecer algumas canções, sendo "The Garden of Heathen" meu preferido. A capa de "Prey" lembra muito a do trabalho anterior, mudando os elementos, sai o bode entram as garras. Num todo, este álbum não é ruim, mas também não empolga muito. Um bom CD pra deixar ao lado daqueles últimos álbuns do Katatonia.

 

domingo, 19 de novembro de 2023

20 anos de Where Lovers Mourn do Draconian!!!


O Draconian da Suécia lançou seu debut justamente quando o estilo death/doom de A Bela e a Fera estava se desprendendo das estruturas do underground, como aquele estilo que deu um "boom", se multiplicou e morreu como uma flor no verão. Então, que chance estes suecos tinham de sobreviver e resgatar o estilo em meio aos amantes do sofrimento? Somente se eles tivessem um talento para criar músicas que se destacassem com muito poder, o que de fato conseguiram. "Where Lovers Mourn" não é o melhor trabalho do Draconian, e de fato nem acredito que foi ele o responsável por enraizar a banda na alma de seus seguidores, mas com o lançamento seguinte, o perfeito e indispensável "Arcane Rain Fell", todos fomos em busca do debut, que começa com a desoladora "The Cry of Silence", uma obra de quase 13 minutos de extremo bom gosto, com as correntes do 'doom' se arrastando nas masmorras do martírio, algumas partes de melodic black metal relembrando o passado de demos da banda, uma dupla de vocalistas perfeita e melodias de guitarra de uma beleza inexorável. O vocalista Anders Jacobsson, que diz a lenda estava pensando em suicídio ao escrever esta música, tem um vocal forte, ora falado e em sua maior parte gutural compreensível, com imponência, enquanto a loira Lisa Johansson canta e encanta com uma voz de beleza rara e melancólica. Em sequência "Silent Winter" mostra um lado menos melódico e uma aura mais raivosa da banda, com guitarras mais complexas. "A Slumber Did My Spirit Seal" não tem o mesmo brilho das anteriores, mas mesmo assim matém as coisas nos eixos, sem prejudicar a atmosfera. "The Solitude" tem um violino marcante e uma lentidão de quase balada que ganha um pouco de ódio com os vocais masculinos e apresenta um solo de guitarra muito legal. Aliás os guitarristas Magnus Bergström que logo deixaria a banda e Johan Ericson, também conhecido por ser o cara por trás do Doom:vs, não poderiam deixar de ser citados nesta resenha. Conseguiram transportar todos os sentimentos de perda e dor para as 6 cordas com maestria. "The Solitude" também marca por lembrar os bons tempos de Theatre of Tragedy. O álbum ainda conta com as faixas "Reversio Ad Secessum" com teclados de fundo provocando calmaria, "The Amaranth", "Akherousia" e "It Grieves My Heart". Belo início!!!

 

sábado, 11 de novembro de 2023

20 anos de The Puppet Master do King Diamond!!!


Até aqui, o longínquo The Puppet Master do mestre dinamarquês King Diamond é o penúltimo trabalho do rei. É verdade que neste entremeio o músico teve seus problemas de saúde, e isso prejudicou a sucessão de lançamentos que ele teve. Lançado pela Metal Blade, o trabalho, que não é dos mais lembrados da carreira, teve como músicos Andy La Rocque e Mike Wead nas guitarras, Hal Patino no baixo e Matt Thompson na bateria, e é conceitual, como de costume, contando a história de um casal que vai a um show de marionetes e são transformados em bonecos pele mestre das marionetes. Inclusivo o álbum fio lançado com um CD bônus com King contando a história do álbum, pois a parte lírica sempre foi uma das mais importantes para o diamante rei, que se torna inspiração para toda a teatralidade encenada sobre o palco em suas apresentações. Mas temos um álbum legal pra curtir e se ele não é tão lembrado, é mais pelo fato de não estar entre os primeiros trabalhos, algo até certo ponto normal em qualquer carreira, quando os fãs perdem um pouco o interesse em suas bandas e acabam perdendo ótimos momentos em lançamentos posteriores. Os riffs são bem legais, como podemos ouvir em "Magic" que aliás, tem uma interpretação perfeita de King, com uma passagem bem macabra após o solo de Mike, quando diz " De repente me sinto tão frio...é como se um fantasma estivesse ao meu lado, hálito frio em meu ouvido, enquanto ele sussurra: beije-a agora". A faixa "Emerencia" que é outra bem interessante, contando com vocais adicionais femininos de Livia Zita, que passou a trabalhar ao vivo com o grupo desde então. Fuja do estereótipo "não ouça os mais recentes", e aproveite "The Puppet Master", mesmo porque o álbum já completou 20 anos e de recente não tem mais nada. 

domingo, 29 de outubro de 2023

20 anos de Pandemonium do Torture Squad!!!


Em 2014, quando listamos os melhores álbuns do metal nacional, Pandemonium estava na lista, e naquele ano, fizemos uma resenha para este álbum. Porém agora o petardo está completando 20 anos, e como de costume, não poderíamos deixar de estampá-lo novamente em nossas páginas oficiais. Quando esta bolacha saiu no mercado, elevou o status do Torture Squad de São Paulo à mais nova força do metal nacional, consolidando um momento de revitalização do metal nacional iniciado em 2000. Daí em diante, nestes 23 anos, o metal brasileiro se manteve forte, sempre apresentando lançamentos competindo com o resto do mundo, graças aos deuses do metal. Este trabalho é perfeito do primeiro segundo ao último riff, um opus de death thrash recheado de técnica, com riffs e viradas de bateria intrincados, e longe de ser meros brilhantismos individuais. Músicas carregadas de "breakdowns", riffs pesados, com uma timbragem seca e muito bem mixada, graças à produção no estúdio "Mr. Som", que deixou a produção a nível internacional. Os solos de guitarra de Maurício Nogueira voam, e a cozinha com Castor e Amílcar Cristófaro é afiadíssima, com músicas sempre dando aquele stop para o baixo aparecer. Vítor Rodrigues é um espetáculo à parte, alternando vocais rasgados e guturais com maestria, regendo a orquestra do caos com sangue nos olhos. Todas as faixas são matadoras, mas devemos destacar algumas, como a arrasa quarteirão "Horror And Torture", que abre o petardo após uma intro, quebrando tudo, com paradinhas, viradas e riffs que ficam reverberando na cabeça por muito tempo, e o refrão é pra cantar junto nos shows. "Towers On Fire" é daquelas que nos faz pensar que a técnica não precisa deixar o som chato, pois depende muito do bom gosto dos músico, e o Torture Squad consegue nesta música apresentar momentos super intrincados que são uma verdadeira apoteose da arte extrema. A faixa "Pandemonium" é outro grande destaque que alia bases thrash metal a refrões death metal e a sensacional "The House of Sleep Holow", gravada anteriormente para o projeto Hamlet, que reunia várias bandas do metal nacional para uma ópera rock, e é o momento mais thrash do álbum. "Pandemonium" é certamente um dos melhores álbuns lançados neste milênio do metal nacional.
 

domingo, 22 de outubro de 2023

20 anos de Works of Carnage do Krisiun!!!


Podemos começar a resenha de 20 anos de "Works of Carnage" dos brasileiros do Krisiun pela arte da capa, criada por Jacek Wisniewski (Belfegor, Decapitated...) e na minha opinião não condiz com a grandeza da banda. Não é ruim, mas passa aquela impressão de sobreposição de imagens criada em photoshop. Dito isto, passemos à música, que é mais um rolo compressor em forma de brutal death metal. Toda sessão rítmica se encaixa como um quebra cabeças intrincado de peças de ferro. A bateria de Max Kolesne é um ataque sonoro de guerra, enquanto os riffs de Moyses são debulhados no decorrer das faixas com precisão. Graças à boa produção, podemos ouvir muito bem o baixo de Alex Camargo pulsando como um coração, preste atenção em "Thorns of Heaven", faixa explosiva de abertura que quebra todas as cadeiras e mesa da sala. Algumas pessoas criticam o álbum pela duração, algo em torno de 32 minutos, e ainda conter faixas instrumentais dispensáveis e o cover previsível de "In League With Satan" do Venom. Olhemos pelo lado bom, que são as músicas matadoras dispostas, como a citada faixa de abertura, a quebradeira de "Wolfen Tyranny", "Sentinel of the Fallen Earth", com sua estrutura de faixa trabalhada para chamar atenção, e a minha preferida neste álbum, "Ethereal World", uma música impossível de ouvir sem bater cabeça, com duração de pouco mais de 2 minutos, mas que tem uma batida sensacional. Claro que não estamos falando do melhor trabalho da discografia do Krisiun, mas não podemos deixar de lado um álbum com músicas tão fodas, e que exala a fragrância de enxofre inerente ao death metal, mantendo o poderoso nome dos brasileiros no primeiro escalão do metal da morte mundial. Respeitem a irmandade!  

 

20 anos de Open The Gates of Hell do Mystic Circle!!!


O segundo álbum de death/black do Mystic Circle, depois da primeira metade de vida blasfemando através do black sinfônico, foi a consolidação de um som poderoso que se iniciou em "Damien" um ano antes. Com uma arte bem endiabrada criada por Anthony Clarkson (Fear Factory, Blind Guardian, etc;), em tons infernais com predominância de cores laranja, "Open the Gates of Hell" pode não ter aberto os portões lá de baixo, mas certamente fez a cabeça de muitos metalheads que apreciam um som desgracento e muito bem feito. As ideias presentes em Damien ganharam um status melhor, com uma riqueza de detalhes imprescindíveis para forjar um grande álbum. Temos passagens arrasa-quarteirão como em "Beyond the Black Dawn", incluindo "breakdowns" como se algo do bom thrash oitentista baixasse sobre os músicos. Por falar em thrash, em "Awaken By Blood" temos riffs de guitarra que também poderiam estar num álbum de thrash alemão, uma música furiosa e direta. Minha faixa preferida é a faixa título, que começa após a instrumental "Deadly Ghosts" para dar um up mórbido e depois entrar numa pancadaria magnífica, onde a banda intercalou partes mais cavalgadas a outras mais extremas. Já a urgência de "Book of Shadows", com Marc Zimmer gritando com seu vocal rasgado, contrapõe-se à beleza fúnebre de "Wings of Death", onde a banda lança mão como sempre, de um suporte de vocais femininos para criar um clima melancólico, que funcionou muito bem. Os riffs são o ponto forte deste álbum, algo necessário após a eliminação dos teclados que tinham papel importante em outras épocas, e agora se resume a intros e instrumentais. Pontos para o guitarrista Ezpharess. Mas a bateria de Alex Koch também mandou muito bem. Um trio afiado para a concepção de um petardo violento e muito bem feito. Excelente!!!   

 

domingo, 1 de outubro de 2023

20 anos de Heretic do Morbid Angel!!!


Uma das lendas do death metal americano, o Morbid Angel, chegava a seu 8º álbum completo em 2003, com uma formação que já estava calejada na estrada do metal extremo, com seu guitarrista líder Trey Azagthoth, o baixista e vocalista Steve Tucker e Pete "Commando" Sandoval socando a bateria e debulhando blast beats por todos os lados. "Heretic" não foge à regra de um bom petardo de metal da morte, com sua típica e reconhecível guitarra carregada de muito peso e arrastada em alguns momentos sendo a maior característica do Morbid Angel. Tucker continua urrando como um touro, ouça "Enshrined By Grace" e fique de beiça aberta com o vocal deste cara. Esta faixa também tem um solo de guitarra que destoa do instrumental brutal, pois é um solo bem viagem, e ficou muito legal este casamento trevoso. A batera nem precisa de apresentações, Sandoval destrói seu kit como um fiel representante do metal extremo, sem dó, sem pausa para respirar, é insanidade a cada virada e batida. No geral, este álbum se parece mais com "Blessed Are The Sick", se formos levar em consideração os clássicos da banda, e uma clara referência àquele play é a fortíssima "Curse The Flesh", mesmo que não tenha um riff autenticamente peculiar, ela tem toda estrutura que encontramos no álbum de 1991, e eu amo isso, pode ter certeza. Um ponto negativo de "Heretic" é o som praticamente inaudível do baixo, mas isso não é nenhum ingrediente exclusivo da receita de "Heretic", visto que o baixo muitas vezes desaparece em muitas obras. Gosto também de um pouco de variação dos vocais, como em "Stricken Arise", quando Tucker abre mais o gutural. Ok, algumas ideias neste trabalho parecem ter saído de uma sessão de narguilé, começando pela instrumental "Place of Many Deaths", totalmente desnecessária, assim como a sequência com "Abyssous". Além delas, temos um bando sobrenatural de vinhetas (24???) entre novas faixas instrumentais, no final do disco. Uma coisa meio sem noção, e que deve ser ignorada.

 

sábado, 16 de setembro de 2023

20 anos de Metal Discharge do Destruction!!!


Metal Discharge chegou em 2003 com uma missão exageradamente difícil: superar "The Antichrist" de 2001. Em minha opinião, não conseguiu, mas por muito pouco não conseguiu ao menos um empate técnico. Na época de seu lançamento eu culpei a produção, que não teve Peter Tägtgren à frente e ficou um pouco plástica demais para um álbum de thrash old school. Hoje nem penso muito desta forma, mas creio que há 20 anos interferiu bastante em meu julgamento, tanto que não ouvi tanto este trabalho. É um ótimo play sim, com toda aura que o estilo pede, desde as aceleradas "The Ravenous Beast" e a faixa título, que consegue grudar o refrão em sua mente, até faixas de velocidade mediana como a forte "Rippin' the Flesh Apart". "Fear of the Moment" vem na sequência e serve para mostrar que o novo baterista Marc Reign (com passagens por Mystic Circle, Morgoth e Sodomizer) - sim, o cara está sempre presente no meio do metal trevoso - tinha uma técnica fenomenal e apresentou um ótimo trabalho substituindo Svern, não é a toa que permaneceu no Destruction por 8 anos. "Mortal Remains", "Desecrators (of the New Age), que teve vídeo clipe mostrando apenas a banda tocando, e "Historical Force Feed" com direito a vocais de Schmier com efeitos também são porrada de muito bom gosto e deixam que claro o quanto o thrash corre nas veias destes alemães. A capa é bem simples e não merece muito destaque. Mais três faixas fecham o álbum, "Savage Symphony of Terror", "Made to Be Broken" e "Vendetta", todas no mesmo padrão de qualidade Destruction. 

 

domingo, 10 de setembro de 2023

20 anos de Death Cult Armageddom do Dimmu Borgir!!!

 


Os noruegueses do Dimmu Borgir entraram no topo do metal extremo em 2001 com o fudidaço "Puritanical Euphoric Misanthropia" então, o que esperar destas criaturas em 2003? Com a mesma formação de peso, Shagrath nos vocais, Silenoz e Galder nas guitarras, Mustis nos teclados, Barker na bateria e Vortex no baixo e vocais limpos, o Dimmu Borgir manteve as mesmas características em "Death Cult Armageddom", ou seja, metal extremo com orquestra e uma sutil pegada industrial em alguns momentos. Resultado, mais um opus sensacional. Talvez ele seja um pouco mais técnico, mas isso é resultado de um maior entrosamento entre os músicos e a evolução natural e pessoal de cada um. Ok, eu ainda gosto mais do trabalho anterior se comparado a este, mas é mais uma questão da novidade sonora que a banda havia apresentado, ou até mesmo uma identificação maior com cada música. Independente disso, temos aqui um trabalho muito coeso. Porém quando o álbum tem um destaque absoluto, isso acaba por criar uma sombra sobre as demais faixas, e é justamente este o maior pecado de DCA. Ter uma faixa tão monstruosa como " Progenies of the Great Apocalypse". Além dela ter recebido o maior destaque da orquestra filarmônica de Praga, ela também ficou com a maior fatia de vocais limpos de Vortex, além de ter recebido um vídeo clipe que eu não cansei de assistir nos últimos 20 anos. A música é simplesmente perfeita, tão épica e magistral que pode ser considerada uma das melhores que a banda já compôs. E por falar em Vortex, parece que a banda não deu o espaço suficiente para ele nos brindar com sua voz sensacional no álbum, um erro claro. Com exceção da faixa mencionada e de "Allehelgens Dod I Helveds Rike" praticamente não temos mais nada de vocais limpos no trabalho, e que bom que ele voltou para o Borknagar, para que não ficássemos desprovidos desta eficácia. A capa que tenho em mãos é aquela toda preta com o pentagrama e letras em cinza e não traz nada de fenomenal, apesar do encarte ser muito legal e até certo ponto divertido. Temos um bônus que é "Satan My Master" do Bathory, que destoa do resto do álbum por sua crueza. Analisando toda a discografia do Dimmu Borgir até aqui, eles não lançaram nada melhor que este trabalho depois disso. Recomendo!

domingo, 3 de setembro de 2023

20 anos de Dance of Death do Iron Maiden!!!


O segundo álbum dos britânicos, após a solicitadíssima volta de Bruce Dickinson, e com um bom álbum na bagagem, o belo "Brave New World" de 2000, foi o trabalho com a arte mais feia da história da donzela, e de imediato me deixou com um pé atrás, mesmo que o velho ditado de nunca julgar um livro pela capa ficasse tilintando em minha mente. A verdade é que a voz de Bruce está muito bem neste trabalho, e a faixa de abertura, "Wildest Dreams" tenta resgatar elementos mais heavy metal da fase de ouro, mas sem muito sucesso. Tanto ela, quanto a posterior, "Rainmaker" são boas músicas, mas de alguma forma não possuem a magia que geralmente a banda de Steve Harris sempre imprimiu nos anos 80. Aliás, com algumas exceções, como "Aces High" e "Be Quick or Be Dead", a banda sempre se saiu melhor na área das músicas épicas e mais longas, e em Dance of Death isso fica muito claro. Quando estendeu e deixou o som um pouco mais progressivo, os rapazes da donzela se sairam melhor, como em "No More Lies", o primeiro clássico do trabalho. Mesmo que o refrão gritado remeta ao passado próximo de "Blood Brothers" a gente percebe que é nesse terreno que a banda pisa bem atualmente (naquele início de década ao menos). Já Montségur talvez fizesse mais sentido se tivesse sido lançada em um álbum como "No Prayer For The Dying", além de ter alguns riffs muito felizes pro meu gosto. Já a faixa título já traz aquele sentimento de realização ironmaníaca, com as guitarras gêmeas desfilando riffs celtas, se é que isso existe. A coisa esquenta ainda mais é na excelente "Paschendale", uma música fora da curva em se tratando de "Dance of Death". Épica, pesada, ela consegue transmitir um clima bem sinistro e no refrão um sentimento bem triste, além de um trabalho de guitarras bem trabalhado. Outra faixa que se destaca, mas com uma característica bem mais acústica e intimista, é "Journeyman", sendo que esta pode ter mais impacto nos fãs da carreira solo de Bruce. "Dance of Death" não supera "Brave New World", mas mostra músicos ainda empolgados com a recente reunião e traz bons momentos a seus fãs. Mas a capa...

 

sábado, 2 de setembro de 2023

20 anos de Barbarian do Malefactor!!!


Ok, já fizemos uma resenha de Barbarian, terceiro álbum dos baianos do Malefactor, no longínquo 2014 quando fizemos uma série dos melhores álbuns do metal nacional. Mas não poderíamos deixar passar batido o aniversário de 20 anos desta pérola do metal extremo, forjado com agressividade, melodia e um bom gosto musical poucas vezes vistos no underground. Fã confesso da discografia da banda, tenho Barbarian em minha coleção desde seu lançamento, e podemos perceber como a banda evoluiu com sua música. Mesmo encontrando sua sonoridade no belo trabalho anterior, o Malefactor conseguiu construir suas músicas de forma que o álbum soasse pleno, cativante e empolgante. A intro de 2 minutos com teclados e vozes conserva o lado black metal que sempre esteve enraizado na banda, mesmo que em proporções pequenas, mas deixando o clima sombrio e maléfico para introduzir os outros 10 hinos de guerra, com "Echoes of Lemuria" à frente. A música, com vocais fortes, rasgados e guturais, passagens cadenciadas e rápidas, foi inspirada na lenda de Lemuria, um continente que teria afundado no oceano Índico, com habitantes extraterrestres descendentes de deuses. "The Pit" segue o play, e na época a citei como a melhor faixa do trabalho, algo que não sei definir hoje, devido à importância do álbum como um todo, mas que certamente tem riffs excelentes e é uma das mais agressivas. Os vocais limpos também ganharam mais foco em "Barbarian", melhor intercalados e utilizados em refrãos como na "Barbarian Wrath", faixa excepcional com uma passagem inspirada que acho sensacional lá pelos 3 minutos e antes do solo. Aliás, passagens pra abrir um sorriso na caveira o petardo tem de sobra, como  aquela em que entra o solo de "Nightfall", com melodia grandiosa. Um álbum que mesmo após 20 anos, continua cheio de ideias novas, e deve estar presente em qualquer coleção de metal nacional que se preze.

 

sábado, 26 de agosto de 2023

20 anos de Seclusion do Penumbra!!!


O Penumbra da França, que no ano anterior soltara "The Last Bewitchment", num salto gigantesco em qualidade em relação a seu debut de 1999, agora em 2003 conseguiria subir mais alguns degraus, lançando um trabalho soberbo, sem nenhum defeito ou pecado em relação às maiores bandas do estilo. Com duas trocas na formação, sendo o baterista Garlic saindo para entrada de Arathelis, e a mais significativa, a soprano Medusa, presente nos dois trabalhos anteriores deixou a banda para entrada de Anita Covelli. Se Medusa já havia feito um trabalho excepcional no play anterior, Anita simplesmente levou a banda aos portões dourados do paraíso, com uma voz sensacional, em alguns momentos lembrando a diva Liv Kristine do Theatre of Tragedy (ouça Hope), banda norueguesa que praticamente criou este estilo. Anita consegue soar tão doce em momentos mais acústicos, e cantar como uma soprano mesmo quando a música pede, e "Seclusion" seguramente acaba sendo um híbrido dos melhores momentos de Trsitania e Theatre, porém já com sua característica própria de adicionar elementos orientais em seu som. Os vocais de Jarlaath continuam rasgados em sua maior parte, porém os vocais limpos são um diferencial, pois não são apenas resmungos, mas um vocal único que não tenta ser bonito, apenas dá seu recado. A banda acrescentou um pouco de peso também e praticamente retirou os vocais guturais presentes no trabalho anterior, que acredito ser do baixista Agone, talvez numa tentativa de evitar comparações com outras bandas do estilo. Se quer ouvir apenas uma música para se decidir se vai atrás deste material, vou indicar "The Prophetess". Ela tem muitos dos elementos que fazem do som deste álbum tão bom, pesado, bem feito, um ou outro instrumento inusitado aparecendo de mansinho sem causar nenhum susto, como uma singela percussão quase em seu final. Ouvir vez ou outra Anita Covelli sussurrando em francês também vai te causar arrepios. Enfim, se não conhece Seclusion e gosta do estilo citado, ouça sem medo!

 

domingo, 20 de agosto de 2023

20 anos de Far From the Sun do Amorphis!!!


Hei de confessar que é a primeira vez nestes 20 anos que ouço "Far From the Sun", o sexto álbum de estúdio do Amorphis, e talvez isso possa refletir nesta resenha, uma vez que este trabalho precisa de mais audições para ser melhor compreendido. Verdade que esta fase em que a banda havia abandonado o death metal nunca foi atrativa para mim, porque ela não tem as duas características que mais aprecio no heavy metal, que são agressividade e melancolia. As melodias folk que a banda sempre carregou estão lá, a faixa de abertura, "Day of  Your Beliefs" mostra isso claramente, e é até uma música bonita, pra se colocar no play do carro quando estiver viajando à noite. A faixa título também tem algum potencial para ser uma das favoritas do trabalho, mas algo em seu instrumental acaba incomodando, se tornando algo que deveria ser feito de outra forma, mas os vocais de Pasi Koskinen salvam a música. Como é o seu último trabalho como vocalista da banda, provavelmente você me lerá comemorando a entrada de Tomi Joutsen no ano seguinte, mas nem é demérito de Pasi, mas Joutsen tem uma voz muito superior. De modo geral nem sei afirmar se este álbum é melhor que seu anterior, o morno "Am Universum", temos um tema quase dançante em "Killing Goodness" e outro mais interessante em "God of Deception" até aqui o momento mais interessante do trabalho. A capa de "Far From the Sun" também não colabora para chamar atenção para o trabalho, o excesso de vermelho e a ilustração é de uma pobreza artística decepcionante. Enfim, uma fase em que o Amorphis jogou na série B do metal finlandês, e que pra mim, é um passado a ser esquecido.

 

sábado, 12 de agosto de 2023

20 anos de Impact do Dew Scented!!!


A meu ver, "Impact" foi o álbum que tornou a banda alemã Dew Scented conhecida pelo mundo afora. Segundo trabalho saindo pela Nuclear Blast e quinto dos alemães, este trabalho é violência extrema do início ao fim. É o 'atípico' trabalho que pode agradar fãs de Slayer, At The Gates e Napalm Death, três bandas de estilos distintos. Como de costume, o som não dá descanso, não apresenta nenhuma melodia bonita, é um death/thrash rápido, nervoso, com algumas passagens especialmente gratificantes de se ouvir, como o refrão indecente de "Soul Poison". Se você não gostar das duas faixas de abertura, "Acts of Rage" e "New Found Pain", pode pegar outra coisa pra ouvir, porque elas entregam tudo que você espera de um álbum dos caras. E a maioria delas é assim, mesmo que uma faixa como "Destination Hell" seja menos impactante, o play segue a mesma fórmula em toda sua duração, fazendo com que em alguns momentos você ache o som um pouco repetitivo. Mas se você não liga pra isso, e prefere faixas que não se diferem muito do que experiências desagradáveis em faixas experimentais, então, Impact é um prato feito. A capa não é uma maravilha, preferia ver dois carneiros se enfrentando, mas condiz com o título. Destaques ainda para a poderosa "Down My Neck" com uns "breakdowns" cavalgados sensacionais, e um grande desempenho do batera Uwe Werning. Aliás, ele novamente é quem mais se destaca no play. Os solos de guitarras também são muito bons, rápidos como um raio, ouça "One By One", que solos matadores. Enfim, "Impact" está entre os melhores trabalhos do Dew Scented, e merece uma audição com atenção. E como curiosidade, todos os álbuns da banda têm títulos iniciando com a letra "I". 

 

quarta-feira, 9 de agosto de 2023

20 anos de Dechristianize do Vital Remains!!!


Talvez o maior trunfo da história da banda americana Vital Remains seja a presença do vocalista Glen Benton neste álbum, 'Dechristianize' de 2003 e no seu sucessor, pois Benton é aquele cara que todo fã de metal extremo ama ou odeia, mas certamente conhece, e sempre esteve à frente de uma das maiores bandas de death metal do planeta, o Deicide. Não que os vocalistas anteriores estejam abaixo de Benton nos vocais, pois todos eles foram muito competentes em seus registros, mas a publicidade que a banda ganhou no meio metálico foi muito grande. Sem contar que muita gente diz que só ouve os mais recentes álbuns do Vital Remains justamente por causa do vocalista. Musicalmente falando, "Dechristianize" é uma evolução de "Dawn of the Apocalypse", que também é muito bom. Toda complexidade e brutalidade que encontramos no trabalho anterior estão aqui, mas com uma dose a mais de melodia, especialmente nos solos de guitarra, que são o diferencial neste álbum. Os vocais de Benton estão extremamente guturais gritando todas as blasfêmias que conduzirão sua alma em prantos ao inferno, mas a duração das músicas é um ponto negativo em minha opinião. O som do Vital é muito rápido e extremo para músicas com 7, 8 e 10 minutos, coisas que ficariam perfeitamente condensadas em 4 minutos de selvageria, como ouvimos por exemplo em "Serpents of the Light". Outro ponto que incomoda é aquele som da caixa do batera Dave Suzuki. É um som muito aberto e se fosse mais grave certamente ficaria bem melhor e mais pesado. Independente disso ou da duração das músicas você irá se deliciar com a pancadaria que vem após a intro "Let the Killing Begin" com aquele som "O Fortuna" de fundo (ah Morbid Visions), em especial com a trinca que segue da faixa 4 à 6. "Devoured Elysium", "Saviour To None...Failure For All" e "Unleashed Hell" que tem a frase em português berrada por Benton no início "Vai pro diabo seu filho da puta", e têm os melhores solos e estruturas de todo o álbum. Ouça! 

 

sábado, 5 de agosto de 2023

Morre Cláudio Lopes, um dos fundadores da Dorsal Atlântica!


Cláudio Lopes, baixista que co-fundou a banda carioca Dorsal Atlântica em 1982, faleceu nesta data aos 59 anos. Uma grande perda ao metal nacional.





 

20 anos de ...and in the Forbidden Sky... do Eternal Fall!!!


O Eternal Fall é uma das bandas mais antigas do death/doom nacional, tendo iniciado suas atividades em 1995 em Belo Horizonte, MG, terra do metal extremo nacional. Praticando um estilo que insiste em viver no limbo até os dias atuais, se arrastando como um morto vivo pelos undergrounds, o estilo tem apreciadores fieis que não deixam de desejar o material físico destas bandas em suas coleções, e graças a alguns selos o debut dos mineiros, datado de 2003, foi relançado pouco tempo atrás, com esta nova arte que você confere em nossa página, e o EP "My Little Mahogany Box" de bônus. A clássica obra inicia com "Screams of Souls", uma abertura que tem em sua letra os nomes de quase todas as faixas do álbum, uma bela sacada da banda. Em seguida já temos "Jesus Will Never Come Back", com mais de 7 minutos de obscuridão e muito peso, vocais guturais e o som do baixo bem na cara. A faixa título já é um pouco mais acelerada, mostrando que a banda tinha algumas influências de bandas europeias de death metal em seu som, e não apenas as clássicas podreiras inglesas de doom. O som é muito bem trabalhado e a gravação, mesmo que independente na época, está muito boa. Todas as características dos amantes do estilo permeiam as faixas, desde passagens acústicas e tristes a riffs agressivos. A música "The Innocence of Murder", rebatizada de "The Innocence Killing" no relançamento, começa com dedilhados soturnos e letra falada com vocal grave, e mostra que a banda gosta de diversificar sua música, mostrando facetas variadas que deixam o som mais interessante. Vale destacar a faixa "Hunter", com muitas e insanas mudanças de andamento, em que o batera Luiz desce a marreta e temos alguns do melhores riffs do álbum. Além dela, a melhor faixa, "Cego", cantada em português, um clássico exemplo de música mórbida, com vocais cavernosos sobre um dedilhado triste que logo se transforma em gritos agonizantes com guitarras fúnebres, e a maravilhosa "Regret", que também concorre a melhor faixa do álbum! ...and in the Forbidden Sky... é um álbum lindo, feito com alma, de quem realmente curte o estilo arrastado, e em sua simplicidade representa os amantes da solidão e os perdidos no lado escuro, com muita força. 

 

domingo, 30 de julho de 2023

20 anos de Anthems of Rebellion do Arch Enemy!!!


Após a entrada de Ângela Gossow e o sucesso de "Wages of Sin" que tirou o Arch Enemy do underground para um status mainstream do death metal, a turma liderada por Michael Amott precisava cravar um novo álbum que consolidasse sua imagem, senão dar um passo à frente. E para frustração daquela galerinha que prefere a época em que a banda era conhecida apenas por alguns poucos apreciadores que não se importavam com o vocal de poucas ambições de Johan Liiva, eles conseguiram subir mais ainda no pódio. Com uma arte melhor, a cargo de Niklas Sundin, guitarrista por muitos nos do Dark Tranqüillity, a produção sempre refinada de Andy Sneap e a distribuição competente da Century Media, a banda com a frontwoman carismática e com suas feições agressivas em palco ficou mundialmente conhecida e valorizada. Por gosto individual eu ainda prefiro Wages of Sin, mas "Anthems of Rebellion" também ocupa uma posição de destaque em minha prateleira. Certamente Ângela estava mais segura durante sua gravação e seu desempenho foi além, enquanto os irmãos Amott (Michael e Christopher nas guitarras), Sharlee no baixo e Daniel Erlandsson na bateria, compuseram músicas com mais pompa que outrora, aquele melodic death metal com uma pitada de agressividade acima das demais concorrentes. "Silent Wars" que vem após uma intro estilo aclamação de estádio, já quebra tudo, além de ter uma passagem bem Necroticism, para alegria dos fãs de Carcass. As duas próximas faixas são aquelas que carregam o álbum nas costas, por se tornarem as mais conhecidas, "We Will Rise" com um início mais melódico e um refrão que ecoa na mente por muito tempo, e a fantástica "Dead Eyes See No Future" com riffs assustadoramente potentes e solos curtos e bem elaborados, com uma sugestão de teclados bem discretos no refrão. Destaques ainda para o peso de "Exist To Exist" e as guitarras de "End of the Line", mas a dica é ouvir o play na íntegra, pois ele é sensacional. 

 

quarta-feira, 26 de julho de 2023

20 anos de Sweet Vengeance do Nightrage!!!


Me lembro de acabar de conhecer o Fernando Lima, grande designer e vocalista do Drowned, na Cogumelo, quando ele me perguntou o que eu estava levando pra casa e eu disse que era o novo do At The Gates. Ele fez uma cara de espanto mas logo entendeu a referência, afinal o At The Gates não lançava nada oficial desde o clássico "Slaughter of the Soul" de 1995, ou seja, há 8 anos, e a banda havia encerrado as atividades, deixando muitos fãs órfãos de seu maravilhoso som. O caso é que Tomas Lindberg, a eterna voz do At The Gates era o vocalista do Nightrage neste debut, e o som da banda se assemelhava muito ao som de Gotemburgo. Criada na Grécia pelo ex-guitarrista do Exhumation, Mario Iliopoulos, e com a missão de montar uma nova banda de death melódico que se destacasse na cena, além de um vocalista perfeito para o cargo, ele convocou para o baixo Brice Leclercq, que posteriormente integrou nada menos que o Dissection, e o guitarrista Gus G., famoso pelo heavy e power metal, como Dream Evil e Firewind, culminando anos depois a atuar no line up de Ozzy Osbourne. Como convidados tivemos Tom Englund do Evergrey para os vocais limpos, o produtor e tecladista Fredrik Nordström e o baterista do The Haunted Möller Jensen. Com um time destes, o sucesso estava praticamente garantido. E "Sweet Vengeance" é um baita álbum. A urgência que Lindberg consegue imprimir nas músicas é fora de série, o cara tem um vocal poderosíssimo, arrisco a dizer o melhor vocalista do melodic death metal. De cara "The Tremor" mostra uma rifferama bombástica, um soco na cara pra mostrar quem era o Nightrage. "The Glow of the Setting Sun" começa com mais melodia mas logo ganha velocidade e peso, com um belo trabalho nas baquetas. O som do álbum é totalmente orientado para as guitarras e os solos beiram o heavy tradicional. Temos também algumas mudanças de andamento bem legais como em "Hero" que até então parecia uma mistura de In Flames com Children of Bodom, para entrar um solo inspirado sequenciado de vocais limpos, curtos, fortes e muito bem encaixados. Os teclados são apenas pontuais, apenas para dar uma atmosfera diferente em algumas passagens. Minha faixa preferida é "Circle of Pain", pelas alternâncias vocálicas bem criativas. Grande álbum de algo que começou parecendo um projeto e hoje já soma 9 álbuns, mesmo que as formações não tenham sido constantes. 

 

quinta-feira, 20 de julho de 2023

Bell Witch - Four Phantoms!!!


Quatro músicas, 66 minutos e 28 segundos de duração! Por este resumo bem frio, você pode imaginar que o segundo álbum dos americanos do Bell Witch apresenta um som arrastado, com um riff em câmera lenta que dura dois minutos entre cada nota, e que não importa se você ouve os primeiros 10 minutos ou os últimos porque é tudo a mesma coisa. Mas então alguém vai gritar pra você: SURPRESA!. Porque na verdade os americanos, mesmo sentados sobre o trono funerário de um cemitério no alto de um penhasco do inferno, e evocando todos os espíritos que estão sofrendo e perambulando pelos becos escuros da terra, conseguem alternar momentos frígidos e repugnantes a passagens de uma tristeza solitária impressionante, sem que a bolacha te faça dormir antes do fim da primeira música, que é o medo que todos nós, fanáticos por Doom, temos ao ouvir uma banda que não conhecemos. Este álbum foi lançado em 2015, e a dupla Bell Witch era formada por Dylan Desmond no baixo e vocais, e Adrian Guerra na bateria e vocais. E se você não sabe, e pra ficar ainda mais maluco e curioso, a banda não tem guitarrista. Toda aquela massa sonora é feita com muita distorção num baixo de 6 cordas a cargo de Dylan, e você pode gritar truco, eu também não acreditei de início e precisei fazer uma bela pesquisa para acreditar. E enquanto o baterista Adrian Guerra urra como um Kull numa guerra por território, o baixista canta hinos com sua voz limpa como se estivesse num funeral pronto para atear fogo ao corpo de um guerreiro a caminho de Valhalla. Alguns gritos rasgados e agonizantes permeiam o álbum também, e como o Guerra disse uma vez, os cânticos harmônicos trazem uma vibe mais funeral, enquanto gritos e grunhidos têm uma vibe mais suicida. Uma pena que ele tenha partido desta terra 1 ano após este lançamento, e pouco depois de também ter deixado a banda, aos 36 anos. A banda é de Seattle, e ainda bem que lá não vive só de grunge. Pra quem não sabe, o selo ColdArt Industry lançou recentemente esta pérola no Brasil, mas apenas 200 cópias. Afinal, poucos são aqueles que poderão ter este prazer em sua coleção.

 

quarta-feira, 19 de julho de 2023

20 anos de Signs For The Fallen do Suidakra!!!


Quem conheceu o Suidakra através de "Lupine Essence", "Auld Lang Syne" e "Lays From Afar", como este que vos escreve, certamente ouvir "Signs For The Fallen" com a mente fechada não seria muito agradável. Tudo bem que este é o terceiro e mais acentuado trabalho com aquela influência de death melódico por onde a banda passeou, mas ele não consegue se equiparar aos dois trabalhos anteriores, mesmo porque "Emprise To Avalon" é realmente insuperável. Mas este álbum não é aquele melodeath descarado que os caras fizeram no álbum seguinte, mesmo não conservando nada do black metal de início de carreira. Temos um som extremo e pesado, não muito rápido, mas com as guitarras de Arkadius um ou dois tons abaixo do ideal. Em músicas mais mezzo tempo como a ótima faixa título isso não se destaca tanto mas na porrada de abertura chamada "Revenant" você acaba se assustando ouvindo apenas bateria e vocal, com os riffs em quase terceiro plano e um baixo bem inaudível. Os vocais de Arkadius continuam sublimes, um ogro muito bem representado. Alguns interlúdios são os grandes responsáveis pelo que restou da aura folk, como a instrumental "Threnody" e a acústica passagem de 20 segundos "The Ember Deid". Os vocais limpos de Marcel Schoenen são perfeitos para o som da banda, e trazem belas melodias que enriquecem o petardo sem soar forçado, como muitas bandas fazem, apenas pra dar um toque bonitinho de fundo na escuridão. A arte esverdeada da capa trazendo um Orc sugere algo na linha Tolkien, mas não é a tônica do trabalho, e eu coloriria o fundo com uma cor que destacasse melhor nosso belo personagem. A música "Bound In Charges" é a mais longa e trabalhada, e logo em seus primeiros momentos ouvimos finalmente o baixo (oh glória) de Marcus Riewaldt. "Signs For The Fallen" pode ser um álbum um pouco obscuro na carreira do Suidakra, (culpa-se a divulgação da gravadora por isso) mas certamente, ouvido com atenção, ainda é parte essencial da fase inicial da banda. 

 

domingo, 16 de julho de 2023

20 anos de Enemies of Reality do Nevermore!!!


"Enemies of Reality" é o 5º trabalho dos americanos do Nevermore e inicialmente foi produzido por Kelly Gray (Dokken, Queensryche entre outros), e ninguém gostou do resultado, o que fez com que o álbum fosse para as mãos de Andy Sneap novamente. A arte ficou mais uma vez a cargo de Travis Smith, criando meio que uma identidade própria da banda. A meu ver este é até aqui o álbum mais progressivo do Nevermore, mesmo que a construção das músicas se aproxime daquilo que fizeram em "The Politics of Ecstasy", mas acaba que o instrumental não consegue ser thrash metal, mesmo com toda força que faça pra isso. Na verdade este trabalho está longe de ter a criatividade do álbum anterior, o ótimo "Dead Heart in a Dead World" nem a emoção de "Dreaming Neon Black". Ele soa mais como um trabalho até pretencioso, tocado com velocidade, além de alguns destaques na guitarra, como o solo perfeito de "Ambivalent" ou em "I, Voyager", que é uma das melhores faixas do play. Mas a necessidade de não fazer o óbvio que a banda parece ter adquirido é justamente o que faz deste trabalho um álbum maçante. Os vocais de Dane parecem ter sido criados apenas para se ajustarem ao instrumental, sem muita personalidade nem sentimentos, apesar da balada "Who Decides" ainda tentar me contradizer. Quem consegue ouvir este trabalho duas vezes em sequência é realmente um herói e merece uma medalha. "Seed Awakening", a faixa que encerra o play também merece alguma atenção, pela energia e alguns vocais mais extremos. Se você conhece pouco da banda, não comece por este trabalho.

 

domingo, 9 de julho de 2023

20 anos de Butchery Age do Drowned!!!


Terceiro trabalho oficial (2º full) dos mineiros do Drowned, Butchery Age mostrou que a banda não estava para brincadeira, e aproveitaria ao máximo o contrato com a Cogumelo para colocar rapidamente algumas pérolas no mercado. Após o sucesso de "Bonegrinder" e "Back From Hell", EP que serviu para manter relevante o nome da banda, "Butchery Age" de 2003 chegou carregado de expectativas. Com uma bela arte, novamente a cargo de Quinho, e mantendo a mesma formação, este trabalho serviu para consolidar o nome dos mineiros no cenário nacional, e a banda ganhou ainda mais prestígio em locais como o nordeste. Em entrevista ao Metal e Loucuras, Marcos Amorim contou que a ideia era fazer o álbum mais rápido e brutal que conseguissem, e a pré-produção deixou o trabalho condensado em pouco mais de 20 minutos de duração, e foi quando a banda resolveu parar e incluir novas ideias para que não ficasse tão direto. O resultado é que este álbum é o trabalho com mais melodias de guitarras até então, porém com muitos riffs, bem próximos do death melódico, além de um trabalho bem agressivo de bateria. O tempo entre as músicas quase não existe, o que dá um sentido de maior urgência na agressividade. Outra característica é que os vocais de Fernando Lima continuam variando entre o gutural e o rasgado, porém a meu ver, este foi o álbum do Drowned com mais vocais rasgados até os dias de hoje. O trabalho de guitarras está com novas e excelentes ideias, algumas passagens fazem com que nossas orelhas de elfos se estiquem em direção às caixas acústicas, como por exemplo naquela guitarra solada que entra com mais ou menos 1:20 da primeira e melhor faixa, "Butchery Age Has Come", e nas bases de "Massacre Is Justice" com riffs empolgantes, e no início de "The Peace Comes To Destroy". Já "Cry Your Dead Away" parece ter saído direto de "Bonegrinder" com aquela melodia mais simples e a adição dos vocais limpos de Marcos. Particularmente falando, hoje eu consigo ver (e ouvir) este trabalho com muito mais interesse que 20 anos atrás, por isso pra mim ele envelheceu surpreendentemente melhor que a maioria dos petardos do Drowned. Excelente!!!

 

segunda-feira, 26 de junho de 2023

20 anos de Engraved in Black do Graveworm!!!

 


O Graveworm da Itália continuava sua saga em 2003 com seu quarto trabalho de estúdio, agora contratados pela Nuclear Blast, podendo alcançar um público maior e engrandecer seu nome que já era cultuado no underground. Musicalmente falando, "Engraved in Black" é menos black metal que os trabalhos anteriores, passando a incorporar uma aura gótica e passagens bem mais pesadas e próximas do dark metal. Os vocais de Stefan Fiori ainda são rasgados na maioria das vezes, mas agora ele segura o gutural com muito mais intensidade. O instrumental também carrega passagens mais atmosféricas e os momentos de explosão estão mais escassos agora. Eu, particularmente, prefiro esta nova roupagem, e tenho dificuldades em escolher entre este álbum e seu sucessor (N) Utopia, como preferido, mesmo porque eles têm um diferencial em que o álbum de 2003 ainda preserva muita coisa de black melódico e o sucessor tem uma veia gótica superior. Um dos destaques aqui é a faixa "Drowned In Fear", que começa de forma bombástica, com os vocais alternados entre rasgados e guturais, e não poderia deixar de lembrar outra banda que eu simplesmente amo, que são os alemães do Agathodaimon. Inclusive tem uma parte de guitarras lá pelos 2 minutos e meio que se não foi literalmente chupada do Chapter III eu troco de nome. Mas não importa, o mundo está cheio de coincidências. O que diferencia um pouco a sequência é a instrumental "Thorns of Desolation", com suas flautas e gaita de foles, ela poderia estar em um álbum do Grave Digger. Mas se você quiser se apaixonar mesmo por este álbum, ouça a faixa de abertura "Dreaming Into Reality". Simplesmente sensacional carregando todas as características do trabalho, com agressividade e melodia super equilibradas. Outro ponto certeiro da banda, foi a arte da capa, com o cemitério à frente de uma construção similar a uma igreja, totalmente desenhada, como a boa arte pede. Perfeito!