segunda-feira, 30 de dezembro de 2019

20 anos de Higher Art of Rebellion do Agathodaimon


Acompanhei a carreira do Agathodaimon desde seu debut Blacken The Angel que, para mim, é um dos melhores (senão o melhor) álbum de Symphonic Black Metal da história. E com muita tristeza soube que eles finalizaram atividades há alguns anos, mas deixaram um rastro de ódio entrelaçado à beleza mórbida, como poucas bandas conseguiram. Com um início conturbado, envolvendo vistos para viagem e gravação cancelados ao vocalista Vlad no primeiro álbum (que pôde apresentar apenas os teclados) tendo Akaias como substituto, a uma produção muito longe do essencial nesta obra prima, nos estúdios Magic Sound da Romênia, a banda que tinha Vlad nascido na Romênia (terra do Drácula) e os demais membros da Alemanha, apresentou neste opus letras em romeno e inglês, porém com um resultado infinitamente superior no romeno, que é uma língua que denota ódio e maldade, se utilizadas da forma correta (ou errada, que seja). Mas nem a produção consegue tirar o brilho de Higher Art. Temos em Ne Cheama Pamintul, inspirada no poema Junii Corupti do romeno Mihai Eminescu, uma canção arrastada como o Samael bem soube moldar, com vozes medonhas e passagens mórbidas que nunca se repetem, fazendo com que a faixa que nem é tão longa passe bem mais rápido. Tongue of Thorns vem na sequência apresentando frases faladas e instrumental cavalgado. O interessante é que com todos os problemas envolvendo o visto do debut, a banda manteve Akaias como vocalista e temos aqui uma variedade de vozes excelente, já que são 3 exercendo a função, Vlad, Akaias e o guitarrista Sathonys com as vozes limpas. Na sequência temos o clímax central do álbum, Glasul Artei Viitoare, iniciando nos teclados e seguindo com instrumental carregado e vozes grotescas, num belo trabalho de guitarras, e passagens melódicas de extremo bom gosto, porém nada bonitinho demais como os noruegueses do Dimmu Borgir vinham fazendo, mas aquela beleza mórbida e irônica, de quem sabe que não nasceu para semear amor, mas para apresentar as tragédias com o maior rigor e sabor amargo possíveis. When She Is Mute é outra com um início magnífico, tendo as vozes limpas em primeiro plano, e é uma das que nos fazem pensar onde a banda teria chegado com uma produção de primeira linha, numa época tão favorável ao estilo. E não podemos esquecer de dizer que Body Of Clay, bem acústica, com vozes limpas e sinistras, carregada de tristeza e emoções negativas, é um dos melhores momentos da carreira do Agathodaimon. A banda se recuperou da produção ruim em um álbum ainda melhor, Chapter III que veio na sequência, mas não podemos esquecer de forma alguma Higher Art of Rebellion, um Frankenstein adorável no mundo do Metal Mórbido.

20 anos de At The Heart Of Winter do Immortal


Que coisa linda. O Immortal finalmente incorporava o "Epic" ao seu Black Metal esporrento, um dos pilares da Noruega e a horda que mais buscou se afastar do estereótipo "não sei tocar". Com Abbath em grande forma gravando guitarras, baixo, teclados e voz, Horg socando a bateria e as letras de Demonaz, a banda laçava seu álbum menos brutal da carreira, porém impossível de se condenar, a começar pela inspiradíssima Withstand The Fall of Time, com quase 9 minutos, quase uma regra no trabalho, já que quase todos os temas são longos. Os vocais rasgados e roucos já conhecidos estão lá, e bem inteligíveis para o padrão. Solarfall vêm ainda mais épica, cheia de nuances com dedilhados intercalados à massa distorcida constante. Uma das melhores da carreira. Já Tragedies Blows The Horizon trás alguns riffs quebrados e estranhos em seu início, daqueles que parecem querer dizer: "Hei, ainda somos nós, feios e causando incômodos como sempre." Porém logo se encaixa na proposta do play, com muitos dedilhados que antecedem uma rifferama pesada daquelas que abrem muitos sorrisos. A arte gelada da capa também é a melhor da banda, nos transportando para as histórias de Blashyrkh, com seus tons azuis e brancos. Where Dark And Light Don't Differ é outra faixa com aquela rifferama black metal contendo algumas paradinhas e alguns efeitos para deixar os vocais um pouco mais cavernosos. O play foi lançado originalmente pela Osmose e produzido pelo sueco Peter Tagtgren, que fez um ótimo trabalho. A faixa At The Heart Of Winter possui um riff muito bonito, após um interlúdio nos teclados, quase Heavy Metal, com aquela distorção cortante do metal extremo. E o clássico fecha com Years Of Silent Sorrow, pra fazer você bater cabeça, tocar air guitar e vociferar em seu caminhar com o coração negro e vazio de volta ao lar, na companhia de espíritos sombrios através da neve. Um lindo artefato Black Metal completando 20 anos e criado para a posteridade.

domingo, 29 de dezembro de 2019

20 anos de Spiritual Black Dimensions do Dimmu Borgir

                   

A banda gostou da ideia de um nome triplo com o lançamento de Enthrone Darkness Triumphant e manteve esta característica por alguns álbuns, sendo Spiritual Black Dimensions o segundo da sequência, mas que também poderia se chamar Arcane Lifeforce Mysteria, a nona e última faixa deste trabalho. Depois de um álbum sensacional, a turma de Shagrat e Silenoz resolveu aprofundar ainda mais no Symphonic do estilo e com a ajuda de Vortex galgou mais alguns degraus rumo ao máximo que uma banda de metal extremo pudesse alcançar. Com Mustis tendo maior liberdade para utilizar seu instrumento, os teclados estão mais na cara, e muitas texturas e camadas foram utilizadas para deixar o clima mais carregado e com mais melodia. Astennu e Silenoz continuam fazendo um grande trabalho nas guitarras, enquanto Nagash que já se despedia para se concentrar no Covenant segurava toda a complexidade musical do Dimmu com seu baixo ao lado de Tjodalv na bateria. Formação que seria bem diferente no próximo trabalho. Vortex, então à frente do Borknagar, e que acabara de vencer o prêmio de melhor vocalista de metal extremo da Noruega, brilhou com vocais limpos em 4 faixas deste álbum, fazendo com que o Dimmu se destacasse dentre um turbilhão de bandas do mesmo estilo que apareceu no final dos anos 90. Em alguns momentos como The Blazing Monoliths of Defiance, parece que ainda estamos ouvindo o play anterior, tamanha similaridade. Porém é em músicas como Reptile e Dreamside Dominions que os noruegueses mostraram que não iriam apenas repetir a fórmula de um álbum vencedor, mas levá-lo adiante para conquistar mais fãs mundo afora. A arte da capa ficou sensacional, a melhor até então, com o anjo amordaçado na cruz e as asas em chamas, com cores predominantemente verdes, mas com o amarelo quebrando um pouco, realmente melhor em relação à arte anterior. O Dimmu crescia e alcançava criaturas que não faziam parte do meio Black Metal, abrindo portas para outras bandas, inclusive em veículos de comunicação metálica. Um play com 20 anos de lançamento mas que continua com cheirinho de novo.

sábado, 28 de dezembro de 2019

20 anos de Millenium Nocturne do Hades Almighty


Pra não deixar passar batido em 2019, citemos Millenium Nocturne do Hades Almighty da Noruega (antigo Hades) que fazia um Black Metal magnífico antes da mudança de nome, com pitadas viking e que tem em ...Again Shall Be e The Dawn Of The Dying Sun dois artefatos respeitadíssimo e hoje ítens raros nas coleções dos adeptos do Metal Negro. Mais raro ainda um split com o Katatonia, sendo três músicas dos noruegueses sob a alcunha de Alone Walkyng, enquanto os suecos apresentavam o clássico Jhva Elohim Meth. Já com o Almighty acrescentado devido a problemas legais com americanos de mesmo nome, a banda passou a tocar um Progressive Black Metal, com uma variedade de vocais que agradará fãs de In The Woods por exemplo. Algumas coisas como aqueles gritos em Warcry que fecham o álbum, podem soar estranhas, mas rapidamente acostumamos. A capa vai na onda de imagens planetárias, coisa que o Samael já apresentava na época. Destaques para a já citada Warcry e Nemesis, bem agressiva, e que por algum motivo, me lembrou de nosso querido Malkuth do nordeste.

20 anos de Criteria For A Black Widow do Annihilator


O Annihilator nunca esteve no primeiro escalão do metal mundial, mas de uma coisa não se pode reclamar. Lançamentos. Em 1999 Criteria For A Black Widow já era seu sétimo petardo, e como sempre recheado de bons riffs com um Thrash Metal vigoroso e determinado, resultado dos esforços de seu comandante e grande guitarrista Jeff Waters. Randy Rampage era o vocalista e fez um trabalho bem diferente daquele em Alisson Hell, agora num tom mais grave e longe dos agudos que o tornaram conhecido no debut clássico. Você encontrará muito peso distribuído ao longo de Criteria, como de cara na abertura com Bloodbath. Temos também surpresas bem agradáveis como Punctured, que foge um pouco ao convencional e possui também aqueles riffs cheios de groove e paradinhas a la Pantera, com uma interpretação irônica de Rampage, que faleceu ano passado. Ray Hartmann também faz um grande trabalho na bateria, com viradas complexas. A faixa título começa no baixo, (sim, tem um baixo no álbum, mas não um baixista creditado), e tem vários elementos progressivos em sua construção. Schizos é uma bela faixa instrumental e Nothing Left tem bons e tradicionais riffs de guitarra. Enfim, um bom álbum dos canadenses que não tentou mudar o mundo mas trouxe o Annihilator de volta ao status de representantes do Thrash Metal após algumas incursões industriais anteriores. Já a arte da capa...sem comentários!

sexta-feira, 27 de dezembro de 2019

20 anos de The Light At The End Of The World do My Dying Bride


Sabe qual o defeito de The Light At The End of The World? Ser lançado logo um ano depois da escorregada chamada 34.788%...Complete. Porque o álbum de nome estranho chegou em 1998 para botar todos os fãs pra correr, numa época em que as boas bandas realmente estavam trilhando caminhos desconhecidos e assustando a geração metálica (são muitos exemplos como Samael, Tiamat, Paradise Lost, Anathema...) e somando-se o fato de que adquirir material destes ingleses era tarefa árdua e ouvir algo novo praticamente impossível sem a existência da internet, quem iria se arriscar a pegar um importado sabendo que a peça anterior não se encaixava no veículo chamado Death/Doom? Então o álbum passou desapercebido por estas terras, e hoje é algo bem cult, além de ser maravilhoso, com aquelas vozes características de um Like Gods of The Sun e os tradicionais guturais ultra cavernosos de As The Flowers Withers. She Is The Dark prova isso já na abertura do play, e a linda Edenbeast com seus 11 minutos que inicia com guitarras perfeitas para o estilo. O álbum quase nada lembra o conhecidíssimo The AngelAnd The Dark River, sendo bem mais mórbido e antecipando como a banda soaria nos próximos trabalhos, todos de altíssima qualidade, diga-se. Edenbeast tem lá suas partes mais extremas em contraponto à morbidez, um prato cheio aos fãs do estilo, que se torna enfadonho quando algumas bandas apostam apenas na cadência. Os miolos precisam balançar em alguns momentos!!! Andrew Craighan, a guitarra que é a alma do MDB, assim como a voz de Aaron Stainthorpe, despeja arranjos pesados em The Night He Died, que ainda apresenta alguns teclados bem ao fundo. A faixa título, outra que ultrapassa 10 minutos, vem carregada de sentimentos de solidão, castigos pelo amor vivido e impossível de viver, anos de solidão e sonhos no mais profundo da mente. The Fever Sea vem mais brutal para quebrar o clima sorumbático e Into The Lake Of Ghosts que é um pouco diferente do restante do álbum e mesmo assim/ou por isso mesmo, consegue ser uma das melhores, pois tem uma batida mid tempo pouco comum à banda. O álbum ainda tem The Isis Script, Christliar e no melhor estilo Metallica com The Unforgiven, temos a terceira versão de Sear Me, aqui batizada de modo bem original de Sear Me III. Brincadeiras à parte, este é um trabalho que faz jus à tradicional destruição melancólica das almas perpetuada pelos ingleses. 

20 anos de Projector do Dark Tranquility


Claro que falar de uma obra prima é muito bom. Assim é Projector dentro da discografia dos suecos do Dark Tranquility. A banda ostenta o título de um dos fundadores do Gothemburg Sound, que depois se tornou Melodic Death Metal ao quebrar as barreiras continentais e ver nascer discípulos pelo resto do mundo. O quarto álbum dos suecos que contavam à época com Mikael Stanne nos vocais, Fredrik Johansson e Niklas Sundin nas guitarras, Martin Henriksson no baixo e Anders Jivarp na bateria, trouxe também Johanna Anderson, a garota contratada para fazer alguns vocais femininos que deixaram o play à beira da perfeição. Projector é com certeza um dos melhores álbuns de Melodic Death da história, e você não terá nada muito extremo ou veloz aqui. São músicas cativantes e com uma interpretação vocálica que poucas vezes se ouviu em uma banda do estilo. Numa mistura épica entre vocais Death Metal e vocais limpos que passam a sensação de um sofrimento tão legítimo, que se você ouvinte se pegar com lágrimas nos olhos não pense que é um molenga. A música tem o poder de arrancar sentimentos de nossas almas que nem nós mesmos conhecíamos. Freecard é o passe livre que você ganha para curtir esta aventura, após um pequeno arranjo de piano, todo o peso possível e almejado pela banda entra em ação. Mas não demora muito para que a melodia apareça junto a um pequeno refrão de vocais limpos, antes de voltar à sujeira para cair de repente numa estrutura suave e de extremo bom gosto. ThereIn na sequência pode ser considerado um dos melhores momentos do trabalho. Os vocais são um tanto guturais  mas bem inteligíveis, e quando ficam limpos, temos talvez o melhor refrão da história do Melodic Death Metal. Como canta este Stanne. Aposto que gente como Aaron Stainthorpe ou Nick Holmes apreciam muito estas vozes de Projector. Undo Control começa com a doce voz de Johanna, e Stanne manda muito bem nos guturais, sendo outro momento riquíssimo do álbum. Auctioned é outra onde impera a sofrência, ótima para aqueles dias de bode que você não quer ver a luz do sol e apenas curtir o tédio e a solidão. To A Bitter Halt tem um início que deve ter servido de inspiração pouco tempo depois para bandas como Theatre of Tragedy, e The Sun Fired Blanks tenta te lembrar que gritando: " Não morra amigo, ainda somos um álbum de Death Melódico!!". Mas Nether Novas volta a ser pura deprê, mesmo que lá na frente volte ao peso com um belo trabalho de guitarras. E agora pára tudo. Day To End com seus míseros 3 minutos vêm para te jogar no abismo caso ainda não tenha chegado lá. Você vai querer cantar junto e ao mesmo tempo lembrar de todas as desgraças de sua vida, como se fosse a única vítima de um mundo injusto e cruel. Mas acorda criatura, pois Dobermann chega para te tirar do transe em que Day To End te colocou, e também pra te lembrar que a viagem está chegando ao fim, pois On Your Time já está aí balançando as paredes e fechando em grande estilo um trabalho lindo e indispensável na coleção de apreciadores de metal extremo com doses cavalares de sofrimento. São 20 anos mas poderiam ser 20 dias de tão atual que Projector soa.   

20 anos de The Fragile Art Of Existence do Control Denied


O mundo costuma contradizer tudo aquilo em que acreditamos. Quis o destino que o criador do Death Metal, algumas vezes chamado de músico, mas que no Metal e Loucuras sempre foi chamado de gênio, o mestre Chuck Schuldiner, deixasse sobre a terra um último trabalho que nada tivesse a ver com o estilo criado por ele. Lançado em 1999, dois anos antes de sua trágica derrota para o câncer, The Fragile Art Of Existence, debut de seu projeto paralelo Control Denied, nasceu em meio à incerteza de continuidade do gigante Death da Flórida. Forjado sobre o Progressive Power Metal, o álbum para alguns soa como uma sequência de The Sound Of Perseverance. O que não é nenhum exagero se considerarmos que o último trabalho do Death tinha muito mais de progressivo que de Death Metal. Com uma arte de capa artisticamente bela, de várias possíveis interpretações, o play abre contradizendo a máxima de que um bom álbum começa com uma música rápida e de pouca duração, e manda de cara 7 minutos de Consumed. De cara temos no instrumental toda a influência de Perseverance, com aquelas quebradas típicas e de muito bom gosto, acompanhadas pelo vocal de Tim Aymar, que lembram muito algumas fases do Annihilation. Já Expect The Unexpected tem alguns riffs que lembram o Carcass, mas é algo bem sutil dentro de uma canção com tantas características abrangentes. Em alguns momentos os vocais lembram também o finado Warrel Dane na época de Sanctuary. Shannon Hamn dividiu as guitarras com Chuck, o mesmo músico de Perseverance e que esteve nos palcos nos últimos anos de Death. Na bateria Richard Christy que também tocou no Death em seus últimos anos, além de ter feito história no Iced Earth durante 4 anos, gravando o clássico Horror Show e o contestado Glorious Burden com Tim Ripper Owes nos vocais. Hoje ele toca no Charred Walls of the Damned. E no baixo outro monstro, o grande e que dispensa apresentações Steve DiGiorgio. O álbum fecha com a épica faixa título com quase 10 minutos de muita melodia e que é bem agradável aos ouvidos. Puxa vida gênio, parece que foi ontem que você se foi. Mas sua arte será eterna!

quinta-feira, 26 de dezembro de 2019

20 anos de Sleep Of The Angels do Rotting Christ


Que uma coisa fique clara. Nada é imutável com o tempo. Posto isso esclarecemos duas coisas. Uma que aquela banda grega que balançou a cena com seu Black Metal ríspido e influenciado pela cena mineira (pasmem, mas Sakis sempre amou o metal nacional dos anos 80), que gravou o lindo EP Passage To Arcturo e chegou ao ano de 1999 para lançar seu álbum mais acessível da discografia. Mudaram sim, mas algum tempo depois os fãs perceberam que não adianta tentar adivinhar a sonoridade de um play do Rotting Christ. Eles estão sempre agregando sonoridades ao seu Black Metal. E segundo que eu, como grande fã da banda já há alguns anos, tive um impacto negativo tão grande ao ouvir Sleep Of The Angels que pensei que abandonaria a banda dali em diante. Ledo engano, pois não só os músicos e bandas mudam, mas os ouvidos dos fãs também sofrem mutações, e hoje ouço muito bem e agradeço pela existência deste play. Ainda pode estar apagado numa discografia tão encantadora (ou aterradora) como é a dos gregos, mas é um grande álbum. E a birra não foi porque a banda se enveredou para o lado mais gótico, se tornando um dos expoentes do Dark Metal, porque A Dead Poem, seu antecessor, já trazia isso em excesso e ainda é pra mim um dos melhores do estilo. Mas Cold Colours tem um charme sensacional para abrir o trabalho, e trás um clima enebriante, que não chega ao extremo mas que com certeza jamais seria um tema de novela. Em After Dark I Feel ainda temos corais criados nos teclados e vocais entre rasgados e graves muito bem encaixados. Victoriatus chega mais extrema e já dava uma prévia do que encontraríamos alguns anos depois em álbuns como Sanctus Diavolos. Der Perfekte Traum que tem partes cantadas em alemão e que deram um clima Rammstein bizarro ao som, tem uma das melhores melodias do álbum, falando de sonhos ruins. Faixa que seria o título de um EP lançado no ano anterior. You My Flesh trás uma melodia inicial que poderia estar num destes álbuns mais progressivos do Iron Maiden e depois entra uma guitarra quase espanhola. The World Made End não chega a chamar muita atenção, apesar da tentativa de soar mais brutal, isto prova que a onda da banda no momento era mesmo o Dark/Gothic. Sleep The Sleep Of Angels vem com uma harmonia de guitarra pouco convencional no metal extremo, e poderia estar num álbum do Amorphis por exemplo. Delusions não é um destaque, então o álbum se encerra com Imaginary Zone que ainda que não tão especial poderia estar em A Dead Poem e Thine Is The Kingdom que também lembra bastante o álbum anterior, além de conter as mesmas partes sussurradas por Sakis em alguns versos. Um álbum que chegou assustando e que se cravou nas estruturas do tempo durante estes 20 anos de existência.

Bewitchment - Oblivion Shall Reign


Em entrevista publicada em nossa página dia 01º de Julho deste ano, o grande Rhodz, a mente por trás do Bewitchment, nos revelou em primeira mão o nome do sucessor de Towards Desolation, o magnífico Oblivion Shall Reign, que chegou em grande estilo às prateleiras de todo o Brasil neste fim de ano. Contando mais uma vez com Márcio Aranha para a capa que, registre-se, fez um trabalho primoroso, sobressaindo-se à arte do debut. Agora em tons mais escuros com ênfase no azul, Aranha nos brinda com um trono num cenário fúnebre repleto de lápides, que inclusive contam com os nomes gravados destes dois senhores, caso vocês prestem bastante atenção. Quem ajudou nesta empreitada também foi Henrique Perestrelo, vocalista e guitarrista da banda Heritage, com solos de guitarra que enriqueceram muito o trabalho. O álbum começa com From My Throne, que a galera já conhecia por ser o primeiro single lançado há alguns meses. Nela já podemos perceber a bateria bate estaca característica do Death Metal, os vocais de Rhodz mais urrados que no álbum anterior e um estilo que nos lembra o Death sueco de bandas como Entombed. O solo desta música é um destaque.
O Violador de Sepulturas segue com bases pesadas que remetem ao Death Metal dos anos 90 e novamente temos um ótimo solo como destaque. Grotesque Retribution surge em meio a teclados com clima mórbido e denso e a música vai na veia de bandas europeias como Morgoth e principalmente o Asphyx, com aqueles vocais urrados e indecifráveis em meio ao instrumental mais arrastado. Excruciating Sickness é outra podrona que até lembra um pouco de Pungent Stench. Fall Into Oblivion que já é minha preferida tem um ótimo início mais cadenciado, vocais mais definidos e daquelas bases preparadas unicamente para você bater cabeça. Drowning In Darkness se diferencia pelas guitarras soladas com vocais sobrepostos que deixaram o baixo bem audível. É uma porrada que só quebra o andamento pouco antes do encerramento. Comedores de Carne Humana Podre, apesar do nome horrendo (hehe) chega num momento que tem um arranjo de guitarras lindo com um acompanhamento de teclados ao fundo (se é que eu já não estava embriagado nesta parte). E pra fechar My Morbid Thoughts trás um dedilhado dissonante no início e fim, com boas doses de bases cavalgadas em sua estrutura, além de ainda contar com um bom solo. Grande trabalho do Bewitchment, uma das grandes revelações do Death Metal nacional nos últimos anos, e que mereceu o carimbo de "FUDIDO" do Metal e Loucuras.

domingo, 15 de dezembro de 2019

20 anos de From The Cradle To Enslave do Cradle Of Filth


Os ingleses estavam no auge da carreira. Tinham acabado de lançar Cruelty And The Beast e faltava pouco para Midian, mas Dani e companhia resolveram manter as coisas em evidência e lançaram este EP maravilhoso. O carro chefe foi a faixa título e como Dani estava se envolvendo com filmes de horror gore, o vídeo clipe promocional fez um sucesso tremendo, tendo até uma versão censurada para a MTV, que cortou todos os seios das modelos e diminuiu bastante todo aquele sangue. Mas assista a versão não censurada que é excelente. e a música também é perfeita, contendo tudo aquilo que a banda apresentava. Of Dark Blood And Fucking é outra faixa inédita do EP. E dentre outras regravações temos um cover do Misfits e outro para a Soberba Sleepless do Anathema, que mesmo não superando a versão original, serviu pra mostrar toda a versatilidade da banda. Um ótimo intercâmbio entre dois Full Lenghts memoráveis.

sábado, 30 de novembro de 2019

20 anos de Darken In Quir Haresete do Amen Corner.


Da série "EPs maravilhosos tão bons quanto full lenghts", este é Darken In Quir Haresete, segundo EP e quarto trabalho profissional da horda Black Amen Corner de Curitiba, Paraná. Também significa uma nova era considerando-se o primeiro trabalho não lançado pela grande Cogumelo, e sim pela também mineira e iniciante Demise Records, propriedade de Wilson Jr da banda cult In Memorian. São 5 faixas de extrema qualidade, todas carregadas de sentimentos obscuros e insanos, perfeitamente e exageradamente inflamados pela voz desesperadora de Sucoth Benoth, guitarras lugubremente melódicas e quase suecas de Narberus e Murmúrio, a mente constante do Amen Corner, baixo segurando a onda destruidora de Nar Mattarus e a bateria muito bem dosada de Osculum Infame. Endless Solitude alterna perfeitamente estes momentos mais arrastados com passagens agressivas, comos vocais gritados e sendo sempre um atrativo à parte, marca registrada da banda. E quando começa Black Empire envolta em seus temas obscuros (Em uma noite negra/onde o silêncio entra pelo ar/Apenas o escuro e o lamento trazem um ar mórbido/Quando eu durmo minha alma repousa), percebemos que o EP é uma clara continuidade de Jackol Ve Tehilá, talvez um pouco menos lapidado e com uma produção menos esmerilhada, mas com canções que poderiam perfeitamente fazer parte do referido álbum, um dos mais renomados do estilo no Brasil. E o que dizer de Awakening Of Evil, com uma introdução perfeita e uma interpretação magnífica de Sucoth, um dos melhores momentos de sua carreira, unindo perfeitamente a agressividade letal do Black à mórbida desilusão do Dark/Doom. O álbum fecha com The Creator's Pride: The Anguish Of The Acused e a também fenomenal Camos God of The Gods, que é emocionante do início ao fim. O ítem que se tornou raridade ao longo dos anos foi relançado pela Dying Music em 2015 e ainda pode ser encontrado por aí. Se você é amante do metal negro com qualidade indiscutível, não espere que ele suma do mercado novamente para se arrepender. 

sábado, 16 de novembro de 2019

10 músicas com a letra 'P' que você precisa ouvir antes de morrer



                       O Metal & Loucuras separou 10 hinos que não  podem faltar no seu play list.

01º - Peace Sells...But Who's Buying? (1986). Com o baixo de David Ellefson introduzindo a pedrada, o Megadeth finalmente fazia frente ao Thrash mundial com seu primeiro grande clássico. Peace Sells até engana em sua primeira metade, com andamento cadenciado, mas próximo ao refrão grudento dá aquela acelerada que os thrashers adoram para montarem seus mosh pits e extravasarem suas emoções. O Megadeth mostrava que mesmo com todas as motivações implícitas de sua criação, estava pronto para conquistar o mundo. E conquistou!

02º - Phantom Of The Opera - Iron Maiden (1980-1985). Porque temos 2 datas para esta música?Porque ela foi gravada no debut de uma banda que se tornaria a maior da história do Heavy Metal em um distante 1980, quando nem sonhava que isto iria acontecer, e porque ganhou sua versão definitiva ao vivo em 1985 com Bruce Dickinson nos vocais, fechando Live After Death, um dos melhores "ao vivo" da história. Tudo na música inspirada na história de Gaston Leroux é perfeito, sejam as linhas de baixo, as guitarras e a estrutura em que tudo está inserido. Mais um registro histórico.

03º - Pull The Plug - Death (1988). Uma das maiores obras do Death Metal mundial, Leprosy traz músicas vomitadas da mente genial de Chuck Schuldiner. Pull The Plug já mostrava que a técnica seria preponderante no som dos americanos, sem deixar de lado a violência sonora que o estilo necessita. O som é sujo mas você consegue entender tudo o que está se passando. Pode aumentar o volume e bater cabeça à vontade. 

04º - Kreator - People of The Lie. (1990). Fechando um ciclo de álbuns sensacionais, os alemães do Kreator exageraram na dose de bom gosto em Coma of Souls. Um play maravilhoso, com canções eternamente indispensáveis no Thrash Metal mundial. People of The Lie talvez seja a mais conhecida, devido ao viídeo clipe na época, com Ventor destroçando a bateria, além de riffs insanos e vocais mais ainda. Uma compilação Thrash Metal anos 90 sem esta música não é uma compilação de bom gosto.

05º - Profit - Overdose. (1992) Ah as paradinhas do Thrash. Só de começar com elas (ou break downs, que seja), o jogo está quase ganho. Profit não é a música mais trabalhada do álgum Circus Of Death do Overdose, mas é ótima porque é porrada do começo ao fim, tem ótimos riffs, ótimos solos e os vocais de Bozó preenchem os espaços de forma perfeita, fazendo de Profit um dos maiores destaques do álbum, que como já dissemos antes, está entre os 10 melhores do metal nacional. 

06º - Prelude To A Suicide - Sarcófago. (1991). Quando um álbum é perfeito do primeiro chiado da agulha ao retorno do braço pro descanso, tudo fica lindo na sequência correta. Porém algumas canções acabam sendo um pouco menos lembradas que outras. Afinal temos Midnight Queen, Screeches From The Silence, a faixa título, além dos bônus do EP que foi incorporado quando saiu em CD. Mas Prelude To A Suicide jamais poderia ser esquecida, pois faz parte daquele conjunto de músicas da banda mineira que se arrastam no peso, deixando a velocidade de lado, e esbanjando ódio ainda assim. Que riff perfeito tem esta música, e que vocais insanos Wagner nos presenteou, quase sussurrados direto do bafo da morte. Aumente o volume. É Sarcófago.

07º - Potter's Field - Anthrax. (1993). Sempre existirão detratores da passagem de John Bush no Anthrax, mas é inegável que em sua estreia a banda lançou um álbum ótimo, Sound of White Noise. E tudo bem, Potter's Field foi a primeira música do Anthrax que ouvi na vida, e foi amor à primeira ouvida. Thrash Metal tipicamente americano, com melodia e peso, passagens de bateria estupendas, e um vocalista muito inspirado, com um timbre que casou demais com o estilo. Potter's Field é talvez a melhor música que Bush gravou com o Anthrax, mesmo que neste mesmo play ainda tenham Only e Burst, outras duas maravilhas.

08º - Propaganda - Sepultura. (1993) Pancadaria, grosseria, raiva. Sinônimos que cabem nesta música do Sepultura, quando a banda atingiu o topo do mundo do metal com Chaos A.D. O peso é descomunal, casando perfeitamente com os vocais de Max. E aquela parte cavalgada e seguida de bases cavalares pesadas como o chumbo após os solos de guitarra ficaram perfeitas. Tem Thrash. Tem Groove. E consegue se destacar dentre tantas coisas lindas neste álbum, como Territory, Refuse/Resist, Amen, Nomad, e outras.

09º - Peter Pan Against The World - The Mist. (1991) Com um dos melhores álbuns já lançados na história do Heavy Metal (e não estamos falando só de Brasil ), o The Mist desfila pérola após pérola em seu segundo filho, o perfeito The Hangman Tree. E Peter Pan Against The World tem tudo de característico da banda. Melodia (que dedilhado lindo no início), agressividade, o Thrash come solto nos primeiros versos, refrão viciante, quando a velocidade cai para um mid time lindo e um solo de guitarra sensacional. Clássico absoluto.

10º - Pilgrim - Genocídio. (1996) A banda paulista tem uma boa quantidade de clássicos em anos de discografia, sempre baseada no Death Metal, porém com uma textura gótica explicita em seu trabalho. Mas Posthumous pode ser considerado seu trabalho mais completo, um momento em que a agressividade do Death e a melancolia do Gothic deram as mãos e foram considerados o casal da noite. E para abrir o petardo temos a estonteante Pilgrim que de cara te obriga a bater cabeça em seu ritmo cavalgado, mesmo que em seu decorrer ela incorpore elementos mais Doom. Perfeita para apresentar Posthumous e um clássico absoluto na carreira do Genosha. 

sexta-feira, 1 de novembro de 2019

Entrevista com Korözyon




Começar do zero. Nunca será algo fácil e para muitos a palavra 'recomeçar' pode causar arrepios. Mas se a força de vontade e a coragem de botar em prática aquilo que te faz bem falarem mais forte, com certeza a satisfação pessoal, (e no caso da arte) a dos novos fãs, provavelmente serão altamente recompensadoras. Falamos com Marcos Amorim (guitarrista do Drowned), sobre a nova empreitada pesada chamada Korözyon, composta ainda por Fernando Lima (vocais), também do Drowned, Henrique Lima (bateria, também responsável pelas baquetas no Black Feather Klan, Dirty Grave e GodAlien) e Rodrigo nunes (baixo, também no Hellcome, GodAlien e Bulldogs). 

M&L -Primeiramente falem-nos da escolha do nome da banda.


MARCOS AMORIM: Incialmente estávamos buscando um nome com significado forte, fosse apenas uma única palavra. Tentamos diversas coisas, principalmente em Português e Espanhol. Até alguma coisa de Latim olhamos. O que nos afigurou melhor foi um nome em inglês, fugindo um pouco da proposta. Daí, meio que de repente, surgiu a ideia de buscar algo em línguas menos óbvias e nos deparamos com KORÖZYON, que significa corrosão em turco. Achamos bem interessante a sonoridade, a grafia, todos gostaram, tem a ver um pouco com tudo o que rola no Brasil e o mundo hoje em dia se pensarmos em termos sociais, políticos, humanitários etc., então fechamos o assunto.


M&L – O que podemos esperar do estilo de som do Korözyon?



MARCOS AMORIM: a nossa principal ideia é fazer um som atual, que seja pesado e que possa, na medida do possível, atingir a maturidade necessária em termos de composição de tal maneira que se singularize no cenário musical. É possível que vá se encontrar traços de trabalhos anteriores dos músicos no som, mas a intenção sem dúvida é nos distanciarmos disso. A personalidade musical é algo que normalmente demora algum tempo para se atingir plenamente, a gente já tem uma certa experiência na cena, sabe que isso não brota tão lapidado, mas haverá peso, energia, espírito de rock, certas experimentações e agressividade no material.
M&L – O conceito apresentando por vocês na página oficial é bem interessante. Como a banda se posiciona a respeito do mundo que vivemos/destruímos?


MARCOS AMORIM: acredito que de tempos em tempos haja momentos de negação ou oposição a modelos anteriores, a dialética que normalmente ocorre nas artes também pode ser sentida na sociedade. O mundo está em uma etapa curiosa, há bastante riqueza e miséria caminhando juntas. Há muito avanço e retrocesso ocorrendo ao mesmo tempo. Discutimos ocupação espacial e nos falta saneamento básico. Creio que numa linha do tempo, a humanidade embora se sinta evoluída, grande parte da população mundial ainda é extremamente arcaica, egoísta, individualista e, porque não dizer, perversa. Essa visão de mundo não deve ser só nossa...



M&L – Metade da banda faz parte do Drowned, além do baixista Rodrigo Nunes ter tocado na banda em seus primeiros anos. Acredito que o estilo venha bem diferente do que estão acostumados a fazer, caso contrário não faria muito sentido uma nova banda, certo?

MARCOS AMORIM: Sim, essa é a ideia. Não seria necessário criar outro Drowned do zero, de novo, um só já dá muita canseira (risos). O som é diferente, o que tem de traço semelhante é que somos também uma formação voltada ao rock pesado, mas de resto, não haverá elementos de som mais extremo ou uma pegada mais thrasher. O foco é outro, embora seja pesado.

M&L – Como está o processo de composição?

MARCOS AMORIM: Tem variado. Algumas nascem por trocas de mensagens com arquivos de áudio, daí nos reunimos em estúdio de ensaio e chegamos ao arranjo final depois de algumas mexidas. Outras praticamente já nascem das mensagens e terminam iguais, só são aprendidas. Algumas também acabam sendo desfeitas e remontadas após todos esses procedimentos. Via de regra, o processo é colaborativo, todos participam de alguma forma.

M&L – E os planos são de tocar bastante antes de um lançamento oficial ou pretendem apresentar a banda com material físico/digital?




MARCOS AMORIM: Provavelmente não iremos fazer show antes de ter algo gravado, porque não planejamos eventos para esse projeto até o final de 2019. A ideia é gravar o material de um EP ainda em outubro, possivelmente com lançamento por volta de dezembro. Imagino que antes disso não devamos tocar ao vivo.
M&L – Já existe alguma conversa com gravadora para lançamento de material ou pretendem lançar de forma independente?


MARCOS AMORIM: Como é uma proposta nova e o mercado hoje é diferente de anos atrás, nem pensamos em gravadora. A ideia é lançar um EP nos canais de Streaming e começar a tocar. O material pode vir a ganhar a forma física e também é possível que lancemos mais coisa na sequência por um selo, mas a ideia inicial é ganhar o mundo, colocar o material para rodar, conhecer as pessoas por meio do som que fizemos.

M&L – O Drowned demorou 6 anos entre os lançamentos de Belligerent – Part One e 7th. A espera foi gratificante pois lançaram um grande álbum, mas o Korözyon pode influenciar num tempo ainda maior para a gravação de um novo material do Drowned?



MARCOS AMORIM: Não creio. O Drowned já tem algumas coisas compostas para o sucessor do 7th. Claro, no Drowned há 5 integrantes, temos assim que coincidir 5 agendas, mas a princípio um projeto não influenciaria no outro, pelo menos no estágio atual das duas bandas. Acredito que a distância entre o Belligerent e o 7th ocorreu mais em virtude de agendas pessoais, foi conjuntural.


M&L – Marcos, há alguns anos você sofreu um acidente automobilístico, que inclusive atrasou alguns compromissos do Drowned. Diga o quão grave foi e se você chegou a pensar que aquilo poderia por fim no sonho que estava começando a se materializar.


MARCOS AMORIM: Foi em 2001, logo após um show em SP, divulgando o Bonegrinder. A banda deu uma parada por algumas semanas, eu segui internado e a banda pouco depois voltou a rodar, para não ficar parada. Creio que não chegou a comprometer o desenvolvimento da banda, ainda que pudesse ter atrapalhado logo quando ocorreu. Eu fiquei quase 1 ano inativo, fui recuperando aos poucos. Inicialmente pensei que não mais conseguiria tocar, pelo menos como destro. Depois, centenas de fisioterapias depois, a coisa foi melhorando e felizmente recuperei minha condição física, pelo menos na parte mais sensível à música. Nunca pensei em desistir, mas claro que assustou.

M&L – Deixem uma mensagem a quem os conhecem como músicos e estão ansiosos para ouvir o que está por vir.
MARCOS AMORIM: Fiquem ligados, o Korözyon será uma banda que não decepcionará quem acompanha a carreira de cada um dos músicos que a compõe. Será um rock bem pesado e energético, a pegada metal vai estar lá, terá uma abordagem diferente em alguns aspectos e pretendemos deixar o som no jeito para todos ouvirem ainda em 2019, fiquem ligados! Valeu!

sábado, 19 de outubro de 2019

20 anos de Judgement do Anathema.


O Anathema da Inglaterra tinha apenas 9 anos de vida e em 1999 já lançava seu 5º álbum de estúdio, além de 2 importantíssimos EPs que na verdade deveriam ser considerados álbuns, já que um passa dos 33 minutos e o outro de 41 (???). Mas além de mostrar que os garotos tinham muita lenha pra queimar, porque estes 7 trabalhos são simplesmente perfeitos, não consigo encontrar nenhum "se" em nenhum deles, ainda assim passaram por mudanças drásticas em tão pouco tempo, já que perderam seu vocalista original, Darren White, após o lançamento de Pentecost III em 1995, e se obrigaram a mudar seu som após o lançamento de The Silent Enigma no mesmo ano, já que o guitarrista Vincent Cavanagh assumiu também as cordas vocais, e passou por problemas em sua turnê, já que não  tinha garganta para os guturais exigidos pelo Death/Doom. Então o jeito foi focar no Doom melódico e totalmente carregado de emoções que exprimem dor, perda e melancolia. Judgement é o terceiro trabalho nesta sequência mais clean, e fica difícil dizer qual dos três é o melhor, mesmo que eu já tenha uma ordem de gosto definida, fica confuso escolher quando se ouve qualquer um deles. Mas vamos à obra que completa 20 anos. O dedilhado de Deep, acompanhado da voz de Vincent já mostra que o único sentimento feliz  que você terá é na certeza de estar ouvindo algo único, que irá mexer com seus sentimentos, mesmo que seja para atormentá-lo profundamente. E não é o máximo que a música pode fazer pelo ser humano? Despertar sentimentos às vezes escondidos no fundo da alma? Ao lado de Daniel Cavanagh, seu irmão, temos melodias de guitarras limpas e enebriantes, sendo base para uma construção vocal que beira à perfeição e à beleza celestial. Que voz tem este rapaz. Pitiless vem na sequência e se não estiver olhando o mostrador, pode até pensar que ainda é a mesma faixa, porém numa toada mais sufocante que triste, como quando se tem um nó na garganta mas você não consegue se expressar e se libertar da aflição. Na cozinha temos Dave Pybus no baixo e John Douglas na bateria, ambos fazendo um trabalho consistente e adequado ao estilo, afinal para este som você não precisa ser uma máquina de guerra, mas tem que ter feeling e saber dosar seu instrumento para que ele esteja a serviço da música e dos sentimentos que ela provocam. Alguns sentiram a falta do baixista Duncan Petterson, que também fazia as vezes nos teclados e piano (além de grande letrista), mas acredito que ele tenha feito mais falta nos trabalhos posteriores, não em Judgement. Forgotten Hopes é bem introspectiva, outro ponto alto e belo, que emenda à instrumental Destiny Is Dead, que nada mais é que o cartão de visitas do baixista recém chegado. Então vem Make It Right (F.F.S.)  quando você pensa que Vincent já mostrou tudo que sabe e se esbanja numa daquelas canções de show acústico em que o cara toca violão sentado e manda uma melodia simples de voz que beira a perfeição. Os teclados também assumem o comando em determinados momentos aqui. One Last Goodbye vem carregada de tristeza, é um daqueles momentos que tem que passar bem longe de alguém que esteja perdido emocionalmente, pois pode ser um empurrão para o fundo do poço. E fico me perguntando, como é possível passar tão grande sentimento de perda e saudades numa simples canção? Não é de se assustar ao saber que esta música em especial foi escrita em homenagem à mãe dos Cavanagh que falecera há pouco tempo. Ok, você neste ponto do álbum já está impressionado, chorando e desesperado, talvez até com a navalha nas mãos, e acha que daí pra frente não tem mais nada pra acrescentar quando entra a cereja do bolo. Com pouco mais de 2 minutos e um conjunto de vozes e teclados, com a graça dos vocais femininos de Lee Douglas, Parisienne Moonlight é mais um momento ímpar na carreira dos ingleses, digna de tirar o chapéu. Daí pra frente sim, o álbum fica um pouco mais progressivo, mais enigmático, mesmo que isso não seja nenhum demérito, já que a obra é maravilhosa no geral. Mas em Emotional Winter por  exemplo você percebe que num futuro próximo o gosto por texturas a la Pink Floyd iriam fazer mais parte do repertório da banda do que a tristeza miserável do Doom. Se não conhece Judgement, ouça e se apaixone. Se apaixone loucamente!!!

sábado, 5 de outubro de 2019

20 anos de Infernal Satanic Verses do Mystic Circle


Após flertar com o vampirismo em seu debut e com a saga do anel Nibelungo e dragões no excelente Drachenblut, os alemães do Mystic Circle resolveram liberar a capetagem no ótimo álbum Infernal Satanic Verses que está completando 20 anos. A começar pela arte da capa muito bem feita, onde o clássico logo da banda se misturava num altar nada sagrado, o play começa com uma intro de corais arrepiantes acompanhados de fraseados demoníacos para alertar os desavisados que preferem algo mais calmo a saírem do recinto enquanto suas almas ainda forem suas por garantia. "Undestructable Power Of Darkness" trás tudo aquilo que o Mystic começou no álbum anterior e lapidou para este lançamento. Guitarras serrando pescoços, bateria e baixo suportando toda a agressividade, muitos teclados funestos acompanhando cada segundo de caos e muitos vocais rasgados, guturais, falados e até femininos (influenciados por Cradle of Filth) professando todas as blasfêmias aprendidas na escolinha negra do Back Metal. Aliás os ingleses do COF são uma clara referência para quem desejar conhecer este petardo, caso ainda não tenham trombado ao longo da história. Hordes of The Underworld tem tudo que o fã de Melodic Black procura, com muitas mudanças de ritmo e clima, que deixam a canção extremamente eletrizante, pois cada passagem se desfaz para dar lugar a uma nova em seus quase 7 minutos. E a maioria das faixas está na casa dos 6 minutos pra lá. The Devilstone, apesar de um começo mais simples quando você acha que vai entrar na lenda do mal da terceira faixa, geralmente a mais morna da primeira trinca dos álbuns, acaba se enganando, pois a qualidade continua nas profundezas (no bom sentido) e ela tem algumas partes onde o peso das guitarras se sobressai aos teclados mostrando que os caras não se escondiam atrás de nenhum instrumento, e sabiam destruir tudo com muito bom gosto. Críticas a este petardo apenas à parte lírica, uma vez que a banda vinha desenvolvendo um belo trabalho nos primeiros álbuns, escolhendo temas mais adultos. Mas  se pra você o que importa é apenas som, esqueça o lirismo e aproveite as porradas do play. Mesmo porque em pouco tempo o quinteto se tornaria um trio eliminando 2ª guitarra e teclados, mudando completamente o som para o Death/Black.

quinta-feira, 3 de outubro de 2019

In Flames

Vamos de In Flames criaturas noturnas!

Música: Episode 666
Álbum: Whoracle (1997)
Suécia

Bem vinda aqui, o esquilo na roda começa
prenda as correias da mão esquerda
Lembre-se de não pensar muito
e sua viagem será muito agradável

Não importar-se é a maneira mais fácil
mas para garantir uma passagem ao segundo plano
você tem que terminar o nível um
Seus lábios de sorrisos-mortos ligam a TV
enquanto sepulturas urbanas arranham os céus
Levantando-se sobre cidades e céus de marionetes

Este é o episódio 666
Destino: caos
Cada um é um ator cego

terça-feira, 1 de outubro de 2019

Entrevista com Escarnnia.



Quando músicos desconhecidos da cena lançam um primeiro trabalho, geralmente passam batido no cenário nacional, principalmente se estão radicados em um estado longe do grande eixo metálico, composto por São Paulo, Rio de Janeiro, Minas Gerais e outros mais tradicionais como Rio Grande do Sul, Paraná e Bahia. Então precisam mais do que simplesmente lançar seu trabalho. Têm que suar muito na divulgação, caprichar no material, além de apresentar um álbum bem convincente. E a galera do Escarnnia de Palmas no Tocantins está mais do que enquadrada em tudo isso, conforme as palavras do guitarrista e vocalista Ismael Santana a seguir, exclusivamente para o Metal e Loucuras. 


M&L – Primeira coisa a chamar a atenção no Escarnnia são os nomes dos integrantes. Há um parentesco ou apenas coincidência?

Ismael - Apesar da coincidência dos nomes, somente o Natanael (baixista) e o Samuel (baterista) que são irmãos, todos somos amigos desde a infância praticamente rs.

M&L – Aparentemente a média de idade da banda é baixa. O Escarnnia é a primeira experiência profissional com música de todos os integrantes?

Ismael - Sim, essa é nossa primeira experiência profissional, eu já tive projetos de bandas junto com Natanael, mas não vingaram, por incrível que pareça nossas primeiras tentativas foram calcadas no black metal (rs).

M&L – Sob o contexto regional, Tocantins, apesar de ser um novo estado, não tem tanta tradição no Heavy Metal. Conte-nos sobre a cena da região.

Ismael - Aqui tem uma cena muito legal, as poucas bandas que tem sempre se ajudam, e isso acaba que unindo as bandas, tem bandas promissoras em nossa cena, como Mata Burro HC, Trator Metal, Heresia, Vocifer que em breve lançará seu primeiro álbum, Abyssal Forest também com lançamento já em andamento, Atrox, Dr Alibi, Chico Doido HC, Clamor ,Ritos Ocultos e Andromalius, são as bandas que junto com a gente batalham pra manter nossa cena sempre intacta.

M&L – Por que vocês decidiram gravar em São Paulo? E ainda, se a banda fosse paulista, você acha que ela teria uma maior visibilidade ou a disputa por um reconhecimento nos grandes centros é ainda mais difícil?

Ismael - Isso foi algo inusitado (rs), abrimos pra uma banda paulista a Worst, os caras piraram no nosso som e dai surgiu o convite do Tiago Hospede que nessa época era guitarrista, no mês seguinte partimos para dar o passo mais importante de nossas vidas, creio que se atuássemos na cena paulista nosso trabalho teria tido mais visibilidade, pois a facilidade de shows seria mais viável e com mais frequência.

M&L – Vamos falar de Humanity Isolated. Fiquei impressionado com a qualidade do registro, principalmente por ser o primeiro álbum!

Ismael - Muito obrigado pelas palavras, trabalhamos por muito tempo nessas musicas, a vantagem que elas já estavam concluídas há anos, e no estúdio o Tiago Hospede adicionou alguns elementos essenciais para o fechamento perfeito de cada faixa.

M&L – A produção está acima da média. Cada música tem sua propriedade e a timbragem dos instrumentos está excelente. Inclusive o álbum tem um som de baixo muito presente, principalmente nas faixas The Evil Spell e Back In Time. Como tem sido a repercussão do trabalho?

IsmaelGostamos demais do resultado, todos os instrumentos se destacaram, e o baixo é fundamental no estilo que propomos, a repercussão alcançou patamares que nunca imaginaríamos (rs), como foi lançado também de forma digital ficou mais fácil a expansão desse álbum.

M&L – É natural procurarmos referências no som de bandas mais novas, e mesmo que o Escarnnia tenha potencial para ser reconhecido pelo estilo próprio, há influências de grandes nomes do Death Metal. E o que mais chama a atenção é o instrumental de algumas faixas, em especial Total Death e Condemned To Kill, que poderiam ter sido criadas pelo grande e saudoso Chuck Schuldiner. Falem das suas influências.

Ismael - Ficamos lisonjeados pelo elogio de comparar ao nível da perfeição musical Chuck Schuldiner (rs), nossas referencias são de bandas nessa linha do Death mesmo de onde veio a maior parte das influências somada com bandas como Obituary, Sarcófago, Morgoth e Necrophagist.

M&L – A arte gráfica é outro atrativo. Com uma capa interessante e compatível com a temática, encarte muito bonito, o CD vem no formato slip case e ainda acompanha um adesivo com o logo da banda. Tudo isso é por uma satisfação pessoal ou algo para cativar os fãs e estimular a compra do material físico?

Ismael - Essa belíssima arte foi feita pelo saudoso João Duarte, que tem bagagem nesse ramo, a ideia dos brindes a parte no CD veio da Classic Metal, que nos possibilitou a existência desse álbum físico, devemos muito a eles por apoiarem nosso projeto.

M&L – Foi gravado um vídeo clipe para a música Total Death, muito bem produzido, o que tenho certeza que levou muitas pessoas a conhecerem a banda (incluindo este que vos fala). Pensam em gravar mais algum vídeo para este álbum?

Ismael - Esse clipe nos ajudou bastante em ampliar nossa imagem como banda, uma obra registrada por Adriano Lima FilmMaker, todos os show que tocamos a galera sempre pede essa música e isso é bastante satisfatório, já estamos com projeto de gravar novas músicas e o próximo clipe será dessa próxima remessa.

M&L – Quais os próximos passos do Escarnnia?

Ismael - Como digo antes já estamos em fase de confecção das próximas faixas para registrar um EP ou logo outro álbum.

M&L – Deixem uma mensagem à galera que acompanha a página e a seus fãs.

Ismael - Agradecemos sempre por nos apoiar e sempre apostar no Escarnnia, Nossas músicas estão em todas as plataformas musicais, muito obrigado a página Metal e Loucuras por esse espaço e um forte abraço para todos que curtem nosso som !!!

Escarnnia é composto por: 

Natanael (Baixo) - Samuel (bateria) - Ismael (Guitarra e vocal) - Valber (guitarra)

sábado, 28 de setembro de 2019

Vem aí no Metal e Loucuras! Escarnnia.


20 anos de The Gathering do Testament


Depois de lançar um álbum longe de ser ruim, porém muito questionado por ser bem próximo do Death Metal, o Demonic de 1997, o índio Chuck Billy e o guitarrista Eric Peterson juntaram um "dream team" do Metal para gravar The Gathering, um dos álbuns mais aclamados da história da banda. O segundo guitarrista foi ninguém menos que James Murphy, conhecido por ser o mago das guitarras Death Metal, tendo gravado obras fundamentais do estilo como Cause of Death do Obituary, Spiritual Healing do Death e Dreams of The Carrion Kind do Disincarnate. O interessante é que Murphy não se lembra de nada que fez em The Gathering, devido a uma cirurgia para retirada de um tumor no cérebro logo após seu lançamento. Para o baixo veio o monstro Steve DiGiorgio, conhecido principalmente por fazer parte do Sadus, além de inúmeros outros projetos, incluindo 3 álbuns clássicos do Death e de The Fragile Art of Existence, do Control Denied, ao lado de Chuck Schuldiner, no mesmo ano em que saiu The Gathering. Na bateria ninguém menos que Dave Lombardo que esteve nos maiores clássicos do Slayer. De uma constelação desta não poderia sair nada menos que algo incrível!! A porrada começa com a matadora D.N.R (Do Not Resuscitate), com um timbre de guitarras sensacional, levadas de bateria insanas e os vocais excepcionais. Uma das melhores músicas da carreira da banda. Há momentos bem agressivos no álbum, como a quase Death Fall of Sipledome, que depois da primeira parte cai num ritmo bem "Death de Schuldiner" com um belo solo de guitarra que poderia estar em Symbolic. Falar de True Believer é óbvio, pois é uma  das melhores músicas do trabalho, com Chuck  Billy cantando daquela forma tradicional como em álbuns como Souls of Black. Uma música mid tempo pra curtir balançando a cabeça e batendo o pé no chão acompanhando a batida de Lombardo. "3 Days in Darkness" é outra que merece ser lembrada, com aquele ritmo cadenciado e o "ôôô" de coro que ficou bem legal, além de desacelerar até parar e voltar no mesmo estilo, com um solo típico de Murphy. A capa é interessante, apesar de um pouco confusa devido às várias letras sobrepostas no título e no logo da banda, com uma imagem feminia quase abstrata, bem característica da época, vide trabalhos como Outcast do Kreator, e aparece de uma forma bem diferente no lançamento em 2018 pela Nuclear Blast, além do bônus instrumental Hammer of The Gods, que originalmente tinha aparecido apenas na versão alemã. The Gathering pode ser traduzido como o álbum que fechou um período do Thrash Old School e abriu a era do Thrash com mais groove da banda. Um clássico que ultrapassou a barreira do tempo e merece ser ouvido sempre no volume máximo.

domingo, 15 de setembro de 2019

20 anos de Alive In Athens do Iced Earth


 Lançar um álbum ao vivo no auge da carreira é praticamente jogo ganho. E após lançar seu espetacular Something Wicked This Way Comes em 1998 Jon Schaffer, líder e guitarrista americano, soube muito bem que era hora de mostrar o poder de fogo desta formação sobre os palcos. Com um título que evoca as grandes batalhas gregas, uma mixagem que multiplicou por 10 a galera de aproximados 2.000 presentes, fotos de encarte tiradas em festivais ao ar livre e o sensacional formato em 3 CDs, nunca se imaginaria que as gravações ocorreram no 'até modesto' clube The Rodon nos dias 23 e 24 de janeiro de 1999, seis meses antes de ser lançado em CD. Bem, depois que saiu em DVD descobrimos que estes pequenos detalhes são mais um exemplo do tino comercial de Schaffer, porém nada disso tirou o  brilho da obra. Abrindo com Burning Times (o que seria feito ainda por muitos anos), uma das melhores músicas compostas pelo Iced Earth, lá estavam Brent Smedley socando a  bateria, James MacDonough debulhando no baixo, Larry Tarnowski e Schaffer nas guitarras e a voz inconfundível do até então cabeludo ruivo Mathew Barlow. E como este cara estava cantando meus amigos, seja em momentos mais calmos como Watching Over Me ou I Died For You, seja gritando com aquele drive mais acentuado em Desert Rain ou nos agudos soberbos de Pure Evil. Ficar citando músicas neste apanhado de clássicos absolutos é pura perda de tempo. Se hoje as pessoas não têm mais tempo para ouvir um álbum inteiro na íntegra, dificilmente irão apreciar as 3 horas seguidas de Alive In Athens. Então fica a dica, ouça um por dia e ouça todos novamente em seguida. Com certeza você ficará com Barlow martelando em sua cabeça por uma semana, o que é muito bom em vista de tanta porcaria que ouvimos nas ruas diariamente. Um dos melhores álbuns ao vivo da história do Heavy Metal que completa 20 anos e provavelmente completará 30 sendo ainda irrepreensível. E pra quem não está familiarizado com o som do Iced Earth, procure ouvir a versão ao vivo de Dante's Inferno. E se prepare para ter uma nova banda de cabeceira. Perfeito!

sábado, 31 de agosto de 2019

Eternal Fall - Under The Mind's Sheet



Até que enfim a espera acabou. Re-lançado há alguns meses numa parceria entre Tales From The Pit Records, Kaotic Records, Violent Records, Eclipsys Lunarys Productions, DeathCult Distro, Underground Voice Records,Trevas Nascemos Distro e Totem Records (Ufa) o segundo álbum dos mineiros do Eternal Fall, Under The Mind's Sheet de 2007 saiu da escuridão e veio nos agraciar com o mais puro e sorumbático Death/Doom. Detalhes deste trabalho você pode conferir na entrevista exclusiva que publicamos com o baterista Luiz Toledo em Março deste ano. O que vale agora é o som que você irá encontrar nesta pérola. Vocais guturais, ainda que vez ou outra uma linha mais limpa apareça, e que lembra até algumas passagens antigas dos gregos do Rotting Christ. Muito peso nas guitarras e melancolia, principalmente nos trabalhos de teclados e dedilhados que permeiam toda a obra. O play começa com For The Eternity que talvez seja a melhor música do trabalho. Uma viagem soturna de seres se arrastando no porão de uma mansão assombrada. Algumas faixas têm letra em português, herança da clássica música "Cego" do primeiro álbum da banda, como Angústia Suprema e Esquecimento, que dão um sentimento a mais na audição. Se sua praia são bandas como Anathema (antigo) e My Dying Bride, o Eternal Fall é ítem obrigatório na coleção, e este relançamento não pode passar batido. De bônus o trabalho traz o EP Soul's Fragment de 2009, com 4 faixas maravilhosas que enriqueceram demais o play, com destaque para a quase Funeral Doom Walking In The Darkness. A arte é simples, mas com belas e lúgubres ilustrações bem características do gênero. Que bom que alguns selos estão se unindo para lançar novos trabalhos e resgatar os antigos que muitas vezes foram lançados de forma independente, restringindo o alcance ao público que valoriza o material físico e as bandas do underground nacional. Mereceu o carimbo de "FUDIDO' do Metal e Loucuras.

Entrevista com Serpent Rise.


O cenário nacional há anos está repleto de bandas de qualidade. Se por um lado a arte como um todo não tem seu devido reconhecimento por aqui, por outro há aqueles que insistem em expor ao mundo aquilo que amam fazer, independente de todas as dificuldades que a falta de uma estrutura adequada possam trazer, e frear expectativas de um lugar ao sol. O Serpent Rise de Santa Maria, no Rio Grande do Sul, vem desde 1993 percorrendo os caminhos arrastados do Doom Metal, e mantem a chama acesa e a expectativa de doomers ao redor do mundo com o relançamento de seu debut Gathered By... de 1998, que até pouco tempo era uma famosa "mosca branca" para os colecionadores.
Com a palavra o vocalista Agnaldo Gomes e o multi-instrumentista Julio Wojciechowski.

M&L – Vamos começar falando do início do Serpent Rise. Como vocês se conheceram e o que os motivou a tocar algo tão contrário ao metal que se fazia no Brasil, marcado pela velocidade?
Agnaldo – Eu e o Julio nos conhecemos desde o final dos anos 80 e de certa forma tocamos juntos desde então.  Nossa parceria musical começou com a Nuctemeron (Death/Black/Grind), depois estivemos na primeira formação da banda Garbage (Death Metal) até final de 1992, então sentimos que nossas ambições com a música iam muito além do que criar musicas rápidas e resolvemos criar a Serpent Rise.  É impossível não falar aqui que muito nos influenciou o fato de sermos tape traders e na época recebemos muitas fitas com bandas undergrounds, lançamentos vindos de fora  e entre eles a demo tape do Paradise Lost, o  Forest of Equilibrium do Cathedral e isso foi fundamental para nossa decisão de seguirmos esta linha musical.

Julio – Acho que o Agnaldo respondeu tudo, poderia acrescentar em termos históricos, acho que nunca falei sobre isso em entrevista alguma, depois da Nuctemeron, tive um projeto de Grind Core chamado Skull Grinder, onde de fato comecei a compor, logo em seguida o Agnaldo me convidou para a Garbage que estava no início onde contribuía com composições junto com outros membros da banda. Com o tempo, minhas composições já apresentavam uma queda para o que chamam hoje de Death Doom, tanto que, duas composições originalmente escritas por mim para Garbage, foram deixadas de lado na época e logo em seguida, quando saímos da banda e fundamos a SR, aproveitamos para Anastenárides, por isso essa demo tem a pegada que tem.

M&L – O Rio Grande do Sul já tinha uma cena metálica consolidada nesta época.  Como era o movimento no estado?
Agnaldo – Bom, eu penso que não só naquela época , mas até os dias atuais, o underground gaúcho é celeiro de ótimas bandas.  Naquela época lembro-me que Krisiun, Leviaethan, Blessed se destacavam bastante e na contra mão surgimos nós (Serpent Rise) com uma proposta sonora diferente e um direcionamento do trabalho amplo.  Eu não digo que tenhamos influenciado outras bandas , mas creio que nosso pioneirismo incentivou ainda mais o surgimento de outras bandas  explorando o estilo e dando seu toque pessoal.

Julio - O underground gaúcho era everfescente na época. Em uma época pré SR (somos experientes hehehe) já haviam bandas fudidas como Sarcastic, Apostasia, Dissector, Satanic Voice, Psychopatic Terror (banda do falecido Paulo Schroeber na época), nossos irmãos que conhecíamos pessoalmente no qual trocávamos correspondências, flyers, demos, etc... isso falando especificamente do nosso estado.

M&L – Na biografia da banda, vocês fazem questão de frisar que um dos melhores momentos da carreira foi aquele show no BHRIF (BH Rock Independent Fest) em Belo Horizonte no ano de 1994, abrindo para Anathema e Dorsal Atlântica. Eu estive neste show, foi quando conheci o Serpent Rise e sempre menciono que foi uma das melhores apresentações que já presenciei num palco, sendo a banda mais aclamada da noite. Fale sobre o evento.
Agnaldo – Bom, deve-se analisar o fato de que na época, em que fomos convidados para tocar no B.H.R.I.F,  a banda ainda era relativamente nova na cena e estávamos divulgando há pouco tempo nossa primeira  demo tape.  Nós eramos jovens e nossa expectativa com a banda era conseguir algo ao passar dos anos e não em questão de meses, por isso, ter iniciado nossa trajetória em um mega festival (para época) é algo que nunca vamos esquecer.  Além do que receber comentários e críticas positivas sobre nossa performance, nos deixa cada vez mais motivados a seguir compondo mais músicas e tocando em todos os lugares que nos chamarem. 

Julio – Legal, você estava lá e viu, nós fomos pegos de surpresa com tamanha aceitação e respeito do público, acho que não é exagero dizer que representamos à altura o Doom Metal nacional. Aquele evento penso hoje, que foi um outlier, pois bandas como nós, iniciando e totalmente desconhecida, teve a chance de subir em um palco com nomes já consolidados na época, me lembro de ter comentado com Carlos Vândalo que a música Álcool era um hino, hehehe, jogamos um futebol rápido com o pessoal do Anathema no lado do palco entre as passagens de som. Pelo menos pra nós, aquele evento foi um divisor de águas em nossa percepção como artistas, todos os comentários advindos daquele evento foram positivos e ajudaram uma banda que estava começando sua jornada.

M&L – Qual a repercussão da demo Anastenárides e a importância da faixa Betrayer God ter feito parte da coletânea The Winds of A New Millenium da Demise Records?
Agnaldo – Para a demo “Anastenárides” nós usamos o espírito “tape trader” , ou seja, não vendemos as cópias, nós pedíamos que os interessados mandassem uma fita k7 virgem, ou com alguma gravação de bandas da sua cidade / país ,  selos para postarmos de volta e assim distribuimos muitas cópias pelo Brasil e mundo.  Já a faixa que faz parte da coletanea “The Winds of a New Millenium” é importante porque é o nosso primeiro registro no formato CD e lógico por estarmos figurando entre bandas de prestígio na cena brasileira.
Julio – Essa pegunta é boa, originalmente a faixa que havíamos escolhido para a coletânea era Misericordium e não Betrayer, mas eu acho que os caras gostaram mais de Betrayer sei lá, mas fomos surpreendidos positivamente eu diria.

M&L – O até então único full length da banda “Gathered By...” foi lançado através da Megahard e durante muitos anos foi um ítem raro e desejado pelos colecionadores do país. Agora ele foi relançado com duas demos de bônus pela Nuktemeron Productions. Fale de Gathered By...
Agnaldo – Gravamos o “Gathered by...kharma” em 1996 , só conseguimos lança-lo dois anos depois , em 1998, e acredito que para a época este álbum foi muito avantgarde.  Lembro-me que um dos mais famosos redatores de uma importante publicação metal do país na época, não conseguiu resenha-lo porque o álbum estava à frente do que era produzido na cena brasileira. Atualmente o álbum recebe resenhas que conseguem expressar o que nós queríamos passar com nossa música há anos atrás. Foi um álbum que passou desapercebido, porque a gravadora não investiu em promoção para ele, porém, ele se manteve vivo e atual em sentido amplo.  No final do ano passado, após muitos anos recebendo e-mails e mensagens de pessoas desejando adquiri-lo, então, encontramos no selo Nuktemeron Productions a confiança e parceria necessárias para tornar este re-lançamento comemorativo de 20 anos em uma realidade.  Então o Julio, em seu estúdio Loudness Art, remasterizou todas as músicas do “Gathered by...” ,as demos tapes e juntamente com o Fabio evoluímos a ideia inicial para um relançamento em versão dupla.  

M&L – A faixa In The Cosmic Sea é sensacional, uma de minhas favoritas. Mas ela tem uma passagem de aproximadamente 1 minuto em que quase não se ouve nada, que sempre me deixou encucado. Daí a pergunta, esta foi mesmo uma intenção de vocês ou algo deu errado na produção, deixando o som mais baixo que o previsto?
Julio – Excelente pergunta, isso também me incomodava, todavia quando fiz a remasterizarão dela, aumentei essa passagem. Mas sim era intenção de ser do jeito que foi, mas ficou muito baixo na original lançado em 98. Pecamos um pouco em algumas partes na produção do álbum, foram 100 horas de estúdio, para nós foi difícil e tinha muita coisa em jogo, certamente algumas coisas escaparam do nosso controle, mesmo eu ouvindo todas as audições e presente em praticamente 90% das audições, mesmo assim, hoje com um olhar mais de produtor e menos de músico, vejo o quanto aquele material foi bem captado e nossa sonoridade foi atingida, a própria música que você citou como favorita eu estava gravando o solo da parte mais rápida e eu simplesmente atravessei o andamento na minha cabeça e continuei tocando até terminar o take, olhei para os caras que estavam fora do aquário de gravação com um semblante de quem fez merda e atravessou tudo e os caras: não, tá massa, ficou ótimo, é isso mesmo, kkkkkk. Bem, essa pequena historinha serve pra reforçar o que penso, um bom álbum requer coisas as vezes antagônicas, como planejamento e acaso, e um pouquinho de sorte, se não fosse meu erro, a música não sairia do jeito que é.

M&L – Em 2008 vocês lançaram o EP Euphoric Waves of Melancholy pelo selo próprio Doom Whorshippers. Fale um pouco do selo. A intenção é apenas para lançamentos do Serpent Rise ou pretendem fechar contrato com outras bandas de Doom?


Agnaldo – Eu criei a Doom Worshippers Productions para poder gerenciar , divulgar  e realizar varias ações para as bandas ao qual eu estou envolvido como músico, ou seja, Serpent Rise, Arcanum XIII e Monochrome Life. Eu cuido da divulgação, dos contratos para relançamentos e quem sabe no futuro fazer os lançamentos também.  O EP - “Euphoric Waves of Melancholy”(2008) foi uma experiência importante.

M&L – Confesso que fiquei admirado com o som do EP. Imaginei que a banda iria seguir uma linha mais atmosférica, como já dava a entender a música Travelling Free... mas temos quase um Funeral Doom, com vocais guturais e limpos que elevaram o som da banda a um novo patamar. Por que o EP não foi tão divulgado, ou até mesmo porque na época não optaram por um álbum completo.
Agnaldo -  Bom, em 2005, o Julio por motivos profissionais foi morar em outro estado, então, eu continuei as atividades da banda com outros integrantes e no período de 2006 à 2008 estávamos trabalhando em novas composições para um novo álbum porém, sentimos a necessidade de proporcionar uma amostra para todos os amigos  e lançamos o Ep.  Logo que lançamos o “Euphoric Waves of Melancholy” a banda perdeu integrantes e isso me desmotivou, naquele momento, a continuar insistindo em um line up completo, então, eu suspendi a comercialização, divulgação do Ep.

M&L – Você já informou que podemos esperar um novo álbum do Serpent Rise. Como ele está? Podemos esperar algo na linha de Euphoric Waves?

Agnaldo – Em 2009 , eu procurei o Julio para uma conversa e expus minha ideia de retomarmos nossa parceria musical, mesmo morando em estados diferentes, pois o grande objetivo seria preparar o segundo álbum da Serpent Rise e continuar as atividades da banda sendo apenas um duo.  Desde então foram feitos alguns investimentos em equipamentos, cursos , o que possibilitou ao Julio montar seu próprio estudio – Loudness Art -  e desde então estamos compondo  novas músicas para o segundo álbum que esperamos ficar pronto logo.

 Julio - Bem, o que temos para um segundo trabalho, é na verdade uma mistura de músicas que não foram gravadas em 2009 com material mais atual, é aguardar para ver.

M&L – O Metal e Loucuras agradece imensamente vossa participação. Deixem um recado para a galera que segue  a página.

Agnaldo -  Eu quero dizer obrigado Nilson & “Metal e loucuras” por nos ceder este precioso espaço e nos oportunizar contar um pouquinho da nosso história.  Um especial obrigado e abraço a todos os leitores e continuem apoiando nossos webzines , zines , bandas , selos e shows.  Stay Doom!

Julio – Obrigado pelo honroso espaço e pelas excelentes perguntas.