Chegamos à última resenha de álbuns completando 20 anos em 2024 e não poderíamos finalizar este ano de forma melhor. Afinal estamos falando de um dos melhores álbuns do Chakal, banda pioneira do metal nacional, que surgiu na mesma época que Sarcófago, Sepultura, Mutilator e Cia Ltda. Após seu retorno ao cenário em 2003 com o fraco "Deadland", a banda nos surpreendeu com esta pérola chamada "Demon King", pelo selo Cogumelo, e de quebra subiu ao palco para várias apresentações em 2005, mostrando no palco uma banda única, e que vinha fazendo muita falta no cenário. Já fizemos uma resenha para este trabalho em 2014, portanto, quem quiser conferir é só entrar no link ( https://blast-metaleloucuras.blogspot.com/2014/08/demon-king.html ). Demon King é thrash em estado bruto, balanceado entre faixas rápidas e outras mais arrastadas. Ele já abre com a porrada "Morlocks Will Rise!", que na época se tornou de cara uma de minhas preferidas. Em seguida a música que dá nome ao trabalho tem um peso absurdo, e permanece no set list da banda até hoje. "Christ In Hell" e "Mirror Made Tricks" seguem depejando riffs sujos e pesados, com belos solos de guitarra, quando do nada surge uma versão de "Evil Dead" do Death de Chuck, de tirar o chapéu. No momento não me lembro de algum outro cover que o Chakal tenha feito, portanto, "Evil Dead" é um momento único em sua discografia. "War Drums" é outro grande momento, uma faixa que começa em ritmo médio e ganha velocidade, culminando em um final com vocais guturais que ficaram a cargo de Fernando Lima do Drowned. "Flowers On Your Grave" é outra música que me pegou de jeito na época, ela tem umas melodias bem heavy metal, além de um solo bem melódico, que casaram com a brutalidade do Chakal de forma surpreendente. "Human Remains Banquet" tem uma passagem antes do solo, com um peso que causa arrepios, e uma melodia bem legal nas guitarras. Para fechar temos a ótima "Psycho", a instrumental "The Mask of the Red Death", um interlúdio de dedilhados para acalmar a alma antes da derradeira e brutal "Mastered Dogs". Que álbum, criaturas! Mark e Cabelo nas guitarras, Toniolo no baixo, Wiz na bateria e Korg nos vocais!
domingo, 29 de dezembro de 2024
quinta-feira, 26 de dezembro de 2024
20 anos de Iron do Ensiferum!!!
O que acontece quando uma banda que toca música extrema quer tocar tudo certinho e bem produzido? Ouça "Iron", o segundo álbum dos finlandeses do Ensiferum, lançado em 2004, e me responda. A banda toca um folk/viking metal com influência de várias e muitas outras coisas já ouvidas. Sim, até seus conterrâneos do Children of Bodom, que tocavam death melódico exerceram alguma coisa sobre o som gravado em "Iron". Mas não somente eles, alguma coisa de Thyrfing da fase Valdr Galga aparece aqui e ali, e até algo de Turisas. Muita gente fala que o som do Ensiferum é pra cima e alegre, mas eu não consegui enxergar essas características neste lançamento. Vejo uma banda tocando como se não fosse o maior tesão de suas vidas e não me entendam mal, principalmente você que é fã. Este não é um álbum ruim, mas não tem aquele sangue nos olhos que se espera de um viking ou um bárbaro, e Quorthon certamente me daria razão. A abertura com "Ferrum Aeternum" é realmente muito chata, um instrumental com mais de 3 minutos que não serve pra nada. Mas a faixa título acaba com essa impressão, o som é bem produzido, os vocais são legais, temos as guitarras como base de tudo, apesar dos teclados sempre querendo aparecer mais do que o necessário. O que podemos dizer é que a banda realmente gosta de tocar rápido, assim como seus outros conterrâneos do Kalmah, a exemplo da faixa "Tale of Revenge", mas também temos momentos mais introspectivos com vocais limpos (ou quase) como em "Lost In Despair" ou em "Tears", com vocais femininos, uma música meio sei lá... A arte da capa, criada por Kristian Wahlin, é bem legal, com o guerreiro e seu cavalo em destaque e dois exércitos em combate, e o guerreiro na paz, como se assistisse TV, num estilo quase rústico. O coro em "Into Battle" enriqueceu a música, gosto destas partes que lembram gritos de guerra. A música de maior trabalho, e que ultrapassa 7 minutos é Lai Lai Hei (disseram pra escrever tudo maiúsculo mas achei melhor não), com bons momentos, tanto os acelerados quanto os mais calmos. Algumas versões trazem um cover até inusitado para o estilo do Ensiferum, "Battery" do Metallica que teve o instrumental bem fiel ao original, apenas os vocais surpreendem. Não é uma resenha de 20 anos que vai te direcionar a curtir ou não este álbum. Melhor ouvir e se decidir.
quarta-feira, 25 de dezembro de 2024
20 anos de Symphony of Enchanted Lands II do Rhapsody!!!
O sexto trabalho de estúdio dos italianos do Rhapsody é o início de uma nova saga lírica, e ganhou a voz de Christopher Lee, o ator que interpretou Saruman em Senhor dos Anéis, além de vários papéis como Drácula e outras participações em filmes da franquia Stars Wars e até 007. Lee é o narrador da história por trás deste álbum, e uma sacada genial da banda para catapultar seu som para um público que em 2004 tendia a se afastar do metal melódico e tão sinfônico que a banda praticava. O início com "The Dark Secret (The Ancient Prophecy / Ira Divina)" é digno de cinema, com a narrativa da criação dos sete livros, dos quais apenas o mais terrível e poderoso sétimo livro, e pelo qual sua busca se baseia esta saga. A primeira música real é a explosiva "Unholy Warcry". Esta talvez seja a música mais power metal do "Symphony of Enchanted Lands II" e a partir deste ponto podemos fazer uma analogia. Você não ouvirá nada mais agressivo neste trabalho. O que podemos dizer deste álbum é que ele é o mais sinfônico da carreira até aqui, deixando completamente em segundo plano as guitarras, e com os corais e orquestras à frente de tudo, talvez numa tentativa de maior imersão na história contada. "Never Forgotten Heroes" segue o batido da anterior, só que é menos direta e mais épica, enquanto "Elgard's Green Valleys" é apenas uma passagem de 2 minutos quase inteiramente na flauta, para dar início a "The Magic of the Wizard's Dream", uma faixa acústica, com boas melodias, refrão majestoso e letra serena, um interlúdio na batalha que está por vir. "Erian's Mystical Rhymes (The White Dragon's Order) é a primeira faixa épica com mais de 10 minutos. Com uma letra capaz de provocar delírios em jogadores de RPG de fantasias, ela traz algumas partes em que os teclados dão uma trégua, para enfatizar guitarras com riffs baixos, liberando a voz de Fabio Lione para brilhar, como ele sempre soube fazer. A música culmina em outra narrativa esplendorosa de Lee. "The Last Angel's Call" volta à tentativa de um power metal sem peso ou raiva, mas conecta um bom refrão e um belo solo de guitarra acompanhando as bases. "Dragonland's Rivers" também privilegia a flauta e dedilhados, com refrão bonito de igreja (hehe). A outra faixa que ultrapassa 10 minutos é "Sacred Power of Raging Winds", com bateria cavalgada e refrão épico. O play termina com "Guardiani Del Destino" para não perder costume de sempre ter alguma letra em italiano, a forte "Shadows of Death" e "Nightfall on the Grey Mountains". O Cd foi lançado com um DVD bônus com vídeo clipe para "Unholy Warcry" em 3 versões diferentes, mais making of do vídeo, da gravação do álbum e até cenas de gravação com Christopher Lee, que faleceu em 2015.
segunda-feira, 23 de dezembro de 2024
20 anos de Behind the Veil do Distraught!!!
O Distraught é aquela banda de Porto Alegre que todo banger deveria ver num palco algum dia. São riffs e mais riffs de guitarras despejados sobre o palco que deixam qualquer um com o pescoço dolorido. Mesmo sendo uma banda que tem um desempenho ferrado ao vivo, desde 1998 os gaúchos vem lançando ótimos trabalhos, com capricho e técnica. Em 2004 eles chegavam a seu terceiro play, o poderoso "Behind the Veil", que ultrapassou em qualidade os 2 trabalhos anteriores. O vocalista André Meyer está soltando a voz muito melhor agora, e mesmo que em alguns momentos ele cante de forma mais urrada como no álbum "Infinite Abyssal", e um exemplo disso é a faixa "Bloodisunity", na maioria das músicas sua voz está mais aberta e rasgada, algo que ficaria ainda mais latente no trabalho posterior. O instrumental também evoluiu, com mudanças de andamento mais naturais, e o trabalho dos guitarristas Marcos Machado e Ricardo Silveira ora vem carregado de palhetadas rápidas, ora traz um som mais trabalhado, porém sem soar muito melódico. O baixista Gustavo Stuepp segura bem a cozinha, e o baixo não é gorduroso, mas acompanha bem o instrumental e pode ser facilmente identificado em faixas como Secrets. A novidade é o baterista Éverton Krentz, que chegou mostrando qualidade e se encaixou como uma luva no som do Distraught. O soldado na arte da capa é uma alusão à parte lírica, que de certa forma é quase conceitual, com o personagem Trevor sendo citado em algumas faixas, todas mostrando cenários da Idade Média, como os cavaleiros templários, a peste negra e a Santa Inquisição. O álbum, lançado pela Marquee Records, não era fácil de encontrar quando foi lançado, (sim, o procurei diversas vezes logo após seu lançamento e não consegui adquirir) e hoje é um item raro na cena. Portanto, se tu tens em seu acervo, mantenha bem guardado, como os segredos revelados aos templários, que destruíram suas convicções religiosas.
quinta-feira, 19 de dezembro de 2024
20 anos de Satanic Metal Kingdom do Impurity!!!
O universo black metal se popularizou no selo Gogumelo a partir do ano de 1993, quando Impurity e Amen Corner lançaram seus debuts pela gravadora, isso se você não considerar que o Sarcófago tenha sido uma banda de black metal, termo que não era utilizado em referência à banda naquela época. Portanto podemos dizer que o Impurity, que é de Belo Horizonte, seja um dos precursores do estilo infame, na cena mineira. Não que isso tenha rendido algum tipo de status à banda, já que eles nasceram e sobrevivem no underground até hoje, sendo conhecidos apenas em uma comunidade específica do submundo. Eles estão chorando por isso? Acredito que não. A banda, que chegava a seu terceiro trampo em 2004, ficara exatamente 8 anos sem lançar nada, vagando no limbo da sub existência, e neste meio tempo tudo que ouvimos de novidade foi uma versão para a melhor música do álbum Hate do Sarcófago, a pesada "Orgy of Flies", que saiu no tributo à melhor banda do Brasil em 2001. Desta feita o lançamento, intitulado "Satanic Metal Kingdom" saiu pelo selo "Kill Again", que começava a despontar no mercado nacional com lançamentos de bandas como Corpse Grinder e Violator. O som do Impurity é cru e ponto final. Não que melodias esporádicas não façam parte das canções, o dedilhado em "About The Flame And The Wind" derruba esta teoria, mas é que até nestas partes melódicas a banda consegue soar suja, sem nenhum tipo de aspiração a sons limpos e muito bem produzidos a la Andy Classen, mas apenas aquele som de garagem ou melhor, de porão mesmo. Existe sim uma galera que ama um som sombrio, sem o compromisso de soar bonito ou bem produzido e essa galera é bem fiel e estes álbuns são relíquias sagradas em suas caixas de sapato. E o melhor é que a banda não soa como garotos que não sabem tocar, pelo contrário, são caras que entendem o que estão fazendo e o fazem com orgulho e por gosto. O álbum "The Lamb's Fury" pode ser considerado um clássico do selo Cogumelo, mas em minha opinião, a banda soa muito melhor em "S.M.K.". As guitarras procuram variedade, mesmo que as mudanças de andamento não sejam uma regra nem se reproduzem como pulgas, mas elas deixam o som bem variado, a bateria corrobora com sons pouco explosivos, a banda soa bem densa e não temos nada de metrancas, o baixo aparece pouco e os vocais são roucos e cavernosos. Dos 5 membros, apenas o vocalista Ram Priest está na banda desde o início e todos os outros só participaram deste álbum. Caso você não conheça, vale a pena dar uma conferida.
segunda-feira, 16 de dezembro de 2024
20 anos de Master of the Moon do Dio!!!
O último trabalho full do mestre Ronnie James Dio, uma das vozes mais representativas de toda a história do heavy metal. Master of the Moon foi gravado novamente pelo baterista Simon Wright e contou com a volta do guitarrista Craig Goldy, que conseguiu se redimir do trabalho mediano de "Mágica", Para o baixo voltou Jeff Pilson, 7 anos longe da banda, e o tecladista Scott Warren, desta vez creditado como membro da trupe. E percebe-se o esforço que esta galera fez para tornar "Master of the Moon" um álbum memorável. Conseguiu? Uma resposta bem particular, que vai depender do gosto de cada um. O que posso dizer é que foi uma despedida honrosa, e o melhor trabalho da banda DIO nos últimos anos. A capa é bem legal, com aquele demônio segurando uma lua de cristal se despedaçando como se fosse o senhor do espaço, sobre as nuvens, em tons azuis e lilás. A cara de jogos de RPG. A faixa que abre o álbum é simplesmente fenomenal, "One More For The Road" é digna de uma "TV Crimes", rápida, pesada, com um astral bem metal. Já a faixa título que vem em seguida é a típica música que busca identidade na época do Rainbow, uma canção atmosférica usada principalmente para privilegiar a fantástica voz de Dio. E meus amigos e amigas, criaturas noturnas, a cada música que rola ao ouvir este álbum, a gente vai se emocionando com a voz desse cara, que foi uma das maiores perdas da história do metal. Você pode ser aquele cara que prefere um metal extremo, mas não tem como não se render à voz poderosa de Dio, seus registros são memoráveis. Ouça o que ele faz em "Shivers" ou "Living the Lie", duas músicas que nem tem a característica de um instrumental voltado para a voz, pois são músicas super pesadas e heavy, assim com a faixa de abertura, mas Dio canta com uma voz tão poderosa que fica difícil imaginar que o cara já tinha passado por 62 primaveras quando "Master of the Moon" ganhou vida. Destaque ainda para as faixas "I Am" com uma interpretação perfeita, além de um refrão simples que mostra como Dio tinha recursos para transformar algo tão comum em algo que ficaria reverberando em nossa mente e nos obrigando a cantar junto. E a faixa que fecha o trabalho, a sensacional "In Dreams". Uma música pesada com um riff bem Sabbath, e Dio, (não me canso de dizer) dando uma aula de voz, talvez a melhor interpretação dele neste álbum. "Se eu sou um rio, então você é o mar / Em algum lugar você me encontrará / Sozinho nadando aqui em êxtase / Se eu sou silêncio, você deve gritar / Mas eu não te ouço / Estou em um lugar que eu nunca vi antes" Agora nós sabemos, Ronnie! E um dia também estaremos em um lugar que também nunca vimos!
domingo, 15 de dezembro de 2024
20 anos de XES Haereticum do Enthroned!!!
SEN-SA-CIO-NAL!!! Não há tantas palavras para definir o sexto álbum do Enthroned, "XES Haereticum", a maior banda belga de black metal, que está à frente no panteão do estilo mais execrável do metal sombrio, ao lado de ícones como Marduk e Immortal. Lançado em 2004 pela Napalm Records, ele ficou marcado como o último trabalho da banda a contar com o vocalista Sabathan, uma perda irreparável na trajetória da banda. Depois do irrepreensível "Carnage in Worlds Beyond" não imaginava que os belgas conseguiriam gravar um disco tão bom quanto, mas eles não fizeram isso, eles conseguiram se superar. Não vou comentar aqui a mudança climática que a banda adquiriu do próximo trabalho em diante para não macular esta resenha, então aprecie as próximas palavras, com muito saudosismo. O álbum abre com a ultra porrada "Crimson Legions", despejando um som esporrento como a banda sabia fazer, com riffs rápidos, baixo acelerado, bateria extrema e vocais rasgados. As guitarras de Nornagest e Nerath Daemon mostram um time bem entrosado, mas o peso não é uma característica, elas são como serras cortando seus membros, enquanto o baixo de Sabathan segura as brechas não deixando espaço para buracos. O batera Alsvid continua socando tudo com uma estupidez digna de um bárbaro bêbado após jarras de hidromel numa pocilga noturna. E o vocal de Sabathan lembra um cachorro gripado e com ódio. Em seguida temos uma das melhores músicas do trampo, "Dance of a Thousand Knifes (Moksha Bhakti)", totalmente insana. "Last Will", que às vezes fica em segundo plano carrega alguns riffs quase thrash e merece mais atenção. A primeira novidade fica por conta de "Blacker Than Black", que tem uma primeira parte cadenciada, mostrando que você nem sempre precisa correr para mostrar que tem ódio jorrando nas veias e fogo nas ventas, essa música tem uma atmosfera tão maldita que chega a arrepiar. O início de "Vortex of Confusion" com um baixo bem proeminente chama atenção, uma música com mais de 7 minutos que quase chega a ser a canção épica do play, mas se mostra outro arrasa quateirão. Depois de uma faixa instrumental chamada "A.M.S.G." temos outras duas canções inadequadas para ninar crianças, as pancadarias "Demon's Claw" e "Night Stalker" para enfim chegarmos na tal faixa épica, maravilhosa, arrepiante e pestilenta "Seven Plagues, Seven Wraths (XES Revelation)". A banda soube aproveitar seus pouco mais de 7 minutos condensados em tudo que uma música de black metal épico pode ter, refrão carregado e vocais limpos paralelos aos vocais rasgados, passagem acústica com direito a um som oriental belíssimo. Os vocais limpos ficaram a cargo do produtor Harris Johns. Uma música para ser tocada 1000 vezes sem enjoar. O play convencional fecha com a poderosíssima "Helgium Messiah", outra porrada extremamente agressiva e cativante para os amantes das artes bélicas do underground. A versão brasileira e outras ao redor do mundo têm 3 bônus, "Crucified Towards Hell", "Satanic Metal Kult" (que coisa linda eles fizeram antes do grand finale desta música, com aquela bateria metrancada" e o cover belíssimo de "Under the Guillotine" dos mestres alemães do Kreator. "XES Haereticum" não apenas merece estar em sua coleção. Ele é um item obrigatório!
sexta-feira, 13 de dezembro de 2024
20 anos de The Greater of Two Evils do Anthrax!!!
Regravar seus próprios clássicos sempre foi um risco, e poucos saem vitoriosos nesta tarefa. Existem bandas que nem tocam ao vivo as músicas gravadas com formações anteriores, mesmo que em alguns casos, as formações anteriores tenham gravado coisas tão boas, que nós fãs gostaríamos de ver como os novatos se saem com aquelas músicas. Talvez seguindo esta linha os americanos do Anthrax tenham comemorado seus 20 anos de lançamento do clássico debut "Fistful of Metal" de 2004, regravando pérolas de seu passado com um novo guitarrista, no caso Rob Caggiano no lugar de Dan Spitz, e mais claramente falando do vocalista John Bush cantando músicas famosas nas vozes de Neil Turbin e o monstro Joey Belladonna. Bush foi um vocalista aceito por muitos fãs, inclusive eu amo "Sound of White Noise", mas a maioria sempre pediu pela volta de Belladonna, que gravou os maiores clássicos do Anthrax, portanto "The Greater of Two Evils" é olhado como uma heresia na discografia dos americanos. Eu não coloco desta forma. Claro que esta formação não se sobressai ao que fez no passado, e se tiver que escolher entre "Caught in a Mosh" ou "Indians" dos anos 80 e de 2004 fico obviamente com as velhinhas. Mas como também sou um fã de Bush, é legal ouvir algumas versões em sua voz, como na pesada "Keep It in the Family". O maior problema deste lançamento de 20 anos atrás nem é a voz de Bush substituindo a de Belladonna, mas a gravação e produção. É legal de uma forma, pois parece que os caras estão tocando ao vivo, ou ensaiando, então tudo parece bem espontâneo. Por outro lado, as guitarras não têm aquele som limpo e clássico do thrash oitentista, e soam com muito mais groove e sujeira, como o metal do fim dos anos 90. Sei que isso deve ter sido proposital, pois combina melhor com a voz de Bush, inclusive os álbuns que o Anthrax gravou tendo ele como frontman foram assim. Então este álbum de regravações não é descartável e nem essencial, ficando naquele meio termo que serve para fãs fervorosos ouvirem de vez em quando para relembrar destas versões daquela fase imperdível. É como assistir aos mais recentes filmes de Karatê Kid ou Cemitério Maldito. Você se diverte mas vai correndo atrás do DVD original depois.
terça-feira, 10 de dezembro de 2024
20 anos de Anphisbena do Opera IX!!!
A banda italiana Opera IX foi mais uma banda de metal extremo que respirou novos ares com o passar do tempo. Conhecida por ter a vocalista Cadaveria à frente por nove anos, em seus 3 primeiros trabalhos, a banda praticou um black metal tendendo para o lado gótico, principalmente em seu terceiro full. No quarto opus, já com o vocalista Madras em seu posto, a banda apresentou nuances mais pagãs, e acredito que tenha conservado um pouco disso neste quinto álbum, "Anphisbena", lançado em 2004 pela Avantgarde Music. E houve um crescimento no som da banda, que continua praticando um som extremo e mais compacto. Os teclados podem entregar uma banda caminhando em uma linha próxima ao symphonic black, mas não podemos caracterizar assim o som do Opera IX, não ainda. As músicas são bem agressivas, mesmo que não se sobressaiam a ponto de serem lembradas num contexto específico. Elas acabam fazendo parte de um todo sem destaques individuais. O novo vocalista Marco De Rosa (M. the Bard) entrega um trabalho mais consistente que Madras, e tem um vocal mais forte, porém sem muitas alternativas. A faixa "Immortal Chant" é uma boa pedida para quem quer conhecer a banda, ela tem uma pegada épica interessante e deixa transparecer aquilo que a banda almeja, com mudanças de andamento que não incidem diretamente na velocidade, mas mostram faces diferentes da mesma moeda. A introdução pagã de "In Hoc Signo Sanguinis" chama atenção e ao lado da curta "Scell Lem Duibh (Song of Death)" mostram melodia ritualísticas e até bélicas, destoando do black metal simples. A capa é bem folk, trazendo, como de costume, a figura feminina a qual todos os fãs já vislumbram da banda. "Battle Cry" é uma música bem interessante também, um dos destaques do álbum, pela agressividade, apesar de seus quase 11 minutos, ela não tem a presunção de soar épica, mas carrega um ódio natural, e o baterista Dalamar desce a mão sem dó, ele que ao lado de The Bard, debuta na banda. A faixa título tem vocais masculinos totalmente folk, lembrando o álbum anterior, alternados aos rugidos black, e é o maior exemplo da mudança de ares que citei no início desta resenha. Até flauta e gaita de foles encontramos nesta faixa. E para finalizar uma versão para a melhor música escrita pelo mestre Quorthon, "One Road to Asa Bay" do eterno Bathory, mas acho que eles exageraram nos teclados nessa aqui.
domingo, 8 de dezembro de 2024
20 anos de Templars Beholding Failures do Queiron!!!
Lançado pela Mutilation em 2004, "Templars Beholding Failures" é o segundo álbum dos death metalers de Capivari, no interior paulista. Com uma arte de capa mais aprimorada que em seu debut de 2002 (Impious Domination), o Queiron também melhorou seu som, mostrando um metal hiper extremo para destroçar pescoços. "Templars..." não tem a intenção de soar belo ou melódico em nenhum momento de sua existência, mas sim de despejar um metal aterrador explosivo, independente da técnica de seus músicos não chamar tanta atenção, esses caras queriam seguir o legado avassalador do Krisiun. A massa sonora não se diversifica constantemente, talvez apenas a honrosa intro "Odium Denuntiatus" tenha uma desenvoltura diferente do restante do álbum, e ficou bem interessante. A primeira música é o extremo dos extremos, "Summon Sacred Vengeance" é pura detonação nuclear, sem tempo para respirações, temos riffs velozes, uma bateria incansável que te metralha no paredão mesmo muito tempo depois de sua alma já ter deixado seu corpo perfurado, e vocais guturais impiedosos. Já a faixa título traz algumas incursões diferenciadas nas guitarras, quase tendendo ao thrash em seu estado mais avassalador. Os solos também são intensos, como na faixa "Horde of the Devastation's Command", que consegue mostrar nas bases um pouco de influência de Morbid Angel, caso preste bem atenção. O mantra "Ejura Nandejara Pay' yPo Nando Toracua Pora Ha Jajai" traz uma base de guitarra mais slow e pesada, entremeada por um solo de guitarra e com a frase do título repetida o tempo todo. O que a frase significa, acho que só a banda saberia explicar. O trio que gravou este álbum é o mesmo do debut, o que ajudou na consolidação da brutalidade sonora do Queiron, sendo Marcelo Grous na guitarra e vocais, Tiago Furlan no baixo e Daniel Toledo na bateria. Um álbum que não surgiu para mudar o cenário, mas seguiu o caminho de uma tonelada de bandas que se identificaram com o brutal death metal do início do milênio, mas veio de uma das poucas bandas que se destacaram neste quesito.
20 anos de Mein Weg do Bethlehem!!!
Onde estão os gritos desesperados e cheios de angústia? E aquela guitarra mórbida que parecia sair de uma caverna escura? E que capa tenebrosa é essa? O Bethlehem da Alemanha se transformou em uma coisa difícil de entender. O início com "Aalmutter" parece trazer Til Lindemann do Rammstein cantando em dueto com Tilo Wolff do Lacrimosa. E a guitarra é tão morna que há uma grande chance do ouvinte dormir na primeira música. "Allegoria" segue o mesmo padrão, mas ao menos as melodias suaves são agradáveis, mas quando Meyer de Voltaire tenta vocais extremos, parece sair totalmente de linha, sendo que este tipo de vocal seria o óbvio para quem conhece a banda de longa data e estava afim de ouvir um dark black metal, mas o Bethlehem suavizou seu som demais. Eu sei que bandas como Moonspell e Tiamat fizeram o mesmo anos atrás, ou até mesmo o Ulver, e quer saber? Cada um faz o que quiser com sua banda, mas a partir do momento que você fornece arte e entretenimento para um público que te segue por aquilo que você criou e não por aquilo que você quer fazer, as mudanças extremas passam a ser uma falta de respeito com seus fãs. É um pensamento extremista? Sim, mas pense bem, no fundo muitos de vocês vão concordar que faz algum sentido. Se você toma sorvete de baunilha a vida inteira, você não quer chegar na sorveteria e pedir uma casquinha de baunilha e sentir gosto de morango ao colocar na boca. Mas se você é daqueles que diz "me dê qualquer sabor, gosto de todos", pode ser que vá ouvir este álbum numa boa. Tem coisa legal, não me entenda mal, só não é o que eu estava preparado para ouvir. A música "Knochenkorn" por exemplo tem ao menos uns 20 segundos aqui e ali que te fazem lembrar que é a mesma banda que gravou "Dictius Te Necare". E "Frl. Deutsch" tem um dedilhado triste que acalma o coração, caso você curta bandas como o "Clouds". E para terminar a bizarrice, tem uma faixa escondida ao final do álbum, chamada "My Way", que ficou famosa na voz do conhecidíssimo Frank Sinatra (???), mas fizeram a versão o mais próximo possível da versão de Sinatra, o que torna tudo mais estranho ainda, apesar de que foi até legal ouvir este descabimento no trabalho de uma banda que já foi classificada como depressive suicide black metal.
terça-feira, 3 de dezembro de 2024
20 anos de Just The Two of Us... Me And Them do Mindflow!!!
A banda Mindflow de São Paulo lançou seu primeiro trabalho em 2004, este "Just The Two of Us... Me And Them", pela desconhecida "Heavencross Records", após um início de forma independente, com gravação no estúdio Mosh da terra da garoa. Composto por Miguel Spada nos teclados, instrumento importantíssimo no som da banda, Rodrigo Hidalgo na guitarra e backing vocal, Ricardo Winandy no baixo, Rafael Pensado na bateria e backing vocal e o vocalista Danilo Hebert, o Mindflow é adepto do prog metal. Duas coisas há de serem ditas sobre este debut, doa a quem doer. Por ser um primeiro trabalho e um estilo que exige muito mais do que técnica com instrumentos para chamar atenção de um público, "Just the Two..." sofre um pouco com a experiência de início de carreira da banda, gravando um álbum que chega a passar uma ideia de "perdidos no espaço". Há quem diga que a maior influência da banda são os americanos do "Dream Theater", banda que não conheço praticamente nada, portanto não tenho muitos parâmetros para descrever o som inicial do Mindflow, que já contei pra vocês ter conhecido e me apaixonado anos depois em um jogo de guitarras. A outra coisa a se dizer deste trabalho é que os músicos já eram muito bons, muito mesmo, cada um a seu instrumento, e nos momentos mais naturais (ou menos estranhos) eles mostram que viriam ser a ótima banda em que se tornaram anos depois, mesmo que tenham perdido alguns fãs ao se distanciarem um tanto do prog metal, e ganhado outros. Eu sei que sou chato com o som que fuja do tradicional, independente do estilo metálico, mas uma resenha nada mais é que uma opinião pessoal que algumas pessoas buscam para concordar ou discordar e isso é saudável quando o respeito é mútuo, então, posso dizer que mesmo respeitando muito a banda, seu primeiro álbum não é algo que terei vontade de ouvir novamente. Ok, uma coisa a mais é de se tirar o chapéu, a voz de Danilo. Cara, independente da estrutura das músicas, o cara canta uma enormidade impressionante, podendo ser comparado a gênios como André Matos. O play passa dos 60 minutos e se tivesse só 35 das melhores coisas apresentadas aqui, seria um discasso! Mas é um álbum conceitual de prog metal de uma banda jovem, então está explicado. Você é muito fã de prog e só conhece os gringos? Ouça isso!
segunda-feira, 2 de dezembro de 2024
20 anos de By The Grace of Evil do Drowned!!!
Que a minha mão esquerda que ama o "Bonegrinder" não veja o que estou escrevendo com minha mão direita nesta resenha de 20 anos de "By The Grace of Evil" dos mineiros do Drowned. Porque o terceiro full dos quebradores de ossos é o álbum mais notável da discografia da banda. Da arte gráfica, a cargo do vocalista Fernando Lima pela primeira vez em sua própria banda, ao último segundo tocado, este trabalho mostra uma banda com a criatividade escorrendo pelos poros. O título do álbum, para continuar com a saga de nomes com a letra B, é uma sacada inteligente, e mostra bem o que as letras mais demoníacas da banda viriam a dizer, e todas as ilustrações no encarte, com seus pazuzus e afins condizem com o título. Aquele gárgula chifrudo com a língua de fora em tons azuis e borrões de vermelho emulando sangue trouxe uma arte fria e muito bonita (pras pessoas de mal gosto como nós, tenho que concordar). E o que torna este petardo melhor que os anteriores? Logo no início de "XIII Chapter (Nothing Stops the Killing)" temos um som mais cadenciado, e essa característica acaba sendo um pouco mais preponderante no álbum em decorrência de "Butchery Age", "Back From Hell" ou "Bonegrinder", álbuns mais viscerais no sentido da velocidade. Mas "By the Grace..." não chega a ser um álbum arrastado, muito menos cheio de groove, ainda é death thrash em sua essência, e músicas como "... only a Business", para citar só uma, tem muita velocidade e um riff bem forte. Mas as melodias que aparecem em forma de dedilhados, ou os vocais limpos, ou quase limpos do guitarrista Marcos Amorim, dão aquele tom melódico ao petardo, ao contrário de "Butchery Age" onde os riffs de guitarras eram mais melódicos. Este álbum também tem o privilégio de ter a melhor música já composta pela banda, a sensacional "Ak-47", uma música até curta (menos de 4 minutos) para se tonar um clássico, mas que tem um poder de fogo como pequenos petardos têm poder de ter (quem lembrou de Aces High aí?). Ela tem um intervalo onde um dedilhado acompanhado pela bateria te empurra para um clima ameno e logo em seguida te traz de volta para a violência sonora novamente, além de apresentar um solo soberbo de guitarra. Outra preocupação dos músicos do Drowned neste play foi com os refrãos, muito bem encaixados e na maioria das vezes com rimas perfeitas, como em "The Son Will Not Return", além dos riffs cavalgados que esta faixa tem, outra das melhores do álbum. Se você não conhece o Drowned a fundo, ou este álbum em específico, faça o favor de conferir essa pérola, que afirmo com segurança, ser um dos maiores lançamentos do selo Cogumelo nos últimos 20 anos!
domingo, 1 de dezembro de 2024
20 anos de Reign of Light do Samael!!!
O Samael da Suíça foi a banda responsável pelo meu gosto pelo metal negro, ao lado e na mesma época que os gregos do Rotting Christ, portanto eles têm papel fundamental e indiscutível neste sentido. Ouvir o que esta banda fez até o álbum "Passage" é ainda hoje, um prazer e traz recordações saudosas, daquelas que todos nós temos de uma época de descobertas musicais que mudaram nossas vidas. Portanto, para mim, existe uma relutância natural quanto a tudo que os suíços fizeram a partir do álbum "Eternal", pois os irmãos Xytras e Vorphalack simplesmente abandonaram o black metal e caíram de corpo e alma no metal industrial, um estilo que nem passa perto de minhas preferências mais distantes, a menos que seja um Fear Factory. "Reign of Light" é a segunda cartada da banda nesta direção e certamente um trabalho mais coeso que o anterior. O que ouvimos aqui apresenta no instrumental muita coisa próxima de "Passage", como se pegassem a base daquele álbum e colocassem uma carcaça industrial por cima, e por si só já é um ponto interessante, já que a base remete a um trabalho, que se não podemos chamar de black metal raiz, ao menos foi o último suspiro ameaçador da banda. O início com "Moongate" traz elementos orientais pouco inerentes ao Samael, algo dispensável mas que mostra que os dois músicos buscavam diversificar seu som sem limites, e que se danem os puristas. Os vocais em "Moongate" também não são os melhores, privilegiando o lado eletrônico de walk talk de filme futurístico de segunda categoria. Mas de "Inch' Allah" em diante Vorph canta a maioria das músicas com aquele vocal rouco que conhecemos, minimizando os pontos negativos. Inclusive temos algumas músicas bem legais, como "Oriental Dawn", que parece que pegaram uma música do Passage e mudaram a letra, o que já seria melhor em todo o álbum ao invés de parecer uma cópia mal feita de Rammstein. A letra de "On Earth" chama atenção por algo inusitado, ao citar várias cidades ao redor do mundo, inclusive Rio e Brasília, mas parece que pegaram um mapa mundi para escolher os lugares famosos politicamente ou turisticamente porque se fossem observadas raízes do metal extremo, BH não poderia ficar de fora. O Samael melhorou de Eternal para "Reign of Light", mesmo que tenham escolhido um caminho mais seguro, redecorando um álbum de sucesso, mesmo que visto com esgar por muitos garotões true, que foi o "Passage", mas eles tinham maneiras de não soarem repetitivos dentro de sua nova jornada, algo que viria em álbuns futuros, mas que naquele momento provocaria feridas ainda maiores na reputação da banda, então deixemos como está.
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