Eis que de Governador Valadares, no interior mineiro, em 1993 surge o pioneiro brasileiro do estilo "A Bela e a Fera", ou Gothic Metal com vocais guturais e femininos. E nenhuma banda nacional ainda conseguiu superar a obra do Silent Cry, principalmente este debut de 1999 chamado Remembrance. Tristeza pouca no som dos mineiros é bobagem, o negócio aqui é a melancolia mesmo. Não é a toa que na demo "Tears of Serenity" a banda já apresentava influências de Anathema daquela mesma fase. Me lembro até hoje de ter presenciado o Wilson Júnior da Demise Records comentando que o som do Silent Cry era lindo, só ouvindo pra saber como era. Ele estava vendendo seu peixe pois estava prestes a lançar este que seria o sétimo trabalho da gravadora, mas não estava mentindo de forma alguma. A começar pela arte da capa criada pelo inglês Sandy Gardner, com aquela mocinha indefesa sozinha em uma floresta escura.
A instrumental "Forgotten Dreams" abre o trabalho de forma brilhante, onde os teclados dão a tônica da canção que é muito agradável e é uma mostra do que está por vir, a bela "Tragic Memory", que nos dá a noção do belo trabalho do tecladista Bruno Selmer. Os vocais guturais do lider guitarrista Dilpho Castro estão um pouco baixos, mas nada que comprometa, é aquele gutural arrastado (assim como o som). Neste debut o som é doom mesmo, nada de canto lírico e orquestrado como bandas como Nightwish e Tristania fariam depois, a onda é a mesma do Theatre of Tragedy e a voz de Suelly Ribeiro é um caso à parte. O Silent Cry teve sorte e competência por ter uma voz tão bela em seus primeiros álbuns, o que foi em parte responsável pelo crescimento da banda. Ouçam a menina cantando em "Celestial Tears" que entenderão o que estou falando. Mas de preferência à noite em um quarto escuro tomando uma taça de vinho. "Ages" é menos densa, pois começa com as guitarras choradas de Dilpho e Cassio Brandi em primeiro plano. "My Last Pain" é a menor das faixas com vocais, com apenas 2:50. Depois vem "The Devil Invites To Dance", bem doom, dando uma "clareada" quando entra a parte acústica e a voz triste de Suelly. "Innocence" é uma das mais belas deste trabalho onde a garota até canta de uma forma um pouco diferente e os vocais guturais são acompanhados dos vocais limpos de Cassio Brandi, o que ficou bem legal, e já sugeria que o próximo trabalho teria menos vocais agressivos. "Remembrance" de quase oito minutos fecha o álbum com mais vocais limpos no início, e é a faixa menos pesada do play, bem viagem mesmo. Completam a formação o baixista Jaderson Vitorino e o baterista Ricardo Meirelles. Uma pena que justamente os dois integrantes que mais se destacaram nesta formação do Silent Cry não permaneceram por muito tempo. Suelly só gravaria mais um álbum com a banda por causa da distância (ela vivia em São Paulo), e Bruno Selmer que nesta época tinha apenas 17 anos gravaria mais um álbum e um EP e deixaria a banda em 2002, cometendo suicídio em 2004, aos 21 anos. Uma enorme perda para o metal nacional. O que torna a audição de Remembrance algo ainda mais melancólico.
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