domingo, 23 de fevereiro de 2014

Posthumous


O Genocídio de São Paulo já havia lançado alguns trabalhos e dois full lengths, inclusive o bom Hoctaedrom de 1993, quando em 1996 soltou este ótimo Posthumous. E saindo um pouco do death metal de raiz de outrora e entrando no universo doom/gótico sem perder a base death metal, lançou o trabalho considerado mais original e interessante de sua discografia. Claro que o sucesso que a trindade absoluta do doom (Anathema, Paradise Lost e My Dying Bride) vinha alcançando ajudou a banda a enveredar por este estilo, porém o Genocídio já era uma banda consolidada no cenário nacional, e tendo a experiência de seu guitarrista fundador Wanderley Perna, deixou o trabalho com a cara da banda e muito criativo. Cada música tem sua peculiaridade, inclusive os covers que ficaram muito bons, tanto "Black Planet" do Sisters of Mercy com os vocais narrados de Murillo Leite, quando a hidden track "Agressor" do Hellhammer, a mais extrema do trabalho.
Um dos destaques do disco é a faixa de abertura "Pilgrim", que começa no baixo e descamba para um riff de guitarra muito legal. O que mais chama a atenção neste trabalho é a afinação das guitarras que está lá embaixo, o que poderia ser um tiro no pé, mas você se acostuma à medida que o álbum vai rolando e chega em um momento que nem chama mais a atenção, pois as nuances das músicas pedem por isso, quando os outros instrumentos se destacam, ou até mesmo um vocal sussurrado. Exemplo claro é a faixa "Condemnation" com dedilhados, solos e a bateria de Juma se destacando bastante. "Lilit e Nahemah" , "The Sphere of Lilit" e "The Sphere of Nahemah" são músicas que se completam, não é a toa que aparecem na sequência, com destaque para as vozes de Murillo e o baixo de Daniel na segunda e para os solos desta última, muito bem encaixados na estrutura da música. "Black Depth" é uma das mais pesadas, com um refrão que fica na cabeça, e um gutural extremo. "Luciferic Man" também tem um bom trabalho de guitarras e mostra que até mesmo nas músicas mais death metal do disco as influências góticas aparecem com muita naturalidade. "Goodbye Kisses" é uma faixa melancólica tocada no violão e violino, cantada por Irene Sailte, e ficou muito legal, algo que o Genosha até repetiria no próximo álbum. "Cloister" segue com boa pegada enquanto "Ways" é uma das músicas mais bonitas do CD, com ótima melodia, e um final alucinante. "Illusions" fecha de forma extrema o trabalho (antecedendo a faixa escondida). O Genocídio apesar de sua discografia não tem a atenção merecida do público brasileiro, talvez até pela diversificação de sua obra. O que importa é que a banda nunca teve medo de ousar, lançar trabalhos medianos acontece com várias bandas, mas nem todas conseguem registrar uma obra de arte que será ouvida por muitas gerações. Mas o Genosha conseguiu isso com Posthumous, ousou e se saiu muito bem.

domingo, 16 de fevereiro de 2014

Bonegrinder


No início deste século o metal mineiro estava em baixa. Belo Horizonte que era considerada a capital do metal assistia seus pioneiros encerrarem atividades ou permanecerem no ostracismo, enquanto outros mercados como o paulista e o gaúcho ganhavam mais espaço. Então foi necessário que alguém levantasse a bandeira e quebrasse alguns ossos para que a mídia novamente voltasse sua atenção para Minas. E este alguém foi o Drowned, com seu álbum de estréia "Bonegrinder" em 2001. A banda que foi criada em 1994 e que chamou atenção com sua demo "Where Light And Dark Divide..." lançada em 1998, entrou no estúdio Música & Cia com Eugênio Dead Zone (Sarcófago entre outros) para conceber este artefato. A arte da capa, criada pelo caricaturista mineiro Marcos Ravelli (Quinho), que remete ao clássico Pleasure To Kill do Kreator, ficou muito legal. E a música de Rafael Porto e Marcos Amorim (guitarras), Beto Loureiro (bateria), Rodrigo Nunes (baixo) e Fernando Lima (vocais) impressiona pela técnica e entusiasmo.


O death/thrash começa quebrando tudo com "Who Is The King?", onde de cara o peso das guitarras, a bateria socada de Beto e o baixo técnico do monstro Rodrigo Nunes dão o cartão de visitas para que os vocais de Fernando grite "Quem é o Rei?" Os vocais alternam entre rasgados e guturais e o som é rápido em alguns momentos e mais cadenciado em outros, mas sem deixar o pique cair, pois a empolgação vai até o final, com exceção da instrumental Blood Sand. Ficar citando faixas aqui é bobagem, todas estão em alto nível, mas algumas coisas se sobressaem como a parte que antecede o refrão de "Men Who Break Bones" e o próprio refrão que é muito bom, e o mesmo acontece em "Spiritual Force To Kill" onde até um pouco de vocais limpos aparecem. "Words From The Pit" é sem comentários, uma quebradeira do começo ao fim e minha preferida neste trabalho. Tive o prazer de ir a um show da banda no Lapa logo após o lançamento de Bonegrinder, onde grandes nomes do metal nacional estavam presentes como Torture Squad e Nervo Chaos e confesso que o Drowned foi o destaque da noite. Era o Drowned garantindo a qualidade do metal mineiro em alta!

domingo, 9 de fevereiro de 2014

The Way Of Regret

O Eternal Sorrow foi criado em Curitiba em 1994 com a proposta de fazer um doom metal arrastado no estilo britânico que cresceu naquela época encabeçado por bandas como Anathema e My Dying Bride. Depois de uma demo em 95 e da participação na coletânea The Winds of a New Millenium da Demise Records,  a banda lançou seu debut por esta mesma gravadora em 1998. Contando com os membros Julio (vocais e teclados), Adriano (bateria), Mauricio (baixo) e Anderson e Gustavo (guitarras) e gravação no estúdio da Clínica em Curitiba, o Eternal Sorrow é um dos precursores deste estilo no Brasil e talvez tenham lançado uma de suas obras mais significativas.
  A primeira faixa título com seus sete minutos de cara ganha os fãs de Anathema da fase Serenades, com seu andamento arrastado, vocais urrados e uma camada de teclados aqui e ali para dar o clima mórbido que o estilo exige. "Final State of Depression" segue na mesma linha e o interessante é que mesmo o CD sendo homogênio não fica cansativo nem parece que está tocando a mesma música 10 vezes, como acontece com as bandas que não são autênticas deste estilo. "Lonely Sufferance" segue mostrando todo peso e distorção que as guitarras imprimem ao trabalho. Com um início melancólico "Dreams of Reality" chega com seus vocais ultra urrados, faixa já conhecida desde a coletânea "The Winds" com umas paradinhas bem legais com os teclados com efeito de corais. É a melhor faixa de "The Way of Regret". Após a instrumental "Memories"  vem "Funeral Waltz" bem arrastada com os teclados acompanhando e os vocais chegam a ficar rasgados em alguns momentos. Esta faixa tem um trabalho de guitarras bem legal, com algumas mudanças interessantes. "The Twilight of Life" apresenta alguns vocais femininos, assim como Paradise Lost havia feito em "Gothic". "My Silence" é outra instrumental com dedilhados que lembra algo de Katatonia do início, muito bem feita por sinal. A faixa "Shadow of a Sorcerer" é a mais rápida do CD, podendo ser classificada como dark metal e mostra versatilidade. Depois disso o Eternal Sorrow gravou mais um álbum em 2002 e nada mais, apesar de ainda estar ativa. Já passou da hora de nos brindar com mais um artefato melancólico como este.

domingo, 2 de fevereiro de 2014

The Dance of the Satan's Bitch


Eis que em uma terra chamada Jaboatão dos Guararapes, da região metropolitana de Recife em Pernambuco, segundo maior município do estado com uma população superior a 670.000 habitantes, surgiu uma das mais ferozes bandas do black metal nacional, em 1993. Depois de demos e eps conseguiu lançar pela novata Demise Records, de propriedade de Wilson Junior do In Memorian, seu primeiro full length, intitulado "The Dance of the Satan's Bitch". A banda, que na época tinha 7 (?) integrantes, mas que hoje é apenas um trio, ainda se mostrava bastante inexperiente quando gravou seu debut. Mas o fato é que a garra com que foi gravado mostrava que a banda veio pra ficar, e não apenas para lançar um álbum para satisfação do ego e sumir do mercado. Misturando letras em português, inglês e até castelhano,  as músicas são esporrentas no geral e melódicas na hora certa. 
A tecladista e dona dos vocais limpos Daniela Nightfall tem um sotaque pernambucano carregadíssimo, ouçam "Reverência ao Bode" que fecha o trabalho que perceberá facilmente isto. "Canção em Lua Negra de Averno" é um dos destaques, cadenciada, com os teclados em evidência e os vocais bem rasgados de Lord Nightfall. Já em "Poderoso Sangue De La Serpiente" ouvimos influência dos primórdios de Rotting Christ, da época de "Passage To Arcturos", provavelmente uma das fontes de inspiração do Malkuth. Os vocais em algumas músicas já revezam entre o rasgado e o gutural e as bases de guitarra, principalmente em "The Great Black Goat God (The Lord of the Flies)" poderia estar no EP Rotting do Sarcófago tranquilamente.
Não levando em consideração a gravação que não é perfeita, com o teclado ficando mais alto que os demais instrumentos em algumas partes e a insegurança de Daniela para cantar em inglês, este play é um dos registros de black metal mais legais já lançados por uma banda brasileira. Difícil de encontrar mas vale a pena ir atrás.