sábado, 1 de novembro de 2025

20 anos de Garbage Daze Re-Regurgitated do Exhumed!!!


Álbuns de covers costumam ser um terreno perigoso — e, sejamos sinceros, muitas vezes não passam de caça-níqueis. Já repeti isso mais de uma vez por aqui. Pode ser que a banda esteja há muito tempo sem lançar material inédito e queira apenas manter o nome em evidência; pode ser uma forma de homenagear suas influências ou ainda um exercício de estilo, tentando traduzir para seu próprio contexto aquilo que outros já fizeram de maneira completamente diferente. O fato é que esses discos existem — e, assim como os “ao vivo”, cabe ao fã decidir se vale ou não ga$tar com esse tipo de material, ainda mais hoje, quando a música está ao alcance de um clique.

No caso do Exhumed, norte-americano até o último fio de cabelo ensanguentado, o lançamento de Garbage Daze Re-Regurgitated em 2005 se enquadra nesse cenário — mas, merecendo ou não, merece figurar por aqui para celebrar seus 20 anos de existência.

Há aqui algumas escolhas realmente interessantes. A versão de “The Power Remains”, da banda inglesa Amebix, é uma delas — originalmente lançada em uma rara coletânea homônima de 1993, ganha aqui uma roupagem digna da sujeira que o Exhumed domina. Outro destaque é “Uniformed”, da também inglesa Unseen Terror, retirada do único full-length da banda, Human Error (1987). O resultado é brutal, fiel e totalmente a cara do Exhumed.

“No Quarter”, do Led Zeppelin, entrega logo de início que estamos fora do habitat natural da banda. Com guitarras quase psicodélicas e um baixo trovejante que parece ecoar eternamente no limbo, essa faixa surge como uma grata e curiosa surpresa na coletânea. No mesmo espírito de reinvenção está “Trapped Under Ice”, clássico meio cult do Metallica em Ride the Lightning (1984). Aqui, a faixa chega a se tornar irreconhecível em alguns trechos, mas o Exhumed consegue imprimir seu selo goregrind sem piedade.

Aliás, o próprio título do álbum — Garbage Daze Re-Regurgitated — é uma homenagem (ou uma paródia de mau gosto, dependendo do ponto de vista) ao EP Garage Days Re-Revisited, também de covers, lançado pelo Metallica em 1987.

Um dos melhores momentos fica por conta de “Pay to Die”, do Master, banda de Paul Speckmann. Um verdadeiro hino da podridão, praticamente impossível de ser estragado — e, felizmente, o Exhumed faz jus à sua essência.

Para quem prefere o grupo em uma pegada mais arrastada, vale conferir “The Ghoul”, do Pentagram, faixa do primeiro e auto-intitulado álbum da lendária banda de doom americana. É o tipo de escolha que, em tese, seria “mijar fora do pinico” — mas, curiosamente, o resultado acerta em cheio, com um solo de guitarra impecável coroando a homenagem.

Outro destaque fica com “In Fear We Kill”, do Epidemic norte-americano (há vários homônimos pelo mundo, inclusive três no Brasil). Os vocais de Matt Harvey brilham aqui, alternando entre rasgados e guturais com naturalidade impressionante. O mesmo vale para “Twisted Face”, do Sadus, que ainda traz de brinde um solo curto, mas perfeito.

No fim das contas, Garbage Daze Re-Regurgitated é um prato cheio para os fãs do Exhumed e, por extensão, para todos que apreciam o lado mais sujo, nojento e divertido do gore/grind. Não é um álbum essencial — mas é o tipo de banquete repulsivo que, uma vez servido, o fã do gênero não consegue recusar.


 

20 anos de Ghosts of Loss do Swallow The Sun!!!


Após presentear a cena com o debut The Morning Never Came — uma verdadeira obra-prima do death doom — os finlandeses do Swallow the Sun retornaram em 2005 com seu segundo trabalho, Ghosts of Loss. Desta vez, a banda reduziu um pouco o peso em relação ao álbum anterior, introduzindo mais melodia, mas ainda soando como o monstro raivoso que nasceu para ser — sem, contudo, se tornar ainda o grupo melódico que viria anos depois.

A abertura com “The Giant”, uma faixa de quase 12 minutos, já deixava claro que o Swallow the Sun não buscava nada de comercial. A proposta era atacar com unhas e dentes, entregando uma fúria genuína e envolvente. Os vocais de Mikko Kotamäki variam com maestria entre tons limpos, guturais profundos e rasgados surpreendentes, revelando uma versatilidade que se tornaria marca registrada da banda.

As guitarras de Juha Raivio e Markus Jämsen transitam entre o death metal técnico e o gótico, alternando riffs pesados com melodias arrastadas e dedilhados melancólicos. A música “Descending Winter” ilustra bem esse amálgama, evidenciando a principal diferença entre o debut e este segundo disco: uma diminuição da raiva onipresente e um aumento da aflição e do desespero, enquanto a letra anuncia a chegada de um inverno gélido e mortal.

“Psychopath’s Lair” é um dos momentos mais impactantes do álbum, evocando as bases secas e densas da escola My Dying Bride, com pequenos breakdowns que impulsionam nossas cabeças no movimento instintivo de todo headbanger. Essa faixa se aproxima bastante do primeiro álbum, com uma crueza e rispidez que remetem às origens da banda.

Depois dessas duas músicas mais diretas e menos arrastadas, o álbum mergulha em composições de tom mais melódico, com riffs longos e atmosferas quase beirando o funeral doom. O melhor exemplo é a bela “Forgive Her…”, uma canção que certamente agradará aos ouvidos mais exigentes.

“Fragile” começa com vocais limpos e belíssimos, mas, ao longo da execução, surgem riffs dissonantes que a fazem destoar do restante do trabalho — um contraste proposital que mostra o lado mais inquieto da banda. Já “Ghost of Laura Palmer”, arrastada e dominada pelos guturais, pode muito bem ter inspirado a capa sombria criada por Tuomo Lehtonen. O título, aliás, remete à icônica série Twin Peaks e à clássica pergunta: “Quem matou Laura Palmer?”

O álbum encerra-se com “Gloom, Beauty and Despair” — título que sintetiza perfeitamente a essência do Swallow the Sun — e “The Ship”, concluindo uma jornada densa e melancólica.

Com Ghosts of Loss, o Swallow the Sun consolidava-se definitivamente como um nome poderoso na cena mais sombria e moribunda do metal extremo.


 

20 anos de Transgression do Fear Factory!!!


O sétimo álbum de estúdio da banda americana Fear Factory começa com a faixa “540.000º Fahrenheit”, um título curioso que faz referência à temperatura no centro de uma explosão termonuclear — algo em torno de 300.000º C. A metáfora não poderia ser mais apropriada, já que acompanhar a formação do Fear Factory ao longo dos anos é, por si só, uma experiência explosiva. Para muitos fãs, a formação de Demanufacture continua sendo a definitiva.

Ainda assim, a banda havia se saído muito bem no ano anterior com Archetype, lançado sem o fundador Dino Cazares. Já em Transgression, o resultado não é tão sólido. Não que o álbum seja um fracasso — longe disso —, mas a aura agressiva característica do Fear Factory aparece apenas em alguns momentos, como se a banda estivesse à base de Rivotril.

A faixa de abertura já dá sinais disso: embora apresente uma base interessante, o excesso de vocais limpos faz o álbum perder parte de sua força. A sequência com a faixa-título, porém, funciona como um antídoto — é o Fear Factory retomando o vigor, com Burton C. Bell entregando aquilo que amamos: violência sonora e intensidade.

Bell, aliás, continua demonstrando sua habilidade em equilibrar agressividade e melodia, mas aqui o vocal limpo acaba predominando demais para uma banda de industrial thrash metal.

A trinca seguinte — “Spinal Compression”, “Contagion” e “Empty Vision” — mantém o álbum em um nível interessante. “Empty Vision”, em especial, traz uma veia melancólica bastante marcante na interpretação de Bell.

Entretanto, as quatro faixas seguintes soam como puro preenchimento. Ou talvez como uma tentativa de explorar influências mais progressivas. Difícil saber a intenção da banda — se buscar novos caminhos ou simplesmente se distanciar do rótulo “industrial”. O problema é que o resultado lembra aquele “feijão sem tempero”. Sempre foi comum o Fear Factory inserir uma faixa mais experimental em seus discos, mas quatro de uma vez? E sim, o cover do U2, “I Will Follow”, entra nessa conta.

Se o grupo tivesse mantido apenas “Echo of My Scream” como a balada emocional do álbum, e deixado de lado “Supernova”, “New Promise” e o próprio cover do U2, o disco soaria mais coeso. Ainda bem que o álbum se redime no final com “Millennium” (cover do Killing Joke) e a pesada e matadora “Moment of Impact”, que fecham Transgression com o peso e a fúria que esperamos do Fear Factory.

No balanço geral, Transgression tem mais acertos do que falhas e mantém a banda entre os grandes nomes do metal moderno — mesmo sem a mesma intensidade guitarrística de seus melhores momentos.


 

sábado, 25 de outubro de 2025

20 anos de Angel Whore do Desaster!!!


Hoje o Desaster da Alemanha é um grupo conhecido no cenário do metal extremo mundial, e isso talvez se deva ao fato de que, em 2005, eles lançaram seu 5º trabalho, pela gravadora Metal Blade, abrindo novos caminhos para a banda, que já mostrara muita qualidade em seus lançamentos anteriores, angariando vários adeptos no underground. Com uma arte de capa simples, de Chris Moyen, que já fez inúmeras artes, incluindo Incantation e Vital Remains, mas na sua maioria em singles e EPs, talvez a capa de Angel Whore seja sua arte mais conhecida. Após a intro "The Arrival" a aniquilação sonora se dá com "The Blessed Pestilence", talvez uma unanimidade quando falamos deste artefato. Ela já começa com um riff gelado e uma bateria puxando um headbanging. A forma descompromissada com que Sataniac berra a letra conclamando os horrores da peste negra medieval, nos dá uma ideia de uma banda crua e desgracenta, mas os riffs de guitarra somados a uma passagem em que o baixo aparece de forma clara, mostram que não é uma horda de submundo berrando maldições de forma pueril, mas um nome que chegou para ficar. O riff da faixa título é bem thrash, evocando primórdios de bandas como seus conterrâneos do Kreator, com um vocal mais gutural e uma interpretação incomum, mostrando que o vocalista não se acomodaria berrando sempre da mesma forma obscena. Ótima música! "Conqueror's Supremacy" é outra faixa excelente, já num esquema mais épico, com andamento mais mediano e vocalizações diferenciadas contendo até narrativa. Tem até música pra quem curte death metal, com "Nihilistic Overture" o Desaster aposta em bases old school, com peso e velocidade mediana, enquanto Sataniac manda guturais cavernosos. "Angel Whore" é um álbum essencialmente extremo, onde fãs de thrash, death e black irão se deleitar com uma banda que encontrava seu caminho de glória (ou danação) há 20 anos.

 

sábado, 18 de outubro de 2025

20 anos de The Inventor of Evil do Destruction!!!


O Destruction é, indiscutivelmente, uma das maiores forças do thrash metal mundial. Desde o início dos anos 80 até os dias atuais sempre foi assunto no mundo do metal, por seus lançamentos e principalmente por apresentações carregadas de energia, com seu líder Schmier (baixo e vocal) sendo uma das figuras mais carismáticas e metaleiras (se me permite o termo) da cena. "Inventor of Evil" é o seu 9º trabalho de estúdio, lançado em 2005 pela AFM Records. Após 2 álbuns icônicos, o sensacional "The Antichrist" e o plástico, mas ainda bom "Metal Discharge", "Inventor of Evil" finalmente trouxe de volta à sua capa o mascote Mad Butcher, com todo sangue e carniceria que lhe é peculiar. Produzido por Marc Reign e a banda e mixado por Peter Tägtgren, a sonoridade ficou melhor que o trabalho anterior, apesar de que o som meio digital que a banda empregou em seus álbuns daquele período e tentou fugir disso nos últimos anos, sempre me deixou um pouco chateado. Seria muito bom ouvir um álbum do Destruction com uma gravação analógica como nos anos 80. Enfim, o trabalho tenta se diversificar um pouco, mas acaba permanecendo um som típico dos caras. O início de "The Calm Before The Storm" e sua estrutura mais clássica é um diferencial bem planejado e ficou legal. Já a participação de 1 milhão de outros artistas na música "The Alliance of Hellhoundz" soou forçada e meio bagunçada. Talvez Tobias Sammet, que também é alemão, pudesse dar uma forcinha a Schmier sobre como colocar vários vocalistas em um projeto de forma organizada, hehe. Mas nesta faixa temos a participação ilustre de grandes nomes como o finado Paul Di'Anno, Biff Byford do Saxon, a rainha Doro Pesch, Shagrath do Dimmu Borgir (aehhh), Björn Strid do Soilwork, Messiah Marcolin do Candlemass, Mark Osegueda do Death Angel e Peavy do Rage. Uma de minhas músicas preferidas do álbum é "The Defiance Will Remain", com uma pegada elétrica e riffs rápidos. Outra bem legal é "Under Surveillance" com uma base mais quebrada bem thash e refrão forte. Mike Sifringer conservava seu pulso forte para palhetar as 6 cordas e Marc Reign em seu segundo álbum de estúdio mostrando que não era só no metal extremo que ele se destacava. 

 

20 anos de Chimaira do Chimaira!!!


A banda Chimaira, de Cleveland nos Estados Unidos, é comumente associada ao NWOAHM, uma versão americana dos anos 2000 em contrapartida à New Wave da Inglaterra dos anos 80. Com um álbum autointitulado em 2005, seu terceiro trabalho, o sexteto (?) abdicou de alguns elementos mais eletrônicos de seus 2 primeiros álbuns para ostentar uma vertente mais tradicional, apesar de ainda continuar soando como uma banda de groove/metalcore. Mas os fãs de Thrash Metal se surpreenderam com vários riffs extremamente encaixados na proposta post thrash, principalmente nos elementos encontrados em alguns capítulos de Machine Head e Lamb of God. Acostumado a trabalhos mais groove da banda, ao ouvir esta pancada, fiquei muito entusiasmado, pois até o momento este álbum é o mais próximo daquilo que eu realmente aprecio quando o assunto é agressividade e peso no groove. O groove por si só é um bolo que você aprecia no momento, mas ele te deixa empanzinado e pode causar vômitos. Já o groove com thrash é aquele bolo que você come e repete 2 pedaços antes de libertar um sonoro arroto de satisfação. As 2 músicas de abertura, "Nothing Remains" e "Save Ourselves" definem bem a magnitude deste trabalho. Mesmo que a estrutura destas músicas caminhem pelo metal mais gordo, volta e meia entra um riff old school (pero no mucho) para te fazer levantar da cadeira e olhar o que realmente está acontecendo. Os vocais de Mark Hunter também ajudam a curtir este som, na linha de Randy Blythe, porém caminhando na direção de Burton C. Bell, ex Fear Factory. As músicas são longas, passando em sua maioria de 5 minutos e as letras às vezes me parecem bem individuais, contando algumas situações de vida e família do vocalista, como em "Left for Dead". A arte da capa, criada por Garret Zunt, que também fez a anterior (branca e vermelha), agora se concentrou no preto e branco, e para ficar melhor eu colocaria o logo da banda maior e sobre as figuras. O baterista recrutado para este petardo foi Kevin Talley, que na época socava os kits da banda de death metal Dying Fetus, portanto, acostumado a groove e desgraceiras. Completam o time os guitarristas Rob Arnold e Matt DeVries, o baixista Jim LaMarca e o tecladista Chris Spicuzza. Outro grande momento no play fica com solos de guitarra. Ouça "Everything You Love" e comente sobre o solo.
 

domingo, 12 de outubro de 2025

20 anos de Doomsday Machine do Arch Enemy!!!


Se fizer um top 10 da discografia do Arch Enemy, "Doomsday Machine", sexto opus da banda sueca, ficará em terceiro. Isso é bem positivo em se tratando de gosto, mas se eu também disser que nenhum outro trabalho posterior superou este álbum, estamos quase alegando que "Doomsday" seja a última grande obra do Arch Enemy. Há um pouco de verdade nisso, mas é também real que houveram sim belos trabalhos desde então, mas nenhum me fisgou com a mesma intensidade que estes trabalhos da época em que Angela Gossow esteve à frente do microfone. Pode ser apenas gosto pessoal, mas...
Com uma intro carregada de melodia e um estrondoso gancho de guitarra, "Enter the Machine" chega causando ótima impressão. "Taking Back My Soul" cumpre bem seu papel de música inicial e pós intro, com as características esperadas de uma banda de melodic death no mainstream. Vocais rasgados, peso, melodia e uma trilha fácil de lembrar. "Nemesis" é a música de trabalho e merece tal posto, a melhor do álbum, mesmo que com o passar dos anos ela soe comercial, se é que podemos chamar death metal de comercial. Gosto muito de "My Apocalipse", são bases pouco convencionais, onde Michael Amott toca como nos tempos de Carcass, levando uma base sem muita lógica nem melodia bonitinha, apenas metal incomodando, e bem feito. Bom citar "I Am Legend/Out For Blood", uma faixa diferenciada, com Daniel Erlandsson soltando a mão (e os pés) na bateria, além de melodias de guitarras criativas e enriquecedoras, além de seu riff principal bem direto. A penúltima música do álbum, "Machtkampf" é bem enérgica, beirando o thrash, e o começo da bateria lembra demais aquele início de "Territory" do Sepultura. Já a derradeira "Slaves of Yesterday" é bem trabalhada, tem um riff bem pesado e palhetadas abafadas, mas as melodias inseridas são bem interessantes, e o solo de guitarra também é uma viagem. Bela faixa para te pedir um novo play de todo o petardo. "Doomsday Machine" não se perde repetindo os trabalhos anteriores, ele segue o mesmo molde de "Anthems of Rebellion", mas não tem o mesmo brilho. Ele também não soa repetitivo, cada faixa tem mais ou menos criatividade que as outras, mas as suas particularidades não deixam o som enfadonho. Certamente foi um álbum pensado para grandes arenas.