domingo, 29 de dezembro de 2013

Gottverlassen

Os anos de 95 e 96 parecem que foram derradeiros para algumas das maiores bandas brasileiras, pois muitas lançaram seus últimos álbuns nestes anos. O The Mist de Belo Horizonte apresentava ao mundo Gottverlassen. Após a saída do vocalista Korg a banda soltou o EP Ashes To Ashes, Dust To Dust em 1993, com o baixista Marcelo Diaz assumindo os vocais e a banda enveredando para um lado mais industrial. Mas em 1995, com Marcelo sendo substituido por Cassiano, a banda lançou seu disco mais pesado, com as letras falando de coisas mais negativas que as letras mais poéticas de outrora. O nome do trabalho, que traduzido é abandonado por Deus, foi tirado de um livro chamado "O Sapateiro", que conta a história de um serial killer. Para a capa do álbum o guitarrista Jairo utilizou seu filho como modelo fantasiado de canibal, o que ficou muito legal. O disco começa com a faixa "Fangs of a Pig", um thrash porrada que mostra que o grupo não estava para brincadeira, pois a produção estava perfeita para a época. "Drop Dead" vem na sequência, mais cadenciada e pesada e "Godforsaken" é mais uma porrada com riffs de guitarra matadores, principalmente na parte final da música. Depois de uma passagem instrumental chamada "Cannibalism" vem "Switch Off The Body Suckers" e em seguida uma obra prima chamada "Jesus Land". Iniciada com a voz de uma criança dizendo "Lord moves in mysterious way..." um peso de guitarras descomunal sai dos falantes. Excelente riff de Jairo e performance também perfeita de Cassiano nos vocais desta música.

"Untie Me" segue com um trabalho de guitarra diferente e vocais falados que se alternam com partes mais agressivas que até lembram o Fear Factory em Demanufactore. Na sequência vem uma pancadaria tremenda com Pump, também uma de minhas músicas favoritas em Gottverlassen. Com riffs cavalgados e os vocais roucos muito bem colocados de Cassiano é daquelas músicas que nos fazem pensar: como uma banda destas não estourou no exterior? Não só por este trabalho mas por tudo que ela fez anteriormente. "Jailmind Man" inicia no baixo e descamba para um thrash cadenciado e pesado de mais de 6 minutos. E as três últimas porradas são "Eyes", "Devilscreen" e "Breath Of Nothing". Excelente e derradeiro álbum de uma banda fantástica que não deveria ter acabado tão cedo.

domingo, 22 de dezembro de 2013

Scars

Um dos melhores e menos conhecidos álbuns do Overdose, o Scars de 1995, último álbum desta grande banda de Belo Horizonte. Gravado no Brasil e novamente produzido por Gaugin, juntamente com Claudio e Sergio, Scars segue uma tendência mais americana, com músicas mais curtas e diretas, diferente do anterior "Progress of Decadence" com músicas mais longas e solos mais elaborados, como pede o thrash metal tradicional. O que o Overdose manteve em seu som oriundo do disco anterior foi a percussão, agora melhor incorporada ao som dos demais instrumentos. Um dos motivos de Scars não ser tão conhecido é o fato de ter demorado demais para ser lançado no Brasil. O play, lançado pela Fierce no exterior, era encontrado apenas importado àquela época. As novas músicas funcionaram perfeitamente ao vivo, tornando o Overdose daquele período uma das bandas mais poderosas do Brasil no palco. Me lembro do show de abertura para o Megadeth no estacionamento do Mineirão em 1997 em que eles detonaram. Após o show conseguimos pegar um autógrafo com Cláudio David e quando estávamos trocando uma idéia uma fã apareceu e perguntou se poderia lhe dar um beijo. Digamos que ele foi praticamente atacado, então nos afastamos e deixamos a tietagem de lado, hehe.
                                     
Minha faixa preferida é "How To Pray", com um riff de guitarra excelente, um baixo pulsante novamente a cargo de Eddie Weber que substituiu Fernando Pazzini e um refrão matador. Ótima música. Outras canções sensacionais de Scars são "Still Primitive", "School", "Postcard From Hell" e "My Rage". "Last Words" é uma daquelas músicas que misturam partes melódicas e partes mais agressivas que funcionam tão bem no thrash metal (vide Metallica, Pantera e Testament que já fizeram isso com perfeição). O desfecho do CD com "Nu Dus Otro é Refresco" ficou muito engraçado (principalmente no final quando alguém grita ow essa marmita aí é minha - hehehe), muito legal. A capa de Scars trás uma luta entra soldados e militantes do movimento dos sem terra, algo muito em voga naquela época (e que continua, porém em menor repercussão). É uma pena que este disco seja o último lançamento do Overdose e a banda tenha se dissolvido depois de algum tempo. Ainda aguardamos uma reunião, o que vai ficando cada vez mais distante à medida que o tempo passa. Mas enquanto aguardamos temos uma coleção de álbuns maravilhosos desta que é uma das melhores bandas que já passaram pelo Brasil.

domingo, 15 de dezembro de 2013

Straight

E a Dorsal Atlântica seguia firme sua saga. O ano era 1996 e a banda resolveu apostar todas as suas fichas neste álbum. Após o excelente Alea Jacta Est o baixista e irmão do líder Carlos Lopes, Cláudio Lopes, deixou a banda para a entrada de Angelo Arede, que tocava em uma banda de death metal. Por isso talvez os backing vocals aqui tenham ficado tão guturais. Straight foi gravado na Inglaterra no Rhythm Studio e produzido por Paul Johnston, e masterizado no Polifonia em Belo Horizonte. O disco foi lançado pela Cogumelo assim como o disco anterior e apresenta um som muito bem produzido e direto como o próprio nome sugere.
As músicas são mais curtas e se aproximam mais do hard core, através das letras sempre políticas de Carlos "Vândalo", agora vegetariano, e proporcionaram uma turnê bem estruturada pela Europa. Justamente a música de maior duração é a única faixa ruim do disco, "Mothers of Tomorrow" com seus três minutos, não chega perto das demais composições que estão extremamente brutais. Uma das melhores faixas é "Who The Fuck Do You Think You Are", cantada por Rat da banda Varukers e ficou sensacional. A Gutural "Black Mud" também é excelente e outras que se destacam são "Sign of the Times", "Straight", "Dor" (em português), "H.I.V.", "Bollocks" e "Blood Pact". Guga também segura a onda muito bem na batera novamente. Pena que a banda praticamente desapareceu após este álbum, lançando trabalho de inéditas só recentemente, 16 anos depois. Grande trabalho de uma das bandas pioneiras do metal nacional. 

sábado, 7 de dezembro de 2013

Hate

Sarcófago sempre foi uma banda polêmica, devido à personalidade de seus principais membros Wagner Lamounier e Gerald Minelli. Em 1994, pós o sucesso de The Laws of Scourge eles resolvem chutar o balde. Agora uma dupla, gravam Hate com bateria eletrônica, uma aberração para a maioria dos fans de heavy metal. Além disso rasparam a cabeça e decidiram não tocar mais ao vivo. Muitos viraram a cara para a banda. Mas a essência está presente em Hate, e é um álbum que deve ser apreciado sim, principalmente em se tratando de uma banda tão arrasadora e com discografia tão curta. Após uma introdução estranha entra "Song For My Death", mostrando que a bateria eletrônica foi para esculhambar com a velocidade mesmo. Guitarra cortante e pesada, baixo pouco audível e o vocal de Wagner muito bem, rasgado no mais puro estilo black metal. O que muda destas características entre as músicas são a cadência e velocidade da bateria, os backing vocals espalhados por todo lado, incluindo de Marcos do saudoso Divine Death, e os teclados que foram essenciais para dar aquela camada maquiavélica de fundo.

"Pact of Cum" com toda sua temática sexual mostra que a bateria programada, quando tocada em velocidade humana, pode ser legal, já nas partes ultra rápidas nem tanto, pois esta música alterna claramente estas duas formas. "The God's Faeces" é uma das melhores do álbum, refrão simples e forte. "Satanic Terrorism" é uma pancadaria pura, estilo "Deathrash" do INRI e parece uma homenagem ao pessoal do Inner Circle, já que Wagner andou trocando cartas com Euronymous, lider do Mayhem da Noruega. Depois vem "a" música. Essa é de dar gosto, daquelas que é obrigatório aumentar o volume: "Orgy of Flies". Música perfeita, poderia fazer parte de The Laws. A faixa título começa com uma desafinada canção gospel no piano até que alguém com muito ódio esgana o cantor, quebra tudo e começa a pancadaria. Pouco mais de dois minutos sem tempo pra respirar. "The Phantom" e "Rhabdovirus (The Pitbull's Curse) podem ser comentadas juntas. É o que já falei anteriormente. A primeira parte de cada uma delas não chama a atenção por nada, é só pancadaria com a bateria ao extremo (e mal programada diga-se), mas a segunda parte, em "The Phantom) bem arrastada com o teclado em alta e na "Rhabdovirus" num ritmo bate cabeça natural, elas passam a ser excelentes músicas. Acredito que o Sarcófago foi muito afoito para fazer este álbum com um instrumento que não teve muito tempo de ser entendido e bem explorado. Se fosse, Hate teria sido melhor aceito pois tem músicas de muita qualidade e uma dupla ainda com muito ódio para transformar em arte. "Anal Vomit" vem em seguida bem cadenciada e pesada e Hate é fechado com algo na mesma linha da intro, um troço sem sentido e dispensável. Vou ficar com o som da privada no desfecho de INRI que é muito mais legal. Mas se você é daqueles que parou de ouvir Sarcófago em The Laws of Scourge e acha que o que veio depois não vale a pena, dê uma conferida neste play. Arrependimento é uma palavra que você não dirá depois.