Eu ouvia falar no System of a Down no início dos anos 2000 mas sempre corri de sua música, já que a banda era (ou ainda é) classificada como Nu Metal. Mas em 2005 no horário de intervalo no trabalho a TV estava ligada em algum canal e passava o vídeo de "BYOB". Se você já foi um peixe em outra vida, e teve o desprazer de ser pescado por um anzol, vai entender o que senti naquele momento. Uma banda que eu julgava pelo estilo em que era enquadrada e que me fisgou de imediato com uma música que achei fantástica, misturando 3 estilos de vozes diferentes, mudanças bruscas de andamento, energia e nada daquela coisa dançante e bagunçada com afinação de guitarras quase nos dedos do pé a que eu associava o Nu Metal (e ainda associo). Meu grande amigo Lenilson, que alguns meses depois foi morar no Japão, viu minha empolgação com aquilo e me ofereceu o álbum Mezmerize para ouvir. Caramba, me surpreendi com as músicas destes caras, uma maluquice que em palavras seria pouco provável de dar certo, mas que musicalmente preenchem um álbum sensacional. Aquele som havaiano de "Radio/Vídeo" com certeza é algo que eu não procuraria para ouvir caso lesse em uma resenha, mas faz dela uma das faixas mais legais do álbum. Algumas coisas mais estranhas como "This Cocaine Makes Me Feel Like I'm On This Song" que tem o título maior que a duração da faixa, ainda assim é muito legal. A estrutura das músicas deste álbum é brilhante, a criatividade da trupe estava em um nível muito acima de mentes normais, e com a sorte de ter um vocalista como Serj Tankian com todos os coelhos alucinados que tirou da cartola neste play, começo a acreditar que o S.O.A.D. tenha sido abduzido em algum momento da carreira e voltado à Terra com ideias não convencionais para a música, em especial ao metal e toda a sua mania de não olhar pros lados (não me excluo), e pronto para criar uma música totalmente insana, que eu proibiria veementemente de ser executada em casas de recuperação para pessoas com problemas psicológicos. Mesmerize é pesado, ousado, melódico, criativo, agressivo e mesmo que estas qualidades possam ser encontradas em muitos outros álbuns por aí (mas quase sempre não no mesmo álbum), ele ainda tem a qualidade de desmistificar um estilo e mudar o conceito (ou preconceito) de quem possa ver a banda sem brilho nos olhos. Destaque ainda para as ótimas "Cigaro", "Revenga", "Old School Hollywood"e a balada "Lost In Hollywood".
sábado, 26 de julho de 2025
20 anos de Catch Thirtythree do Meshuggah!!!
Nos anos 90, época de MTV e VHS, coisas que os mais novos nem saberão o que significa, gravei um clipe do Meshuggah no Fúria, e por muitos anos este ficou lá entre incontáveis horas de vídeos, até que tive que me desfazer de todo este material antigo, muita coisa mofada ou sem nenhum aparelho para assistir e, numa era de Youtube, sem muito sentido. Não vou me lembrar qual era a música, mas talvez algo do álbum "Destroy, Erase, Improve", mais pelo ano de seu lançamento que por qualquer outra coisa. Já aquele vídeo onde a própria banda com uma câmera na cabeça filmava os caras tocando em um cômodo ou algo assim, não me trouxe nenhuma vontade ou necessidade de procurar outro material da banda. Portanto, após 30 anos, cá estou novamente ouvindo algo desta banda sueca, seu quinto trabalho, "Catch Thirtythree", que está fazendo aniversário de 20 anos. A arte da capa é legal, com as serpentes sobre o fundo escuro, combinou bastante com o logotipo da banda. Quando comecei a ouvir o álbum, aberto com "Autonomy Lost", nem percebi quando passou por "Imprint of the Un-Saved", nem mesmo "Disenchantment", e quem perceberia, caso não estivesse vendo o tempo de músicas e as faixas sendo trocadas num aparelho, o que não era meu caso? Se fosse uma única música de seus 5 minutos, seria um som até legal, meio monótono porque sem muita variação, mas a falta de variação nunca foi um problema pra mim se a invariável fosse boa, o que digamos, não é bem o caso aqui. Mas quando começa "The Paradoxical Spiral" e a variação existe, porém é mínima, tudo começa a ficar entediante de verdade. Porque este é na verdade um álbum de 47 minutos de uma música só, fatiada em vários pedaços, como nas casas com muitos filhos de antigamente, em que a mãe cortava em partes iguais uma bisnaga de pão francês para 10 filhos, mas ninguém queria as pontas. A impressão que fica, ouvindo "Catch Thirtythree" é que estamos comendo as pontas sempre, com quase zero miolo, apenas casca sem resquícios de manteiga. Mastigamos, mastigamos e não ficamos satisfeitos. O que se pode tirar de bom é a produção, o timbre da guitarra, o baixo bem apresentado, um bom baterista e um ótimo vocalista, mas um som enfadonho que, se ouvido ao volante, abra bem a janela para te manter acordado. Porque acordar em outra dimensão com esta música na cabeça seria um pé no saco.
terça-feira, 22 de julho de 2025
domingo, 13 de julho de 2025
20 anos de Strength Power Will Passion do Holy Moses!!!
O Holy Moses da Alemanha acabou. Lançou seu último trabalho em 2023 e também fez sua última apresentação, após 13 "full albuns" de estúdio. Mas sempre será lembrada como aquela que apresentou uma das vocalistas mais brutais da história do metal, precursora dentro do Thrash Metal, a bela (e fera) Sabina Classen. Depois de 2 demos ela entrou na banda para o terceiro registro de demonstração, intitulado "Satan's Angel" de 1982 e a história de sucesso começou em 1986 com o primeiro full "Queen of Sian". "Strength Power Will Passion" chegou em 2005, o 9º trabalho, e neste momento outra banda já despontava com uma vocalista feminina como referência, os suecos do Arch Enemy de Angela Gossow, que tiveram tanta visibilidade que ajudaram bandas como o Holy Moses a alcançar um maior público, mesmo que tenha chegado primeiro. Coisas da arte e do mundo. Portanto acredito que o sucesso deste trabalho muito se deva àquilo que Gossow trouxe, mesmo que seja realmente um ótimo trabalho. Para ser ainda mais incisivo no onda, colocaram o rosto da vocalista na capa, à frente de um pentagrama e com uma cruz invertida na testa. Os alemães realmente queriam chamar atenção e aproveitar o bom momento. O guitarrista Andy Classen, marido da vocalista, havia se despedido da banda com o ótimo "Disorder of the Order" de 2002 e em seu lugar entrou Michael Hankel, que trouxe ótimas ideias para a banda. O som não é apenas thrash, agora temos muito de melodic death em sua veia mais extrema, uma cara nova para a banda que tirou um pouco da fúria e atitude de outrora, mas que em nada minimizou o som do Holy Moses. Se você pegar as 2 faixas que abrem o petardo, "Angel Cry" e "End of Time", vai perceber que o som está mais próximo do mainstream como nunca. E músicas como "Examination" até te trazem nostalgia do Death na era Symbolic. Há também aquele coro básico e masculino, como no refrão de "I Will" que não deixa o som decolar muito às alturas, lembrando que pertencem ao underground com aquela pegada hard core. Mesmo que eles não consigam manter o mesmo pique por todos os mais de 40 minutos do trabalho, ele ainda soa bastante homogêneo e em nenhum momento te obriga a mudar de faixa. Vale muito a pena botar essa bolacha pra girar.
20 anos de Candlemass do Candlemass!!!
Com tantas trocas de formação ao longo da história e vários vocalistas, ainda fica a sensação de que o icônico Messiah Marcolin seja a figura mais emblemática da clássica banda sueca Candlemass. E aqui, no oitavo álbum autointitulado está sua voz marcante novamente. Talvez até a banda sinta um pouco esta sensação, ou sentia 20 anos atrás, já que um álbum com o nome da banda muitas vezes significa reafirmação do tipo: somos a essência do Candlemass e este nome basta, apesar de que em algumas vezes é apenas falta de criatividade mesmo, o que, ouvindo o álbum, passa bem longe disso. Porque "Candlemass", com sua capa branca não se resume a um bom vocalista, mas a um conjunto de pequenos hinos fantásticos de Doom Metal Épico. Ok, não temos a mesma aura de "Nightfall" ou "Epicus Doomicus Metallicus", mas a banda do baixista e fundador Leif Edling construiu músicas pesadas e consistentes, onde as guitarras de Lars Johansson e Mappe Björkman, que ente idas e vindas vieram para este play e não saíram mais, exercem um papel fundamental calcado em riffs muito bons. Todas as faixas são contempladas com bons riffs, alguns melhores que outros, mas até a instrumental "The Man Who Fell From the Sky" não deixa a desejar. "Born in a Tank" talvez seja a que deixe menos lembranças após ouvir o petardo, mas ainda assim pode ser considerada a que tem um dos melhores solos de guitarra, e aqueles riffs cavalgados que alguns odeiam e outros amam (incluindo eu). Já minha favorita é a faixa de abertura, "Black Dwarf". Sei que ela não representa muito a banda, pois é mais acelerada e Marcolin imprime um tom mais grave, mas seus riffs me cativaram de primeira e ainda permanecem depois de tantos anos. Já os mais tradicionalistas podem preferir "Spellbreaker" ou "The Day And The Night", as faixas que encerram o álbum, em especial esta última, que tem aquela pegada mais tradicional, com alguns dedilhados e um riff estourando os P.A.s que ficaram maravilhosos, além daquela interpretação vocal que faz a alegria das criaturas noturnas. Este trabalho marcou o fim da era Messiah Marcolin no Candlemass em álbuns de estúdio, e trouxe de volta a banda para os holofotes, mostrando que o doom, mesmo sendo um dos estilos mais pisoteados do metal, sempre se reergue poderoso, enfrentando tudo e mostrando que velocidade só é imprescindível nas auto-cars. Clássico!
domingo, 6 de julho de 2025
20 anos de Antithesis of Light do Evoken!!!
Parece que estão tocando harpas no inferno. Esta foi a frase que me veio à mente quando ouvi "Antithesis of Light", o terceiro trabalho full dos americanos do Evoken, lançado em 2005 pela Avantgarde Music. As melodias de baixo e guitarra quando são apresentadas em contraste ao restante ou simplesmente destacadas sozinhas, algo utilizado em todo o álbum, passam esta sensação de harpas mortuárias tocadas no funeral de alguma criatura soterrada nas profundezas, ou até mesmo de alguma alma conduzida ao purgatório para refletir sobre sua vã existência. O Evoken consegue soar como uma banda de death doom que ultrapassa os limites da existência em direção ao funeral doom, pois mesmo que esteja claramente musicando neste terreno, carrega influências de seus predecessores dos anos 90, aqueles que transformaram tristeza, solidão, sofrimento e angústia em música. Como alguém dificilmente consiga a fórmula para transformar um álbum de funeral doom em um conjunto de canções totalmente distintas umas das outras, não podemos classificar a similaridade entre elas como ponto negativo para esta antítese da luz, portanto é fácil dizer que o terceiro full deles beira a perfeição dentro do estilo. Músicas longas, todas entre 10 e 13 minutos, arrastadas com raros momentos mais rápidos, como naquela evolução de "In Solitary Ruin" em que blast beats são adicionados, algo já realizado no álbum anterior e executado em perfeição extrema no álbum "Serenades" do Anathema, guitarras a cargo de Paradiso e Nick Orlando ultra pesadas e distorcidas que nunca se tornam emboladas ou inaudíveis, trazendo inclusive alguns solos sinistros em alguns momentos, teclados, a cargo do novo membro Denny Hahn que remetem a montanhas distantes numa paisagem escurecida e assombrada, além de uma bateria extremamente bem tocada por Vince Verkay, fazendo seu melhor trabalho até aqui no Evoken, com timbres claros e altos, soando como pedras rolando em catacumbas nos momentos mais reverberantes. Os vocais de Paradiso são extremamente guturais e abertos, bem diferente daqueles vocalistas que parecem prender um pregador de roupas no nariz na hora da gravação. Tirando a baixa diversificação que já comentei, poderiam ter lançado um álbum com uma intro e uma faixa de 71 minutos subdividida em etapas que o efeito seria o mesmo. Mas soa melhor da forma que foi lançado. Ouça!
segunda-feira, 30 de junho de 2025
20 anos de A Book of Shadows do Goat of Mendes!!!
"A Book of Shadows" é o 4º full length da banda alemã Goat of Mendes. Apesar de gostar mais dos 2 primeiros álbuns, mais calcados no black metal, não posso esconder que gosto muito desta banda, que ocupa as fileiras de baixo no escalão do underground mundial, não sendo muito conhecida pela maioria. Lançado pelo micro selo "Mendes" da própria banda, este registro é ainda mais relegado ao gueto que na época em que a banda pertencia ao selo "Perverted Taste" (Carpathian Forest, Taake e outros), mas tenho uma cópia em MP3 desde 19elávaikafunga, que passei para o CDR também. O som é muito responsável, a banda sempre seguiu um caminho de trabalho e confiança em sua música. A produção pode não ser das melhores, caso contrário é certo que a banda teria um público ainda maior. Em minha opinião um dos grandes trunfos do Goat of Mendes é o trio de vocalistas, que estavam lá desde o início da banda, Maia, Surtur e Marco (também guitarra e baixo). As vozes, sejam narradas, cantadas ou gritadas, são praticamente as mesmas que ouvimos desde "Hymn To One Ablaze" (1996) e isso é a identificação imediata da banda. Principalmente porque não são vozes típicas de um estilo, daquelas que 1 milhão de bandas possui, você saca que são eles sem precisar que te mostrem a capa do play. Este álbum supera o anterior "Thricefold" (2002), onde a banda fincou de vez os pés no Pagan Metal, porque aqui temos um maior equilíbrio com o black metal de outrora. O primeiro grande destaque fica para a faixa título, uma das mais curtas do álbum, com 4 minutos e quarenta, com todos os elementos condensados de forma que você pode ser apresentado aos alemães com esta canção. Os riffs de Marco e Larz são um detalhe crucial, podem não ter a técnica de mestres mas fazem toda diferença no som. Outro detalhe nascido do álbum anterior que perdura aqui é o uso do violino. Ouça a faixa "Guardian Spirit" e se surpreenda com um som que poderia estar em qualquer álbum do "My Dying Bride", triste e profundo, ao passo que a banda diminui o ritmo para fazer um efeito doom nos momentos que o violino entra. O som é quase sempre rápido, mas nada exagerado e outra faixa épica de extremo bom gosto é "Staff and Chalice, Sword and Stone", cheia de reviravoltas e uma de minhas preferidas. A arte da capa imitando a capa de um livro não é das melhores, se fosse preta ao invés de marrom seria mais impactante, mas este é apenas um detalhe para um álbum de metal extremo bem interessante, que tanto fãs de Cruachan quanto de Opera IX deveriam ouvir. Sério, sem invencionices risíveis e de extremo bom gosto.
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