terça-feira, 27 de dezembro de 2022

20 anos de Invincible War do Bywar!!!


O Bywar surgiu na capital paulista em 1996 e conseguiu lançar "Invincible War", seu primeiro álbum, em 2002, pela extinta Hate Storm. Com capa inspirada em obras como Endless Pain do Kreator, desenhada por Marcos Cerutti, que criava seu primeiro trabalho profissional nesta área e hoje é uma referência no cenário, e um som impossível de não associar ao Destruction da Alemanha, o álbum esbanja energia e caminha com as solas em chamas pela terra do Thrash sem nenhum constrangimento. Rápido e rasteiro, desfila riffs serrilhados, bateria bate estaca e baixo desenfreado, com uma camada de vocais rasgados e perfeitamente bem encaixados. Os shows do Bywar já eram um diferencial, rasgando o país em apresentações insanas, chovendo ou no calor dos infernos, o que lhe deu um status poderoso frente bangers que ansiavam por um retorno do metal nacional em grande estilo, após um período meio sombrio. Adriano Perffeto na guitarra e vocal e Victor Regep na outra guitarra hoje são conhecidos pelo Deathgeist, mas fizeram história no Bywar, enquanto no baixo tínhamos Enrico Ozio e na bateria Hélio Patrizzi. "Invincible War" se tornou um álbum cult entre os metalheads brasileiros e instrumento de orgulho em várias coleções espalhadas por aí, e muito se deve ao fato deles terem feito justamente o que o Destruction não fazia mais, um som mais despojado e furioso, como na época de um Eternal Devastation, por exemplo. A banda venceu barreiras e provou que a guerra não era tão invencível como propõe o título do álbum. O bom é que a banda voltou às atividades durante a pandemia. Resta saber o que nos aguarda.

 

quinta-feira, 22 de dezembro de 2022

20 anos de Der Schatten Einer Existenz do Vanitas!!!


O Vanitas é uma banda austríaca de Gothic/Death/Doom e por mais que hoje em dia a mídia insista em negar o termo "A Bela e a Fera", era isso que servia de alcunha para estas bandas no início dos anos 2000. De repente o cenário ficou saturado, algumas bandas acabaram e novas deixaram de surgir, mas algumas cresceram e ainda sobrevivem. Não é o caso do Vanitas, que encerrou atividades em 2007 após 3 álbuns de estúdio. "Der Schatten Einer Existenz" ou "A Sombra de uma Existência" em alemão, foi o segundo trabalho, e deu as caras em 2002, sendo lançado no Brasil pela Hellion, sob licença da desconhecida CCP Records. Todas as letras são em alemão, portanto se você mal conhece o nosso português não se aventure no encarte, mas se tiver de onde copiar e colar no google tradutor, boa sorte. Maria Dorn fez sua estreia neste álbum, já que o Vanitas não tinha uma vocalista fixa no debut, e sua voz não é um destaque absoluto e nem é o artifício mais utilizado, já que os guturais de Andreas Schärfinger  se sobressaem a todo momento, enquanto os vocais femininos mais lembram os gemidos de uma moça tímida num sonho caliente. Ela também toca flauta e aqui e ali aparecem violinos, celos e até uma viola. A produção é boa e as músicas são cativantes, temos aqui músicos competentes e as canções seguem um padrão de qualidade, com guitarras fortes e teclados bem encaixados. É estranho a banda não ter ganhado maior destaque na época. Recomendo!

 

quarta-feira, 21 de dezembro de 2022

20 anos de In The Halls of Awaiting do Insomnium!!!


O Insomnium é uma banda finlandesa de death melódico que flerta bastante com o doom, o que lhe dá um ar austero de regentes da melancolia, ao invés de apresntar apenas riffs melosos e gritaria irracional. Olhando a arte da capa de seu primeiro álbum de estúdio, "The Halls of Awaiting", de 2002, 5 anos após sua fundação, percebemos detalhes frios e pertinentes à natureza, e a partir daí e aliado ao nome da banda, já se tem esta percepção. Não que o som seja arrastado, pelo contrário, temos um ritmo bem cadenciado de bateria, enquanto algumas passagens, como em "Medela" podemos ouvir uma melodia de guitarra que se encaixaria num álbum do Katatonia. O vocalista é Niilo Sevänen e cabe aqui um elogio. Seu trabalho é bem interessante, é um vocal gutural bem semelhante ao de Johan Hegg no álbum "Jomsviking", que é o álbum mais melódico da banda. Não soa exagerado nem melódico, e possui uma veia de death metal tradicional em meio aos riffs que ora lembram algo de Gotemburgo, ora lembra passagens folk como seus conterrâneos do Amorphis, e as guitarras da faixa "Dying Chant" são um bom exemplo disso. Este é um álbum para se ouvir prestando atenção e não enquanto você lava o carro ou cozinha. Aproveite um momento sozinho, beba um vinho e descanse a mente. 

 

terça-feira, 20 de dezembro de 2022

20 anos de King of All Kings do Hate Eternal!!!


A bela arte criada por Andreas Marschall é um claro retrato das bandas dos anos 90. Já o som do Hate Eternal, banda do produtor e ex-Morbid Angel Erik Rutan, tem muito technical death incorporado em seu brutal death. O som é ultra rápido e para situar os "desconhecidos", pense em nosso querido Krisiun em determinados momentos. A faixa título é um arrasa quarteirão, que com menos de 3 minutos consegue sintetizar tudo aquilo que a banda veio fazer neste mundo. Os vocais de Rutan são guturais ao extremo, mas os backing rasgados e gritados do finado baixista Jared Anderson dão um toque especial nesta faixa, e na encantadora "Chants In Declaration", a melhor do álbum. O baterista Derek Roddy parece ter baquetas no lugar das mãos, tamanha desenvoltura e destruição sonora no instrumento percussivo. Ele praticamente dita a velocidade infernal com que as músicas esmagam o solo e derrubam paredes. O trabalho de Rutan na guitarra serve diretamente o estilo da banda, e passagens monstruosas como ouvimos em "In Spirit (The Power of Mana)" servem para tirarmos o chapéu, enquanto o riff principal de "Powers The Be" mostram uma engenhosidade crua e intrincada que merece respeito. Uma frase que aparece no encarte do álbum diz tudo que se precisa dizer a respeito de "King of All Kings": (Para preservar a integridade deste disco e dos músicos que o gravaram, não houve edição alguma na produção de "King of All Kings". Vamos elevar os padrões de Death Metal). 20 anos de padrões elevados!

 

domingo, 18 de dezembro de 2022

20 anos de Alcoholic Death Noise do Cirrhosis!!!


É até estranho escrever que o primeiro full álbum do Cirrhosis de Uberlândia, Minas Gerais, tenha sido lançado apenas em 2002, uma vez que a banda já era nacionalmente peça importante do cenário extremo. Porém seu principal trabalho até o momento era o saudoso split "Alcohol Rules" ao lado da banda Lou Cyfer em 1991 pela Cogumelo. "Alcoholic Death Noise" bebe na fonte do mais puro death metal mineiro e despeja música extrema de excelente qualidade, tendo à sua frente o saudoso Juarez Távora, nosso amigo Tibanha, que algum tempo depois deste álbum foi expulso de sua banda, por conta de bebedeiras. Mas o que seria do Cirrhosis se não fosse o álcool, isso nem justificaria o nome da banda, não é mesmo? Claro que Tibanha voltaria anos mais tarde, porém sem conseguir completar mais um trabalho, que ele estava gravando quando veio a falecer em 2020 pegando todos nós de surpresa e deixando uma grande lacuna em nosso cenário, tanto na luta do underground por um espaço, quanto na pessoa de coração enorme que era. A capa, com toda luxúria, inferninho e bebedeiras inerentes à banda, foi uma criação de Ricardo Sá, que também desenhou a arte de "Alea Jacta Est" do Dorsal e "Worship Flesh" do Lou Cyfer. O álbum abre com a curta intro "The Sin" no melhor estilo "Bestial Devastation" emendada com uma porrada chamada "Sexual Delight". Guitarras em baixa afinação e palhetadas abafadas, baixo gordo e uma metranca de excelente qualidade, enquanto os urros de Jurez lembrem algo do álbum "Hate" do Sarcófago. A faixa título é a melhor do álbum, com vocais com eco e um trabalho de guitarras sensacional, cru, raivoso e visceral, totalmente MGArea Old School. As letras das singelas canções lembram o que faz o Sextrash, ou seja, sem nenhum pudor e com perversão no maior grau. Produzido por Gerald Minelli, baixista do Sarcófago, o álbum ainda conta em seu desfecho com uma versão matadora para "Midnight Queen", clássico eterno do death metal nacional. Sabe porque este lançamento de 2002 não foi considerado perfeito? Porque não teve "Alcohol Rules" como bônus. Um erro que espero que a Cogumelo corrija algum dia.



 

sexta-feira, 16 de dezembro de 2022

20 anos de Depression do GenocÍdio!!!

 


No álbum "Posthumous" o Genocídio de São Paulo ousou ao incorporar o gótico ao seu death metal, e forjou um dos melhores álbuns do nosso cenário. Porém depois no "One of Them..." exagerou no quesito "gothic" e gravou um álbum meio fora da curva, que desagradou os fãs mais tradicionais não abertos a mudanças drásticas. "Rebellion" veio 03 anos depois não se sabe se para consertar a história, ou se os caras voltaram mais zangados mesmo. Pela arte da capa percebe-se que ao menos as teorias prevalecem conforme o trabalho anterior, naquela vibe de que Cristo era um alienígena, e pra quem quiser se aprofundar no assunto é bom dar uma lida na série "Operação Cavalo de Tróia" de J.J. Benitez. "Rebellion" inicia com a faixa título e um riff que lembra os primórdios do metal nacional, como o grande Holocausto em Campo de Extermínio. O vocal de Marcão voltou a ser o guturalíssimo extremo, para alegria geral da nação. A bateria de Alexandre, que só gravou este álbum, é bem variada nos andamentos. A lenda Wanderley Perna gravou guitarras nervosas, e em "Reflection of Down" temos uma música ainda mais rápida que a introdução. "Hidden Army" vem pra oficializar que este é um álbum death metal "old school" como não se ouvia a tempos na discografia da banda. As músicas passam bem rápido, a maioria em torno de 2 minutos e algumas mal chegam a isso. O que serviu para dar uma dinâmica mais agressiva ao play, com o único inconveniente de que o álbum inteiro só dura 21 minutos, tempo de um EP. A bolacha fecha com uma versão para "Social Sterility" do Napalm Death, com participações pra lá de especiais nos backing vocals, de Vítor Rodrigues do Torture Squad, Marcus D'Angelo do Claustrofobia, Alex Chiovitti do Oligarquia e ainda Ciero do estúdio DaTribo e hoje no Oitão, na guitarra e backing vocals. Quer mais? Ouça Rebellion!

terça-feira, 13 de dezembro de 2022

20 anos de Onisciente Coletivo do Ratos de Porão!!!


E o grande Ratos de Porão chegava a seu "onzimo" álbum em 2002, o bagaceira "Onisciente Coletivo". O que mais impressiona quando você gira essa bolacha é o som da guitarra. Que peso e distorção animal Jão conseguiu reproduzir. Parece que você está ouvindo uma mistura de Discharge e Defecation, e tome isso como um elogio! Tem umas coisas diferentes como o rap xoxo da faixa título ou em "Playbaloser", com uma voz pop repetindo o nome do personagem, mas ainda tem um som de baixo do Fralda, fudido. E por falar em Fralda ele aparece acordando o Gordo pra falar que o mundo estava acabando em "Próximo Alvo", e fica aquela curiosidade de saber se foi assim mesmo que o cara ficou sabendo o que tava rolando no USA com as Torres Gêmeas. Eu me lembro claramente onde estava e como vi a notícia e tenho certeza que qualquer pessoa no mundo com mais de 20 anos também se lembra. "O Sistema me Engoliu" é uma cacetada magnífica, daqueles que deixa qualquer mosh com uns 2 braços quebrados em pouco mais de um minuto de pancadaria. "Fragments of Conquest" é a única cantada na famigerada língua universal, sabe se lá porque, já que nessa altura do campeonato os caras já estavam velhos para almejavarem ser rockstars da Sunset Strip, mas a música é boa e isso que interessa. "Conspiração Subliminar" tem uma letra interessante, mesmo que o assunto já seja antigo no R.D.P. mas a forma colocada é sempre interessante, e aquela parte da Coca berrada com vocal escrachado ficou "ducarai". "Problemão" em minha opinião vem naquela pegada de "Sofrer", num ritmo menos "Velozes e Furiosos" que dá pras pessoas normais cantarem de boa, enquanto a letra te ajuda a se empurrar pro ralo. Vale citar que Boka na bateria continua quebrando tudo e sua eficiência com as baquetas e pedais são um grande diferencial para a banda. Este é mais um capítulo destruidor na carreira da banda do João!

 

segunda-feira, 12 de dezembro de 2022

20 anos de Dance of Shadows do Silent Cry!!!


No final do ano passado fizemos o dezembro verde e amarelo, quando resenhamos 1 álbum do metal nacional todos os dias de dezembro. "Dance of Shadows" do Silent Cry foi a resenha número 24, publicada no Natal, dia 25/12 (sim, tivemos um delay ali). Portanto não justificaria refazer toda a resenha em tão pouco tempo, mesmo que como ouvintes, nossas percepções da música podem variar, mas um ano é muito pouco pra isso. Mas como também não poderíamos deixar passar batido o aniversário de 20 anos de uma obra tão importante, vamos falar um pouco de "Dance of Shadows" e deixar ao final da resenha o link para a resenha anterior. Este álbum é sim mais sinfônico que os trabalhos anteriores, mas o rótulo "doom" não deve ser adjetivo apenas daqueles que se arrastam pelo chão escuro da depressão, mas todo trabalho capaz de evocar sentimentos distintos de uma pessoa durante sua audição, como tristeza, alegria, raiva ou desespero. "Dance of Shadows", mesmo que não se caracterize pelos elementos melancólicos de outrora, ainda tem muito sofrimento na alma da música. A nova vocalista Ana Márcia é a responsável pela maioria destes sentimentos e podemos explicar. Primeiro é a dificuldade de aceitar a falta da vocalista anterior num álbum do Silent Cry, dada a afinidade criada pelos fãs à sua voz. Segundo que não é o tempo todo que Ana consegue imprimir a melancolia que o fã estava acostumado, mesmo com a preciosidade chamada "Only to Love You" em que ela mata a pau. Então é muito necessário ouvir este álbum sem levar em consideração "Remembrance" ou "Goddess of Tears". Conseguindo separar isso em seus miolos, você certamente partirá em direção ao íntimo do trabalho. Além de ser um trabalho honesto, competente e importante para a sequência da banda, temos ainda Dilpho cantando de forma agressiva, do jeito que não fazia a bastante tempo, o que é um ponto positivo a mais. Um ponto negativo é que neste trabalho não tínhamos mais o "maestro da sensibilidade", como Bruno Selmer foi citado recentemente, pois ele havia deixado a banda. Destaques para "Two Worlds", "Only to Love You" e "Devoured By Words".  

https://blast-metaleloucuras.blogspot.com/2020/12/dezembro-verde-amarelo-24-silent-cry.html


 

domingo, 11 de dezembro de 2022

20 anos de Vida: The Play of Change do Imago Mortis!!!


Depois de um período conturbado na história do metal nacional, que foi da metade dos anos noventa ao início dos anos 2000, várias bandas recomeçavam a pipocar em nosso território lançando álbuns de respeito que hoje se tornaram clássicos. O Imago Mortis do Rio de Janeiro chegava a seu segundo petardo em 2002, o ótimo "Vida: The Play of Change". Formado pelo frontman Alex Voorhees, Fabricio Lopes na guitarra, Alex Guimarães nos teclados, Fabio Barreto no baixo e André Delacroix (Azul Limão e Metalmorphose) na bateria, o álbum lançado pela Die Hard traz uma história conceitual de um cara que de alguma forma começa o álbum em uma ambulância e começa a ter vários devaneios no trajeto e no hospital, como encontros com o Caronte sobre a balsa, depois Deus e o diabo em seus sonhos e alucinações. Vale a pena dar uma conferida nas letras de Vida. Musicalmente falando este álbum é mais sólido que o debut, e tem um trabalho de guitarras que te deixa impressionado. O peso é gritante e as melodias têm enorme bom gosto. Ouça o riff de "Long River" para atestar. Outra música sensacional é "Three Parchae", que é uma música de gente grande, complexa e soberba. "Envy" também é de tirar o fôlego, abusando do "stop and go" e vocais rosnados da melhor qualidade. Voohrees tem a qualidade de cantar limpo com desenvoltura, mesmo que sua voz tenha mais impacto que beleza, ela casa perfeitamente ao som da banda, enquanto os vocais extremos dão aquele prazer a mais na audição, principalmente aos fãs de death/doom. Momentos mais clean também são brilhantes, como em "Me and God" que ainda tem um solo de guitarra espetacular. Excelente álbum, com algumas características mais progressivas, melodias bem tocadas e canções bem construídas, que tem mais agressividade em sua primeira metade e mais viagens na segunda parte.

 

sábado, 10 de dezembro de 2022

20 anos de Ravishing Beauty do Avec Tristesse!!!


O Avec Tristesse do Rio de Janeiro é uma banda que costumo chamar de progressive gothic doom! Mesmo que algumas passagens tenham cunho mais agressivo, as melodias geralmente remetem a um som melancólico, enquanto as letras são poéticas e profundas. Enquanto em "She, the Lust" temos esta veia mais dark metal com um pouco de raiva incrustada, a beleza de melodias acústicas estão aqui e ali, terminando com um belo violão. O interlúdio "Ravishing Beauty pt 2" não é mero complemento, pois serve para unir a citada faixa anterior a "The Crown of Uncreation" e em sua melodia apresenta até um pouco de canto gregoriano. Já "The Crown of Uncreation" tem a bela voz de Raquel Antunes, que agregou muito ao som do Avec, enquato os vocais masculinos limpos transmitem uma sensação de calma e beleza sensacional. "De Sombre Amour et Souffrance" com letra em francês, que justifica o nome da banda, tem uma melodia bonita de teclado e tem a voz feminina de Denyze Moreira. "In Vain I Cry" começa bem agressiva, próxima do black metal, e tem um riff de guitarra bem legal, e de repente a música se inclina para um ótimo gothic doom com vocais limpos e um solo de guitarra inspirado, mostrando toda dinâmica dos músicos. "Paean" fecha o álbum, lançado pela Hellion, com nova participação de Raquel, algo que pode ter confundido um pouco os fãs associando a banda ao estilo "The Beauty and the Beast" que estava em alta na virada do milênio. A arte da capa é muito bonita e condiz totalmente com a música apresentada. A banda era composta por Bruno Campbell nos teclados, Alexander Woden em uma guitarra (hoje no Land of Tears), Nathan Thrall na bateria e baking vocals, Pedro Salles nos vocais e guitarras e Rafael Gama no baixo. Pena que o álbum não chega aos 32 minutos. Mas é um baita trabalho.

 

quinta-feira, 8 de dezembro de 2022

20 anos de Order of the Leech do Napalm Death!!!

 


Enquanto o filme que conta a história do Napalm Death não sai, vamos falando um pouco do décimo álbum da carreira de uma das bandas mais barulhentas que o metal já teve. "ContinuingWar On Stupidity" abre "Order of the Leech" de forma grosseira, como naqueles filmes de ação em que a primeira cena já é um tiroteio com muito sangue. Grind, Death e Hard Core unidos em pouco mais de 3 minutos que vão te fazer relaxar bastante. E é uma martelada atrás da outra, e não há nada muito marcante em cada música que fará você diferenciar umas das outras. Temos uma rifferama suja de Mitch Harris e Jesse Pintado. Na cozinha Shane Embury e Danny Herrera jogam molho e macarrão pelas paredes, misturam as bebidas e explodem panelas, tudo pelo bem geral da nação caótica. Os vocais de Mark Greenway são daqueles mais reconhecíveis do metal extremo e o cara berrou como um touro sendo mutilado. As músicas estão na casa dos 2 e 3 minutos, o que é um bom padrão para evitar lesões nos pescoços. Certamente quem ficou preocupado com algumas inovações no som do Napalm anos antes apreciou  as singelas canções deste álbum Para quem se assusta com a duração da última faixa, a "The Great Capitulator", na verdade ela termina e alguns minutos em silêncio perduram para mostrar um diálogo abençoado. Indicado para todos os fãs de agressividade sem limites.   

quarta-feira, 7 de dezembro de 2022

20 anos de Nordland I do Bathory!!!


A tentativa infrutífera de voltar ao viking metal no ano anterior com "Destroyer of Worlds", que resultou em uma colcha de retalhos, foi corrigida em 2002 com Nordland I, o primeiro capítulo da derradeira história da banda comandada por Thomas Börje Forsberg, mais conhecido como Quorthon. Não que Nordland consiga rivalizar com "Hammerheart", "Twilight of the Gods" ou "Blood On Ice", que são totalmente "fora da curva", mas este álbum transpira os sentimentos vikings com muita naturalidade. A intro "Prelude" já deixa transparecer os sentimentos que você poderá ter durante a audição do álbum, mas o início da faixa título, com uma bateria e distorção de guitarra que te remetem diretamente aos anos dourados, garante que Mr. Quorthon ainda sabia fazer música com extremo bom gosto. O que se percebe de imediato é sua voz, que está bem mais natural, sem forçar aquela rouquidão que lembrava fragmentos dos rosnados da época de "Blood Fire Death". Ouvir este álbum na época de lançamento não carregou tantas emoções como acontece agora, já que ninguém esperava que nosso músico caminharia para Valhalla 2 anos depois. Mesmo porque em sua totalidade ele não é um trabalho que carregue raiva, o que pode confundir muitos imaginando que a banda estava sem pegada, mas na sequência com "Vinterblot" e "Dragons Breath" descobre-se que a melancolia ganhou novos ares, por baixo das inserções folk. E os corais também aparecem nestas músicas como um "upgrade" enquanto nesta segunda o Mister solte mais sua voz. E o que dizer de "Ring of Gold", acústica, misteriosa, linda, e a música de Nordland que mais nos traz sentimentos de perda ouvindo este opus, do primeiro dedilhado ao último trovão. Já "Foreverdark Woods" que bem poderia ser a faixa de abertura, traz instrumentos de corda pouco usuais tratando-se de Bathory, e é uma viagem a bordo de um drakkar à noite e tomando hidromel. Grande obra, saudade grande!

 

terça-feira, 6 de dezembro de 2022

20 anos de Versus the World do Amon Amarth!!!


E os vikings do death metal conquistavam cada vez mais espaço e fãs ao redor do mundo com sua música pesada. "Versus the World" é o quarto álbum dos suecos e mais uma vez pela Metal Blade, mostrado uma banda que se tornava mais coesa a cada lançamento. Com mais uma capa utilizando as mesmas cores de sempre, e confundindo os fãs pra variar, temos novamente um viking erguendo sua espada desta vez para atacar aquele globo terrestre que a professora da sua escola girava pra te mostrar os continentes e oceanos. O play abre com uma porrada chamada "Death in Fire" com aqueles elementos corriqueiros que você já conhece na banda. Peso, guitarras com riffs grudentos e pesados, e vocais rosnados e até inteligíveis. Outra que chama bastante a atenção é "Where Silent Gods Stand Guard", num ritmo menos acelerado e com um riff sensacional pra bater cabeça com ou sem elmo. Parece que o Amon havia encontrado a fórmula para sua música e não estava disposto a mudá-la, pois até então, estes três álbuns na sequência são bem regulares e primos. Johan Hegg raramente muda sua forma de cantar, mas quando resolve inventar algo diferente, acaba acertando, como no vocal falado no início de "Thousand Years of Opression". Honestamente, quando uma banda se repete a cada álbum, existe uma tendência de alguns fãs se afastarem, mas há também aqueles que só querem mais do mesmo e morrem de medo de mudanças. Se você chegou a "Versus the World" sem enjoar dos vikings, certamente faz parte do segundo grupo. Destaque ainda para "Bloodshed" com berros vocálicos extremos e empolgantes, te colocando no centro de uma batalha, e a épica "...And Soon the World Will Cease To Be" com ótimas melodias.

 

segunda-feira, 5 de dezembro de 2022

20 anos de Deliverance do Opeth!!!


Deliverance não é como um prato de feijão com arroz, que você já comeu várias vezes e sabe a sensação, restando apenas descobrir se o prato está quente ou frio, temperado ou sem gosto. Não. Deliverance é como pedir um prato descrito em um restaurante árabe sem ter a mínima noção do que virá à sua mesa. As músicas são extensas, todas com mais de 10 minutos, exceto a instrumental "For Absent Friends". Quando um amigo te chama para ouvir um som novo e você mal consegue terminar a música de 2 minutos fica chato, mas imagina quando ele te mostra algo de 13 minutos? É a mesma sensação de alguém com medo de altura tendo que atravessar uma ponte estreita de 20 metros sem nada pra segurar. A sorte é que a mente de Mikael Akerfeldt sabe que quanto mais móveis colocar num quarto escuro, mais difícil fica de sair dele, e as músicas não se tornam cansativas, pois tem muita coisa acontecendo progressivamente. Para apurar isso preste atenção apenas na bateria da faixa título e tente anotar em apenas uma folha tudo que ela tem para lhe ensinar. Não tenho a intenção de rasgar seda em prol do Opeth aqui, pois esta banda sueca não está entre as que eu venero, ao longo destes 30 anos consumindo metal, mas é necessário ser imparcial sempre que necessário. O som do Opeth não é bonito por natureza, e nem o pretende ser, mas ele carrega uma beleza selvagem em vários momentos, ao passo que o som se molda em volta de si mesmo o tempo todo e em determinadas passagens precisa ficar feio para te dar uma dimensão de alcance desejado. Os vocais limpos de Mike são calmantes para almas desesperadas, e melodias sensíveis como em "A Fair Judgement" mostram que outras bandas não precisavam ter desapontado tanto seus fãs em prol de um som mais alternativo, abrindo mão totalmente do peso e da agressividade. Em "Deliverance" o Opeth faz isso com tranquilidade e não te deixa com a sensação de pisar em ovos. Ouça sem esperar nada para não confundir sua mente!

 

domingo, 4 de dezembro de 2022

20 anos de The Will to Kill do Malevolent Creation!!!


E o Malevolent Creation que começou a carreira em Nova York e depois se mudou para a Flórida, a casa do death metal americano, lançava seu oitavo álbum de estúdio e novamente com mudanças no line-up. Para a bateria foi recrutado Justin DiPinto (o cara tem sorte de não ser brasileiro) e Kyle Symons estreava como frontman, vindo do "HatePlow", uma espécie de projeto paralelo dos músicos do Malevolent. Tudo bem que eu prefira o finado Brett Hoffmann no posto de vocalista da banda, mas Kyle mostrou que sua voz doentia também poderia conduzir o caos difundido em "The Will to Kill". Como o singelo título propõe, a banda nos entrega um trabalho bem violento, com a bateria do novato Justin arrebentando tudo com bastante eficácia. Os riffs de Phil Fasciana e Rob Barret viajam do death ao thrash sujo e veloz, como podemos ouvir por todo o play mas em especial na ótima "With Murderous Precision", que certamente teve a letra influenciando a arte da capa criada por Travis Smith. Esta faixa tem mudanças de andamento bem equilibrados e "blast beats" no volume certo e constantes. O baixo de Gordon Simms segura a massa sonora com um paredão sólido, deixando os guitarristas à vontade para elaborar seu poder de fogo sem se preocuparem em preencher todos os espaços. Outra faixa excepcional é "Rebirth of Terror", numa pegada bem extrema típica da Flórida e com um dos melhores momentos de Kyle no álbum, e para quem quer um riff com mais groove e peso absurdo, "Divide and Conquer" e sua temática bélica são um prato cheio de sangue e ossos. Os riffs de "Superior Firepower" também devem ser ouvidos com atenção. "The Will to Kill" é uma pedrada e você precisa saber se desviar para não ser atingido em cheio.

 

sábado, 3 de dezembro de 2022

20 anos de To Welcome the Fade do NOvembers Doom!!!


A banda americana de death/doom Novembers Doom chegava a seu quarto lançamento em 2002, com "To Welcome the Fade". A arte da capa um tanto abstrata foi criada novamente por Travis Smith (Amorphis, Anathema, Death com "The Sound of Perseverance") e sempre gostei de artes com tons mais claros, apesar de preferir uma ilustração, coisa pouca usada nas obras deste estilo. As 3 primeiras faixas, "Not the Strong", "Broken" e "Lost In a Day" servem para afirmar algo que eu penso da banda. Que ela é uma das bandas deste estilo com menos pegada melancólica por aí. Os riffs, a bateria e os guturais de Paul Kuhr são pesados, e o som gira numa rotação superior ao das outras bandas do estilo, mas mesmo assim não tornam o Novembers uma banda de death metal, mas uma banda mais raivosa que triste, como se as desgraças da vida e o período de luto já tivessem passado e se transformado em revolta. Já "Within My Flesh" soa mais melancólica, com riffs mais "slow" e se enquadra melhor no estilo como um todo. Não que a banda não se enquadra naquilo em que se propôs a fazer, pelo contrário, ela buscou uma identidade própria em um nicho em que você só se destaca se conseguir se diferenciar do eterno arrastar de correntes e rosnados sem sentimento. O álbum segue uma linha mais progressiva com "If Forever" e "The Spirit Seed", onde aparece a doce voz de Nora O'Conner, como uma pequena degustação do que viria em "Torn", onde a moça realmente canta num dueto com Paul (que mostra que manda bem nos vocais limpos também) num momento bem legal do petardo. Indicado para todos os fãs do estilo, principalmente para os que não querem entrar em depressão.

 

sexta-feira, 2 de dezembro de 2022

20 anos de Crimson Thunder do Hammerfall!!!


Conheci o Hammerfall justamente por "Crimson Thunder" e é claro que tenho um carinho especial por este álbum, mesmo que com o passar dos anos talvez prefira "Renegade" ou "Legacy of Kings". Mas este álbum, lançado em outubro de 2002, foi o grande responsável pelo reconhecimento em diversas partes do globo onde a banda ainda não era tão aclamada. Produzido por Charlie Bauerfeind (Blind Guardian, Angra, Helloween, só para citar alguns dos grandes do currículo), este play é uma verdadeira coletânea de hits, que começa com um arregaço chamado "Riders of the Storm" e emenda com a conhecidíssima "Hearts of Fire". Ouvir estas duas faixas na sequência e não se empolgar já é motivo suficiente para procurar outra coisa para ouvir. "Hearts..." em especial tem uma guitarra estilo Maiden antes daquela seção de vocais criada para o público cantar junto e um refrão que gruda mais que cola de sapateiro. O riff de "On the Edge of Honour" é mais tradicional, com a bateria acelerada e os clássicos corais no refrão. Joacim Cans é um grande vocalista, e conseguiu até alguns inimigos em sua terra natal após a fama estrondosa que a banda conseguiu naquela ano, sofrendo uma agressão em um bar, por um suposto fã de black metal que lhe causou 25 pontos em volta de um dos olhos, e o resultado você vê claramente no rosto do vocalista no clipe oficial de "Hearts of Fire" que a banda preferiu não adiar já que as gravações já estavam marcadas e o álbum próximo do lançamento. Oscar Dronjak e Stefan Elmgren fazem um grande trabalho de guitarras, com solos e riffs que preenchem a atmosfera melódica do álbum. O baixo de Magnus Rosén é bem tocado mas não ganha maior destaque com a produção, enquanto a bateria de Anders Johansson cumpre bem seu papel. O instrumental do Hammerfall é mais pesado que a maioria das bandas de metal melódico, às vezes jogando no meio termo entre o Power Metal, porém os vocais de Joacim impedem que a banda pise com força no terreno do Power. "Trailblazers" traz uma avalanche de riffs que justifica isso e a melodia da faixa título levanta qualquer arena. Claro que temos uma balada, "Dreams Come True" que não chega a ter a beleza incontestável de "The Fallen One", mas assim mesmo passou no teste. Há que se destacar também uma versão maravilhosa para "Angel of Mercy" da banda Chastain. Clássico! 

 

terça-feira, 29 de novembro de 2022

20 anos de Emprise to Avalon do Suidakra!!!


"Emprise To Avalon" é uma joia da discografia do Suidakra. A banda deixava a gravadora Last Episode e lançou este álbum pela Century Media, que deu uma maior visibilidade para a carreira dos alemães, com o álbum sendo licenciado no Brasil para a Somber Music. Com Andy Classen novamente na produção, a banda lançou certamente seu melhor trabalho. Houve redução nos teclados, que desta vez foram gravados pelo próprio Arkadius. Também acho que ele não tenha tantas influências Folk. Claro que ela está lá por toda parte, mas caminhando muito mais na direção de um death melódico. Por ser mais orientado para as guitarras, e por ter tantos riffs e melodias tão cativantes, Emprise nos traz uma satisfação perene, que nos conduz a muitas audições da primeira à última faixa sem ficar cansativo. A arte da capa deixa o logo da banda em evidência, e é toda centrada nas fábulas do Rei Arthur . Os vocais também estão em sua melhor forma, principalmente os rasgados e todos os instrumentos se completam. A maioria das músicas tem andamento rápido mas algumas melodias, como a de "And the Giants Dance..." chamam atenção pela harmonia. Uma regravação de "Still The Pipes Are Calling" do primeiro álbum da banda pode ser definido como o melhor momento do trabalho, mas às vezes isso só se materializa porque é a última música e talvez você não pense assim quando o "repeat" tocar "Darkane Times", a faixa de abertura, novamente. Sensacional é uma palavra um pouco simples para adjetivar "Emprise to Avalon".

 

segunda-feira, 28 de novembro de 2022

20 anos de Symbol of Life do Paradise Lost!!!


Symbol of Life marca uma nova transição na carreira dos ingleses do Paradise Lost. Para os amantes da fase Icon e Draconian Times este álbum foi como ver seu time do coração retornar à série A do campeonato brasileiro de futebol. Não que ele tenha a mesma pegada doom dos citados opus, mas várias características se agarraram novamente às músicas de Symbol of Life, mas em muitos momentos com aquele ritmo dançante pertinente ao gótico, com doses singelas de peso. Ele abre com "Isolate", uma música que te fisga como um peixe feliz no anzol da morte. Os vocais de Nick Holmes começam bem naquela linha pop gótica mas logo se enveredam para aquela linha mais rouca de "Draconian Times", enquanto os teclados elaborados por Gregor Mackintosh têm uma sintonia impressionante com sua guitarra e a de Aaron Aedy. Uma música que te remete ao álbum "One Second", pois você logo imagina que ela será o grande hit do trabalho, assim como aconteceu com a faixa título daquele play. Ledo engano, pois na sequência temos a música de maior destaque do trabalho, a bela "Erased", presente nos shows desde então, com participação feminina de Joanna Stevens. Mesclando elementos eletrônicos a melodias inspiradas, a música chama atenção por conter elementos não metais e agradar os headbangers como se fosse um death/doom. As músicas são curtas e têm títulos simples em sua maioria,  uma cartada interessante para tornar o álbum memorável e nada maçante. "Pray Nightfall" é outro grande momento que alegra os saudosistas, e mostrava que a banda estava preparada para retornar de fato ao som que ajudou a criar, nos próximos lançamentos. Temos neste álbum também a música "No Celebration", que nomeou a biografia oficial da banda em 2021, escrita por David Gehlke, e tem uma guitarra que remete ao Gothic de 1991. Grande porta de entrada para um filho pródigo.

 

domingo, 27 de novembro de 2022

Entrevista com Deep Memories!


Não estou aqui para dizer que o Doom Metal é melhor nem pior que outros estilos de Metal, mesmo porque temos tantos subgêneros tão maravilhosos sob o alicerce do mundo metálico que eu seria no mínimo injusto com uma afirmação desta. Mas certamente o Doom Metal é aquele estilo capaz de tocar a alma do ouvinte com mais facilidade, uma vez que ele geralmente carrega uma camada de sentimentos tão variada, numa densidade profunda, que é impossível ficar impassível em sua presença. Obviamente a melancolia e a tristeza são a premissa do estilo, mas a fúria, o desespero, a bonança em um momento e a agitação em outro, e até a alegria, são emergentes deste estilo muitas vezes relegado ao underground e muitas vezes incompreendido devido à sua soturnidade. E se você questionar a palavra "alegria", pense da seguinte forma. De onde vem o sorriso no rosto ao se deparar com uma obra de metal que você ouve pela primeira vez e de imediato tem a certeza de ter encontrado um tesouro que guardará até seus últimos dias de vida? Garanto que essa alegria, você que ainda não conhece o som do Deep Memories, irá sentir ao ouvir seus dois trabalhos lançados até o momento. Acompanhe agora as palavras  da mente por trás deste som, com o músico Douglas Martins.

M&L – Douglas, comece por favor falando da escolha do nome “Deep Memories”.

Douglas Martins: Obrigado pelo espaço Nilson! A ideia do nome veio da intenção de vincular toda carga emocional acumulada ao longo da minha vida, desde a infância até a fase adulta que geraram marcos, sendo eles positivos ou negativos e que o nome tivesse uma conexão com as composições, que tem em sua maioria, este viés emocional. Eu cheguei a pensar em outras opções de nomes, mas “memórias profundas” engloba tudo que pode estar debaixo do véu da psique.

M&L - Você gravou o EP “In Too Deep...” que abriu as portas para o lançamento de um full, no caso o “Rebuilding The Future”. A repercussão para este full foi mais longe que o esperado, ou após finalizado você pensou: “Que puta álbum isso ficou”?


Douglas: Um pouco dos dois. Quando finalizei o Rebuilding... estava enjoado de tanto ouvir o material e decidi “limpar a mente”, passei a ouvir bastante The Beatles (que normalmente não ouço) ficando sem ouvir o álbum durante duas semanas. Aí coloquei para ouvir no meu carro, que é minha principal referência, é onde ouço as bandas que me acompanham durante a vida e o resultado me impactou, achei que tinha ficado um material muito superior do que eu imaginava, tanto na parte de gravação, timbragem, masterização... as composições também estavam bem encaixadas, enfim, sabia que era um bom álbum, mas nunca, nem de longe imaginaria que teria a repercussão que teve. Quando as pessoas começaram a comentar sobre o EP e depois quando saiu o álbum completo, nossa, foi surreal. Sou eternamente grato às oportunidades que surgiram, sou muito grato a todos que tiraram seu tempo para ouvir uma banda que tinha acabado de se materializar.

M&L – Todos sabem que você é o mentor e único membro do Deep Memories, e você grava todos os instrumentos. Tem algum que você ainda tem mais dificuldade, aquele que exige mais atenção porque ainda não flui da forma que você queria, ou você fica à vontade em todos eles, incluindo o vocal? E, se existe algum deles, da forma contrária, em qual frente você fica mais à vontade?

Douglas: o que mais exige dedicação é a bateria, sem dúvidas. Realmente escrever as linhas de batera sem usar nada sequenciado, escrever nota por nota, colocar a dinâmica em cada nota, pensar em todas as viradas, acompanhamentos, não repetir padrões, sem dúvidas, é a que mais desgasta. Mas quando fica pronto, ouço e ficou orgânico, não tem preço. As cordas e vocais são os mais fáceis, tenho uma facilidade com esses dois segmentos, a guitarra é meu instrumento principal, sempre gostei muito de tocar baixo também e os vocais rasgados e guturais saem sem muito esforço, me dediquei mais aos vocais limpos neste novo álbum, mas nada específico, aprendi a aquecer a voz e a entonação permanecia, isso foi muito legal. Os teclados são uma viagem a parte, não tenho muita técnica, mas consigo me expressar através dele, para o que a música necessita.

M&L - Você ficou conhecido por tocar no Desdominus por quase 10 anos, que é um estilo diferente. O som mais arrastado, sendo o death/doom a base do Deep Memories, é o seu estilo preferido de música?

Douglas: O meu estilo preferido é o heavy metal juntamente com o Gothic Metal. O heavy metal sempre foi e sempre será o estilo que nunca sairá das minhas audições diárias, por mais que as vezes eu tenha fases intensas de audição de outros estilos como o Black, Death e Doom metal. Gosto muito do Death Metal melódico do início dos 90 - “o som de Gothemburgo”, mas sempre volto para o heavy e gothic metal.

M&L – Ouvindo “Rebuilding the Future” a primeira lembrança, logo nos primeiros minutos de “When the Time For My Last Breath Comes” é o Katatonia da Suécia, num híbrido entre o “Dance of December Souls” e o “Brave Murder Day”, que são álbuns que eu amo! Mas com a evolução do álbum, vários outros aspectos musicais são apresentados, tornando o som muito rico e cheio de sentimentos. De onde você tira suas inspirações?

Douglas: Eu também gosto muito desses dois álbuns, em especial o Brave Murder Day (o melhor deste


estilo na minha opinião). O sentimento deste álbum, em especial a música Day... nunca ouvi em outra banda. 
As inspirações para o Deep Memories vem sem dúvida do meu mundo interior e o efeito que o mundo exterior gera nele.... os riffs da guitarra saem naturalmente enquanto pratico a guitarra e depois, quando vou montando a música, eu a ouço tocando na minha mente, não sei explicar muito bem. Não direciono: tenho que soar deste jeito ou daquele jeito. Tenho a felicidade de compor, fazer o que sai naturalmente e depois as ideias vão surgindo, alguns riffs se modificando e se complementando.

M&L – O álbum também foi lançado no Japão e na Rússia. O retorno do público nestes lugares tem sido bom?

Douglas: Foi ótimo em ambos - este lançamento nos dois países abriu várias portas para o Deep Memories. Na Rússia tive um retorno maior de headbangers, talvez pelo estilo ser mais difundido lá - a Solitude Productions talvez seja a maior gravadora underground de Doom Metal do mundo. No Japão a interação foi menor com pessoas, sendo mais marcante em websites.

M&L – E de repente surgiu a oportunidade de lançar o debut em forma de vinil. Eu imagino a sensação pela qual você passou com esta alternativa, pois acredito que você tenha vivido um pouco os anos de ouro do vinil.

Douglas: Foi realmente surreal. Agradeço muito ao Alexandre da Neves Records e ao Wilton da Heavy Metal Rock por este marco. O Wilton apresentou o som do Deep Memories para o Alexandre e ele demonstrou interesse em lançar e assim seguimos. O álbum foi remasterizado pelo Ricardo Biancarelli do Estudio Fuzza e trouxe realmente a sonoridade perfeita para o vinil, pois o álbum foi gravado e masterizado originalmente de maneira digital. Quando o Neves me ligou falando que o álbum estava pronto, até filmaram minha reação, foi muito emocionante! E poucos dias depois estoura a pandemia... Mas, mesmo assim o disco vendeu muito bem.

M&L – E após 3 anos chegou a hora do novo trabalho ver a luz do dia. “Why Do We Suffer?” chegou em meio a grandes expectativas dos fãs. Levou muito tempo pra ele ficar pronto? Fale também do conceito lírico.


Douglas: Levou um bom tempo pois durante a pandemia por muitas vezes pensei em deletar todo o álbum. Estava sem motivação nenhuma, foi uma fase bem difícil. Se pegarmos os períodos de atividade entre gravação, mixagem e masterização durou ao todo uns 3 anos. Descontando o período da pandemia foram uns 15 meses. Mas eu interagia com a gravação apenas aos finais de semana. Apenas na fase de edição e mixagem eu segui uma rotina mais intensa, concluindo em abril/22. 
A parte lírica do álbum gira em torno do sofrimento humano. Muito antes de começar a compor as músicas já tinha essa ideia em mente, infelizmente amigos e familiares se foram de maneiras trágicas (esse contexto lírico já existia para mim bem antes do Covid-19) e comecei a listar algumas palavras que traziam a reflexão sobre o porquê sofremos, sendo os principais: doenças, abandono, egocentrismo, apego, complicações em relações familiares... e as letras, cada uma delas, me transportou a estes momentos, onde procurei narrar o que estava preso em minha mente.

M&L – O que logo chama a atenção no novo álbum é que ele transmite uma maior crueza, como se algumas camadas fossem limadas em prol de uma proximidade mais efetiva do ouvinte com o sentimento que o som quer passar. Você concorda com esta visão?

Douglas: Eu tive a intenção de focar este álbum mais na sonoridade das guitarras. Se você reparar perceberá que os teclados e corais estão mais discretos, porém fazem parte da massa sonora que o Deep Memories trouxe no “Why Do We Suffer?”. Eu realmente me preocupei com que as linhas dos riffs e solos fossem preservadas. É um álbum mais introspectivo, mais direto, mais impactante.

M&L – E as variedades nos vocais estão sensacionais, seja nos guturais que estão mais imponentes, nas vozes limpas e muito bem executadas ou até nos momentos mais narrados, percebe-se o cuidado que você teve para uma experiência ímpar do fã.

Douglas: Obrigado mesmo pelos comentários! Como comentei anteriormente, tive uma facilidade maior para lidar com os vocais desta vez graças a uma sequência de aquecimento vocal que aprendi antes de iniciar as gravações, isso fez com que não houvesse desgastes desnecessários na voz. Gosto muito de fazer vocais guturais e os vocais limpos e com esse aprendizado, consegui extrair mais da voz – as narrações sempre rondaram minha mente, desta vez havia espaço para elas e ficaram bem conectadas aos sons e as letras. Gostei muito do resultado.

M&L – E temos até momentos mais progressivos como no final de “Get Away From Poison”. São alguns elementos adicionados com sutileza que enriqueceram o som do Deep Memories.

Douglas: Realmente vários elementos de Prog estão ali, nos dedilhados com delays longos, ambientação com várias camadas de guitarra, alterações de andamento, tudo isso gera um impacto interessante na canção e consequentemente no trabalho como um todo. Eu simplesmente adoro ouvir prog, principalmente prog metal e alguns clássicos do prog rock.

M&L - Você, que já foi frontman de uma banda que subia no palco, agora fica mais na obscuridade, criando e divulgando seu som. Com estas duas visões, e diante de tantos outros projetos One Man Band que vão surgindo, como o brasileiro Litosth e o sueco Doom:VS, percebe ou já presenciou algum preconceito do headbanger mais conservador que não valoriza este tipo de formação, ou as “OMB” já se tornaram parte da cena e têm seu lugar como todas as outras bandas?

Douglas: Se existe este tipo de preconceito por parte dos headbangers eu particularmente não percebi até hoje. Normalmente essa turma da “patrulha metal” que tendem a ditar regras, quando não gostam de algo, falam nos bastidores, pelas costas, nunca dão as caras. Mas se houver esse preconceito, seria apenas mais um em uma sociedade que se mostra doente e corrompida. Eu sinceramente estou cagando para o que hipoteticamente possa a vir a ser discutido nos santos tribunais e catacumbas desta “patrulha metal”. Acredito que o ser humano tem espaço em qualquer lugar neste planeta, desde que primeiramente ele o conquiste internamente. A arte no geral, mas especificamente a música extrema, sempre será acolhida por alguém que se identifique. Então é natural que expressões artísticas, por vezes incompreendidas, acabem por conquistar seu espaço. O esforço para difundi-la naturalmente é maior, mas se há uma crença interna no artista de que sua arte possa contribuir ou influenciar positivamente a existência de um outro ser, esse esforço vale a pena. O metal é o alimento da minha alma, se outros bebem da mesma fonte, podem se identificar, o que é muito legal, e se não se identificarem, também está tudo ok!

M&L – Douglas, agradeço muito sua participação aqui na página, você comemorando o lançamento de um novo álbum e o Metal e Loucuras comemorando 13 anos ajudando a manter a chama do metal acesa. O recado final é seu.

Douglas: Agradeço imensamente o espaço cedido e pela perseverança de seguir divulgando o metal durante 13 anos! Obrigado e até a próxima!


 

terça-feira, 22 de novembro de 2022

20 anos de Tribute To The Gods do Iced Earth!!!

 


Geralmente este tipo de álbum não passa de caça níqueis, onde a banda não tem nenhum trabalho de criação, apenas repete da forma que sabe aquilo que outro queimou a "cachola" pra criar, grava, paga alguns "royalties" e ganha uma grana em cima dos mortais que querem ouvir algumas músicas que gostam (ou nem sempre) executadas por uma banda que às vezes gostam até mais. Uma versão de bônus num full é sempre legal, mas álbuns inteiros às vezes fica cansativo, pricipalmente se a banda fizer o que o Six Feet Under fez, lançando vários trabalhos neste formato. O Iced Earth do "agora" controverso Jon Schaffer intitulou sua obra de tributo aos deuses, reverenciando algumas bandas clássicas do rock e metal, onde apenas 3 bandas só tiveram uma versão e outras 4 tiveram duas versões cada. Começado pelas 3 com apenas uma música, "Screaming For Veangeance" do Judas Priest, apesar do riff legal e de ser uma música bombástica com refrão forte, talvez seja a versão menos interessante do trabalho. Lembrando que o Iced já havia feito uma versão para "The Ripper" que saiu como bônus em algumas versões do Dark Saga em 1996. Já "Dead Babies" do Alice Cooper é bem legal, com aquele clima de baixo que combinou demais com o vocal de Barlow. A música que leva o nome dos criadores do Heavy Metal, "Black Sabbath" nem precisa dizer que é um dos pontos altos do CD, mas esta música, com a melodia mais sinistra da história geralmente é jogo ganho. As versões do KISS serviram pra mostrar o que todos sabiam, que a voz de Barlow tem uma entonação bem parecida com a de Paul Stanley, e "Creatures of the Night" e "God of Thunder" provaram ser grandes escolhas e enriqueceram enormemente o trabalho. "Burnin' for You" e "Cities on Flames" são as músicas da banda mais cult dentre os "deuses" e apresentou o Blue Öyster Cult a uma galera que não os conhecia, e também foram versões bem interessantes, ao passo que "Highway To Hell" e "It's a Long Way to the Top" do AC DC são legais, mas me deixaram curioso por ouvir uma versão de "Back In Black" A carta pra ganhar o jogo era o Iron Maiden, com dois clássicos absolutos que ficaram arrasadores, "The Number of the Beast" e a indispensável "Hallowed Be Thy Name", o maior momento do trabalho na voz sensacional de Barlow. Pra quem curte Iced Earth ou não, um álbum de Heavy Metal indispensável.

domingo, 20 de novembro de 2022

20 anos de Relentless do Mortification!!!


Com a entrada dos guitarristas Jeff Lewis e Mick Jelinic, o Mortification do baixista e vocalista Steve Rowe lançou um de seus álbuns mais brutais desde a doença que quase matou Rowe por volta de 97. A capa, uma bela obra de Troy Dunmire, um cara que fez várias artes para várias bandas do segmento cristão, traz um tanque de guerra sobre as nuvens, e ficou bem legal. "Relentless" abre de forma arrasadora, com "Web of Fire" numa pegada thrash que há muito tempo não víamos no Mortification.  A música é intensa e te leva ao "headbanging" de imediato. Mas se engana quem pensa que o petardo seguirá nesta toada durante todos os 60 minutos, afinal o groove foi algo que se enraizou lentamente na alma da banda e ele não iria desaparecer num passe de mágica. Mas não temos músicas enjoativas, mas bons riffs e uma pegada bem visceral apesar de não tão agressiva, como na pesadona "God Shape Void" ou na mezzo tempo "Priest of the Underground" que carrega o título do álbum no refrão. Em "Altar of God" temos um belo solo de guitarra e o doom aparece como em outros álbuns, desta feita em "Sorrow". O batera Adam Zaffarese em seu 2º trabalho na banda também fez o dever de casa direitinho, sem nenhum absurdo, mas em prol da banda. Pra quem aprecia um baixo destacado temos "3 Of a Kind" com um ritmo bem legal e a nervosa "Arm The Annointed" que carrega influências de metal clássico. O Mortification mostrava com este álbum que ainda se conservava forte e com lenha pra queimar, apesar das adversidades. O play fecha com "Apocalyptic Terror", uma música de riffs pesados e intensos e os vocais mais rasgados, próximos da era death metal dos primeiros anos. Se você gosta de thrash, groove e música pesada em geral e não ouviu "Relentless" nos últimos 20 anos, é uma boa hora para começar.

 

Entrevista com Litosth!


 O cenário nacional é riquíssimo, principalmente quando falamos de metal extremo. Você acha que falar do cenário nacional parece "chover no molhado", mas enquanto houver bangers brasileiros que se negam a conhecer a música extrema de seu próprio país, eu vou repetir: o metal nacional é um dos melhores do mundo. Desde a famigerada e valiosa cena mineira dos anos 80, com bandas como Sextrash, Sarcófago e Witchhammer dentre muitos outros, aos momentos mais recentes, sempre encontramos uma banda com um diferencial e qualidades estrondosas que têm o poder de arreganhar nosso sorriso de uma orelha a outra quando as ouvimos. O Litosth é um grande exemplo disso, formado em 2016 no Rio Grande do Sul pelo músico Maicon Ristow, conhecido por preencher o line-up do gigante Patria, e nos brinda com um som que é fundado sobre as ruínas do black metal, mas não se prende a um único estilo, e abrange tudo aquilo que o músico incorpora em todos os seus outros projetos. Se você ainda não conhece o Litosth, aconselho acompanhar as próximas linhas ouvindo a banda em algum "streaming". Você vai procurar a mídia física depois disso. 

M&L – Maicon, satisfação em tê-lo aqui no Metal e Loucuras. Você é um músico muito proativo, além de ser o guitarrista do Patria, que é uma banda que dispensa apresentações, você tocou no Swords At Hymns, está no I Gather Your Grief, que é uma parada mais doom e lançou o EP “Dystopian Delusions” que ficou excelente, e no Rotten Filthy que é um lance mais thrash. O que te levou a criar Litosth, e ser o único membro do projeto?

Maicon Ristow - A honra é minha! O LITOSTH surgiu em meados de 2016 justamente como o resultado de todo esse ecossistema musical. Todas as bandas se influenciam entre si, e uma estimula a criatividade da outra. Mas o LITOSTH é um projeto mais pessoal, onde posso mesclar várias de minhas influências sem me limitar a rótulos, como acontece nos outros projetos. Então é natural que eu encabece a ideia e faça tudo, apesar de haver sempre participações de amigos músicos, prefiro manter a coisa toda sob minha responsabilidade.

M&L – Fala sobre a escolha do nome Litosth e o seu significado.

Maicon - O nome LITOSTH vem da palavra litost, que só existe na língua Tcheca, e descreve o sentimento de agonia criado pela visão repentina da própria miséria. Acho que descreve muito bem a melancolia e reflexão das letras e músicas do LITOSTH.


M&L – A base musical é o black metal, mas o Litosth não se prende a isso. Há uma boa dose de death 
melódico e dark metal. Você acha que atingiu o resultado esperado em termos de direcionamento, ou acredita que ainda está moldando o som para atingir um objetivo diferente?

Maicon - Não ter um rótulo definitivo é justamente um dos propósitos do projeto. O Black Metal é a base por ser o meu estilo preferido, mas a música do LITOSTH bebe de outras fontes e faço questão que elas venham a tona, como o Death Metal Melodico e o Doom Metal. Até agora sempre atingi o resultado musical que esperava, mas é algo em constante evolução. Assim como meu gosto musical, minhas influências também variam com o tempo, então é natural que cada lançamento tenha suas diferenças. Mas não acho que eu tenha um objetivo ou ideal sonoro, deixo a música vir naturalmente como reflexo do momento.

M&L – A música “Desertis Translaticiis” é pra mim um dos maiores destaques do álbum “Crossed Parallels of Self Refraction”, e os vocais limpos são alguns dos elementos responsáveis por isso. Você gravou todas as vozes? Nos conte mais sobre este álbum.

Maicon - Muito obrigado! Também gosto muito desta música e há uma historia sobre os vocais limpos. Durante a gravação, meu produtor, Dave Deville, me sugeriu duplicar os vocais do refrão, e variar entre vocais guturais e limpos, e para mostrar a ideia ele entrou na sala de gravação e cantou para eu ter como uma guia. Mas achei tão boa a ideia que mandei ele voltar lá e gravar oficialmente. Então dividimos os vocais e ele ficou com essa participação no álbum, além da sempre ótima produção.
 Sobre o álbum, ele tem uma pegada um pouco mais voltada para Death Metal melódico com uma atmosfera dentro do Doom Metal. Também penso que o ele soa um pouco mais trabalhado, com músicas mais longas e detalhadas que o sucessor, e muito disso devido à grande participação do meu amigo Leonardo Pagani (Malphas), que é um baterista sensacional. Ele pegou as músicas prontas, inclusive com vocais gravados, e deu uma nova roupagem a bateria provisoria que eu havia gravado. Já o "Farther" tentei deixar um pouco mais simples e direto, para soar mais Black Metal.
 
M&L – No debut você teve a participação de Wendel Siota no baixo e a bateria foi gravada por Malphas do Mysteriis. Já no novo álbum, “Farther From the Sun” você gravou tudo sozinho?

Maicon - No Farther From the Sun não há outras participações, exceto em duas letras escritas também

pelo 
Wendel Siota, o resto foi feito por mim. O álbum todo foi escrito durante a quarentena do covid19 em 2020, então seria pouco prático devido às restrições sanitárias ter mais participações. Mas ter participações é sempre algo legal, e com certeza acontecerá mais no futuro.

M&L - E o novo álbum também me soa mais agressivo que o debut. Parece que os elementos de metal melódico vieram mais contidos, ao passo que algumas influências de black metal mais contemporâneo aparecem, como na perfeita faixa “Saviour” onde alguma coisa de Rotting Christ me vem à mente. Concorda com estas observações?

Maicon - Sim, com certeza ele tem um clima mais agressivo e soa mais ríspido. Como citei anteriormente, há mudanças na minha musicalidade e acontecimentos que me empurram em diferentes direções. Eu amo música, de todos estilos e formas, mas tenho fases, e naturalmente isso reflete na minha composição. E para casar com o tema do álbum, e o apocalipse que estamos enfrentando, acho que as letras pediam um pouco mais agressividade. Mas acho que os álbuns ainda se parecem bastante, considero o Farther uma continuação do Crossed. Confesso que não sou muito fã da última fase do Rotting Christ, mas gosto muito de alguns álbuns mais antigos, como o A Dead Poem e Triarchy Of The Lost Lovers, que ouvi muito na minha adolescência. Talvez não de forma consciente, mas com certeza eles influenciam a música do LITOSTH.


M&L – O primeiro álbum saiu pouco antes da pandemia do Covid chegar ao Brasil. Ela atingiu a música em 
cheio, principalmente as bandas que tocam ao vivo, e o Patria foi uma delas. Mas essa parada nos shows acelerou o processo de criação do “Farther From the Sun”?

Maicon - Com certeza! O PATRIA é nossa banda principal, mas todos os integrantes tem outras bandas e projetos, retomados quando temos uma folga da rotina de ensaios para show ou produção de material novo. Mas mesmo o PATRIA durante a pandemia continuou trabalhando, compomos e lançamos o novo álbum chamado "Hexerei".

M&L – Sabemos que colocar o Litosth num palco no momento é algo bem improvável. Encontrar os músicos certos para aprender todo o repertório pra fazer 1 ou 2 shows não deve ser muito compensador. Mas no futuro, com o crescimento do nome na cena, você imagina que possa se juntar a outros músicos para transformar o Litosth numa banda de palco, ou isso não está nos planos?

Maicon - Shows ainda não estão nos planos, mas com certeza seria incrível ver as músicas do LITOSTH executadas de fato, com banda. Como tu citaste, o crescimento do nome do projeto é essencial para isso, e o LITOSTH é relativamente novo e ainda pouco conhecido do público, e quando acontecer quero que seja algo proporcional a qualidade e profissionalismo de estúdio, coisa ainda impossível no cenário atual ou num futuro próximo. Mas continuarei trabalhando para isso, com mais lançamentos e divulgação, até que seja válido ir para os palcos!

M&L – As artes das capas dos dois fulls são lindas, utilizam praticamente apenas 2 cores, o que dá uma ótima aparência, além de desenhos muito bonitos que casaram perfeitamente com o logo da banda. São criações suas, não é Maicon, aliás você também é tatuador, correto? 

Maicon - Muito obrigado! Ambas as capas são minhas, e fiz elas já com tudo pronto, para ter o mesmo clima das músicas e letras. Acho que o estilo delas já dá uma identidade visual para o projeto, e funcionaram muito bem para ilustrar e também completar o que vem dentro do álbum. Sim, trabalho como tatuador há 12 anos, paralelo a minha jornada musical, e é algo que também habita o mesmo universo do heavy metal, então considero algo quase complementar.

M&L – Agora vamos aproveitar a ocasião para perguntar sobre o I Gather Your Grief. Parece que vocês estão planejando um full álbum. O que você pode adiantar sobre ele?

Maicon - Esse talvez seja o projeto mais paralelo ao PATRIA, mesmo sendo o mais diferente musicalmente, é o que tem mais integrantes em comum, são quatro. E há sim um álbum a caminho, boa parte já está gravado, só estamos esperando a oportunidade para dar continuidade. Acho que o álbum segue a mesma linha do EP “Dystopian Delusions", então quem gostou do EP com certeza irá gostar ainda mais do álbum que está por vir!

M&L – Maicon, muito obrigado pela atenção. Nossa página está comemorando 13 anos ajudando a manter a chama do metal acesa, e é excelente ter você conosco, também comemorando o lançamento de “Farther From the Sun”. As palavras finais são suas!

Maicon - Eu que só tenho a agradecer a oportunidade de trocar essas palavras, e parabéns pela página, iniciativas assim que matem a nossa cena viva! Fica meu convite aos leitores para conhecer mais os projetos citados, LITOSTH, PATRIA e I GATHER YOUR GRIEF. Todos disponíveis nas principais plataformas digitais. Muitíssimo obrigado, e até a próxima!



 

quinta-feira, 17 de novembro de 2022

20 anos de Black Hearts do Misbeliever!


E da promissora Governador Valadares veio o Misbeliever, aproveitando a oportunidade do selo Avernus Records do vocalista e guitarrista Dilpho Castro do já conhecido Silent Cry. Antes disso a banda já havia aparecido na coletânea da Demise Records, "The Winds of a New Millenium III" em 2001 com a ótima música "When the Shades Meet". Já em 2002 lançaram este que foi o primeiro álbum de estúdio, "Black Hearts" que teve uma boa divulgação e consequentemente boa aceitação no mercado de música extrema. Com uma bela capa em 3 painéis, que fica ainda melhor quando aberta, e um logo que só quem conhece consegue ler, a banda era formada por Albenez Carvalho, guitarrista do Silent Cry, que resolveu se enveredar por caminhos mais extremos com o Misbeliever, gravando um melodic black metal de qualidade. Com ele nesta empreitada estavam o guitarrista Mil Girelli, o batera Virgo Rezz e o baixista e vocalista Eduardo. A produção e os teclados também ficaram por conta de Albenez, mas quem já viu o Misbeliever ao vivo percebe que a produção do álbum tirou muito o peso das guitarras, pois a banda soa muito mais pesada sobre o palco. Os teclados estão muito bem encaixados e têm belas melodias como em "Fortress Part 1" e temos em "Lament of Souls" que abre o álbum com muita energia e a versão oficial de "When the Shades Meet" os melhores momentos do álbum. A bateria está com uma boa timbragem e momentos mais agressivos como na faixa título, que apresenta teclados na linha Cradle of Filth, deixam o som bem empolgante. Vale a pena conferir o "Black Hearts", que completa 20 anos.