sexta-feira, 17 de abril de 2020

Entrevista com Ode Insone


Às vezes aquilo em que acreditamos acabam por nos contradizer. O Doom Metal, estilo caracterizado por sentimentos melancólicos, música que reina na terra da tristeza, quase sempre associado ao escuro e frio de nossas mentes, é muitas vezes relacionado a regiões de mesmo clima. Mas na contramão deste pensamento, temos várias bandas se destacando na região mais quente do Brasil, o Nordeste. E é de João Pessoa na Paraíba a banda Ode Insone, que foi criada há apenas 2 anos e que vem chamando a atenção dos amantes do Death/Doom/Gothic, após lançar o maravilhoso debut "Relógio" e agora com o excepcional "A Origem da Agonia" que saiu em mídia digital e em breve também na versão física. Com a palavra o vocalista Tiago Monteiro.


M&L – Primeiramente gostaria de saber se vocês têm noção da popularidade que a banda conquistou com o álbum “Relógio”.

Tiago – Acho que não totalmente, a internet tende a ser uma ferramenta facilitadora muito forte, torna-se um pouco difícil imaginar até onde o nosso som chegou, e como as pessoas reagiram. Mas recebemos muitas mensagens positivas, de boa aceitação em vários locais diferentes. Recentemente fizemos uma turnê no Nordeste e foi muito legal ver que já tínhamos um público forte em estados que nunca havíamos tocado até então.

M&L – O reconhecimento do Ode Insone (que vem crescendo) veio muito rápido. A banda se formou em 2018 e no mesmo ano gravou Relógio, seu debut. Sabendo que você também faz parte do Aporya, algumas ideias já vêm antes da formação do Ode Insone ou tudo foi feito a partir dali?

Tiago – Tudo iniciou com um desejo meu de produzir em português, inicialmente pensei em um material inédito da Aporya, mas acabei optando por criar um novo projeto. Falei dessas ideias com o Mad Ferreira, um guitarrista que sempre admirei bastante e uma excelente pessoa, juntos começamos do zero o esboço do álbum e corremos pra finalizar. A ideia era lançar um debut e em seguida lançar o segundo álbum em 2019, literalmente corremos contra o tempo e o álbum ‘Relógio’ foi lançado no último dia do ano de 2018. 



M&L – Aproveitando que estamos falando do início, a qualidade encontrada em Relógio é à altura de músicos experientes. Qual a trajetória dos demais membros?

Tiago – Todos nós temos outras bandas ativas, de outros gêneros. Porém todas são relativamente recentes, de 2013 em diante. Até porque somos de uma geração "mais nova", todos na faixa dos 25-19 anos. Mad Ferreira que é o guitarrista e também co-fundador da banda foi o responsável pela produção, mix/master e afins. Mesmo não tendo muita experiência ele meteu a cara e conseguiu um ótimo resultado. Da mesma forma eu produzi as artes do álbum, como foi um trabalho "sem planejamento prévio", produzimos tudo em casa, do jeito que dava e felizmente o resultado foi bem legal. Segue a lista dos projetos ativos de todos atualmente:

*Tiago Monteiro [voz] - Aporya (Doom) ; Flamenhell (Death/Thrash)
* Mad Ferrera [guitarra] - Sea of Monsters (Hardcore/Metal)
* Lucas Souza [guitarra] - The Unknown’s (Deathcore)
* Diego Nóbrega [baixo] - Crânio (Thrash)
* George Alexandria [bateria] - Vermgod (Black Metal)


M&L – Relógio foi lançado em mídia física por vários selos (Tales From The Pit – Kaotic Records – Eclipsys Lunarys – Sonare Funeris – Trevas Nacemos e Totem). Como foi esta parceria?

Tiago – Eu já conhecia o Leandro (Eclipsys Lunaris) e o Filipi (Tales From the Pit) em razão do
lançamento do primeiro álbum do Aporya , o Dead Men Do Not Suffer (2017). Os demais selos envolvidos tive uma proximidade maior através deles, inclusive, através deles conseguimos muita visibilidade. Então agradecemos imensamente aos dois pela força, e também aos novos amigos dos demais selos.


M&L – Um ano depois vocês retornam com “A Origem da Agonia”. Pelo visto vocês não deixaram o relógio parar.

Tiago - Verdade! Temos muita facilidade pra compor, e como produzimos nós mesmos em casa, isso ajuda. Não temos um estúdio profissional a disposição mas o Mad está cada vez melhor na produção sonora, mix/master é com ele mesmo! A ideia de correr contra o tempo em 2018 foi porque sabíamos que poderíamos preparar algo legal também em 2019. Pretendemos, se possível lançar um material por ano, até onde conseguirmos. As vezes sobra ideias mas falta tempo.


M&L – Uma arte da capa mais elaborada já chama a atenção, mas quanto ao som, quais as principais diferenças você destaca em relação ao debut?

Tiago – Utilizamos mais coros, teclados, diferentes ambientações, e também a inclusão de mais vocais limpos. Também exploramos mais outros gêneros, tivemos mais tempo para a produção, pudemos sentar com mais calma e sentir o que cada música precisava. Também houveram participações, Amanda Lins (Seeds of Destiny), Rodrigo Barbosa (Soturnus) e Luiz Eduardo Viana (Vermgod).

M&L – Temos alguns convidados para os vocais no álbum, mas eu destaco a linda voz de Amanda Lins em “Valsa dos Infelizes”, que para mim, já é uma das melhores músicas do Ode Insone. Como chegaram a ela?

Tiago – Conheço a Amanda faz um tempão, já dividimos palco algumas vezes. Eu também organizo shows e eventos aqui na cidade, inclusive um totalmente voltado ao Doom chamado 'Doom Over - João Pessoa', na primeira edição rolou Seeds of Destiny, Aporya, Soturnus e Under the Gray Sky. Além de ser fã do trabalho dela, também admiro muito ela como pessoa, fico muito contente pela participação no disco.


M&L – Por que cantar em português? Esta foi a intenção desde o início?

Tiago – A ideia sempre foi essa, criamos o projeto com essa proposta. Sempre gostei muito de Metal cantado em português, e sempre quis produzir também. Bandas como Harppia, Salário Mínimo, Metalmorphose e Stress sempre me deixavam admirados. Em inglês existe apenas os covers que gravamos para os CDs Tributos que fomos convidados. No caso, ‘If Forever’ do Novembers Doom e ‘My Wine in Silence’ do My Dying Bride.


M&L – “A Origem da Agonia” ainda é encontrado apenas em mídia digital. Há planos para lançá-lo em formato físico?


Tiago – Sim, será lançado em parceria com selos já parceiros, como o Tales from the Pit e o Kaotic Records. Muito em breve estará saindo do forno.


M&L – Aproveitando o gancho da pergunta anterior, você é um cara da nova geração. Você vê importância nos lançamentos físicos ou acha que o formato digital já cumpre seu papel? Digo isto porque sendo mais velho, mesmo tendo tudo para ouvir via internet, sinto muito mais prazer com a mídia física em mãos.


Tiago – Desde os meus 14 anos frequento lojas de disco, especialmente a Musica Urbana, aqui em João Pessoa é conhecida como ‘O Templo’. Ela é um ponto de encontro da cena. Então, coleciono muitos discos, também adquiro em shows Undergrounds ou trocas com outras bandas, acho que consumir esses materiais é o que mais fortalece as bandas. Afinal, tudo é investimento financeiro, e basicamente todos nós produzimos tudo isso por amor...bandas, zines, sites, produtores... então, acho que é essencial consumir discos, a Internet ajuda muito na divulgação das bandas. Mas sempre é mais legal ajuda-la a se manter ativa.

M&L – E a banda continua a toda. Esta semana ouvimos a nova música Autoquíria, com participação de Alex Voorhees do Imago Mortis que ficou bem nervosa. Fale sobre ela.


Tiago – Sempre admirei muito o Imago Mortis e o trabalho do Alex, um dia tomei coragem pra falar com ele e fazer o convite, ele foi muito receptivo e gente boa, então agradeço demais a força que ele nos deu. É um registro que tenho orgulho e será lançado como bônus na versão física do álbum.


M&L – Não poderia deixar de falar sobre a fase atual. Como você vê e no que a banda é afetada com esta epidemia do Covid 19?


Tiago –Acho que é um momento de muita precaução, o ideal é todos evitarem o máximo possível a circulação para que o vírus não contamine mais pessoas. Talvez essa quarentena atrapalhe a gravação do nosso terceiro álbum. Estamos trabalhando para o lançamento ocorrer em 2020, o conceito, letras e 70% do instrumental já está criado. Mas agora estamos impossibilitados de nos reunir, dependendo do desenrolar da coisa, talvez fique pra 2021. 


M&L – Obrigado por dispor de seu tempo conosco. Por favor deixe suas considerações finais.

Tiago –Eu quem agradeço bastante a oportunidade, todos nós ficamos bastante gratos pelo seu apoio em ceder um espaço pra gente. Gostaria de ressaltar que atitudes como a sua é o que mantêm o Underground girando. Parabéns e desejo tudo de melhor! Stay Doom!! 


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