sábado, 9 de outubro de 2021

Entrevista com Scars!!!

 


Formado no início dos anos 90, o Scars de São Paulo se tornou um dos maiores nomes do Thrash nacional em pouco tempo, com o rápido reconhecimento do EP "The Nether Hell", que se tornou um trabalho cultuado e proporcionou enorme visibilidade para a banda. Para falar desta época e um pouca da história do Scars até os dias de hoje, temos o amigo guitarrista Alex Zeirab, que nos proporcionou ótimos momentos nas palavras que seguem:

M&L – O primeiro trabalho de impacto nacional do Scars foi o EP The Nether Hell de 2005. É um álbum baseado na Divina Comédia de Dante? O que ele significou para a banda?



Alex -  O The Nether Hell teve toda sua temática tecida sobre as faixas depois que elas já estavam compostas e já estávamos em estúdio gravando-as. Eu havia lido "O Inferno de Dante" poucos anos antes, e me deliciei com toda a atmosfera e detalhe com o qual Dante Alighieri escreveu essa obra-prima. Fomos fiéis às passagens nas músicas que citam a obra e trouxemos uma arte gráfica rica, toda com as gravuras de Gustave Dorè. Esse "pequeno álbum" teve um impacto mundial totalmente inesperado por nós que repercute até hoje, possuindo uma legião muito fiel de ouvintes e divulgadores. Acho que esse ficou para história mesmo e nos orgulhamos muito disso. Esse registro foi muito importante para posicionar o SCARS entre as grandes bandas do Brasil e seus grandes álbuns, porém com somente seis faixas - e assim mesmo fez mais barulho que muitos "full-lengths", até mesmo o Devilgod Alliance. Em comparação ao Predatory, ainda é muito cedo para dizer. Só o tempo e sua maturidade confirmarão isso.


M&L – Três anos depois o Scars lançou Devilgod Alliance, com uma formação bem diferente, conservando apenas você na guitarra. O que pode falar deste álbum?

Alex -  Esse é um ótimo trabalho, com muita qualidade na gravação e peso nas composições. Há muita influência de

outros estilos fora do thrash nele, porém breves e não predominantes. Metade desse álbum foi composto durante a turnê do The Nether Hell, a outra metade por mim após a desmembração da banda. O que fez mais falta nesse registro é o vocal e a arte de finalização de estúdio do Régis, que fizeram muita falta durante o processo de gravação e escolha dos temas e letras para o CD. Todas as letras do Devilgod são minhas e tiveram sua execução em estúdio por um grande amigo meu, o André Guilger, que recebeu tudo pronto e não teve muito tempo de criar grandes linhas de voz e arranjos, mas fez um excelente trabalho não obstante. Eu e o João Gobo temos uma afeição especial por este álbum, talvez por estarmos nele. O Marcelo Mitché adora esse álbum, talvez mais que eu, e insiste para que toquemos pelo menos duas faixas dele no setlist atual, o que será feito eventualmente. Eu tenho emoções controversas sobre ele: de realização e missão cumprida, mas ao mesmo tempo ele representa também uma época de término e interrupção na minha carreira musical.

M&L – Temos um instrumental bem forte nele, e uma versão para Scars do Overdose com a cara da banda Scars. Isso pode até confundir algumas pessoas sobre a origem do nome da banda, mas quando o álbum dos mineiros foi lançado a banda Scars já existia há alguns anos, certo?

Alex -  Esse grande álbum do icônico Overdose foi lançado em 1996, e sim, o SCARS foi formado em 1991 e o Régis já havia batizado a banda inspirado no álbum do Dark Angel - Leave Scars - de 1989. Adoramos fazer essa versão para o tributo ao Overdose de 2007. Gostamos muito do resultado final, apesar e principalmente por esta ter ficado bem diferente da original, que é mais devagar e tem as tradicionais percussões brasileiras nela.

M&L – Então a banda deu uma pausa nas atividades e retornou em 2018, e com Régis novamente nos vocais lançou Predatory em 2020. Por que lançaram o álbum justo no período em que não poderiam fazer shows para promovê-lo?

Alex -  Quando a pandemia se instaurou nós havíamos acabado de realizar todos os takes de gravações e estávamos prestes a começar a mixagem, que foi realizada totalmente online e remotamente entre a banda e o produtor Wagner Meirinho. Durante esse processo, conseguimos o contrato de lançamento com a americana Brutal Records, que sugeriu a data de lançamento para começo de agosto de 2020, logo no "início" da pandemia. Não quisemos perder esse timing e decidimos não esperar para lançá-lo. Com isso, a turnê do álbum ainda está por vir em breve. Sobre o Régis, quando ele saiu da banda em 2007, ele levou parte da identidade do SCARS consigo. Assim, felizmente, trazendo tudo o que havia levado, e muito mais, de volta para a banda em seu registro de retorno Armageddon, que gravamos em setembro de 2018 (14 anos após seu último registro de estúdio com a banda). Alí ele mostrou que a criatura estava dormente, mas não deixando de evoluir. Com seu registro de vocal na faixa que abre o álbum, Régis confirmou que estava em sua melhor forma desde a fundação da banda e não somente fez sua parte com primor, como também " assustou"  a todos nós da banda. Ele realmente só soltou a voz e mostrou o que tinha preparado para o álbum no primeiro dia das gravações de voz, ficamos realmente impressionados com a potência e timbre que o vocal dele havia alcançado. Ele é um talento nato. Uma alma a serviço do metal.

M&L – Predatory é um trabalho bem nervoso, resgatando aquela energia de The Nether Hell, porém com uma criatividade muito além, e uma produção poderosa. Músicas como Ancient Power deixam qualquer pescoço dolorido.


Alex -  Muito obrigado por suas palavras. Uma curiosidade: Ancient Power quase ficou de fora do álbum e hoje vemos que ela é uma das de maior destaque do Predatory. Sobre a produção, o Wagner tem um talento único e é um excelente produtor musical, especialmente de metal. Ele é muito metódico, seguro de si e aberto à participação da banda em todo o processo da gravação. Essa abertura possibilitou que chegássemos a um resultado muito próximo do que havíamos envisionado para o álbum, com idéias sendo geradas por diversas mentes brilhantes e dedicadas ao projeto. A parte cristalina e de precisão métrica se devem totalmente ao Wagner e sua equipe. A parte dos timbres e sonoridade do álbum é um crédito da banda, que não se deu por satisfeita até realmente chegar a um resultado que agradasse a todos os envolvidos. O Wagner foi muito receptivo e altruísta em sua figura de autoridade da produção e registro da obra, possibilitando a divisão de méritos e responsabilidades igualmente entre todos. Adoramos trabalhar com ele e sua equipe e queremos repetir a dose muito em breve.

M&L – E vocês mostraram que nem só de velocidade vive o Thrash, com a ótima Sad Darkness of the Soul.

Alex -  Essa é a menina dos meus olhos. Totalmente diferente do que o SCARS já tenha feito. Haviam rascunhos de uma música que o Régis havia começado com o primeiro guitarrista solo na volta do SCARS, o Edson. Essa parte era a linha de voz e o refrão. Quando as inspirações acabaram em dado momento das composições, eu prometi ao Régis reviver essa música e transformá-la em algo completo e diferente. Eu só tinha uma certeza: queria que ela fosse inteira guiada pelo baixo, com momentos só dele com os tambores da bateria. Aliás, o primeiro dueto de solos dela é meu. Raramente gravo solos nos discos, mas esse eu quis registrar me inspirando no James Hetfield solando na Orion e na Master.

M&L – Vocês lançaram vários vídeo clipes e lyric vídeos para as músicas de Predatory, inclusive um para Ghostly Shadows neste fim de semana (entrevista na metade do mês de agosto). Vocês acham que após o fim da MTV, o YouTube e demais plataformas áudio-visuais estão tornando este formato forte novamente?

Alex -  A tecnologia de hoje permite ao usuário ter o mundo do entretenimento dentro do seu bolso e "on demand", isto é, ele pode fazer a sua programação e não depender de um VJ ou DJ  para dizer o que ele vai ver e ouvir. Como o SCARS esteve dormente durante 10 anos, nós não podemos desfrutar dessa era digital. Assim, no final de 2017 e começo de 2018, eu decidi trazer todo o material do SCARS para o novo mundo digital, do qual não havíamos participado antes. Assim, com gigas e gigas de músicas, vídeos, fotos, cartazes e muita coisa mais em back-up, criei um canal no YouTube e uma página tributo no Facebook, disponibilizando assim toda a discografia da banda e sua rica história para o novo mundo. A agência Distrokid, de Nova York/EUA, foi a responsável por lançar toda a discografia para streaming e vendas/downloads em todas as plataformas digitais como Spotify, Deezer, iTunes/Apple Music, Amazon, etc...Hoje todo o material da banda está disponível no bolso do nosso público. E é nossa obrigação disponibilizar material de qualidade para que todos possam selecionar o que escutar e assistir do SCARS.

M&L – Comparações entre bandas é algo até normal, e geralmente associamos novos sons a bandas gringas, mas neste álbum o Scars gravou algo tipicamente brasileiro, e talvez a maior referência sejam os paulistas do Korzus. Eles realmente são uma inspiração para o Scars ou apenas o timbre do Régis lembra o de Pompeu?

Alex - Eu sou um grande fã do KORZUS e todos nós da banda admiramos e respeitamos muito sua história. Já fizemos incontáveis shows juntos e sempre foi uma honra poder dividir o palco com eles. A influência das guitarras do KORZUS são uma influência natural no meu jeito de tocar e compor, pois eu cresci escutando eles junto com Forbidden, Metallica, Exodus. O mesmo deve acontecer com os vocais do Régis, mas naturalmente, não planejado.

M&L – O que vocês acham que vai mudar no cenário do metal nacional após a pandemia?

Alex - Há muita especulação sobre o retorno de tudo após a pandemia. Eu não consigo especular nada como real, prefiro esperar para ver acontecer. O que posso sim expressar é a minha esperança de que possamos nos encontrar de novo em um show, tomar aquela gelada e bater cabeça juntos. Esse dia chegará, mas o caminho  e prazo ainda são incertos para mim neste momento. Principalmente por estar claro que nós não trabalhamos juntos como sociedade / civilização para superar esse mal e evoluir, há muita discórdia e falta de uma consciência coletiva comum em prol do bem geral e não individual. A nossa comunidade do Metal foi muito afetada e dividida nesse período, o que me entristece muito.

M&L – Um prazer ter o Scars em nossa página para comemoração de nossos 12 anos. Sucesso à banda, e o espaço está aberto às suas considerações.

Alex -  Muito obrigado pelo espaço e por seu suporte, Metal e Loucuras! Somos imensamente gratos por nossa parceria. A todos que acompanham o SCARS, muito obrigado por esses 30 anos, especialmente pelos últimos 02 anos, onde talvez fizemos muito mais do que nos anos anteriores - e tudo isso graças a vocês! Sem nossos fãs não há SCARS. Nós tocamos por e para eles! Amamos todos vocês, muito obrigado por tudo!




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