É horrível quando uma banda está no auge, idolatrada por sua legião de fãs, e o vocalista resolve abandonar o barco. Aconteceu com o Judas Priest, Iron Maiden e desta vez com os americanos do Iced Earth. Mathew Barlow deixou a banda para (não acredito muito nisso até hoje) se dedicar a uma carreira de policial. Cortou as longas madeixas ruivas e seguiu sua vida, deixando o "chefe" da banda, Jon Schaffer, com um abacaxi para descascar. Foi por aí que ele deve ter comparado o que aconteceu com sua banda ao Judas Priest, e por uma ironia do destino, chamou Tim Ripper Owens para cantar em sua banda, o mesmo vocalista que havia substituído Rob Halford no Judas Priest. A experiência no Priest não fora das melhores, tendo gravado dois álbuns e execrado pela crítica, injustamente, diga-se, e não seria no Iced Earth também. Não é que Ripper seja um vocalista ruim, ele está acima da média, na verdade. Mas como eu sempre digo, a voz é a alma de uma banda, e é uma tarefa extremamente difícil emocionar as pessoas da mesma forma que seu antigo vocalista fazia. Pois bem, o cara foi lá e gravou com Schaffer, que sempre tocou o barco com mãos de ferro, e Richard Christy na bateria e James Macdonough no baixo, além da importante participação na guitarra em 4 faixas do finado Ralph Santolla. A arte da capa é espetacular, uma das mais lindas que a banda já teve, demonstrando uma cena da famosa batalha de Gettysburg, de 1863, entre os confederados (sulistas) e a União, dois opostos que lutavam para acabar ou permanecer com a escravidão, e que deixou mais de 30 mil mortos em campo de batalha em apenas 3 dias. Musicalmente hoje, 20 anos depois, eu acho "The Glorious Burden" um trabalho magnífico. Obviamente inferior a 3 objetos indiscutíveis anteriores (The Dark Saga - Something Wicked - Horror Show), mas ainda assim com seu devido lugar na montanha sagrada do metal. Liricamente tem muita bobagem no trabalho, uma letra como a de "Red Baron" parece ter sido criada na 5ª série, e o patriotismo fanático de Schaffer não ajuda em nada, só contribuiu para criar repulsa ao redor do mundo. Mas as músicas, quase todas criadas quando Barlow ainda estava na banda, aliás ele é co-creditado em duas delas, parecem uma sequência de "Horror Show", um pouco mais épicas e com menos peso. Os riffs galopantes estão espalhados pelo álbum, algo muito criticado, mas que eu curto pacas, e as baladas não são a oitava maravilha do mundo, como "When the Eagle Cries", em homenagem às vítimas do 11 de setembro, talvez pelo fato de Ripper não ser muito bom neste quesito, deixando saudades de Barlow com aquele vocal profundo e ameaçando derramar lágrimas. Mas nas faixas enérgicas, Ripper mata a pau. "Greenface" é sensacional, um dos melhores momentos, enquanto "Attila" e "Red Baron/Blue Max" mantêm o clima bélico lá nas alturas. "Valley Forge" e a trabalhada "Declaration Day" também são destaques positivos. É legal ouvir a potência da voz de Ripper nestas faixas, o cara consegue alcançar notas muito altas. O disco 2 traz três faixas épicas sobre a batalha de Gettysburg, e é um momento ímpar no trabalho, e mesmo não estando especificado na ficha técnica, creio que Barlow não tenha feito apenas backing vocals na faixa "The Devil to Pay". Enfim, estas faixas possuem o acompanhamento da orquestra filarmônica de Praga, e deu um upgrade na música do Iced Earth, e consequentemente, carregando o disco 2 com uma emoção não encontrada no disco 1, e evidenciado mais o vocal de Ripper. Quando "The Glorious Burden" foi lançado, eu achei que Schaffer tinha carregado a mão no power metal para combinar melhor com seu novo vocalista, e senti falta dos riffs thrash de outrora. Mas com o passar do tempo, como disse acima, este álbum conquistou um lugar especial, e o considero ítem indispensável na coleção. Envelheceu tão bem quanto vinho.
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