O cenário nacional é riquíssimo, principalmente quando falamos de metal extremo. Você acha que falar do cenário nacional parece "chover no molhado", mas enquanto houver bangers brasileiros que se negam a conhecer a música extrema de seu próprio país, eu vou repetir: o metal nacional é um dos melhores do mundo. Desde a famigerada e valiosa cena mineira dos anos 80, com bandas como Sextrash, Sarcófago e Witchhammer dentre muitos outros, aos momentos mais recentes, sempre encontramos uma banda com um diferencial e qualidades estrondosas que têm o poder de arreganhar nosso sorriso de uma orelha a outra quando as ouvimos. O Litosth é um grande exemplo disso, formado em 2016 no Rio Grande do Sul pelo músico Maicon Ristow, conhecido por preencher o line-up do gigante Patria, e nos brinda com um som que é fundado sobre as ruínas do black metal, mas não se prende a um único estilo, e abrange tudo aquilo que o músico incorpora em todos os seus outros projetos. Se você ainda não conhece o Litosth, aconselho acompanhar as próximas linhas ouvindo a banda em algum "streaming". Você vai procurar a mídia física depois disso.
M&L – Maicon, satisfação em tê-lo aqui no Metal e Loucuras. Você é um músico muito proativo, além de ser o guitarrista do Patria, que é uma banda que dispensa apresentações, você tocou no Swords At Hymns, está no I Gather Your Grief, que é uma parada mais doom e lançou o EP “Dystopian Delusions” que ficou excelente, e no Rotten Filthy que é um lance mais thrash. O que te levou a criar Litosth, e ser o único membro do projeto?
Maicon Ristow - A honra é minha! O LITOSTH surgiu em meados de 2016 justamente como o resultado de todo esse ecossistema musical. Todas as bandas se influenciam entre si, e uma estimula a criatividade da outra. Mas o LITOSTH é um projeto mais pessoal, onde posso mesclar várias de minhas influências sem me limitar a rótulos, como acontece nos outros projetos. Então é natural que eu encabece a ideia e faça tudo, apesar de haver sempre participações de amigos músicos, prefiro manter a coisa toda sob minha responsabilidade.
M&L – Fala sobre a escolha do nome Litosth e o seu significado.
Maicon - O nome LITOSTH vem da palavra litost, que só existe na língua Tcheca, e descreve o sentimento de agonia criado pela visão repentina da própria miséria. Acho que descreve muito bem a melancolia e reflexão das letras e músicas do LITOSTH.
M&L – A base musical é o black metal, mas o Litosth não se prende a isso. Há uma boa dose de death melódico e dark metal. Você acha que atingiu o resultado esperado em termos de direcionamento, ou acredita que ainda está moldando o som para atingir um objetivo diferente?
Maicon - Não ter um rótulo definitivo é justamente um dos propósitos do projeto. O Black Metal é a base por ser o meu estilo preferido, mas a música do LITOSTH bebe de outras fontes e faço questão que elas venham a tona, como o Death Metal Melodico e o Doom Metal. Até agora sempre atingi o resultado musical que esperava, mas é algo em constante evolução. Assim como meu gosto musical, minhas influências também variam com o tempo, então é natural que cada lançamento tenha suas diferenças. Mas não acho que eu tenha um objetivo ou ideal sonoro, deixo a música vir naturalmente como reflexo do momento.
M&L – A música “Desertis Translaticiis” é pra mim um dos maiores destaques do álbum “Crossed Parallels of Self Refraction”, e os vocais limpos são alguns dos elementos responsáveis por isso. Você gravou todas as vozes? Nos conte mais sobre este álbum.
Maicon - Muito obrigado! Também gosto muito desta música e há uma historia sobre os vocais limpos. Durante a gravação, meu produtor, Dave Deville, me sugeriu duplicar os vocais do refrão, e variar entre vocais guturais e limpos, e para mostrar a ideia ele entrou na sala de gravação e cantou para eu ter como uma guia. Mas achei tão boa a ideia que mandei ele voltar lá e gravar oficialmente. Então dividimos os vocais e ele ficou com essa participação no álbum, além da sempre ótima produção.
Sobre o álbum, ele tem uma pegada um pouco mais voltada para Death Metal melódico com uma atmosfera dentro do Doom Metal. Também penso que o ele soa um pouco mais trabalhado, com músicas mais longas e detalhadas que o sucessor, e muito disso devido à grande participação do meu amigo Leonardo Pagani (Malphas), que é um baterista sensacional. Ele pegou as músicas prontas, inclusive com vocais gravados, e deu uma nova roupagem a bateria provisoria que eu havia gravado. Já o "Farther" tentei deixar um pouco mais simples e direto, para soar mais Black Metal.
M&L – No debut você teve a participação de Wendel Siota no baixo e a bateria foi gravada por Malphas do Mysteriis. Já no novo álbum, “Farther From the Sun” você gravou tudo sozinho?
Maicon - No Farther From the Sun não há outras participações, exceto em duas letras escritas também
pelo Wendel Siota, o resto foi feito por mim. O álbum todo foi escrito durante a quarentena do covid19 em 2020, então seria pouco prático devido às restrições sanitárias ter mais participações. Mas ter participações é sempre algo legal, e com certeza acontecerá mais no futuro.
pelo Wendel Siota, o resto foi feito por mim. O álbum todo foi escrito durante a quarentena do covid19 em 2020, então seria pouco prático devido às restrições sanitárias ter mais participações. Mas ter participações é sempre algo legal, e com certeza acontecerá mais no futuro.
M&L - E o novo álbum também me soa mais agressivo que o debut. Parece que os elementos de metal melódico vieram mais contidos, ao passo que algumas influências de black metal mais contemporâneo aparecem, como na perfeita faixa “Saviour” onde alguma coisa de Rotting Christ me vem à mente. Concorda com estas observações?
Maicon - Sim, com certeza ele tem um clima mais agressivo e soa mais ríspido. Como citei anteriormente, há mudanças na minha musicalidade e acontecimentos que me empurram em diferentes direções. Eu amo música, de todos estilos e formas, mas tenho fases, e naturalmente isso reflete na minha composição. E para casar com o tema do álbum, e o apocalipse que estamos enfrentando, acho que as letras pediam um pouco mais agressividade. Mas acho que os álbuns ainda se parecem bastante, considero o Farther uma continuação do Crossed. Confesso que não sou muito fã da última fase do Rotting Christ, mas gosto muito de alguns álbuns mais antigos, como o A Dead Poem e Triarchy Of The Lost Lovers, que ouvi muito na minha adolescência. Talvez não de forma consciente, mas com certeza eles influenciam a música do LITOSTH.
M&L – O primeiro álbum saiu pouco antes da pandemia do Covid chegar ao Brasil. Ela atingiu a música em cheio, principalmente as bandas que tocam ao vivo, e o Patria foi uma delas. Mas essa parada nos shows acelerou o processo de criação do “Farther From the Sun”?
Maicon - Com certeza! O PATRIA é nossa banda principal, mas todos os integrantes tem outras bandas e projetos, retomados quando temos uma folga da rotina de ensaios para show ou produção de material novo. Mas mesmo o PATRIA durante a pandemia continuou trabalhando, compomos e lançamos o novo álbum chamado "Hexerei".
M&L – Sabemos que colocar o Litosth num palco no momento é algo bem improvável. Encontrar os músicos certos para aprender todo o repertório pra fazer 1 ou 2 shows não deve ser muito compensador. Mas no futuro, com o crescimento do nome na cena, você imagina que possa se juntar a outros músicos para transformar o Litosth numa banda de palco, ou isso não está nos planos?
Maicon - Shows ainda não estão nos planos, mas com certeza seria incrível ver as músicas do LITOSTH executadas de fato, com banda. Como tu citaste, o crescimento do nome do projeto é essencial para isso, e o LITOSTH é relativamente novo e ainda pouco conhecido do público, e quando acontecer quero que seja algo proporcional a qualidade e profissionalismo de estúdio, coisa ainda impossível no cenário atual ou num futuro próximo. Mas continuarei trabalhando para isso, com mais lançamentos e divulgação, até que seja válido ir para os palcos!
M&L – As artes das capas dos dois fulls são lindas, utilizam praticamente apenas 2 cores, o que dá uma ótima aparência, além de desenhos muito bonitos que casaram perfeitamente com o logo da banda. São criações suas, não é Maicon, aliás você também é tatuador, correto?
Maicon - Muito obrigado! Ambas as capas são minhas, e fiz elas já com tudo pronto, para ter o mesmo clima das músicas e letras. Acho que o estilo delas já dá uma identidade visual para o projeto, e funcionaram muito bem para ilustrar e também completar o que vem dentro do álbum. Sim, trabalho como tatuador há 12 anos, paralelo a minha jornada musical, e é algo que também habita o mesmo universo do heavy metal, então considero algo quase complementar.
M&L – Agora vamos aproveitar a ocasião para perguntar sobre o I Gather Your Grief. Parece que vocês estão planejando um full álbum. O que você pode adiantar sobre ele?
Maicon - Esse talvez seja o projeto mais paralelo ao PATRIA, mesmo sendo o mais diferente musicalmente, é o que tem mais integrantes em comum, são quatro. E há sim um álbum a caminho, boa parte já está gravado, só estamos esperando a oportunidade para dar continuidade. Acho que o álbum segue a mesma linha do EP “Dystopian Delusions", então quem gostou do EP com certeza irá gostar ainda mais do álbum que está por vir!
M&L – Maicon, muito obrigado pela atenção. Nossa página está comemorando 13 anos ajudando a manter a chama do metal acesa, e é excelente ter você conosco, também comemorando o lançamento de “Farther From the Sun”. As palavras finais são suas!
Maicon - Eu que só tenho a agradecer a oportunidade de trocar essas palavras, e parabéns pela página, iniciativas assim que matem a nossa cena viva! Fica meu convite aos leitores para conhecer mais os projetos citados, LITOSTH, PATRIA e I GATHER YOUR GRIEF. Todos disponíveis nas principais plataformas digitais. Muitíssimo obrigado, e até a próxima!
Sem palavras...
ResponderExcluirQue capa linda❤