Para quem começou a ouvir metal em 1992, viveu a incrível expectativa pelo lançamento de Chaos A.D., que ouviu até rachar os alto-falantes, que se decepcionou com o direcionamento Nu Metal de Roots, quase teve um infarto ao ver a notícia da saída de Max na capa de um jornal numa banca de rua, e se decepcionou mais ainda ao tentar gostar de "Against" e "Nation", tudo isso culminou em desprezar totalmente o lançamento de "Roorback" em 2003. Tudo bem que desde então ouvi uma ou outra música deste trabalho, mas verdadeiramente é como se o estivesse ouvindo pela primeira vez para escrever esta resenha. A primeira impressão é a de que a falta de uma segunda guitarra no som do Sepultura faz uma diferença monstruosa. Fazendo uma analogia estranha, ouvir Arise ou Beneath é como encarar um monstro mal e raivoso, enquanto "Roorback" ainda pareça um monstro, porém velho e cansado, sem conseguir afastar os inimigos de seu território sagrado. Obviamente a culpa não pode ser direcionada a Derrick Green. O monstro inteiro envelheceu. Ouvindo Metallica hoje, com o vocal de James soando muito desgastado, ainda temos uma banda criando boas músicas em função de seus novos limites vocálicos, coisa que o Sepultura não soube fazer nestes 3 primeiros trabalhos sem Max. Podemos dizer que é um álbum hardcore com influências tribais. É mais direto que Against ou Nation, onde a banda parecia sem rumo, sinal de que eles estavam, mesmo que lentamente, conseguindo se reencontrar. Algo aqui até me faz lembrar de uma fase mais punk hardcore do Slayer, até mesmo os vocais gritados de Araya, e não é a toa que não gosto desta fase do Slayer também. Talvez a emoção de falar de uma banda cujos primeiros trabalhos sejam imprescindíveis para mim impeça que eu veja mais qualidades em "Roorback", e me perdoem por isso. Para não ser extremamente negativo, cito "Corrupted" como uma música legal.
sábado, 27 de maio de 2023
20 anos de Rheingold do Grave Digger!!!
Os medalhões do power metal alemão, sob a alcunha de Grave Digger, chegavam a seu décimo petardo em 2003, o excelente "Rheingold", álbum baseado na história do Anel Nibelungo, escrita pelo compositor e também alemão Richard Wagner. A arte da capa a princípio é legal, como quase sempre acontece nos trabalhos do Grave, mas depois de anos eu acho esta arte um pouco estranha, parecendo uma colcha de retalhos, o que não tira o mérito de seus personagens muito bem desenhados individualmente. Musicalmente falando, "Rheingold" é espetacular. Tirando o refrão da faixa título, para mim, a única passagem que não combina em nada com todo o resto, pois ela quebra totalmente o ritmo da música. Mas isso se compensa com os próximos hinos. "Valhalla" é excelente, um power/speed de tirar fôlego de dragão, mesmo que carregue o estigma Grave Digger de refrão com apenas uma palavra. "Giants" também tem as mesmas referências. Já "Maidens of War" é uma das melhores faixas do álbum em minha opinião. Mais épica, com refrão melódico e solo de guitarra impressionante, é uma falsa balada "power" com muito peso. "Sword" tem um início sensacional, enquanto "Dragon" tem um dos melhores refrãos do play, um riff com groove maravilhoso, enquanto quase próximo do fim temos aquela passagem de baixo e teclado e o coral de "kill kill" antecedendo um pequeno solo de guitarra criado para tirar lágrimas de alegria. Perfeito! "Liar" é a canção mais curta (depois da intro "The Ring") e entrega um power rápido com riffs quase thrash. "Murderer" é uma boa faixa, mas acredito que os teclados tenham tirado um pouco o brilho, fazendo com que ela soasse como a menos inspirada do trabalho, e o álbum fecha com a ótima "Twilight of the Gods", um épico com show de todos os músicos, uma bateria precisa, riffs agressivos e um refrão direto e forte que encaixa ao instrumental como uma espada na bainha. Sensacional, mesmo após 20 anos.
quinta-feira, 25 de maio de 2023
20 anos de The Legacy do Eternal Sorrow!!!
A melodia que finda a desolação de "The Way of Regret" de 1998 é a mesma que inicia o caos de "The Legacy" de 2003. E mesmo que existam longos 5 anos entre os dois primeiros álbuns do Eternal Sorrow, a banda conseguiu conservar as mesmas características de seu debut, incorporando elementos mais góticos, porém totalmente dentro de sua proposta death doom. Os sons entre as canções, desde o correr das águas de um rio ao som de um trem, tudo conspira para um trabalho conceitual, senão por histórias, mas através de poesias. O som arrastado com melodias tristes carrega uma aura hipnótica e sedutora, evocando sentimentos desesperados. Os vocais rasgados logo de cara tiram qualquer impressão de suavização que a capa em tons claros possa trazer, e músicas como "Ashes" e "To Perpetuate My Distance" demonstram uma banda apenas desenvolvendo com mais cuidado suas melodias. O início de "Dunes" ainda me causa arrepios a cada audição, mesmo após 20 anos. A faixa "Night Veils" tem a vocalista convidada Lisiane Sari dando a ar de sua graça enquanto os vocais masculinos limpos e um som de guitarra com distorções remetentes ao Anathema antigo ecoam em algumas partes. A vocalista canta em mais uma música, "Ammanda Thase", uma canção melódica e com um som de guitarra sensacional, além dos vocais na linha de Johan Edlund do Tiamat na época de "Wildhoney". "Worry" é bem mais nervosa, para a alegria (ops, palavra estranha por aqui) das criaturas noturnas sedentas por urros cavernosos! O desfecho traz a longa "The Last Rain" carregando uma veia mais progressiva até então uma novidade no repertório. Clássico do underground!!!
domingo, 21 de maio de 2023
20 anos de Swampsong do Kalmah!!!
Com o nome "Swampsong" bem parecido com o título do debut "Swamplord", acredito que os finlandeses do Kalmah poderiam confundir os fãs e até por isso creio que a capa do novo álbum tenha vindo um pouco diferente, neste tom de azul, independente de trazer novamente o mesmo mascote. O som dos caras não mudou muito desde "They Will Return", uma vez que fazia apenas 1 ano de seu lançamento, então o que encontramos aqui é o mesmo death melódico, muito bem executado, com guitarras e teclados dando a tônica do estilo. Podemos sentir neste álbum um direcionamento mais social nas letras da banda, mesmo que estejam usando uma linguagem mais poética, com sapos e burbort (uma espécie de peixe), claramente temos um pano de fundo que fala de opressão e liberdade. Pelo lado musical, um coral praticamente viking nos surpreende em "The Third, The Maginal" enquanto há um riff limpo e não muito rápido, um diferencial que continua mostrando a preocupação da banda em não soar repetitiva, criando novas características aqui e ali. O casamento entre as guitarras pesadas do Kalmah e os teclados caprichados pode ser sentido por todo o trabalho, e em especial na faixa "Doubtful About It All", mesmo não sendo a canção mais espetacular do trabalho, mas serve para exemplificar isso. Alguns riffs Thrash também continuam sendo introduzidos com bom gosto, "Tordah" se inicia assim, e o baterista Janne Kusmin continua sendo essencial, é gratificante ouvir o que ele faz nesta música em especial. Para fechar o play, temos uma faixa mais longa, "Moon Of My Nights". Ela começa com uma melodia linda, e logo pula para o som mais extremo e comum à banda, mas logo apresenta passagens diferenciadas, onde os vocais de Pekka Kokko não são rasgados, mas bem mais reconhecíveis, apesar de claramente ainda bem agressivos. As mudanças de andamentos, com melodias carregadas e separando as partes mais rápidas, com riffs que poderiam estar em um álbum de black metal, são muito bem feitas, e fazem a música passar num piscar de olhos. "Swampsong" foi mais um chute certeiro na carreira do Kalmah.
terça-feira, 16 de maio de 2023
20 anos de Below The Lights do Enslaved!!!
Você é daqueles caras que vai aos shows de "corpse paint" sem se importar com as crianças correndo de medo nas ruas? É daqueles caras que acham "Lord of Chaos" uma comédia por mostrar os caras da cena norueguesa bebendo e se divertindo como qualquer jovem, e mesmo assim assiste várias vezes porque, infelizmente, não tem mais nada que presta falando de black metal na TV? É daqueles que bate cabeça ao som de Dark Throne e acha Mayhem e Dark Funeral as bandas mais legais do mundo? Passe bem longe de "Below the Lights". Sim, é uma banda norueguesa de black metal, mas a turma de Grutle Kjellson evoluiu. E saiu do som extremo em busca de um som caótico há algum tempo. Este álbum é infinitamente mais acessível que seu antecessor, mas não pense que toda progressividade que o trio possa ter evocado em 2003 não esteja enquadrado nestes 46 minutos. Em certos momentos você, inclusive, esquece que está ouvindo uma banda extrema, e se imagina no meio de hippies tomando um chá de cogumelos numa área verde, ouça "Queen of Night" e comprove. Em outro momento está em uma vila viking ouvindo guerreiros bêbados de hidromel entoando "Havenless". Ou até em uma viagem interplanetária, apreciando as estrelas dentro de uma nave ao som de "The Crossing". Aquele maldito mellotron que você imaginou que somente bandas dos anos 70 teriam coragem de enfiar em seus álbuns aparece plenamente aqui e ali, e estamos falando de um opus de black metal. Temos vocais rasgados, guturais e limpos, bateria agressiva e também num mar de águas paradas. Uma arte de capa bonita e em tons escuros como a anterior. O Enslaved não é minha banda de cabeceira, mas "Below the Lights" proporciona momentos muito divertidos e em nenhum momento soa enfadonho. Dê uma chance à loucura!
domingo, 7 de maio de 2023
20 anos de Rabbit Don't Come Easy do Helloween!!!
O décimo primeiro álbum dos alemães do Helloween chegou após a saída do baterista Uli Kusch e do guitarrista Roland Grapow. Então tivemos a entrada do guitarrista Sascha Gerstner e na bateria duas músicas gravadas por Mark Cross e o restante com o contratado e eterno Motörhead Mikkey Dee. A arte da capa já entrega uma banda querendo voltar aos tempos de bom humor, depois do contestado e pesado "The Dark Ride" de 2000, com o mágico tirando o coelho da cartola, e digo que gosto mais da contra capa, com o coelho com cara de mal ao lado da cartola e da clássica abóbora. "Rabbit Don't Come Easy" foi muito criticado pela produção e por entregar músicas que não condizem com o tamanho da banda que criou o power metal melódico, mas eu o considero um bom trabalho. O início com a "Just a Little Sign" não é tão empolgante, mas é uma boa música, com mudanças de andamento interessantes, enquanto "Open Your Life" é um dos melhores momentos, aquele tipo de música pra se ouvir várias vezes, com uma melodia bem legal e a voz de Andi Deris se destacando. "The Tune" joga o entusiasmo um pouco para baixo, e "Never Be A Star", tem seus bons momentos, inclusive com o som da plateia de fundo. "Liar" no tradicional speed metal acelera as expectativas, e Deris canta rasgado, outro momento ímpar do trabalho. O início oriental de "Sun 4 the World" já entrega algo mais experimental, que ficou legal, com um refrão mais tradicional que toda a estrutura da música. Já a balada "Don't Stop Being Crazy", que tem um título que condiz totalmente com o nome de nossa página, não chega aos pés de "If I Could Fly" do álbum anterior. O trabalho continua sem muitas surpresas, com destaque para a excelente "Back Against the Wall" com um riff muito bom e vocais sensacionais e a empolgante "Listen to the Flies", até que vem a maior surpresa, um épico de mais de 8 minutos chamado "Nothing To Say", pra mim, o grande momento, com mudanças de andamento arrasadoras e riffs de guitarra "pesadaços"! Grande álbum!
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