O Soulgrind da Finlândia jamais ultrapassou as fronteiras do underground, assim como muitas bandas ao redor do mundo, mas eles nunca desistiram. Desde 1992 na ativa e com 9 full álbuns na bagagem, a banda liderada pelo guitarrista Lord Heikkinen chegava a seu sétimo trabalho em 2005, com o título de "The Origins of the Paganblood". Agradando pessoas que gostam de metal extremo, do black ao folk metal, eles não mudaram as regras do jogo. Podemos encontrar até alguns riffs thrash por aqui, como na faixa "When Those Nights Have Circled Over". Os vocais de Azhemin são rasgados e raivosos, enquanto temos a voz de Whisper, desde 1997 na banda, e responsável por uma evolução significativa no som conturbado que era feito antes, quando era uma "one man band". Ela consegue cantar de forma natural, nada lírico como podem imaginar, e divide muito as vozes com Azhemin. Vez ou outra temos uma voz mais grave e falada, que acredito ser do baterista Agathon Frosteus, também creditado como vocalista, falecido em 2022 aos 53 anos com um tumor cerebral e quem gravou a bateria no ótimo Christcrusher do Thy Serpent em 1998. O legal de ouvir o Soulgrind é que eles tentam diversificar seu som sem seguir a mesma fórmula para todas as músicas. Um exemplo é a música "Autumn", que privilegia a voz de Whisper e parece algo mais acústico, mas de repente entra um riff legal com vocais rasgados."Flesh Marionette" é outra que apresenta um som mais orquestrado nos teclados e uma estrutura de vocais para incentivar o público a bradar junto. Você pode achar que o Soulgrind seja uma banda medíocre dentre tantas bandas por metro quadrado na Finlândia, mas ouvindo seus álbuns, e neste caso esse que completa 20 anos, o que podemos dizer é que a banda realmente não faz nada de novo, mas ela leva a sério aquilo que cria, é um sonho e xodó de seu guitarrista e fundador, adotada pela vocalista Whisper, e o Soulgrind continua existindo pela determinação dos dois, praticando um som que não é unanimidade em nenhum lugar, que é o pagan black metal, mas cultuado e sustentado pelas poucas trupes que os cultuam.
quarta-feira, 9 de abril de 2025
20 anos de The Middle of Nowhere do Circle II Circle!!!
Depois de deixar o Savatage, montar o Circle II Circle e gravar seu primeiro álbum, "Watching In Silence" em 2003, Zak Stevens viu toda a banda se desmantelar para juntarem-se ao novo projeto de Jon Oliva, o "Jon Oliva's Pain". Partindo para uma segunda empreitada, Zak convocou os guitarristas Evan Christopher e Andrew Lee, o baixista e vocal de apoio Michael Stewart e o baterista Tom Drennan, todos meio desconhecidos no mercado musical. Lançaram o EP "All That Remains" e logo em seguida o álbum completo "The Middle of Nowhere", pela AFM Records, em 2005. A introdução de "In This Life" remete a alguma coisa já utilizada e passa a sensação de continuação, mas no momento não consigo lembrar o quê. Obviamente, e creio que por causa da voz de Zak, o Circle II Circle continua lembrando o Savatage, mas neste segundo trabalho eles até tentaram se distanciar um pouco deste fantasma. Não vejo motivo, uma vez que a banda já havia se desfeito após o último ato Poets And Madman de 2001, e todos nós precisávamos de uma continuação de seu legado. "In This Way" começa como uma balada e você fica se perguntando se colocariam uma música assim para abrir o trabalho, mas lá pelos 2 minutos entram as guitarras pesadas, suportadas pela cozinha. O ritmo não dura muito assim, ela logo fica mais atenuada, porém com o mesmo peso e logo entra um longo e belo solo de guitarra, para compensar a falta de solos no primeiro trabalho. "All That Remains", a faixa de destaque do EP vem com mais peso e energia, riffs empolgantes e um vocal forte e consistente, uma música que pela construção, pode agradar a fãs de Nevermore. E por falar em energia, "Open Season" é ainda mais animada e direta e um exemplo do esforço da banda de se afastar do som do Savatage. Temos muitos solos de guitarras nessa faixa também. "Holding On" deve agradar mais a galera da banda de Oliva, com uma veia mais épica e progressiva. Mais à frente temos uma das músicas mais legais deste álbum, "Psycho Motor", onde Zak solta a voz e temos um riff simples mas bem tradicional, além de um refrão em coro que difere do contexto da canção, e que casou bem. Outro grande destaque é a faixa título, na mesma pegada de uma "Chance", com aquela sobreposição de vozes que somente o Savatage sempre soube fazer com maestria. "Lost" é uma balada, essa sim, e fecha o trabalho com violão e teclado, de forma melancólica (no sentido bom) mostrando que Zak Stevens é uma das maiores vozes no metal. Não é superior ao debut, mas é bem legal.
segunda-feira, 7 de abril de 2025
20 anos de Paradise Lost do Paradise Lost!!!
Quando fiz as últimas resenhas do Paradise Lost, citei que a banda estava voltando à boa música quando lançou "Symbol of Life". Não que isso torne aquele álbum uma peça de Doom Metal, mas trouxe de volta guitarras e algo que andava faltando à banda: criatividade. Pois bem, em 2005 eles lançaram este álbum que traz o nome da banda, talvez numa tentativa definitiva de gritar que eles estavam de volta. Na realidade este é um álbum mais pesado e mais metal que o anterior, mas acredito que a criatividade não esteja à mesma altura. Se por um lado temos mais peso e guitarras ditando as regras, e os vocais de Nick Holmes soando como deveriam, (ao menos naquele momento, pois eles iriam melhorar muito depois), por outro as músicas não variam muito, ao menos dentro delas mesmas, e sabemos que a banda poderia fazer melhor que isso. A veia gótica é grossa e cheia de sangue, nada dos velhos tempos de death incrustado no som. Você pode até dançar em músicas como "Forever After" se esta for sua praia, mas existe uma tendência melancólica em todo o álbum que não vai deixar você dançar para expulsar seus demônios, mas ao contrário poderá alimentá-los e exortá-los. Mas os caras mostram que sabem transformar algumas coisas que poderiam soar terríveis em algo genuíno, como na faixa "Sun Fading", que se não fosse a mão pesada de Makintosh e a magia que Nick consegue trazer para as melodias que saem de sua garganta, essa música soaria como aquela banda famosa da Suécia que teve seus dias melhores até o segundo álbum em 1996, aquele com o cadáver do pássaro na capa roxa. Falar em capa, a do P.L. traz a figura feminina com as costas cheias de espinhos e usando a máscara que os médicos usavam para evitar o miasma da peste negra. O efeito do reflexo deixou a coisa interessante. Também usamos esta máscara para evitar o miasma da fase eletrônica da banda. Enfim, ouvir o álbum autointitulado do Paradise Lost é como montar uma vitamina com ingredientes de "Symbol of Life" e "Icon" em doses menores. Irá satisfazer sua vontade de ouvir algo pesado destes caras novamente, mas vai ficar uma vaga sensação de que eles estavam apenas no caminho certo para um real retorno ao que a maioria almejava, para o bem do Doom Metal mundial. A maior prova é a derradeira faixa, "Over the Madness", essa sim com um riff pesadíssimo que chamará sua atenção instantaneamente.
20 anos de Ascendancy do Trivium!!!
O Trivium em 2005 ainda buscava sua identidade, coisa que após muitos anos acredito que eles tenham deixado de procurar, uma vez que a banda sempre foi mutante e nunca se prendeu a um estilo definido. Mas após o fraco "Ember To Inferno" de 2003, vieram com "Ascendancy" e uma prova de melhoria, mesmo que nada a ponto de soar um clássico. Longe disso, como no debut, muita coisa poderia ser limada desse álbum para que ele ainda pudesse ser tachado de bom. A veia metalcore é o que mais incomoda, principalmente quando Matt Heafy cisma de cantar limpo. Na resenha do álbum anterior eu disse que ele melhoraria nos trabalhos posteriores, mas naquele momento acho que estava sob efeito de algum destilado, pois hoje não vejo muita melhoria. Talvez uns 10%. Os riffs continuam bons, Corey Beaulieu e Heafy despejam muitos deles com uma pegada bem thrash metal, mas as caídas melódicas para entrada dos vocais limpos continuam sendo um problema. É aquele veículo que voa quando acelerado mas de repente passa sujeira nos bicos de injeção e ele perde potência na hora. Em vários momentos você se lembra de outras coisas muito boas já registradas, como o início instrumental de "A Gunshot To The Head of Trepidation" que remete ao black metal dos noruegueses do Old Man's Child e depois do solo de guitarra, ao Iron Maiden e suas guitarras gêmeas e por fim aquela batida de bateria a cargo de Travis Smith e do baixo de Paolo Gregoletto que copiou descaradamente a batida de Ride The Lightning do Metallica, "Drowned And Torn Asunder" com alguma coisa de Machine Head e claro, os vocais gritados que poderiam ter saído do Dew Scented. Sim, com tantas referências podemos dizer que o som deste play é quase uma colcha de retalhos para simpatizantes de Avenged Sevenfold. Quando eles tentam sair do lugar comum, como em "Dying In Your Arms", uma música bem mais clean, eles até se saem bem, talvez porque não temos os vocais gritados para comparar com os demais. O Play fecha com "Declaration" com seus 7 minutos e a presunção de ser o ponto alto do trabalho. Mas eu ainda fico com "Gunshot..." e todas as suas semelhanças a bandas melhores.
20 anos de (N) Utopia do Graveworm!!!
O Graveworm da Itália chegava a seu 5º lançamento em 2005, intitulado (N) Utopia e mais uma vez no cast da Nuclear Blast. Com uma bela arte de capa, em tons azuis e uma estátua de anjo em meio a um cemitério debaixo d'água e algumas embarcações quase no horizonte, a arte passa uma sensação de paz melancólica. Mas o que ouvimos quando "I, The Machine" abre o trabalho, é uma banda raivosa, com uma bateria acelerada e pedais duplos, riffs pesados com teclados fazendo uma camada cheia de energia e vocais guturais e rasgados duelando entre si. Com uma abertura como essa, temos o jogo quase certamente ganho, e se você não conhece o Graveworm ainda e ouvir essa música, vai arriscar um chute em Agathodaimon com a participação de algum vocalista convidado fazendo os guturais, pois os rasgados você seria capaz de apostar sua casa que são do Akaias. Não que o vocalista Stefano Fiori tenha mudado muito sua forma de cantar com o passar dos anos, mas o casamento com o instrumental mais refinado do Graveworm neste álbum trouxe uma vida nova para eles. Ok que "Engraved In Black" já tenha apresentado esta veia mais sofisticada, mas ele soa um pouco mais enraizado no som black que os italianos faziam no início de carreira. Já (N) Utopia mergulhou de vez no gótico, porém blackned death gothic, por assim dizer e para ficar melhor esclarecido. A segunda faixa é, sem dúvida, uma das coisas mais lindas que a banda já compôs, a música que leva o nome do álbum vem num rítmo bem mais arrastado que a anterior, mas tem uma aura clássica atemporal, com o vocal gutural predominante e um som de guitarra perfeito, pesado e brutal. "Hateful Design" já traz um riff que poderia facilmente estar num álbum de death metal de uma banda como o Kataklysm. Os teclados de Sabine Mair também fazem um papel aterrador nesta música e o melhor é que você percebe que a música funcionaria sem eles, mas eles foram a cartada da vitória num jogo de poker entre bandidos armados e perigosos. "Never Enough" traz um pouco de vocais eletrônicos no início, mas nada suficiente para te assustar, afinal já devia ter percebido que não estamos falando de uma banda purista, mas com pé no chão. O petardo segue inteligentemente alternando entre faixas arrastadas como "Timeless" ou a energética "Outside Down". Em minha versão, temos um cover pra lá de surpreendente para "Losing My Religion" de 1991 da banda de rock americana R.E.M. que o Graveworm conseguiu transportar para seu estilo com muita competência, sem estragar a original. Indico (N) Utopia para quem não teve oportunidade de conhecê-lo nos últimos 20 anos, de olhos fechados.
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