domingo, 6 de novembro de 2022

Entrevista com Silent Cry.

 



ENTREVISTA COM SILENT CRY 

 Um dos maiores representantes do Gothic Doom da America Latina, o Silent Cry, forjado em Governador Valadares e quase completando 30 anos, acaba de lançar um novo trabalho chamado Terra, totalmente concebido em meio à natureza, onde a água, o verde, a lua e a terra serviram de inspiração para cânticos que preencherão almas por todo o mundo. Capitaneada por Dilpho Castro, incansável guerreiro semeando o Doom para ouvidos e corações de gosto refinado, a banda segue firme e renovada, como podemos perceber nas linhas abaixo. Aproveite!


M&L – O álbum "Remembrance", primeiro do Silent Cry e uma das mais memoráveis obras do death/doom com adição de vocais femininos no país, finalmente está disponível para quem não conseguiu uma cópia décadas atrás. Você sente que este relançamento é mais uma realização de sonho dos fãs do que da banda, ou ambos? E pra quem tem o original, o que você destacaria na nova edição para que o fã também a adquira?  

Dilpho Castro - Muito obrigado pelas palavras e ampla vastidão da pergunta, é uma parceria, tenho estudado a carreira do Silent Cry, os altos e baixos com relação a perspectiva do público, e com relação a coisa interna, de uma coisa sei, somos honestos com nossos sentimentos, e penso que seja isso que nos trás uma relação de aparente intimidade com o público, as coisas acontecem graças aos dois. Estávamos parados a quase quatro anos, só pela música não teria energia para remontar a banda mais uma vez, o relançamento de "Remembrance" é um presente para todos nós, porque criamos juntos uma grande força em nossas raízes emocionais, são muitas músicas, de épocas diferentes, e isso é um marco em nossa carreira e na forma de comunicar com os apreciadores, sou à moda antiga, gosto de embalar e mandar produtos eu mesmo, assim sempre foi a carreira do Silent Cry, se o mercado mudou, certo, faremos o possível para nos adaptar, mas ainda assim quero eu embalar e enviar material a algumas pessoas, se tenho tempo para isso porque não faria? Ter "Remembrance" relançado é um verdadeiro presente, esse álbum é a raiz que mantém a essência de todos os outros álbuns, e ele chegou poucos dias antes do Terra, que é um álbum que tem esta essência primária mais forte que nunca, alinhada novamente a algo novo que é nosso processo natural de composição. Diria aos que tem a versão antiga e estão interessados em ter esta nova versão, que esta versão da Obskure Chaos Production está linda, veio em  digipack luxuoso e uma bônus da faixa “Desire Of Dreams”, toda regravada com a nova formação com Sueli e Juliana juntas nos vocais, tudo feito especialmente para este momento, vale a pena conferir.

M&L – E a seus olhos Dilpho, "Remembrance" é o trabalho mais importante do Silent Cry?  

Dilpho - Não, foi o álbum mais importante, é a nossa raiz, nossa essência, o álbum mais importante é sempre o álbum ao qual estamos envolvidos neste momento presente, no caso “TERRA”, quando lançamos o "Hypnosis" o mais importante era ele, como poderia ser diferente? Alguém que tem um certo compromisso com o processo de composição tem que entender isso, caso contrário ele perderá sua criatividade, na minha opinião "Remembrance" foi o álbum mais importante e é nossa raiz, pois marcou a introdução da essência artística de Bruno Selmer no processo de composição da banda, de alguma forma ainda estamos conectados a isso, o que nos permite manter a essência de raiz, apenas isso é necessário.

M&L – Do primeiro para o último filho, a banda está lançando Terra, e pelas músicas que ouvimos, vocês criaram uma nova obra épica. Fale sobre Terra. 


Dilpho - Soltamos três músicas inéditas e ficamos imensamente felizes com a resposta do público, esse álbum tem muitas histórias, por isso melhor começar do início e contar só um pouco, porque esse CD é um plano, um plano da pura arte, pura expressão. Isso começou três meses antes de entrarmos em estúdio, estava guardando partes de músicas a mais de dois anos e meio, quando fomos montar estas partes de músicas para a pré-produção não gostamos de nada, foi assustador, porque estava guardando somente o que nos agradava, e agora não era aquilo, este álbum não pertence ao tempo, então achei melhor jogar tudo fora, e falei com os caras, não temos nada pra gravar, joguei tudo fora, vamos ter que compor esse álbum a partir do zero, e o estúdio está agendado, criamos essa situação interna para que o álbum fosse de fato espontâneo e honesto, acabou que foram oito músicas compostas em oito dias, deu tudo certo. As pessoas ainda não sabem, parece que ninguém percebeu que não estou falando em inglês nas músicas deste álbum, disponibilizamos três canções, milhares de visualizações e ninguém percebeu, as pessoas comentam só sobre o que se sente ao ouvir as músicas, isso é maravilhoso, são apenas gritos, lamentos e vibrações saindo, aconteceu isso com esse álbum, quando fui encaixar a letra nos gritos de lamento do gutural antes de se encaixar a letra, senti falta de sentimento, quando encaixava as vibrações no inglês não conseguia passar o sentimento necessário que a música pedia, porque a vibração fonética se modificava, então decidi não falar inglês no álbum, e manter o conteúdo da letra atrelada aos meus vocais como título de informação e sentido à obra como um todo, trazendo um belo encaixe  para a temática do álbum no encarte, tem toda uma história por trás do personagem andarilho solitário em Terra, mas o som gravado, são expressões emocionais de um personagem, isso tudo está devidamente explicado no encarte, a única letra que tem vocal masculino falando inglês no álbum é a participação de Thiago Bianchi no CD, na canção “Romance With Pain”, para se criar um romance com a dor, talvez seja necessário que masculino e feminino falem a mesma língua, para transcender a dor, por isso abrimos uma exceção para esta canção, e nela só gravei o mantra final, não falei inglês no álbum, nas linhas de vocais que gravei só expresso emoções de um personagem, e recito os mantras, cada música tem seu mantra, que no conceito abordado na obra, é a língua nativa da mãe terra, fazendo a manutenção da vida na terra, é um plano, com muitos pontos, esses são alguns deles, então o cara vai acompanhar a letra e não vai entender nada, ainda bem que pensamos em um tipo de legenda, que liga estas conexões, então ele saberá o que aquelas vibrações do som emocional estão tentando dizer, representa o masculino ferido, que precisou engolir seu choro para parecer forte, o ouvinte precisa investigar o conceito para receber a criatividade que Terra tem a oferecer, ou apenas relaxar nas frequências e receber os sentimentos expressos…  Destas duas formas o álbum pode ser útil, pelo sentir o som simplesmente, se esvaziando de todas as preocupações e pensamentos, e também pela investigação do conceito no desenrolar das situações colocadas nos diálogos e monólogos, encontrando respostas escondidas em seu próprio universo interior. 

M&L - Você contou que a natureza foi extremamente importante na concepção deste álbum, mais ainda que na época de Hypnosis. Como foi esta relação tão importante com a natureza, desde a criação da música “Solitude In Moon” até a finalização do trabalho? 

Dilpho - Veja, para entrar nisso vou voltar um pouco mais, isso é sobre acesso a criatividade, "DarkLife" é de 2005, "Hypnosis" 2017, são 12 anos entre um e outro, isso é muito tempo, gravamos um DVD muito bom neste meio termo, um marco, mas nenhuma composição nova vinha, hoje minha forma de expressar arte mudou completamente, por causa deste contato aprofundado na natureza, pra onde foi minha criatividade? Me perguntava quando percebi que fiquei 12 anos sem compor para o Silent?

Em minha vida pessoal isso teve uma correlação enorme com minha saúde mental, com o estado emocional, se você não sente a vida, você não tem criatividade, seja pra música, trabalho, renovação, adaptação, nada de criatividade…. Foi isso que aconteceu, vou contar um segredo, a criatividade simplesmente murchou, e a natureza a floresceu novamente 12 anos depois, isso foi tão intenso para mim que achei importante, para o meu caso em particular, morar de uma vez na natureza e fazer o caminho reverso, precisei disso por admitir que era dependente  de criatividade para conseguir viver esta vida, amo a cidade, mas não quero mais perder minha conexão com a natureza, se olharmos para a vida de uma maneira mais ampla, veremos como a natureza é criativa, e como apenas copiamos a natureza, por exemplo, o que é um telefone celular perto da comunicação dos golfinhos? Que se comunicam, se encontram, e se reproduzem todo ano, “se falam” e “marcam encontros” a distâncias de mais de cinco mil quilômetros, sem nenhuma antena, que tipo de tecnologia é esta? Quando vemos que tudo que criamos sempre esteve criado na natureza, nos esforçamos mais para manter uma certa intimidade com esta fonte, é isso. 


M&L – O álbum sairá pela Heavy Metal Rock e foi gravado no estúdio Fusão. Fale um pouco sobre estas parcerias. 

Dilpho - Trabalhar com Thiago Bianchi no Fusão foi uma experiência extraordinária, o Fusão é uma família, e Thiago é um super profissional, nunca conheci ninguém tão perfeccionista, ver que ele abraçou nossos “devaneios criativos”, foi ótimo, foi diferente pra nós e acredito que a ele também, no dia de gravar a voz, desisti do inglês, ele poderia ter me vetado, como produtor poderia dizer não, mas ele disse, “que viagem”, “adorei”, “tá soando muito bem, vamos nessa, a Yoko, companheira de John Lennon fez algo parecido uma vez”… Muito gratificante para mim, trabalhar com um profissional como ele, já éramos amigos e tudo fluiu maravilhosamente bem. Sobre a Heavy Metal Rock aconteceu de última hora, já estava decidido lançar independente, um dia  fui ouvir uma música do Tuatha de Danann, e me lembrei do Wilton da H.M.R., de várias parcerias que fizemos na época dá Avernus, ele não larga o osso do metal nacional, esse tipo de empreendedor me chama atenção, porque o metal nacional é o metal do futuro, por isso resolvi entrar em contato, já tinha até feito orçamento na fábrica, ele se encaixou no mesmo orçamento, estou muito feliz, porque assim como ele acredito no metal nacional. Estou muito feliz com as parcerias que tem nos movido até então neste novo trabalho.

M&L - E quem são os músicos atualmente no line-up da banda? Foi a Juliana Rossi que gravou os vocais femininos para o novo álbum, certo? 

Dilpho - Sim, o line-up atual é: Juliana Rossi nos Vocais, Roberto Freitas no baixo, Johnn Otávio nos tambores, Albenez Carvalho que retorna na Lead Guitars, e eu nos vocais masculinos e guitarra base. Para as Orquestras de “Terra”, Thiago Bianchi nos indicou uma joia Rara, Pablo Greg, não conhecia o trabalho dele até esta indicação, enviava uma ideia inicial de teclado e ele colocava aquilo com pompa de Orquestra real, ele trabalhou com Edu Falaschi, Produção de trilhas para NetFlix, o cara é de outro mundo, vibramos juntos muitas vezes com o resultado destas parcerias, música pela música, os profissionais envolvidos se envolveram com a aura do som, com a atmosfera que estamos trazendo diretamente da floresta, o resultado homogêneo desta galera,  esta disponível em “Terra”. 

M&L - Você teve um encontro recente com Suely Ribeiro, vocalista dos 2 primeiros opus do Silent Cry e ao que parece planejam um novo projeto musical. O que podemos esperar disso? 

Dilpho - Desde o início da pandemia, muitas conexões aconteceram para a banda, encontramos Juliana Rossi, uma querida que está contribuindo imensamente para esse projeto com sua versatilidade vocal e carisma, foi quando resolvemos ver o que Suelly estava fazendo, fizemos contato e mesmo parada como cantora, quis prontamente participar, e fizemos um vídeo acústico da canção “Innocence”,  neste primeiro contato as pessoas puderam ver novamente Suelly Ribeiro cantando, perguntei se ela poderia participar do Terra, nas regravações de "Remembrance Act II" (Bônus versão nacional) e "Desire of Dreams" (Bônus no relançamento de Remembrance) ela disse, “se puder conciliar as coisas quero música, Dilpho”, então ela saiu de Santos foi no Fusão e gravamos, foi maravilhoso ver ela cair de paraquedas em um puta estúdio, lá ela me disse, “Dilpho você está morando na floresta, quero te visitar, aproveitar para descansar um pouco”, pouco depois lá estava ela, tivemos tempo de conversar bastante, ensaiamos algumas coisas, e ela está voltando aos poucos para a música, o que me deixa muito feliz, poucas vezes vi tanta doçura em uma voz, por isso começamos a compor ideias neste período que passamos juntos, e o fruto deste encontro é um projeto embrião, intitulado “Atmosferic Silence”, vamos gravar o primeiro Single depois do carnaval, apenas uma música e algumas versões para começar, não sei o que esperar disso sinceramente, mas sou eu, Suelly e minha companheira Cláudia Sayuri Kazimoto, que também tem aflorado bastante seu lado artístico, já decidimos que vamos utilizar várias línguas em "Atmosferic Silence", temos o esboço de uma primeira canção, não há um plano fixo, penso que vai ser algo que pode trazer algum tipo de conexão com nossa humanidade, se reconhecer como seres humanos e falhos, a ideia de não adotar um único idioma foi coisa da Suelly e Cláudia, e amei a ideia delas, vai ter coisas em japonês, espanhol, inglês, português, aramaico, vibrações tibetanas intensas entre espaços de absoluto silêncio, realmente não sei o que pode acontecer, a primeira composição tá remetendo ao elemento ar, a leveza. É o que tenho pra compartilhar até o momento.

M&L - Você planeja uma revolução no Doom nacional, unindo forças com bandas do exterior para mostrar a grandeza deste estilo tão ligado ao underground, porém de uma qualidade e sentimento infinitos. Quais são os planos? 

Dilpho - Somos a única banda no cenário nacional underground Doom Gothic que teve algum acesso às bandas maiores de heavy metal no Brasil, veja como na Europa os estilos se misturam, existe um radicalismo no estilo Doom/Black é um radicalismo que já cumpriu seu papel, parece que o Doom metal é a própria destruição do músico que faz Doom no Brasil, levamos muito a sério o Doom deprê, rsrs, assim nenhuma banda deslanchou como no Heavy metal por exemplo, vi como esse mundo heavy funciona, tem muito investimento, coisa que o músico underground não faz, Silent Cry desde Hypnosis tem investido de uma forma destemida em produção.  Existe fã de Silent que odeia quem curte outros álbuns do Silent que não sejam o "Remembrance" e "Goddess Of Tears", vejo isso acontecendo sempre quando paro para ler os comentários em nossa discografia, e quando encontro com as pessoas, a própria galera se partindo, isso acontece em uma proporção muito maior com Angra que teve várias formações, e pela primeira vez acontece no underground brasileiro, porque persistimos, temos uma longa discografia, que causou isso que podemos observar, o que tem um cara curtir um lance e outro curtir outro lance? Mas a pessoa só pode acompanhar até aqui, e daqui pra ali odiar, isso travou o movimento, e as pessoas estão se abrindo para esta percepção agora, fiz muita coisa grande no passado, muitas vezes era mais para promover o Silent Cry, não era por grana, assim conquistamos um certo tipo de público, que está até receoso por ouvir Terra, vai que o radical gosta? E outros novos gostem? Terra tem tantas emoções envolvidas, e passagens tão soturnas que pode assustar fã de black metal, outro momento pode arrebatar o coração de quem ouve Enia, ou algum tipo de música erudita, isso pode ser quebrado com um pouco de maturidade e investimento, quero que outras bandas comecem a se abrir para misturar estilo Doom em qualquer evento, outro dia recebi um recado de um cara que disse que ele, sua mulher e seus dois filhos adolescentes curtem Silent, cada um tem seu álbum preferido, e isso foi respeitado entre uma família, ele curte a fase com Suelly, a esposa ama Ana Márcia e os filhos gostam da Juliana e Sandra Félix, como podemos entender isso se não aceitando as diferenças? Eu me recuso a ter que fazer sucesso fora para ter algum reconhecimento no Brasil, estou velho para isso, pra mim o que mais importa é a profundidade entre nossa relação com o fã, então vemos como cada álbum teve sua importância, e como se persistirmos e abrirmos a visão, podemos eliminar esse desfalque no metal nacional, parar de pagar fortuna em shows gringos por ter shows nacionais realmente atraentes, para isso o público precisa aprender a pagar melhor pelo show nacional, ingressos mesmo, e as bandas undergrounds começarem a investir em produção, parcerias maiores e qualidade artística para os shows, que é um diferencial dos gringos.

M&L – Vamos voltar mais um pouco no tempo. O álbum “Goddess of Tears” foi um novo marco na carreira do Silent Cry, trazendo mais visibilidade na mídia. Ele é um álbum com menos vocais guturais e traz mais influências góticas, ao passo que os teclados de Bruno Selmer foram muito importantes nas composições, levando o som da banda a um patamar bem acima da média nacional para este estilo. Foi tudo um processo natural ou sua percepção de crescimento no cenário levou a estas mudanças sutis no som, para alcançar mais notoriedade? 

Dilpho - O Silent Cry nunca compôs por notoriedade, isso é o que mais me orgulha nesta banda, acredito que todos que passaram pela banda tenham este mesmo sentimento, no "Remembrance" me lembro que exigimos da gravadora o slogan “Sentimento em Forma de Música”, não estávamos nem aí pra algo fixado no Doom Gothic, vemos a importância disso, mas não é o que nos define como pessoas, nem como uma regra pra composição, começamos como um bando de adolescentes querendo expressar sentimentos, isso é tudo, no "Goddess" houve um amadurecimento muito grande, Bruno Selmer ainda era adolescente quando estávamos compondo o "Goddess", me lembro que ele foi pra minha casa com alguns pares de roupas e passamos 4 meses trancados, esquecíamos do tempo, até de comer, quando podíamos ouvir uma música inteira, íamos para cozinha, daí saiu 6 músicas do "Goddess", estávamos muito envolvidos no processo de composição para nos preocupar com a notoriedade, "Goddess Of Tears"  é apenas um ano de diferença do "Remembrance", foi tudo muito intenso no final da década de 90, parece que esses álbuns fizeram parte disso. 

M&L – Agora uma curiosidade. O EP “Shades of the Last Way” serviu para findar sua passagem pela Demise Records. Reza a lenda que a banda gravou uma versão para “Midnight Queen” do Sarcófago para este EP e um desentendimento entre a Demise e a Cogumelo inviabilizou a inclusão da música. Isso é verdade, e qual o sentimento da banda em relação a isso? 

Dilpho - Cara, você desenterrou um assunto muito real, que na época ficamos bem chateados, porque chegamos a gravar “Midnight Quen”, sou um grande apreciador do Sarcófago, na época não era como hoje pra gravar, deu trabalho, pagamos estúdio e não conseguiram a liberação para a música sair, esse EP foi sim um cumprimento de contrato, estávamos querendo sair da Demise, e agradecemos tudo que ela fez por nós, não sei bem o que o João da Cogumelo alegou, me parece que queria uma quantia de dinheiro que a Demise se recusou a pagar, por fim perdemos essa canção, lançamos o ep e nunca mais vi essa música, voltei tempos depois no estúdio para tentar resgata-la e ela não foi mais encontrada. Ficou linda, com vocais femininos e muitos teclados.

M&L – Em 2002 vocês lançaram “Dance of Shadows” por sua própria gravadora a Avernus Records. Qual sua impressão deste álbum, do qual sairá uma resenha de 20 anos aqui no Metal e Loucuras em dezembro, e quais as dificuldades de manter um selo como a Avernus no Brasil? 

Dilpho - Gosto muito deste álbum, o Albenez tinha acabado de entrar no Silent o que remeteu a um trabalho mais detalhado das guitarras, duetos, utilizamos bandolim, e sentimos uma certa divisão do público pois os teclados diminuíram, ainda assim entre 2003 e 2006 foi a época que a banda mais tocou, então muitos foram os que conheceram a banda nesta perspectiva digamos menos atmosférica, tem músicas como “Only To Love You“ que a galera cantava junto nos shows, até artistas locais da MPB tocavam "Only To Love You" em barzinhos por aqui, foi um movimento diferente, mais estrada e menos elaboração de estúdio. Gosto muito deste álbum, Albenez também sempre fala dele.

M&L – Dilpho, é um prazer ter o Silent Cry no Metal e Loucuras, uma banda que eu acompanho desde o lançamento de "Remembrance", e comemorando juntos, você o lançamento de Terra, do qual desejamos muito sucesso e nós, 13 anos de página, ajudando a manter a chama do metal acesa. As palavras finais são todas suas

Dilpho - Quero agradecer a você e todos envolvidos no Metal e Loucuras, obrigado pelas perguntas bem elaboradas e a persistência e colaboração para manter a chama Metal acesa, nunca o mundo precisou tanto do metal, mas visto como arte, quero deixar esse recado, não precisamos ver o metal como algo morto, até o metal da morte é extremamente vivo, vá a um show de Death metal e veja se sai de lá mais vivo ou mais morto… Creio que precisamos olhar para a parte artística do metal, as cores e combinações que colocamos para repassar as canções de uma forma mais poética, me lembro de quando tudo fazia parte de um lançamento, o conceito, a capa, a letra, as cores escolhidas, é tudo um conjunto, se você puder ouvir qualquer música, ouvir mesmo, verá uma boa diferença nos áudios do YouTube, Spotify, CD original e vinil, tudo isso abrange certas camadas da arte, não precisamos dividir quem ouve My Dying Bride nas plataformas digitais de quem ouve o CD original, há tempo para tudo, e o metal precisa ter mais jogo de cintura, é isso que digo,  como vamos aproximar o metal da arte? Vamos ter jogo de cintura, e aceitar que o metal se expanda em todas as suas vertentes, todos os estilos podem se beneficiar, o metal não pertence a nenhum partido, a nenhuma politicagem, nem mesmo a indústria fonográfica o metal pertence, ele é maior que isso, as coisas ficaram muito politizadas no metal, essa é uma mensagem que quero deixar, não deixe que a arte do metal desapareça por causa de radicalismo, partidos políticos, ideologia ou crenças, vamos nos divertir, somos todos caveira.  Agradecido.







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