Songs of Darkness, Words of Light é o oitavo álbum de estúdio dos ingleses do My Dying Bride e, sinceramente, uma das melhores obras deste estilo arrastado, melancólico e sombrio, que nós, criaturas noturnas, amamos tanto. A despeito da primeira fase da banda nos anos 90, onde temos clássicos atemporais desta banda, após a virada do milênio o My Dying Bride, apesar de lançar bons álbuns, nenhum se sobressaiu à essência funesta deste lançamento. Começando pela arte da capa, a terceira seguida a contar com a figura de um anjo, mesmo que a cabeça pela metade não tenha sido feita com a qualidade que a obra pedia, ela consegue passar a mensagem de dor e tormenta que acompanha as músicas que você ouvirá. O início com "The Wreckage of My Flesh" não poderia ser mais desalentador, com um riff extremamente sujo, característica das guitarras ao longo do álbum, porém estes riffs iniciais possuem uma conotação mais maléfica, como se fossem feitos por uma banda de black metal da Escandinávia que se aventurasse pela música arrastada, e os urros do vocalista Aaron Stainthorpe só corroboram pra esta impressão, pois eles remetem a um demônio encarcerado em uma cela no limbo, rogando por liberdade. A música é tão pesada que você nem percebe que os urros são somente no início e no decorrer da faixa os vocais são limpos, chorados ou falados, além de não termos uma variação grande a respeito dos riffs, eles se intercalam periodicamente, não deixando a música cair na mesmice. Já "The Scarlet Garden" tem uma função um tanto diferente, ao introduzir mais elementos góticos, e uma variação maior em sua estrutura, quando chegam a ensaiar um movimento acelerado, e tem como destaque o som daquele órgão de igreja, deixando a música ainda mais hipnótica e fria. Na sequência temos a melhor faixa do trabalho e uma das melhores músicas de toda história da banda, a seminal "Catherine Blake", esta sim, não apenas ameaçando entrar numa aquarela rebuscada de tons grosseiros, mas mergulhando de vez na era sombria do death/doom com riffs pesados e mais rápidos, e vocais guturais proclamando o fim do mundo na maior parte da música, onde as mudanças de andamento são maravilhosos e a bateria de Shaun Taylor com os pedais duplos também são destaque. Para dar uma guinada na agressividade mórbida a próxima é uma semi-balada gótica chamada "My Wine In Silence", a mais curta do play (menos de 6 minutos) e com uma letra um tanto apaixonada demais, porém musicalmente trazendo um sentimento gelado e quase acústico, onde os teclados de Sara Stanton fazem diferença, além de apresentar uma melodia de guitarra bastante depressiva. "The Prize of Beauty" parece ter saído diretamente das gravações de "The Dreadful Hours", com aqueles interlúdios entre o sofrimento e a raiva, enquanto "The Blue Lotus" é uma grata surpresa quando você pode começar a imaginar que tudo de possível já permeou as faixas anteriores, mostrando passagens mais tétricas com vocais falados a outras onde Aaron canta com uma tristeza genuína, mesmo que não seja aquela tristeza quase suicida de "A Angel and the Dark River", pois o peso dos instrumentos te mantém no inferno o período todo. Chegando ao final desta obra de arte temos a música mais death/doom do álbum, a começar pelo título raivoso, "And My Fury Stands Ready", que além de uma guitarra mais death metal, tem um interlúdio soturno, já utilizado em outras vezes e de formas diferentes pela banda, onde quase nada acontece na música, mas que foi feito para que muita coisa aconteça em sua mente. "A Doomed Lover" fecha o caixão com uma lentidão quase funeral doom, e já faz com que você sinta uma necessidade sufocante de começar a ouvir tudo novamente. Poucas obras sobre a terra detém este poder.
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